Quando pisar no campus da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, para o seu primeiro dia de aula na próxima segunda-feira (18), a caloura do curso de Jornalismo Priscila Oliveira, 17 anos, terá como missão não apenas o diploma, mas conseguir um lugar para morar nos próximos quatro anos. Natural de Cruz Alta, no norte do Rio Grande do Sul, distante cerca de 500 quilômetros da capital catarinense, ela não tinha nem onde ficar para o início das aulas.
Sem auxílio financeiro da universidade ou parentes em Florianópolis, a gaúcha corria o risco de perder a vaga se não estivesse presente na primeira semana de aulas. A mãe é dona de casa e o pai guarda da escola onde ela estudava. A renda famíliar não ultrapassa dois salários mínimos e eles ainda têm mais uma filha, de apenas 15 anos.
— Eu achei que era rápido, que a universidade teria espaço para receber que vem de longe — contou Lúcia Oliveira, a mãe.
Comovidos com a situação, alunos e professores do curso de Jornalismo fizeram uma força-tarefa de pelo menos 47 pessoas para abrigá-la no primeiro mês de aulas. Cada um ajudará como pode. Três colegas vão recebê-la em casa e professores se ofereceram para ajudar nas despesas.
A ideia do acolhimento informal veio do coordenador do curso, Aureo Moraes. Ao tomar conhecimento da situação da aluna, ele resolveu pedir ajuda para a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, responsável pela assistência aos alunos. Lá, no entanto, descobriu que somente quando as aulas começassem é que Priscila poderia se cadastrar no órgão para pedir uma das 154 vagas da moradia estudantil e uma bolsa de auxílio. Além disso, após o cadastro, seriam necessários outros 30 ou 40 dias para que a vaga na moradia fosse liberada.
Foi então que o coordenador resolveu apelar para a solidariedade de seus colegas professores e alunos do próprio curso. No dia 28 de março, ele enviou um email contando a história de Priscila e recebeu diversas ofertas de apoio dos
— O drama é a permanência. A gente está tomando uma medida assim pela gravidade da situação e encontramos uma solidariedade fantástica. Mas a universidade tem que dar conta de resolver isso. Quando digo isso, é além da Ufsc, mas o MEC e todo mundo que estiver envolvido nisso — explicou Moraes. De acordo com o professor, só na Ufsc outros 503 alunos também irão pleitear auxílio-permanência na universidade.
Com a situação temporariamente resolvida, Priscila é só expectativa pelo início das aulas:
—É bom saber que no mundo de hoje ainda tem gente que ajuda um desconhecido vindo de tão longe — disse Priscila, ao contar que será a primeira da família a ter um diploma de ensino superior.
A mãe da caloura, visivelmente emocionada, não conseguiu segurar o choro ao falar sobre o apoio que a filha recebeu dos colegas que ainda nem conhece:
— Eu não tenho palavras para falar. Eu acho maravilhoso — suspirou Lúcia, às lágrimas.
Procurado, o Ministério da Educação informou que investiu mais de R$ 1 bilhão em assistência estudantil a alunos das instituições federais de educação superior nos últimos cinco anos. Para o próximo ano, a previsão é de mais de R$ 603 milhões.Com o Reuni, já foram repassados recursos para a construção de 113 novas bibliotecas, 62 centros de convivência, 72 moradias estudantis e 127 restaurantes universitários. Para essas ações, entre 2008 e 2012, o Ministério da Educação repassou R$ 678,7 milhões às universidades.
Globo
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