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A Geração Z, marcada pela vida digital e pela desconfiança em instituições tradicionais, tem puxado um movimento de retorno religioso. Na Europa, os números surpreendem — os batismos de jovens franceses quadruplicaram em quatro anos; em Dublin, quase dobraram nesta Páscoa em relação a 2024; e no Reino Unido, a crença em Deus entre jovens de 18 a 24 anos saltou de 18% em 2021 para 46% em 2025.
Mas e no Brasil?
Por aqui, o retrato é diferente, e ao mesmo tempo sintomático. Segundo o Censo 2022 do IBGE, os católicos caíram de 65,1% da população em 2010 para 56,7%. Já os evangélicos cresceram de 21,7% para 26,9%, enquanto os que se declaram “sem religião” passaram de 7,9% para 9,3%. Entre os mais jovens, essa tendência é ainda mais clara: na faixa de 10 a 14 anos, 52% se dizem católicos, 31,6% evangélicos e 12,5% sem religião. Nas idades de 20 a 24 anos, a proporção de “sem religião” é ainda maior.
A pesquisa Global Religion, da Ipsos, mostra que 89% dos brasileiros acreditam em Deus ou em um poder superior, mas apenas 76% dizem seguir uma religião. Entre a Geração Z, a diferença é mais acentuada: só 23% dos jovens se declaram católicos, contra 38% dos adultos.
Ou seja: no Brasil, não se observa um boom de batismos como na Europa, mas sim uma religiosidade mais fluída. A fé segue presente, mas se expressa cada vez menos pelas instituições tradicionais e mais por caminhos alternativos ou pessoais.
Especialistas apontam dois motores para esse cenário: o desgaste das grandes igrejas, sobretudo a católica, e a força das mídias digitais, que oferecem desde influenciadores religiosos a conteúdos de espiritualidade diversa.
O que explica essa diferença?
Especialistas apontam dois fatores principais. De um lado, o desgaste do materialismo e a percepção de vazio em uma vida centrada apenas no digital. De outro, o crescimento de conteúdos religiosos nas redes sociais, que dão nova linguagem à fé. Não à toa, em julho, o Papa recebeu no Vaticano mil influenciadores católicos para discutir como atuar como “missionários digitais”.
Na Europa, essa estratégia tem surtido efeito: jovens em busca de comunidade, estabilidade e propósito encontram na religião uma resposta. Já no Brasil, embora 89% da população diga acreditar em Deus, a juventude prefere trilhar caminhos mais fluidos, mantendo a fé, mas sem, necessariamente, retornar às igrejas.
Quem aguenta pastores milionários e igrejas que parecem comício?