Polícia

Violentada na infância, mulher vira policial civil em SC e prende homem que a estuprou

Por interino

Menina foi estuprada por fotógrafo que era amigo do pai dela. (Foto: André Valente/BBC Brasil )

Ela era uma menina falante, de 9 anos, que tinha uma coleção de bonecas e brincava de casinha com a melhor amiga. Amava andar de bicicleta e passar a tarde na rua com outras crianças. Seu único aparelho eletrônico era uma TV.

Ele era um fotógrafo de 39 anos, casado, apaixonado pela natureza, extremamente falante e muito amigável. Ganhava fácil a confiança daqueles ao seu redor com suas conversas sobre praias, rios e viagens.

A menina e o fotógrafo se viram pela primeira vez no verão de 2002. Tábata* foi estuprada diversas vezes durante dois anos e meio pelo homem, amigo de seus pais. Cerca de 14 anos depois do último abuso, eles se reencontraram.

Desta vez, Tábata segurou firme o braço de seu agressor com uma mão enquanto empunhava uma arma com a outra. Ela o conduziu, algemado, até o fundo de uma cela, trancou o xadrez e saiu aliviada, “como se tivesse encerrado um ciclo”. O dia 21 de dezembro de 2016 ficou marcado para a policial civil de Santa Catarina, hoje com 26 anos, como a data em que prendeu o homem que a estuprou na infância.

Em entrevista à BBC Brasil, ela contou a história pela primeira vez a um jornalista. Tábata diz que fez isso para encorajar outras mulheres a denunciar seus agressores. “Denunciar e mexer nisso foi um processo de cura”, diz.

Acampamento

O pai de Tábata conheceu o fotógrafo quando ela tinha 9 anos. Pouco tempo depois, os dois se tornaram amigos e pegaram o hábito de jogar futebol juntos.

Rapidamente, os amigos passaram a promover uma integração entre suas famílias. Elas passaram a sair e acampar juntas nos fins de semana de verão. Os lugares preferidos eram campings próximos ao rio Uruguai, na divisa entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Tábata se recorda dos dias divertidos e dos banhos de rio que tomava ao lado dos dois casais. Juntos, os cinco faziam viagens de carro, trilhas em áreas de difícil acesso e pernoitavam em barracas na mata.

Vítima sofreu os abusos entre os 9 e os 11 anos. (Foto: André Valente/BBC Brasil )

Logo, ele (o fotógrafo) começou a me molestar. Ele se aproximava e ficava passando a mão em mim. Eu não entendia. Aquilo me incomodava, mas eu não via o caráter criminoso naquilo que ele estava fazendo. Não falei nada para a minha família, até hoje não sei dizer o porquê”, conta Tábata.

A garota tinha uma meia-irmã 8 anos mais velha, que não frequentava os acampamentos. “Ela não era muito próxima do meu pai por não ser filha biológica dele. Ela costumava ficar em casa assistindo à TV e estudando”, conta.

Segundo Tábata, o agressor se aproveitava de sua fragilidade, do isolamento e da pouca visibilidade em meio às árvores – distante dos olhares dos adultos – ou durante os mergulhos da menina na água para se aproximar e cometer os abusos.

“Certa vez, ele abusou de mim quando ele precisava buscar água (para o acampamento) e me fizeram ir com ele para ajudar a carregar os galões. No caminho, ele se aproveitou para ficar passando a mão em mim, mas eu consegui escapar e correr na frente. Meus pais nem perguntaram por que cheguei antes dele. Nem passava pela cabeça dos meus pais que ele pudesse abusar de mim porque confiavam muito nele”, conta Tábata.

A frequência de abusos começou a aumentar na mesma proporção em que crescia o incômodo que a garota sentia. Sua vontade era contar os atos violentos para o pai dela.

“Meu pai sempre foi muito estressado, pilhado. Eu tinha medo que ele pudesse matar ele (fotógrafo), ir preso. Começam a passar mil coisas na cabeça de uma criança. E também tem o receio de que seus pais não vão acreditar no que você está passando”, afirma Tábata.

Tábata relata que os primeiros abusos ocorreram de acordo com as oportunidades. Mas logo o fotógrafo passou a estudar o dia a dia da família para saber quando a garota estaria sozinha em casa.

Ele descobriu que a irmã mais velha de Tábata fazia magistério e a mãe trabalhava à noite. Conhecia a rotina de futebol noturno do pai da garota e passou a procurá-la nesses horários.

“Ele dizia: ‘Só um pouquinho, só um pouquinho’. Ele nunca me agrediu com tapas, mas me segurava à força, mesmo eu sendo uma menina grande para a minha idade”, lembra Tábata.

Ela não se recorda de ameaças feitas pelo estuprador, mas diz que ele pedia para que ela não comentasse com os pais o que acontecia entre eles. Os abusos ocorreram durante cerca de 2 anos e meio.

Tábata conta que passou a ter maior consciência do crime aos 11 anos, quando começou a gritar, xingar e resistir, em vão, aos abusos. Na época, ela decidiu que contaria para a sua mãe.

Porém, a mãe de Tábata foi diagnosticada com transtorno bipolar e seu estado de saúde a desencorajou a revelar os estupros.

Mais vítimas

Nessa mesma época, o pai da garota teve um relacionamento extraconjugal com a mulher do fotógrafo. O caso foi descoberto e colocou um ponto final na amizade entre os casais e na rotina de abusos.

Nessa época, Tábata decidiu relatar as agressões apenas para sua amiga mais próxima, que passava o dia todo com ela e tinha sua confiança. A única condição foi que a menina não contasse para ninguém, o que foi respeitado.

Durante um período, Tábata preservou a mãe, que tinha frequentes crises psiquiátricas – mesmo à base de medicamentos – e decidiu não contar para a irmã porque as duas não eram tão próximas e tinham algumas brigas.

A doença da mãe, no entanto, reaproximou as duas e Tábata decidiu relatar os abusos pela primeira vez à irmã, em outubro de 2006. “Quando contei, ela entrou numa crise de choro desesperadora. Imediatamente, ela ligou para o meu pai, que já era divorciado da minha mãe havia dois anos. Até hoje eu fico com um arrependimento de fazer as pessoas sofrerem tanto. Eu fico pensando se valeu a pena contar”, diz Tábata.

Ela diz que, ao longo dos anos, tentou esquecer os detalhes dos estupros para se proteger emocionalmente. O tempo passou e as memórias dos abusos continuavam a rondar seus pensamentos.

Numa tentativa de “não surtar” e aliviar o peso das lembranças, Tábata passou a contar a história para outras amigas de colégio na adolescência.

Em 2008, quando tinha 16 anos, uma de suas amigas contou o caso para a mãe, que, por coincidência, conhecia o fotógrafo e chamou Tábata para conversar.

“Ela me disse que tinha ouvido falar que esse fotógrafo também tinha abusado de outras meninas. Aquilo me deu muita revolta. Eu achei que ele tinha feito aquilo só comigo, mas logo pensei que aquele cara estava acabando com a vida de outras pessoas, outras meninas”, disse.

Sete anos após o primeiro abuso, Tábata relatou o histórico de agressões à Polícia Civil, registrou um boletim de ocorrência e uma investigação foi iniciada. Mas ela nunca foi chamada para voltar a depor e o inquérito ficou engavetado.

Quatro anos depois, o processo foi para o Ministério Público, onde a ação ficou mais dois anos parada. Tábata, então, foi pessoalmente à Promotoria perguntar o motivo da estagnação.

“Eu estava conversando com uma assessora do promotor, mas ela não sabia me dizer porque ele não tinha denunciado o caso, quando eu me alterei e passei a levantar a minha voz. Nesse momento, ele (promotor) saiu da sala dele e foi grosseiro comigo. Disse que fazia muito tempo, que não tinha provas e que eu demorei pra denunciar”, conta.

Tábata entrou em desespero. Contou chorando para o pai que seu caso tinha acabado e que o fotógrafo nunca seria julgado. Mas o pai dela se lembrou que um comerciante que morava na região havia relatado que o fotógrafo também tinha abusado de sua filha quando ela tinha 9 anos.

Na época do crime, o comerciante agrediu o fotógrafo quando soube que ele tinha passado a mão nos seios de sua filha. Tábata foi pessoalmente falar com a mãe da vítima para pedir auxílio.

“Eu pedi para ela depor para que o Ministério Público soubesse da conduta dele e pudesse denunciar. Eles aceitaram depor, então levei o nome dela e dos pais à Promotoria para que tivessem provas”, disse.

Após o novo depoimento, a Promotoria entendeu que o fotógrafo tinha um histórico de abusos e, finalmente, o denunciou por pedofilia. Um ano depois, em 2013, ocorreu a primeira audiência.

Julgamento

Durante a audiência no tribunal, conta Tábata, o fotógrafo negou ter tido relações sexuais com a menina. “Eu só li a sentença. Mas ele disse que eu inventei tudo aquilo porque eu queria me vingar dele. Ele dizia que eu fiz aquilo porque meu pai não teria conseguido sair com a esposa dele”, conta Tábata.

O homem foi condenado por estupro a 7 anos e 6 meses de prisão em regime fechado. O depoimento da segunda vítima foi essencial para comprovar o histórico de violência sexual do fotógrafo. O criminoso entrou com recurso e respondeu ao processo em liberdade. Depois de um ano e meio, houve a confirmação da sentença em segunda instância.

Nesse meio tempo, Tábata, aos 24 anos, concluía seu curso na Academia da Polícia Civil de Santa Catarina. “Eu fui focada em fazer o meu trabalho, sem me apegar ao que tinha ocorrido no passado. Procurei deletar tudo da minha cabeça”, conta.

Mas, no fundo, os abusos que sofreu foram decisivos na decisão de ser policial. A vontade de Tábata era “pegar todos os estupradores”, mas decidiu não só evitar, mas se afastar completamente de casos ligados a crimes sexuais em seu cotidiano profissional.

“Eu não teria autocontrole para não agredir um abusador, manter o profissionalismo em casos bárbaros como os de agressões a bebês. E meu papel na polícia é exercer a minha profissão conforme a lei”, diz.

E, quando ela menos esperava, surgiu sua oportunidade de cumprir a lei. A polícia recebeu a ordem de cumprir o mandado de prisão contra o fotógrafo. Tábata estava junto.

“No dia 22 de dezembro de 2016, pedi apoio, fomos em oito ou dez policiais até que o localizamos e executamos o mandado. Ele estava escondido numa chácara isolada, na beira de um rio. Naquele dia, meu colega fez a revista e a prisão. Mas eu fiz questão de bater a porta da cela, como se fosse para encerrar esse ciclo.”

Menos de um ano depois, no dia 19 de dezembro de 2017, o fotógrafo saiu pela porta da frente do presídio. Devido ao seu bom comportamento e dias descontados por trabalhar na horta e na cozinha do presídio, ele teve sua pena reduzida e hoje está livre.

Trauma

Desde a infância, Tábata sempre foi muito falante e extrovertida. Mas os abusos criaram nela barreiras até o início da fase adulta.

“Eu sentia uma sensação ambígua: queria me relacionar com as pessoas, mas tinha medo porque sempre lembrava das agressões e tinha vergonha do meu corpo. Quando as meninas falavam em sexo e filhos, eu achava aquilo o fim do mundo porque via o sexo como uma coisa ruim”, relata Tábata.

Hoje, ela diz que evita lidar no cotidiano profissional com casos de violência sexual e conta que revive seu caso sempre que atende casos de estupro. Para as famílias, no entanto, ela acredita que sua história pode servir como um alerta.

“Eu diria para as mães conversarem muito com seus filhos e instigá-los a contar sobre qualquer comportamento de adultos que sejam impróprios . E dizer que vão acreditar na versão deles. Às vítimas, digo que tive dificuldade e superei, mas que eles não podem se revitimizar porque o problema ocorre na proporção que você o alimenta. Eu sempre digo que a vítima não é culpada. O que aconteceu não foi em decorrência da postura ou da roupa que ela estava usando, mas pelo fato de o agressor ser uma pessoa doente.”

*A pedido da policial civil, seu nome verdadeiro foi omitido nesta reportagem. O nome do agressor e a cidade onde os abusos aconteceram também foram omitidos para proteger a identidade das vítimas.

G1-SC

 

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Mundo

Zelensky deixa Casa Branca sem garantias, mas aposta em Trump para cessar-fogo

Foto: Nathan Howard/Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, encerrou nesta sexta-feira (17) sua terceira visita à Casa Branca em 2025 sem obter compromissos concretos sobre o futuro da guerra contra a Rússia. Mesmo assim, declarou confiar na capacidade de Donald Trump para intermediar um cessar-fogo. Durante o encontro, Zelensky solicitou o envio de mísseis Tomahawk — armamento de longo alcance capaz de atingir até 880 km/h e transportar 450 kg de explosivos —, mas não recebeu sinal verde do governo americano.

As informações são da coluna do William Waack, da CNN. Trump disse preferir que o conflito chegue ao fim sem o uso dos Tomahawks, classificando-os como “muito poderosos” e afirmando que os EUA precisam manter parte do arsenal em território próprio. “Espero que consigamos acabar com o conflito sem pensar em Tomahawks. Acho que estamos bem próximos disso”, declarou. Zelensky, por sua vez, afirmou que Moscou está “assustada” com a possibilidade de Kiev obter os mísseis.

Na tentativa de aproveitar o momento de alta diplomática de Trump, após o cessar-fogo em Gaza, o líder ucraniano parabenizou o republicano e disse enxergar uma oportunidade para encerrar a guerra. “Acho que este é um momento propício para encerrar a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Entendemos que Putin não está pronto, mas tenho confiança que podemos acabar com o conflito”, disse Zelensky.

Após a reunião, Trump sugeriu que a solução poderia passar por congelar as linhas de fronteira atuais, mantendo os territórios ocupados como estão. A declaração ocorreu um dia depois de uma ligação telefônica com Vladimir Putin, que também felicitou o americano pelo acordo no Oriente Médio. Trump e Putin devem se encontrar em breve em Budapeste, na Hungria — local simbólico, já que foi lá, em 1994, que a Ucrânia abriu mão de seu arsenal nuclear em troca de garantias de segurança que se mostraram insuficientes para evitar a invasão russa.

Com informações da CNN

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Geral

Gleisi afasta risco de derrota de Messias no Senado, mas base admite incertezas

Foto: Gil Ferreira/SRI

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, demonstrou confiança na aprovação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF), minimizando a possibilidade de o Senado rejeitar a indicação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Gleisi destacou que, historicamente, o Congresso nunca recusou um nome indicado por Lula. “A indicação é uma prerrogativa exclusiva do presidente. Não acho que o Senado vai interferir nisso”, afirmou.

A informação é da coluna do Igor Gadelha, do portal Metrópoles. Messias foi escolhido para ocupar a vaga deixada pelo ministro Luís Roberto Barroso, que se aposentará do STF neste sábado (18). A indicação foi revelada na quinta-feira (16) e deve ser formalizada nos próximos dias, quando o nome do advogado-geral da União será encaminhado ao Senado para sabatina.

Apesar do tom confiante do Planalto, integrantes da própria base aliada reconhecem que o governo ainda não tem os 41 votos necessários para aprovar a indicação. A resistência parte, sobretudo, da oposição e de setores do Centrão, que preferiam ver o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), indicado para a vaga.

Após a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o nome de Messias será submetido ao plenário da Casa. O Palácio do Planalto trabalha para consolidar apoios nos próximos dias e evitar surpresas na votação.

Com informações do Metrópoles

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Geral

Estudo aponta que quase todos os membros do MP receberam acima do teto em 2024

Foto: Reprodução

Um levantamento da Transparência Brasil revelou que cerca de 98% dos 11,7 mil integrantes do Ministério Público, distribuídos em 25 unidades da federação, receberam remunerações acima do teto constitucional ao longo de 2024. O grupo inclui promotores e procuradores estaduais e federais, e o cálculo não considerou gratificação natalina, terço de férias nem valores retroativos.

Segundo a entidade, o pagamento de supersalários é uma prática generalizada em praticamente todo o país. Em dez estados — entre eles Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Amazonas e Goiás — todos os membros do MP receberam valores acima do limite legal. Em outros quatro (Amapá, Pernambuco, Sergipe e Espírito Santo), apenas um servidor em cada estado ficou abaixo do teto. A média mais alta foi registrada no MP do Rio de Janeiro, com contracheques que chegaram a R$ 76,2 mil mensais.

O teto constitucional corresponde ao subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal, atualmente em R$ 46.366,19 por mês, e inclui salários, gratificações e benefícios remuneratórios. No entanto, auxílios como alimentação e transporte ficam de fora do cálculo, abrindo brechas para complementações expressivas. Apenas no ano passado, o total pago além do teto somou R$ 2,3 bilhões, sendo que 77% dos membros ultrapassaram o limite em mais de R$ 100 mil.

Entre os principais adicionais usados para inflar os salários estão os chamados “penduricalhos” por acúmulo de funções — como gratificações por exercício cumulativo ou licença-compensatória — que representaram R$ 687,4 milhões no período. Além disso, outros R$ 1,4 bilhão foram pagos sem identificação clara da natureza das rubricas, devido à falta de transparência nos contracheques, o que equivale a 31% do total adicional.

A Transparência Brasil defende a criação de mecanismos legais mais rigorosos para conter os supersalários no sistema de Justiça. A entidade alerta que o Projeto de Lei 2.721/21, aprovado na Câmara e atualmente no Senado, não enfrenta o problema e, na prática, amplia privilégios. Santa Catarina e Mato Grosso do Sul não foram incluídos na análise por omitirem dados detalhados dos membros do MP.

Com informações da CNN

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Geral

Entidade investigada pela CPI do INSS repassou R$ 176 milhões a empresas ligadas à própria cúpula

Foto: Rafaela Araújo/Folhapress

A Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), uma das entidades investigadas pela CPI do INSS, movimentou R$ 176 milhões em repasses para empresas controladas por dirigentes e ex-dirigentes da organização. Os dados constam de um relatório sigiloso do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), elaborado a pedido dos parlamentares e obtido pela Folha. Entre os beneficiários estão companhias de familiares e de ex-presidentes da Amar Brasil, todas criadas em datas próximas à obtenção de autorização para realizar descontos em aposentadorias e pensões do INSS.

Segundo registros da Receita Federal e da Junta Comercial de São Paulo, ao menos quatro dessas empresas foram abertas entre dezembro de 2022 e os primeiros meses de 2023 — período que coincide com o início dos convênios da entidade com a Previdência. As sedes de parte dessas consultorias estão localizadas no mesmo andar de um prédio em Barueri (SP). No intervalo entre novembro de 2022 e abril de 2025, a Amar Brasil recebeu R$ 324,6 milhões do INSS e, paralelamente, direcionou grandes quantias para empresas de pessoas próximas à direção.

Entre os repasses, destacam-se R$ 83 milhões enviados a firmas de Felipe Macedo Gomes, ex-presidente da entidade, e de Américo Monte Jr., filho do atual presidente, Américo Monte. Outras três empresas, ligadas a Anderson Cordeiro de Vasconcelos, José Branco Garcia e João Carlos Camargo Jr. — sócios de Gomes e Monte Jr. em outra companhia — receberam R$ 92,8 milhões no mesmo período. Todas as beneficiárias têm como atividade principal a prestação de serviços de consultoria em gestão empresarial.

Os valores movimentados chamaram a atenção dos órgãos de controle porque as empresas foram criadas logo após a Amar Brasil conseguir autorização para realizar descontos nos benefícios do INSS, em agosto de 2022. A AMJ Security, de Monte Jr., por exemplo, foi fundada em dezembro daquele ano e recebeu R$ 38,2 milhões. A EMJC Serviços, de Gomes, foi aberta um dia antes e recebeu R$ 44,9 milhões. Já a ADV Serviços, de Vasconcelos, foi constituída na mesma data e obteve R$ 40 milhões. Outras duas companhias, MKT Connection Group e JBG Serviços de Apoio Administrativo, receberam R$ 24,4 milhões e R$ 28,5 milhões, respectivamente.

A defesa de Monte Jr., Gomes e Vasconcelos, por meio do advogado Rogério Cury, afirmou que todas as atividades foram realizadas “com ética, transparência e profissionalismo” e que os valores foram declarados às autoridades competentes. A reportagem tentou contato com Américo Monte, José Branco Garcia, João Carlos Camargo Jr. e a Amar Brasil, mas não obteve resposta. As investigações da CPI e da Polícia Federal indicam que entidades como a Amar Brasil realizaram descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas. Relatórios da CGU também questionam a capacidade operacional da entidade, que chegou a ficar um ano sem funcionários e não possui filiais registradas.

Com informações da Folha de S.Paulo

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Geral

Lula pretende alertar Trump sobre risco de desestabilização regional com ação militar na Venezuela

Foto: Angela Weiss/AFP via Getty Images

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja transmitir um recado direto a Donald Trump em uma reunião presencial que está em preparação: uma ofensiva militar dos Estados Unidos contra a Venezuela poderia desencadear uma onda de instabilidade política e fortalecer o crime organizado em toda a América Latina. Segundo um alto funcionário do governo brasileiro, Lula pretende frisar que qualquer ataque ao território venezuelano teria consequências para além das fronteiras do país governado por Nicolás Maduro, afetando diretamente a segurança regional.

Na conversa, Lula também deve questionar a lógica de uma intervenção para promover “mudança de regime” em Caracas, sustentando que a estratégia pode produzir efeitos contrários aos que Trump alega buscar. A preocupação cresceu após o presidente americano confirmar, na quarta-feira (15), que autorizou a CIA a conduzir operações secretas com o objetivo de derrubar Maduro. Além disso, os EUA deslocaram navios de guerra para o mar do Caribe e afirmam ter atacado embarcações venezuelanas classificadas como narcoterroristas.

Ainda não há definição sobre local e data do encontro entre os dois líderes, que conversaram nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, e iniciaram tratativas para uma reunião bilateral. O governo brasileiro tem interesse em que a reunião aconteça ainda em 2025, de preferência antes que pressões políticas internas — como as do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — possam dificultar a aproximação. A expectativa é de que os dois discutam também tarifas e sanções impostas aos produtos brasileiros.

Uma das possibilidades é que a reunião ocorra paralelamente ao encontro da Asean, na Malásia, nos dias 26 ou 27 de outubro. Caso as agendas não coincidam, um plano alternativo é um encontro durante a Cúpula das Américas, marcada para o início de dezembro em Punta Cana, na República Dominicana. A participação de Trump ainda é incerta. O evento, no entanto, é visto com cautela pelo Itamaraty, já que o governo dominicano, sob pressão de Washington, excluiu Cuba, Venezuela e Nicarágua da lista de convidados — decisão que levou o presidente colombiano, Gustavo Petro, a anunciar boicote.

O Brasil tem defendido a busca por uma solução diplomática para a crise venezuelana. Em telefonema recente, Lula apresentou essa posição a Trump e reafirmou que não vê na oposição liderada por María Corina Machado — laureada com o Prêmio Nobel da Paz — força política suficiente para substituir o regime chavista. A avaliação do Planalto é que, sem uma alternativa sólida, uma intervenção externa apenas aprofundaria o cenário de instabilidade e poderia ter reflexos em toda a região.

Com informações da Folha de S.Paulo

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Geral

Ex-deputado George Santos deixa prisão após perdão de Trump nos EUA

Foto: Julia Demaree

O ex-deputado norte-americano George Santos, filho de imigrantes brasileiros, foi solto na madrugada deste sábado (18) após receber perdão presidencial de Donald Trump. A decisão foi oficializada por ordem executiva assinada pelo presidente, que determinava a libertação imediata do político, preso desde julho. A saída de Santos da Instituição Correcional Federal de Fairton, em Nova Jérsei, foi confirmada por seu advogado, Joseph Murray, à Associated Press e a veículos de imprensa dos Estados Unidos.

Condenado a sete anos de prisão por fraude e falsidade ideológica, Santos havia iniciado o cumprimento da pena em regime federal. Segundo o advogado, ele deixou o presídio por volta da meia-noite (horário de Brasília) e foi recebido por familiares na porta da unidade. “Uma grande injustiça foi corrigida. Deus abençoe Donald J. Trump, o maior presidente da história dos Estados Unidos”, declarou Murray em nota divulgada nas redes sociais do ex-deputado.

Trump justificou o perdão afirmando que Santos havia sido submetido a tratamento severo e chegou a passar longos períodos em confinamento solitário. “George era visto como um fora da lei, mas há muitos outros que não cumprem sentenças tão duras. Assinei sua libertação imediata. Boa sorte, George, e tenha uma ótima vida”, escreveu o presidente em sua rede social.

A carreira política de Santos ruiu rapidamente após revelações de que havia mentido sobre seu currículo e enganado doadores de campanha. Ele admitiu ter cometido fraude eletrônica e usado a identidade de pelo menos dez pessoas, incluindo familiares, para financiar sua eleição em 2022. O republicano cumpriu pouco mais de um ano de mandato antes de ser expulso da Câmara em 2023, além de se comprometer judicialmente a pagar cerca de US$ 580 mil em multas.

Antes da sentença, Santos enviou uma carta à Justiça pedindo desculpas pelos crimes e classificando como “excessiva” a pena solicitada pelos promotores. Ele havia se tornado símbolo de ascensão meteórica no Partido Republicano ao conquistar um distrito tradicionalmente democrata em Nova York, mas as investigações expuseram contradições sobre sua vida pessoal e profissional. Apesar das polêmicas, manteve apoio de parte da base trumpista, o que acabou sendo decisivo para a concessão do perdão.

Com informações do G1

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Geral

Voto de Barroso a favor de aborto e dobradinha com Gilmar causam desconforto no STF

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

A decisão de Luís Roberto Barroso de votar pela descriminalização do aborto antes de deixar o Supremo Tribunal Federal (STF) provocou surpresa e desconforto entre ministros. Embora sua posição sobre o tema fosse conhecida, havia expectativa de que ele encerrasse sua trajetória na Corte sem se manifestar no julgamento da ADPF 442, que trata da interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana. Barroso formalizou o voto na sexta-feira (17), em sessão virtual extraordinária solicitada ao presidente Edson Fachin — pedido que foi recebido pela imprensa antes mesmo de chegar a alguns colegas.

Até a véspera, Barroso mantinha indefinido se participaria do julgamento. Na noite de quinta (16), decidiu não apenas votar, mas também conceder duas liminares em ações herdadas de Fachin no início de outubro. Nas decisões, autorizou enfermeiros e técnicos de enfermagem a auxiliarem em procedimentos de aborto legal sem risco de punição, suspendendo processos administrativos e penais relacionados. A medida confronta o artigo 128 do Código Penal, que reserva a prática exclusivamente a médicos, e vai de encontro à posição do Conselho Federal de Medicina, contrário à ampliação do acesso a outros profissionais.

A forma como o voto foi articulado também teve peso político dentro do tribunal. Barroso comunicou apenas a poucos ministros, entre eles Gilmar Mendes — com quem protagonizou embates públicos no passado. Apesar disso, ambos firmaram uma estratégia conjunta: após o registro do voto no plenário virtual, Gilmar pediu destaque, interrompendo o julgamento, como combinado. Em paralelo, ele abriu divergência em relação à liminar sobre os profissionais de enfermagem, sendo seguido por Cristiano Zanin, Flávio Dino, Kassio Nunes Marques e André Mendonça, que se posicionaram sem apresentar votos escritos.

Nos bastidores, o gesto foi interpretado como parte do legado pessoal de Barroso. Caso não tivesse votado, seu sucessor herdaria tanto a relatoria das ações quanto a prerrogativa de se manifestar no mérito da ADPF 442. O nome mais cotado para a vaga é o advogado-geral da União, Jorge Messias, que é evangélico — fator que, segundo aliados do ex-ministro, pesou no cálculo político. Ainda assim, a avaliação majoritária é de que prevaleceu um componente biográfico: defensor histórico dos direitos reprodutivos, Barroso quis assegurar que sua posição ficasse registrada no tema que considera de grande relevância social.

Sua atuação nesse campo vem de longa data. Antes de ingressar no STF, participou como advogado do caso que autorizou o aborto em casos de anencefalia, em 2012. Já como ministro, foi um dos votos determinantes em 2016, na Primeira Turma, ao entender que a prática não configura crime até o terceiro mês de gestação — decisão que impulsionou movimentos feministas a apresentarem a ADPF 442 em 2017. A sexta-feira foi marcada por intensa mobilização nas redes sociais para pressionar Barroso, coroada pelo pedido de sessão extraordinária. A abertura da votação demorou cinco horas para ser confirmada por Fachin, que registrou preferir o debate no plenário presencial.

Com informações da Folha de S.Paulo

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Saúde

Brasil registra 46 casos confirmados de intoxicação por metanol e 8 mortes

Foto: Reprodução

O Brasil já soma 46 casos confirmados de intoxicação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas, conforme divulgado pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira (17). Além disso, 87 ocorrências seguem em investigação.

São Paulo concentra a maior parte dos casos: 38 confirmados e 44 suspeitos. O Paraná tem quatro confirmados, Pernambuco três, e o Rio Grande do Sul um. Ao todo, 528 suspeitas foram descartadas.

Outros estados com casos em investigação incluem Pernambuco (23), Rio de Janeiro (6), Piauí (3), Mato Grosso do Sul (2), Goiás (2), Paraná (2), Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba e Tocantins, todos com uma notificação cada.

Mortes

Até agora, o número de óbitos permanece em oito: seis em São Paulo e duas em Pernambuco. Outros oito casos de mortes estão sob investigação, com suspeitas em São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Pará. 26 mortes suspeitas já foram descartadas.

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Saúde

Micro e nanoplásticos estão em tudo que você come, bebe e respira, alertam cientistas

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Os micro e nanoplásticos já estão em todo lugar: água, ar, solo, alimentos e até dentro do corpo humano. Pesquisa de cientistas da UFF, UFRJ e Uerj analisou 140 estudos internacionais e comprova a onipresença dessas partículas, embora os efeitos exatos na saúde ainda estejam sendo investigados.

Partículas foram encontradas em alimentos comuns como açúcar, sal e mel, além de peixes e frutos do mar que transferem os microplásticos para os humanos. Animais contaminados já foram detectados da Amazônia ao Rio Grande do Sul, e a poluição também entra no corpo pela respiração e pela pele.

Estima-se que cada pessoa consuma entre 39 mil e 52 mil microplásticos por ano, podendo chegar a 121 mil se a inalação for considerada. O número sobe ainda mais para quem consome água engarrafada. Nanoplásticos, porém, são ainda mais difíceis de detectar, o que indica que a contaminação pode ser subestimada.

As partículas se acumulam em pulmões, sangue e órgãos, e já foram encontradas em placentas e cordões umbilicais, atingindo fetos. Um estudo detectou microplásticos em 60% dos coágulos arteriais, sugerindo um possível papel na formação de doenças cardiovasculares, embora a relação de causa e efeito ainda precise ser confirmada.

Enquanto ONU enrola, você engole plástico

O alerta dos cientistas é urgente: reciclagem, menos descarte e ação de governos e indústrias são fundamentais. A ONU tenta negociar um tratado internacional contra a poluição plástica, mas o fim das negociações já foi adiado duas vezes. Enquanto isso, o plástico segue entrando silenciosamente no corpo de todos.

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Brasil

BH: Polícia apreende 15 mil garrafas para falsificação de bebidas e interrompe possível rota do metanol

Foto: Divulgação/PCMG

A Polícia Civil de Minas deu um grande golpe na cadeia de falsificação de bebidas em Belo Horizonte. Cerca de 15 mil garrafas originais vazias, de marcas conhecidas como vodka, gin e whisky, foram apreendidas em um depósito no centro da cidade. Um homem de 61 anos foi conduzido para prestar esclarecimentos, mas liberado por não haver bebidas suspeitas no local, conforme informações da CBN.

Segundo a PC, todas as garrafas estavam com rótulos, tampas e bicos preservados, prontas para o envase clandestino. “O responsável revendia as garrafas exatamente com rótulo e tampas para reinvase. Precisamos identificar a fábrica e a origem da bebida adulterada”, explicou o delegado Rafael Alexandre de Faria.

O material apreendido foi encaminhado à Superintendência de Limpeza Urbana de BH para descarte seguro, evitando que retornasse ao mercado ilegal.

O delegado reforçou que a operação é parte do combate à adulteração com metanol, que tem provocado intoxicações graves em outros estados, principalmente em São Paulo. “Quando se utiliza álcool combustível adulterado na produção da bebida, há risco de formação de metanol. Ao atacar a falsificação, cortamos qualquer possibilidade de intoxicação”, disse.

Foto: Divulgação/PCMG

Além desta ação, a Polícia Militar, com apoio da Receita Federal, Instituto Mineiro de Agropecuária e Vigilância Sanitária, também realizou operações na semana contra produção, armazenamento e comercialização clandestina de bebidas alcoólicas.

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