O debate presidencial promovido por UOL, Folha e SBT não produziu nenhum lance capaz de despolarizar a sucessão de 2018. Ao contrário. O programa potencializou a sensação de que o jogo do primeiro turno está jogado. Sem muita presença de espírito, Bolsonaro beneficiou-se da ausência de corpo propiciada pela hospitalização. Presente, Haddad saboreou os ataques que o vincularam a Lula. A lulodependência tornou-se para ele uma espécie de kriptonita às avessas, pois é da cadeia de Curitiba que vem o superpoder que o fez voar nas pesquisas, saindo de um dígito para mais de 20% das intenções de voto.
Os rivais de Bolsonaro e Haddad serviram aos espectadores mais do mesmo. Em sua versão “doce de coco”, Ciro não perdeu a calma nem quando Cabo Daciolo lhe perguntou por que preferiu o Sírio Libanês a um hospital público quando precisou tratar da próstata, na noite anterior. Soou insincero ao dizer que tomaria distância do PT se fosse eleito. Alckmin recorreu ao velho blá-blá-blá quando lhe esfregaram na face a corrupção do PSDB. “Todos os partidos estão fagilizados”, disse. “Não passamos a mão na cabeça de ninguém”. Marina gastou baldes de saliva dirigindo apelos ao eleitorado feminino, que não a escuta. Escaldada pelo apoio dado a Aécio em 2014, absteve-se de assumir novos compromissos. Meirelles, Dias e Boulos esforçaram-se para aparecer. Mas tiveram um desempenho de sub-Daciolo.
Embora frequente a cena eleitoral sem nenhuma chance de virar presidente da República, Cabo Daciolo revelou-se um candidato imbatível ao posto de piada. Nas suas considerações finais, Daciolo vestiu-se de profeta: ”Estou profetizando à nação brasileira que vou ser o próximo presidente da República, para honra e glória do Senhor Jesus, em primeiro turno, com 51% dos votos. (…) Deus está controle.” O Todo-Poderoso, como se sabe, existe. Por isso, é improvável que o Apocalipse ocorra em 7 de outubro. Mas o Cabo fala em Deus com tal convicção que muita gente fica tentada a acreditar que Ele talvez não mereça existir.
Deve doer em Ciro, Alckmin, Marina e nos outros presidenciáveis a ideia de que fazem o papel de figurantes numa peça confusa em que os personagens principais são um admirador da ditadura militar e um poste fabricado na cadeia. Mas é improvável que a plateia tenha enxergado no debate qualquer coisa que se pareça com um fato novo capaz de modificar o enredo da polarização. Os candidatos e seus argumentos rodam como parafusos espanados.
POLÍTICA
Debate sem graça, cheio de conversar fiada, cheio esperteza desses profissionais querendo angariar votos de indecisos. As mesmas conversinha de sempre, ou seja não passou de um encontro de derrotados, foi isso e nada mais. Muito sem graça mesmo!