Natalia Klein Foto: Ana Branco
Primeira mulher a apresentar o Prêmio Sexy Hot, a atriz Natalia Klein diz que, em tempos feministas, o mercado vem mudando e faz uma queixa: ‘Muitos homens aprenderam a fazer sexo vendo filme pornô, o que é uma desgraça!’
A escritora, comediante e atriz Natalia Klein achou que era trote quando ligaram convidando para que apresentasse o Prêmio Sexy Hot, considerado o Oscar pornô brasileiro (a 6ª edição acontece no dia 6 de agosto, com o tema “Prazer em todos os sentidos”). “Sou a pessoa menos sexy que conheço, grandona, desengonçada”, diz ela, mulherão de 1,76m. Ao fugir do estereótipo da gostosona, o prêmio ajuda a combater um estigma da indústria, acredita Natalia. “Se aproxima das pessoas, que se sentem representadas por alguém mais, digamos, ‘normal’”, afirma ela, que pretende levar um ponto de vista feminino à cerimônia. O que também reflete um aspecto atual do pornô brasileiro, em que diretoras têm tirado a mulher do papel de objeto e a colocado como protagonista de suas próprias fantasias. Mayara Medeiros, por exemplo, pôs um homem para servir cafezinho enquanto duas mulheres transam numa cena de “O encontro”. Mila Spook, primeira mulher a levar o Prêmio Sexy Hot de melhor direção, ano passado por “(Des)Conectados”, é conhecida por fugir da fórmula curta e grossa dos pornôs brasileiros.
Famosa pelas esquetes sobre o cotidiano feminino e suas neuroses na série “Adorável psicose”, do Multishow, Natalia, de 34 anos, não tem pudor em falar de sexo. Uma vez, quando seu marido viajou, postou foto com um chuveirinho e a legenda: “Tchau, amor, tô bem”. Ela se orgulha ao contar que foi a escolhida para um ménage com um casal de amigos gays. “Me senti honrada! Cogitei, mas depois pensei: ‘Não, gente, é muito peru’”.
Você também escreve o roteiro do prêmio. Qual será o tom?
Quero tentar trazer um humor mais refinado, outra perspectiva. É fácil ir para um lugar apelativo quando a gente fala de sexo. Vou brincar, mas não de um jeito depreciativo. Tem ator que leva a mãe, a avó, eles têm orgulho do que fazem.
O evento sempre foi apresentado por homens. O que significa a estreia de uma mulher nesse palco?
É outro tom. Antes, era a perspectiva masculina, outro tipo de piada. Acho que eu estar lá reflete o momento atual da indústria, de ter um mercado que faça mais sentido para as mulheres. Eu nunca amei pornô. A gente coloca e já começa aquela enfiação. Aí eu penso: “Esse filme não está fazendo nada por mim”. Existia um lugar, um vazio. As mulheres queriam consumir, mas não tinha nada para elas.
Era mais para entreter o público masculino…
Não só entreter, mas formar o repertório. Muitos homens aprenderam sobre sexo vendo filme pornô, o que é uma desgraça, aprenderam tudo errado! Agora têm que desaprender e reaprender de novo. Hoje há mais filmes para mulheres, feitos e produzidos por elas. Todo mundo tem curiosidade sobre esse universo. Quando contei para os meus amigos e para a minha mãe que apresentaria o prêmio, todos disseram “quero ir”.
O que anda aprendendo sobre esse universo?
As siglas, DP (dupla penetração ), DPA ( dupla penetração anal ). Pensam que DPA é só “Detetives do Prédio Azul”, mas não é, não ( risos )…
O que muda com as mulheres escrevendo filmes? É só amorzinho ou tem que ter sacanagem?
Depende do momento, gosto dos dois, do amorzinho… mas tem horas que quero “me joga, me xinga”. Fomos educados achando que transar é trocar de posição. A cena do encanador que seduz, para a mulher, não faz sentido. Se escrevesse um pornô, o cara ia chegar para consertar o gás e ia ter que consertar mesmo, tá vazando gás, gente! Ele conserta, eles trocam WhatsApp, marcam de sair e aí, sim, transam. No meu pornô feminista, a mulher chega do trabalho, o cara já fez o jantar, lavou a louça, limpou a casa e vai lavar a louça depois do jantar também. Talvez, nem transem, fiquem só no Netflix. Nada menos sexo que close de penetração, isso é aula de biologia. É mais interessante mostrar a sedução, o flerte. Eles podem transar, mas constrói isso primeiro, não faz o “Game of Thrones”.
Acha que a expectativa em torno do sexo é muito grande?
Sexo é importante, mas não é a coisa mais importante. Existe uma pressão para se cumprir um papel, uma performance. Não tem certo, errado, bom, ruim, depende da pessoa. Existe a expectativa de “se ela não faz isso, não é boa de cama”.
Qual é o maior mito do sexo?
O pior é o de que você vai sempre gozar ao mesmo tempo. Às vezes não vai, beleza, fica pra próxima, deixa só o outro ir. Essa obrigação de gozar. Tudo bem se não rolar, e reconhecer isso é libertador. Para mim, foi. Me sentia culpada. Também tenho dificuldade em focar no 69. Não consigo aproveitar, nem fazer direito. É muita informação. Prefiro o “faz o meu, depois faço o seu” e todo mundo fica feliz. Nos filmes, a maior mentira é a banheira. Sempre tem cena de sexo nela ou na piscina, mas é desconfortável e… seca tudo.
Você já fingiu? Se arrepende?
Só umas duas vezes, eu queria que acabasse logo. Com o meu marido ( o roteirista Lucas Hoffman, com quem está casada há 7 anos ), nunca. Acho que é educativo não fingir. Se não, o cara vai sempre achar que está mandando bem. É importante ser sincera porque vai ser ruim para você depois. Fingir só atrasa a vida de todo mundo.
Enxerga uma tentativa dos filmes atuais em sair do estereótipo da mulher siliconada e malhada e do homem sarado?
Sim. Acho ótimo ver peito pequeno, grande. O mais importante é você se sentir representada, pensar: “Poderia ser eu ali”. Quando eu digo que não sou sexy é isso. Não me encaixo no padrão convencional tido como sexy: magérrima, bronzeada com a perna malhada. É importante ter diversidade, tem gosto pra tudo.
O que as pessoas acham que sabem sobre sexo, mas não sabem?
Fala-se muito e faz-se pouco. Às vezes, dá errado, não é bom. Há o mito de que sempre tem que ser maravilhoso. O cara tem que estar sempre de pau duro, não pode brochar. A gente, molhada. Existe uma cobrança em cima da mulher, mas uma gigantesca em cima da ereção masculina. É ruim para eles manter esse mito. Somos humanos.
Foi bom para você?
Foi ótimo, estou super satisfeita ( risos ).
O Globo
Homem não aprende a fazer sexo vendo filme pornô. O homem tá cansado de as mulheres procurarem somente por sexo com o máximo de variação, selvagem ou violento. Mulher gosta é de putaria no sexo e quando o homem é amoroso demais acaba sendo taxado de " fraco na cama", por isso o homem hoje procura deixar a mulher toda "arregaçada" como elas mesmo gostam.