Por Rubens Lemos Filho
Repórter aos 20 anos tinha (hoje não), inconseqûencia no lutar. Aprender. Em casa eu dispunha de meu pai, um professor, dignidade, qualidade, senhor texto. Dele, escolha pessoal, o nome de batismo. Desde a derrota de Radir Pereira para Jessé Freire ao Senado em 1978, derrota que fez o meu pai chorar, havia o sentimento de vindita. A ditadura torturava nos porões e cortava esperanças nas sublegendas eleitorais.
Meninote, minha arma era uma uma baladeira e com ela derrubaria divisões alemães pela democracia. Democracia foi um direito negado a mim. Aos meus pais, trancaram as mínimas condições de sobrevivência. Salvas por Aluízio e Agnelo Alves. Meu pai, o epitáfio, estava longe do Rio Grande do Norte no tempo em que eu era do contra. Contra o que restava de um período sofrido em nossas cicatrizes.
Os cataventos sopraram, o tempo girou e um baixinho, técnico, criativo, inteligência irmã de Aluízio Alves, venceu. Era o Tambor das novas danças. Geraldo Melo, grande campanha, maior que o governo, onde teve que conciliar com adversários em nome das circustâncias do poder, da governabilidade. Poder que o enojava pelos malas bajuladores , que pela ternidade , formarão mediocridade adulatória e suprapartidária.
Eleito, mandando porque nasceu para mandar, Geraldo Melo bateu na porta de minha casa sem eu nem votar. Claro que ele não foi, mandou buscar. Os jornalistas João Ururahy e Afonso Laurentino me alegraram com a bela notícia para o casado novo, crediário aberto e desde então, mesma família. Fui convidado para ser repórter do governador repórter. São quase três décadas, impolutos de araque.
Voltando ao tempo. Aos 16 anos, sonhos no peito e rebeldia magriça, corri, corri atrás do Impacto Cinco na mais linda campanha eleitoral desde que sou vivente. Geraldo Melo contra João Faustino. Homens acima do radicalismo que ferveu. Ao cumprimentar Geraldo, reafirmo a saudade de João.
Morto e indefeso. A campanha de Geraldo Melo eletrizou quando ele reconheceu que perdia – por muito-, nas pesquisas e venceria olho no olho, voto a voto. Discurso de macho, brabo e desafiado. “Sopra. Sopra um vento forte/no rio grande do norte/ vento diferente/que traz alegria” assim começava.”Agora encontra com Geraldo Melo/ Nova esperança pra a gente viver urra/esse vento traz Geraldo e a nossa sorte vai mudar/
O Tamborete na campanha mostra agora o seu valor( trecho de outra marcha de exaltação, como toda ela paupérrima na criação). Atribuo ao governador, uns 28,5% (né assim, doença percentual?) da minha gastrite ulcerativa. Implacável, impiedoso ao detonar o que não gostava. Era ele, puro. Um triturador nas cobranças.
Nos reencontramos em 1994. Ele candidato a senador – eleito em primeiro lugar na chapa do governador Garibaldi Filho. Quase puxa o sindicalista agricultor Francisco Urbano. Giramos o Elefante bovino de trás pra frente.Discurso em João Dias, faroeste soturno a 400 km daqui.
Geraldo conversando com o eleitor. Me atrevi. Fui até ao locutor Ely Santos (craque de palanque) e comentei, dias depois do tetracampeonato.Fui também na corda do deputado estadual Leonardo Arruda: “Ely, rapá, todo baixinho é enjoado e todo enjoado é Romário (ganhou a Copa carregando mais 22 nas costas) e Geraldo”. Ely, malandro, maior gestor de emoções políticas, temperou o mote: “Vai falar ele, o governador do leite, da segurança, da duplicação da Ponte de Igapó, vai falar o Romário Potiguar!” Gostou sem dizer. Um elogio de Geraldo Melo é tão normal quanto bater papo com Barack Obama.
Ajeitou a manga da camisa, deu 16 esbregues no conjunto musical e na assessoria, atitude tão corriqueira quanto um drible de Garrincha e pigarreou antes de recitar. Geraldo não discursa, declama: “Meus amigos de João Dias (eram inimigos e aderiram 24 horas antes), quem toma atitude libertária tem coração e quem tem coração, arranca o medo da caixa dos peitos. Vocês estão livres. E já que estão me chamando de Romário, ele é mais chato”. Desci do palanque pra tilintar o texto na máquina Olivetti Lettera 32 (juntem Macboks) e prefiro ela, me olhando suplicante. Ao tentar um lugar livre pra cuspir laudas, vi chorando homens rurais castigados pela seca da época.
Hipnotizados pela maior oratória depois de Aluizio Alves. Tinha que dar esse depoimento. Geraldo Melo está tomado por um desencanto natural da política. Fez um bom governo.Que não vi começar. Que vi terminar, repórter novo e maravilhado nos papos de sábado.
Geraldo, João Ururahy, Zé Wilde, Afonso Laurentino Ramos, Benivaldo Azevedo, Luciano Herbert, Aluisio Lacerda. Filho de exilado e a contragosto, perdi sua posse. Lacrimejava ao telefone, de ouvinte a minha saudade renitente, mãe-avó Maria do Carmo Carneiro de Melo, comadre de Maria Eugênia, tia de Geraldo e madrinha de minha mãe.
Vovó morreu em 2011. Quando viajei, 11/03/1987: virei exilado dolorido de tortura nostálgica em Cuiabá(MT), para onde fui me debatendo, resistindo, Chorando. O amor ao seu chão só tem valor na distância. Natal é minha pátria e o meu distanciamento, é sossego aos 43 anos.
Hoje vivo em minha casa pelas viagens dolorosas que não escolhi.E não fui, foram me levando, menção honrosa ao compositor Dosinho. Dia 15/03/1987. Geraldo Melo implantava um tempo novo que lhe custou caro. Dia 15/03/2014. Geraldo Melo faz falta à política. Gosto muito dele. Sou grato a ele. É abusado, eu sei. Melhor que melífluos.
Haverá uma procissão de palanques saudosistas, pedindo pra ele voltar.
Rubinho, belas, expontâneas e verdadeiras palavras. Eu que vivi, também, aqueles momentos, fui e sou uma testemunha daqueles momentos, bons momentos.
Saudade de quem?? de que??? Só lembro de ficar quatro a cinco meses sem receber salário, ser despejada da casa onde morava por falta de pagamento, filas terríveis, sol escaldante, sede, formar uma roda de amigos para poder fazer "xixi", por não ter onde ir, pois no machadão não podíamos entrar. Saudade de quem mesmo Sr. Rubinho???????
Cada estado tem os políticos que merecem. Daqui a alguns anos alguns jornalistas vão escrever o mesmo de Rosalba. Aliás, já teve quem fizesse isso.
Apesar do belo texto, do Jornalista.
Esse cidadão deixou o funcionalismo público a mingua, sem receber nos últimos 3 meses de sua administração. Lastimavel, só tem saudade dele quem compartilhou com ele das regalias que o cargo o provia. Ostracisco Eterno para ele.
Este texto foi publicado na edição impressa de O JORNAL DE HOJE. Não tanto pelo testemunho pessoal do autor do texto, nem pelo o que o ex-governador Geraldo José Ferreira de Melo fez ou deixou de fazer, mas achei estranho e fora de propósito o artigo devido não ser uma data "redonda": 30 anos, por exemplo. São nas datas "fechadas", em especial, que os jornais relembram fatos, notícias, comemorações, mortes de famosos, aniversários, etc.
Isso tudo que aconteceu com ele na política foi praga de professor, que ele maltratou tanto. Essa raiva acabou se estendendo para os familiares e amigos de professores, que até hoje não esquecem as humilhações impostas por esse cidadão
Rubinho Lemos está querendo ressuscitar Geraldo Melo? Se por uma lado realizou uma grande obra que foi a segunda ponte de Igapó, por outro entregou o Território de Fernando de Noronha aos Pernambucanos e com o seu estilo de capataz permitiu que a Polícia Militar agisse com toda a violencia (inclusive com cães) contra um grupo de professores em greve durante manifestação em frente ao Palácio Potengi. Para os funcionalismo Estadual foi de carrasco ao atrasar os vencimentos e realizar o pagamento nas bilheterias do então Estádio Castelão.
Texto bem regido conta as memórias pessoais.a minha com essa figura sao triste fila, policia, humilhação com q tratou os educadores de nosso estado. Merece o ostracismo por não perceber q a educação não deve ser só discurso de político em tempo de eleição
Esse foi o vento que só soprou mau cheiro
Não há um ditado mais correto em nossa terra do que aquele que diz:" Quer ver você torna-se bom,morra ou se mude".Não tiro a grandeza da campanha a governo de Geraldo Melo mas acreditar que alguém tenha saudade do seu governo é um exercicio de imaginação inacreditável.Já que o texto narra uma experiência pessoal vou relatar a minha,era um menino de 11 anos quando no final do Governo dele, vi meu pai então professor enfrentar uma fila no antigo Castelão para receber o salário e o décimo-terceiro sob um sol escaldante vigiados pela policia vi o meu herói ser tratado como bandido,como gado. Assim cada derrota que esse cidadão sofreu até cair no ostracismo que ele merece,me lembro daquele dia.