Homem se pendura em fiação para furtá-la: crime é motivado pelo valor do cobre, que se valorizou nesta década — Foto: Reprodução
Além de resultar em quedas de luz — foram mais de 88 mil interrupções no ano passado, no país — os roubos de cabos elétricos, especialmente de concessionárias de energia e empresas de telecomunicação, vêm gerando alta de mortes. No ano passado, foram contabilizadas 54 vítimas fatais por choques elétricos, quedas e outros tipos de acidentes durante esses furtos. A quantidade é 260% maior do que o registrado há dez anos, e é mais uma evidência do crescimento recente do problema.
De 2014 a 2024, houve 342 mortes em 452 acidentes registrados durante roubos de cabos no Brasil, segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). Os furtos são motivados pelo valor do cobre, o material mais usado no cabeamento para condução de energia e um dos metais que mais se valorizou nesta década.
O quilo do cobre, uma commodity, custava cerca de US$ 6,2 em 2019. Na sexta-feira, foi cotado em US$ 12,8 (cerca de R$ 71) no fechamento das bolsas globais. Ou seja, o valor dobrou no período, como efeito da demanda crescente, impulsionada pelo mercado de carros elétricos e de energia renovável, enquanto há problemas de oferta de grandes produtores, como Chile e Peru.
Roubo de fios e cabos sempre existiu, acontece que o cobre aumentou de preço nos últimos anos, e aí vira atrativo — afirma Edson Martinho, diretor executivo da Abracopel.
Na dinâmica desse tipo de crime, o cobre roubado é vendido para mercados clandestinos e transformado em outras peças que servem para diferentes aplicações, como aparelhos eletrônicos e construção civil. No dia a dia são vistos casos isolados, mas investigações ainda vêm apontando participações de quadrilhas especializadas.
No mês passado, a Polícia Civil do Rio de Janeiro realizou a operação Caminhos de Cobre contra uma rede de receptação e comércio clandestino de cabos e metais. Segundo os investigadores, a quadrilha movimentou mais de R$ 2,5 bilhões, com indícios de atuação coordenada para lavagem de dinheiro. Outro esquema investigado pela polícia do Rio neste ano envolvia empresários de ferros-velhos e traficantes do Comando Vermelho. O cobre roubado, inclusive em cabos subterrâneos, era vendido a metalúrgicas do Rio e de São Paulo e o lucro dividido com a facção.
O GLOBO localizou prisões noticiadas ou investigações de esquemas de roubo de cabos e cobre em pelo menos cinco estados no ano passado: Goiânia, Rondônia, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo, além do Distrito Federal. Procurada, a Polícia Civil de São Paulo, estado onde houve mais mortes relacionadas aos roubos, afirmou que mais de 7,2 toneladas de fios de cobre foram apreendidas somente neste ano, e que 60 pessoas foram presas em 2023 e 2024, quando houve apreensão de 637 quilos.
Medidas de prevenção
Glaucio Silva, diretor de vendas de uma empresa que fabrica um software de segurança, com monitoramento e alertas em casos de roubo — vendido para empresas de energia e telecomunicação e órgãos públicos —, afirma que faltam medidas de prevenção a esse crime no país. Segundo ele, uma necessidade é a marcação dos cabos, para melhorar a rastreabilidade das peças roubadas.
— Outras mudanças podem ser na via pública, melhorando iluminação, monitoramento com câmeras ou substituir o cobre por alumínio, que é menos atrativo — afirma o executivo da Genetec Brasil, que alerta que o cenário atual aumenta o custo para o consumidor. — As empresas precisam transferir os gastos para alguém. No final, é um problema de segurança pública que impacta a sociedade de maneira forte.
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