Salvador sofre com apagão no fornecimento de energia – Raul Spinassé/Agência A Tarde/Agência O Globo
O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) concluiu que o apagão que deixou cerca de 70 milhões de pessoas nas regiões Norte e Nordeste sem energia no dia 21 de março foi causado por falha no ajuste de um disjuntor na subestação Xingu, que é parte do sistema de transmissão da usina de Belo Monte, no Pará.
O ajuste foi feito pela equipe técnica da BMTE (Belo Monte Transmissão de Energia), que opera a subestação e é controlada pela chinesa State Grid e pela Eletrobras. Relatório final sobre a ocorrência deve ser entregue à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em até 15 dias, para análise de responsáveis e eventuais penalidades.
O apagão deixou 14 estados do Norte e Nordeste sem energia e teve reflexos também nas outras regiões do país, onde distribuidoras tiveram que derrubar clientes para ajudar a reequilibrar o sistema de transmissão. O restabelecimento completo do fornecimento levou 6 horas e 22 minutos.
Além da falha humana na programação do disjuntor, houve problemas no sistema de contingência da subestação e em unidades geradoras da usina de Paulo Afonso, na Bahia, que retardaram a recomposição do sistema.
“Como em um acidente aéreo, uma perturbação dessa magnitude sempre tem mais de uma causa”, disse o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, em entrevista concedida nesta sexta (6) para detalhar o resultado das investigações.
Segundo o ONS, o sistema de proteção do disjuntor foi ajustado erroneamente para operar com, no máximo, quatro mil amperes, embora tenha capacidade para operar com até cinco mil amperes. Quando a corrente superou esse limite, o disjuntor caiu, derrubando a ligação entre Belo Monte e o resto do país.
“O sistema enxergou como se houvesse uma sobrecarga, mas não era sobrecarga”, disse Barata. Segundo ele, o ONS não havia sido informado do ajuste no disjuntor.
O executivo afirmou ainda que, no entendimento do ONS, o sistema de proteção instalado pela BMTE no disjuntor é desnecessário. Para o órgão, bastaria um alarme para alertar sobre eventuais sobrecargas, sem a necessidade de abertura do disjuntor.
Com o corte da ligação entre Norte e o resto do país, a frequência do sistema brasileiro de transmissão de energia sofreu queda inesperada nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, levando ao desligamento de linhas de transmissão e usinas. No Norte, que ficou com energia excedente, a frequência subiu, o que também levou a desligamentos.
O ONS diz que houve ainda problema no procedimento de contingência da subestação, que deveria desligar automaticamente unidades geradoras de Belo Monte com a queda do disjuntor, o que não ocorreu.
Um terceiro problema ocorreu durante a recomposição da carga no Nordeste, quando o sistema de proteção de da usina de Paulo Afonso, da Chesf, agiu de forma inesperada e derrubou duas unidades geradoras, levando ao blecaute total na região.
Até aquele momento, apenas 50% da carga havia sido cortada para ajudar a reequilibrar a frequência no sistema de transmissão, que opera com 60 Hz e é programado para acionar procedimentos de proteção quando há variações abruptas.
ATRASO
O ONS diz que, embora não esteja entre as causas do apagão, não fosse o atraso em obras concedidas à espanhola Abengoa, hoje em recuperação judicial, a interrupção no fornecimento poderia ter sido evitada
. A empresa tinha sob sua responsabilidade a construção de uma segunda conexão entre Belo Monte e a subestação Xingu, que conseguiria absorver a energia de Belo Monte com a queda da primeira conexão.
A segunda conexão entrou em operação no fim de semana seguinte ao blecaute, construída pela própria BMTE, após transferência da autorização pela Aneel. A subestação Xingu foi inaugurada em dezembro e iniciava operação comercial após testes quando houve o problema.
Barata disse que as condições que levaram ao apagão do dia 21 de março não se repetirão. O sistema de proteção dos disjuntores agora opera com alarme e o procedimento de contingência foi ajustado para desligar unidades geradoras de Belo Monte em caso de queda.
O diretor-geral do ONS voltou a defender a segurança do sistema elétrico, mas diz não poder descartar a ocorrência de distúrbios. “Nosso sistema é robusto. Mas, por mais robusto que seja, não é imune a distúrbios”, disse.
Folha de SP
tudo é falha humana.