Foto: Divulgação/Progressistas//AFP//Câmara dos Deputados
Acordos construídos pelo PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaçam o futuro eleitoral dos principais líderes do Congresso. Em níveis diferentes, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), enfrentam dificuldades para fechar acordos políticos em seus estados.
Hoje, o cenário mais difícil se desenha nos casos de Lira e Ciro, que veem seus planos de candidaturas ao Senado esbarrarem na rivalidade com líderes regionais que são aliados de Lula. Em 2026, serão duas vagas por estado em disputa para a Casa.
Já Motta, com uma relação mais próxima do PT na Paraíba, está mais bem colocado para receber a bênção para emplacar o seu pai, o prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos), como candidato a senador na chapa governista estadual.
Há, porém, forte concorrência de siglas aliadas, em processo no qual o partido de Lula pode favorecer outros nomes.
Lira quer neutralidade
Distante do presidente da República, Lira busca um acordo com o Palácio do Planalto e também com o bolsonarismo para que sua candidatura a senador não seja inviabilizada.
O MDB, forte no estado, tenta emplacar dois candidatos a senador, o que pode deixar Lira de fora e, além disso, há a possível entrada do deputado bolsonarista Alfredo Gaspar (União-AL), relator da CPI do INSS, na corrida pela vaga, nome considerado forte para a disputa.
Diante disso, o governo Lula não fez nenhuma sinalização a Lira ainda e tem deixado o MDB, de quem é aliado, tomar as rédeas dos acordos.
Em pesquisas locais, a disputa ao Senado é liderada por Renan Calheiros (MDB), seguido por Davi Davino (Republicanos) e Gaspar. Lira só aparece em quarto.
O ex-presidente da Câmara é relator da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, pauta cara ao governo, e o seu partido, o PP, já indicou trabalhar para fazer mudanças no texto na direção contrária do que o Planalto desejaria, como mexer nos critérios de compensações fiscais.
Além disso, ele construiu acordo com bolsonaristas para destravar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que acabou arquivada no Senado.
Diante das dificuldades para concorrer a senador, é apontada a possibilidade de Lira tentar se reeleger deputado para depois articular a volta à presidência da Câmara em 2027. O deputado do PP descarta esse cenário.
— Não serei candidato a deputado federal e não tenho nenhum plano de voltar para a presidência da Câmara. Eu sou amigo do Hugo Motta, fui eleitor e principal articulador da eleição dele. Sou pré-candidato ao Senado. Davi Davino e Alfredo são aliados e não tem a possibilidade de sair Arthur, Davino e Alfredo (ao mesmo tempo para o Senado), nem tem espaço para isso — disse ao GLOBO.
Lira também apontou que é cedo e que até uma aliança entre o MDB e o PT pode mudar, a depender do cenário nacional. De acordo com ele, se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), for o candidato da oposição à Presidência, haveria um afastamento entre as duas siglas também em Alagoas:
— Essa contextualização do MDB com o PT vai muito além disso. Se Tarcísio sair candidato dificilmente o MDB fica com o PT.
O presidente do PT, Edinho Silva, diz que é cedo para avaliar as alianças nos estados e que isso não afeta a relação do partido do presidente Lula com as outras legendas no Congresso.
— Muita coisa ainda vai acontecer para já falar em alianças e consequências. Nenhuma aliança ainda foi formalizada. Só conversas. E muita conversa está por vir.
Por sua vez, um dos principais aliados de Motta e presidente do partido de Lira, Ciro Nogueira, é o único dos três que se classifica abertamente como oposição a Lula e ao PT. O senador se elegeu com o apoio do PT em 2018, mas migrou para o bolsonarismo e, sem estar na chapa governista, agora tem o futuro mais ameaçado.
Um acordo no Piauí fechado entre PT, PSD e MDB para as duas vagas para o Senado e para a vaga para governador dificulta os planos do presidente do PP.
Ciro é também quem mais tem articulado contra o governo. Ex-ministro da Casa Civil do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele procurou influenciar na aprovação de pautas como a PEC da Blindagem e da anistia e também pressiona para que outros partidos do Centrão se unam em torno de um mesmo candidato contra Lula em 2026.
Com as dificuldades no estado, o senador tenta se projetar nacionalmente e se viabilizar como candidato a vice-presidente. Procurado, o presidente do PP disse que seu plano A é concorrer à reeleição a senador.
Algumas pesquisas locais mostram o senador Marcelo Castro (MDB) e o deputado Júlio César (PSD) à frente. Mas Ciro cita seus próprios levantamentos:
— Estou disparado nas pesquisas no Piauí para o Senado.
No caso de Hugo Motta, apesar da boa relação com o PT, a construção de um acordo ainda precisa passar por acertos. A montagem da chapa para senador tem provocado divergências.
Já há acordo adiantados, por exemplo, para o PP indicar o candidato a governador do grupo governista, que deve ser o atual vice-governador Lucas Ribeiro, e o PSB indicar uma das vagas ao Senado, com o governador João Azevedo.
Nabor Wanderley, pai de Motta, tenta ser candidato a senador na outra vaga, mas o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que vai tentar a reeleição, tem buscado Lula para um acordo, o que inviabilizaria o projeto da família de Motta.
Ter uma vaga no Senado é uma das metas do presidente da Câmara desde que ele foi reeleito deputado em 2022. Inicialmente o próprio Motta seria candidato a senador, mas o plano foi alterado depois que ele foi eleito presidente da Câmara. Agora, o pai assumiu essa missão.
A mais de um ano do pleito, Nabor já tenta arregimentar uma base de prefeitos para construir sua candidatura a senador.
O Globo
Si o povo usa-se a consciência nem um dos três sem futuro desse eram pra si reeleger mas