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Essa semana conheci uma figura tão folclórica que senti falta de Câmara Cascudo na mesa para analisar esse caso.
Não é lenda. Todos sabemos e conhecemos várias figuras que não medem esforços para conquistar um lugar ao sol neste verão, preferencialmente em uma varanda de um condomínio de luxo. Não confundamos sucesso profissional com ascensão social; este último pode ser alcançado apenas aparentando ter sucesso.
Enquanto muitos se divertem no verão, ele trabalha. Está bebendo, dançando, mas está trabalhando para alcançar seu propósito. Suas opiniões e vontades são sempre fruto do cálculo. É preciso atenção para detectá-lo nos eventos sociais. Ele sempre se camufla. Em Natal, isso é fácil, já que quase todos os homens usam camisa preta. Apesar de termos excelentes lojas de moda masculina, a probabilidade é grande de todos estarem de camiseta preta. Seria o luto da moda?
Bem, voltando ao nosso carente ilusionista, começou contando suas proezas no tênis. Curioso, mas seu esporte tinha que ser tênis. Não estou dizendo que todos que praticam tênis são alpinistas, mas todo alpinista é tenista. Depois, falou do seu carro que exibe uma marca de prestígio, onde tenta pegar carona lutando para não ser atropelado pela avalanche dos juros. A academia onde malha, também serve para exercitar sua ambição. Enquanto os outros malham, ele sua por outros objetivos.
Após alguns minutos, percebemos que sua característica mais impressionante é contar vantagens de modo natural, fluido, despretensioso. Ele solta uma recente aquisição com a trivialidade de quem dá milho aos pombos. Em cada momento, procura a brecha para comentar de forma desafetada que comprou algo ou ainda, que esteve num jantar com A ou B. Nunca perde uma oportunidade de dar mais um passo — suas conexões são degraus.
Dá para imaginar que sonha em pegar o teleférico do casamento. Se um lugar ao sol é bom, um lugar à sombra é ainda melhor. Ele casa por amor, sim, mas pela sua meta. E sabemos que uma bela aliança sempre ajuda. Quando não consegue, escolhe alguém apenas pelo tamanho da bunda. Mais para frente não deveria se queixar que a parceira não tem valores, pois escolheu apenas uma bunda, certo?
— O medo atrai o objeto do medo.
Às vezes penso que ele não existe como pessoa, é apenas a materialização da ambição desmedida que se corporificou. Invariavelmente, dará um passo maior que a perna e, em um eventual deslize na montanha dos juros, será arremessado ao chão — neste momento descobrirá que está sozinho. As dívidas feitas na ânsia da aceitação o fizeram ser aceito apenas pelo que aparentava.
Seus amigos verdadeiros ficaram para trás. Se tinha que pisar em alguém para subir mais alto, fazia parte. Como os novos amigos não eram pessoas, mas sim degraus, ninguém virá ao seu socorro. Na sua busca pela aceitação, não percebe que os valores que fazem a diferença não podem ser comprados. A escolha das amizades, do esporte, do casamento, das suas convicções apenas por interesse cobra seu preço. A conta sempre chega. É neste momento que percebe que não importa o tudo que comprou, mas sim o nada pelo que se vendeu.
Marcus Aragão
Instagram @aragao01
Muitos são pisicopatas, e utilizam seu poder de envolvimento e sedução para chegarem no seu objetivo, atropelando a tudo e a todos.
Qual o problema do cara buscar uma vida artificial, de prestígio e aceitação social?
Indico terapia a todos que uma pessoa artificial como a descrita no “textão” acaba interferindo. Pq ao meu ver, cada um busca na vida aquilo que deseja, e se a pessoa quer viver de aparência a deixe viver de aparência, pois só afetará um próximo, se assim o próximo quiser, ou seja, a pessoa do carro financiado não faz mal a ninguém, a não ser a si mesma.
Parabéns Marcus Aragão! Esse personagem foi muito bem descrito na Música Nuvem Passageira! Composição de Hermes Aquino na voz de Perla! Gravação de 1976! “Castelo de areia na beira do mar”!
Vida é bom por que cada um tem a sua, eu fico bobo com a preocupação que algumas pessoas tem em querer saber ou opinar na vida alheia. Nestes tempos de hoje com muita gente buscando se mostrar em redes sociais está tudo muito diferente… Antigamente conhecíamos pessoas através dos círculos de relacionamento pessoal: faculdade, trabalho, lazer… Mas o relacionamento era pessoal. Hoje tudo está impessoal e maquiado, altamente tóxico, material e manipulado, na real, ninguém sabe mais quem é ninguém.
Amigo você lembrou de Câmara Cascudo e eu da música de Lenine intitulada “Alpinista social…” Apesar da idade ela nunca se cansa. De entrar nessa dança e sair no jornal. E tem sempre um plano por debaixo do pano. Ela é a alpinista social “…
Natal temos um em cada esquina👏👏👏
Muito bom. Natal está cheio desses personagens.
Lembrou me o match point, do Woody Allen (por causa do tênis e alpinismo social). Poucos com menos de 40 são low profile nessa província pitiguará.
Isso mesmo. Tudo verdade. 👏
Dica: usa o texto para se conhecer. Alguém que te marcou tão profundamente, que te levou a escrever um texto longo, pode te ajudar a reconhecer questões internas profundas.