Convidado para uma audiência pública em comissão da Câmara dos Deputados para falar sobre monitoramento dos movimentos sociais , de povos indígenas e do Sínodo da Amazônia , o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno , se envolveu nesta quarta-feira em uma discussão com a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP). Eles tratavam das declarações do ministro sobre a fala do também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de que a resposta em caso de uma radicalização da esquerda poderia vir via um novo AI-5 , ato institucional que marcou o período mais duro da ditadura no Brasil.
Depois de Heleno ter dito que todos poderiam ficar tranquilos, porque o governo Jair Bolsonaro e as Forças Armadas não tem “nenhuma vocação” para regime ditatorial ou autoritarismo, a deputada questionou por que ele não havia repudiado a fala de Eduardo na semana passada, e sim dito que “tem que estudar como vai fazer”. O ministro acusou o repórter do jornal “O Estado de S.Paulo” de ter descontextualizado sua fala e tê-lo pego desprevinido. Com a insistência da parlamentar, ele lembrou que Eduardo, filho do presidente, já havia se desculpado pela fala e por isso não iria repudiar.
— Eu não vou repudiar, porque ele repudiou […] A senhora vai me torturar pra eu falar? — declarou o ministro do GSI, durante a audiência na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia.
A declaração provocou reações exaltadas no colegiado, entre reclamações de parlamentares de esquerda e aplausos de apoiadores.
Na semana passada, o ministro respondeu ao “Estadão” que teria que estudar como implementaria medida que enrijeceu o regime ditatorial no Brasil.
— Se falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter. Mas até chegar a esse ponto tem um caminho longo — disse o ministro na entrevista.
Na discussão com Sâmia, que fez críticas ao regime militar que governou entre 1964 e 1985, Heleno disse que obviamente há duas visões sobre o momento histórico:
— Para a senhora, foi um golpe. Na minha opinião, não foi golpe, foi uma contrarrevolução […] O Brasil seria uma grande Cuba – declarou. – Essa radicalização não interessa ninguém, só interessa à esquerda — complementou.
Enquanto falava sobre as “posições diferentes em relação à história”, ele disse que os militares acusados de torturadores foram os mesmos que conseguiram fazer, “no período militar, uma anistia que levou uma terrorista à Presidência da República”, referência à ex-presidente Dilma Rousseff, que integrou a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Ele acrescentou que outros “sabidamente terroristas” ocuparam vários cargos importantíssimos da República.
Em sua exposição inicial na comissão, afirmou que pode garantir a todos os presentes que sua geração e as seguintes nas Forças Armadas “estão completamente vacinadas contra qualquer sintoma de ditadura”.
— Dessas coisas que ficam assustando aí as pessoas, e que muitas vezes é bandeira para quem não tem muita coisa para inventar e inventa isso aí — completou.
O ministro negou ainda que o GSI faça monitoramento ou promova alguma interferência em movimentos sociais, mas sim um acompanhamento. Ele lembrou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é subordinada à pasta e “a cabeça do sistema de inteligência do país”.
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