O número de diagnósticos de câncer em brasileiros de até 50 anos quase quadruplicou entre 2013 e 2024, segundo levantamento do g1 com dados do DataSUS. Os registros no Sistema Único de Saúde (SUS) passaram de 45,5 mil para 174,9 mil casos, um aumento de 84% no período.
Os tumores de mama, colorretal e fígado estão entre os que mais crescem nessa faixa etária. O câncer de mama lidera com 22 mil novos casos anuais e alta de 45% em uma década.
Tipos de câncer mais incidentes (2013–2024)
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Mama: 219.449 casos — principal entre mulheres, com aumento expressivo.
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Colo do útero: 105.269 casos — ligado à baixa adesão à prevenção.
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Colorretal: 45.706 casos — crescimento de 160%; relacionado à alimentação e sedentarismo.
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Estômago: 38.574 casos — associado a dietas ricas em sal e ultraprocessados.
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Fígado: 26.080 casos — vinculado ao álcool, hepatites e obesidade.
Sistema de dados incompleto
Especialistas alertam que o número real de casos pode ser maior, já que o Brasil não tem registros completos da rede privada. Cerca de 75% da população depende do SUS, onde a notificação é obrigatória.
Na saúde suplementar, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não possui dados detalhados porque uma decisão judicial de 2010 impede o uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) nas bases das operadoras.
Câncer colorretal é o que mais preocupa
Os casos de câncer colorretal — que afetam cólon, reto e canal anal — saltaram de 1.947 para 5.064 entre 2013 e 2024. Segundo o oncologista Samuel Aguiar (A.C.Camargo), 90% dos diagnósticos estão ligados ao estilo de vida, com destaque para dieta industrializada, obesidade e sedentarismo.
A baixa adesão à colonoscopia também é um fator crítico: o exame é pouco realizado antes dos 50 anos, o que faz muitos pacientes jovens descobrirem o câncer em estágio avançado.
Mudança no perfil dos pacientes
Médicos apontam uma mudança geracional no padrão de risco. Antes concentrado em idosos, o câncer agora afeta jovens adultos, influenciados por alimentação rápida, estresse, sobrepeso e noites mal dormidas.
Segundo Sumara Abdo (INCA), os protocolos de rastreamento ainda estão defasados:
“Os tumores de mama e colorretal estão aparecendo antes dos 50 anos. Precisamos incluir os mais jovens nos programas de prevenção.”
Sistema de saúde despreparado
Mesmo com avanços, como a ampliação da mamografia a partir dos 40 anos no SUS (em 2025), especialistas dizem que o sistema ainda não acompanha a nova realidade.
A oncologista Isabella Drummond lembra que muitos pacientes não iniciam o tratamento dentro dos 60 dias previstos por lei e que a oncologia de precisão ainda é inacessível para quem depende do SUS.
Crescimento global
O aumento do câncer precoce é um fenômeno mundial. Um estudo da revista Nature Medicine (2022) aponta crescimento em todos os continentes, principalmente em países urbanizados. As causas incluem mudanças na microbiota intestinal, sono insuficiente e poluição.
Sem políticas de prevenção e diagnóstico rápido, o Brasil pode seguir o padrão dos EUA e Reino Unido, onde os casos em pessoas com menos de 50 anos já representam 20% dos novos diagnósticos anuais.
Sinais de alerta
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Perda de peso inexplicável
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Sangue nas fezes ou urina
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Nódulos persistentes
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Cansaço extremo
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Sangramento anormal
“O câncer diagnosticado cedo tem mais de 90% de chance de cura”, reforça Isabella Drummond. “Mas o paciente precisa ser ouvido e ter acesso rápido ao exame certo.”
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