Por William Waack, O Estado de S.Paulo
Nas mensagens trocadas entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol publicadas até aqui está um bom resumo da Lava Jato. É a frase atribuída ao então juiz Sérgio Moro na qual ele, dirigindo-se ao procurador Deltan Dallagnol, duvida da capacidade das instituições brasileiras de lidar com a corrupção do sistema político.
A força-tarefa de Curitiba é um acontecimento relativamente recente, mas tem décadas a convicção que personagens como Moro e Dallagnol exibem da sociedade brasileira como hipossuficiente, isto é, incapaz de se defender sozinha, especialmente frente à esfera da política. Esse é também o ponto de partida para a compreensão que procuradores têm de si mesmos como “agentes políticos da lei”.
O que explica a extraordinária popularidade da Lava Jato não são esses velhos e conhecidos postulados ideológicos, mas, sim, o fato de uma imensa parcela da população ter encontrado nas ações da força-tarefa a expressão de seu profundo descontentamento com um “sistema”, sobretudo o político, encarado como principal obstáculo ao progresso dos indivíduos e do País.
A face nos últimos tempos mais identificada com o “sistema” era o PT, entre tantas siglas políticas que procuradores e juízes identificam como predadores de uma sociedade indefesa. Daí ter sido esse partido um de seus principais alvos, mas de forma alguma o único. O fato central é que o “lavajatismo” não considera o sistema político capaz de se regenerar, nem os poderes políticos (sobretudo o Legislativo).
A “tutela” exercida pelos integrantes da Lava Jato sobre uma sociedade civil entendida por eles como fraca e indefesa foi entusiasticamente aceita e se traduziu em grande medida na onda que arrasou o PT, e quase toda a política, com a colaboração de setores dominantes da mídia também. Convencidos desde o início de que enfrentariam uma formidável reação do “sistema”, especialmente dentro do Judiciário, os expoentes da Lava Jato claramente subordinaram meios legais aos fins – políticos num sentido amplo.
Assumiram que seria necessária a utilização excepcional de instrumentos de investigação e coerção, esticados até a margem da lei, para lidar com um adversário enraizado nas principais instituições. A maioria da sociedade brasileira concordou com isso e deu expressão eleitoral (na figura de Jair Bolsonaro) à noção de que era necessário “limpar” o PT e o “sistema”, ainda que se tivesse de fechar os olhos para eventuais “abusos” ou “escorregadas” por parte da Lava Jato.
Muita gente (muita mesmo) pensa que garantias legais e preceitos constitucionais e também a frase “não se deve combater crimes cometendo crimes” importam menos diante do grau de roubalheira, bandidagem, cinismo, irresponsabilidade dos dirigentes políticos e seus comparsas do mundo empresarial no “sistema”, conduzido mais recentemente pelo lulopetismo.
A revelação dos diálogos particulares entre Moro e Dallagnol enfureceu não só juristas, indignados com o que se configura óbvia violação de princípios pelos quais magistrados deveriam pautar suas condutas. Mas as consequências políticas estão sendo o contrário do que pessoas fiéis a princípios poderiam esperar com a grave denúncia de comportamento parcial ou de ativismo político por parte de integrantes da Lava Jato.
Quem calcula a “desmoralização” da Lava Jato provavelmente verá o contrário. Pode-se gostar disso ou não, mas na luta política brasileira já faz bastante tempo que princípios foram mandados às favas. Não sabemos ainda é com quais vamos tentar construir o futuro.
Até agora o que foi revelado, para uma pessoa que possui um pouco de senso, não desabona em nada as autoridades que foram individualmente violadas em seu sigilo profissional. Pelo contrário, parece educador, muito diferente das demais tramoias envolvendo o dinheiro público que já estamos cansados de relembrar. Não há propina, dinheiro, nem nenhum palavrão! Mas para o corrupto há tudo, estamos vendo isso agora.
Quando Alexandre de Moraes foi indicado ao STF, participou, dias antes da sabatina, de um rega-bofe numa lancha ancorada no Lago Paranoá, convidado por vários senadores envolvidos em denúncias, os quais, ao mesmo tempo, tinham o poder de questionar ou barrar a indicação dele para o tribunal. Isso foi publicado mas não houve qualquer alarde sobre tamanho descaramento.
Deputados e senadores podem jantar com ministros do STF e ter acesso aos seus gabinetes livremente. Advogados tem acesso aos gabinetes de juízes livremente também. Mas, promotores e juízes são obrigados a ficarem incomunicáveis por causa de uma ideologia impregnada não só na imprensa brasileira, mas na OAB, em parte da classe artística, sindicatos e determinados cursos acadêmicos.
Força Lava Jato! Lugar de corrupto é na cadeia!
O apoio as ações criminosas da lava jato, tem o mesmo sentimento e justificativa do apoio aos grupos de extermínio e milicianos. Um crime para justificar outro. Em alguns casos, um crime para eliminar adversários. É a barbárie de volta.