Médicos de São Paulo entraram em uma “guerra de WhatsApp” sobre as projeções de disseminação do novo coronavírus no Brasil e como tratar as informações sobre o assunto.
As diferentes narrativas começaram a partir de um áudio no qual o cardiologista Fábio Jatene, diretor do serviço de cirurgia torácica do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas, apresenta um cenário dramático para a disseminação do coronavírus no país.
Na gravação, que viralizou na manhã desta quinta (12) e cuja veracidade foi confirmada pelo cardiologista à Folha, ele relata uma reunião que teve com alguns dos mais renomados médicos de São Paulo. O áudio, segundo Jatene, foi enviado apenas a seus colegas, mas vazou e foi disseminado por aplicativos de mensagem.
Jatene afirma no áudio que os médicos na reunião estimaram que em quatro meses haverá 45 mil pessoas com coronavírus só na Grande São Paulo. A previsão é que 11 mil delas vão necessitar de UTIs (que não existem nessa quantidade).
Segundo o relato de Jatene, Uip disse que os casos devem explodir no país a partir de agora e os mais vulneráveis que devem ter foco máximo de atenção são os idosos. A taxa de mortalidade entre eles chega a 18%, enquanto entre os jovens é de 0,2%.
Segundo os médicos, o cenário é de muita preocupação. Eles preveem também que em quatro meses o pico da doença deverá passar.
Nos próximos 15 dias será mais claro como a doença vai afetar o Brasil, se o país seguirá o modelo da França ou da Itália. Ambos tinham cerca de 12 casos confirmados em 21 de fevereiro. Em 10 de março, a Itália tinha mais de 10 mil, e a França, cerca de 1.700. O Brasil, por ora, está no ritmo da França.
Outro que teve um áudio particular vazado foi Marcos Knobel, cardiologista e vice-presidente do Hospital Israelita Albert Einstein. A veracidade da mensagem foi confirmada pela Folha.
O médico do Einstein, na mesma linha de Jatene, demonstra preocupação com o impacto que o novo coronavírus pode ter sobre atividades cotidianas das pessoas. Ele afirma que diversas escolas têm entrado em contato para pedir aconselhamento sobre suspender as aulas ou não e que possivelmente muitas fecharão já a partir da próxima semana para conter a disseminação do vírus.
Por outro lado, há médico que afirma, também por áudio de WhatsApp, que os números apresentados na mensagem de Jatene são exagerados e alarmistas. Um deles é Anthony Wong, toxicologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP). Segundo ele, “45 mil é um número absurdo”. A mensagem também foi confirmada pela Folha com o próprio médico.
Dados atualizados sobre o coronavírus mostram que, com exceção da China (com mais de 80 mil doentes, mais da metade deles já recuperados), nenhum outro país alcançou tais níveis.
O toxicologista do HC diz que, pelo Brasil se localizar no Hemisfério Sul e estar no verão, o contágio deve ser menor do que nos países do Norte, onde as temperaturas estão mais baixas. Ele cita a Indonésia como exemplo, que tem tido uma evolução controlada nos casos.
Segundo Wong, para a maior parte da população a covid-19 será como uma gripe, sem grande severidade ou risco de morte.
“Todo mundo está preocupado, pensando que o filho vai morrer e a pessoa que realmente está em risco, aquela com mais idade, pode ser negligenciada. É isso que está me preocupando”, disse Wong à reportagem.
Mais um áudio, confirmado pela Folha e que era para ser particular, também se preocupa com o alarmismo da mensagem de Jatene. A infectologista Cristhieni Rodrigues, do Incor-HCFMUSP, em sua mensagem, diz que estava presente na reunião da qual Jatene fala e que os dados que ele cita estão fora de contexto.
A especialista afirma que, realmente, teremos vários casos, mas que a maioria será um resfriado comum, inclusive mais leve do que o H1N1. Ela repete o alerta de que o foco de preocupação é a população idosa e pessoas com problemas cardíacos e pulmonares.
A infectologista pede calma e diz que deve-se esperar as orientações das autoridades, como para casos de suspensão de aulas, e de quem realmente estuda o assunto. Segundo ela, para quadros leves de resfriado o melhor é ficar em casa.
Tanto a mensagem de Wong quanto a de Rodrigues ressaltam que a população não deve entrar em pânico, algo prejudicial para situação, por poder provocar corridas desnecessárias por suprimentos e sobrecarga no sistema de saúde.
Um grupo de pediatras também demonstrou preocupação com o tom alarmista da mensagem, que assusta a todos. A mensagem do grupo destaca que o vírus “poupa” crianças, que normalmente não apresentam quadros graves e mortalidade, e que há atualizações constantes sobre a situação do vírus no Brasil.
Os pediatras também dão dicas de como ajudar a manter a disseminação do vírus mais lenta, como com boa etiqueta de higiene, evitar aglomerações, ficar em casa ao ter sinais de gripe e avisar ao seu médico e evitar ir a hospitais e laboratórios sem orientação.
FOLHAPRESS
Temos que nos prevenir sem alardes!
Como isso alivia as preocupações dos leigos.
Obrigado doutores, toda desinformação é bem-vinda.
Perfeito comentário
Epidemia de vaidades.
Perfeita a colocação.