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VÍDEO: Diretora argentina traz ao Brasil exibição de ‘pornô feminista’

A diretora Albertina Carri, que vive longe das redes sociais Foto: Divulgação / Mariana Bomba

Pergunte à diretora argentina Albertina Carri o que faz de seu filme “As filhas do fogo” um “pornô feminista”, e a primeira resposta será um simples “não sei”. Mas a verdade é que o road-movie erótico, que acaba de chegar aos cinemas brasileiros, com distribuição da Vitrine Filmes, fala por si só.

– Claramente, o filme não se encaixa na seara do pornô patriarcal, hegemônico, puramente genital, capitalista – afirma a diretora, que estará no Rio para uma sessão especial, às 21h30 deste sábado, no Espaço Itaú de Cinema, acompanhada pela atriz Mijal Katzowicz. – A grande diferença, eu diria, está na naturalização do gozo da mulher, na voluptuosidade do desapego frente aos afetos e na possibilidade da circulação dos corpos como parte de um todo.

O longa se passa na Patagônia argentina e explora uma jornada poliamorosa, iniciada por três mulheres. Uma delas é uma cineasta, cujas anotações narram essas aventuras e investigam as histórias das personagens. Ao longo do caminho, elas encontram outras companheiras e experimentam, juntas, novas possibilidades de prazer.

As imagens mostradas na tela, diz Albertina, trazem cenas de sexo reais e simuladas. Durante as filmagens, a maior preocupação foi que as as atrizes se sentissem à vontade e se entregassem à experiência. A pluralidade de corpos no elenco também foi levada em consideração, para que o maior número possível de mulheres fosse contemplado pela trama. O resultado?

– Suponho que espectadores e espectadoras voltam para suas casas cheios e cheias de sonhos molhados, luminosos e infinitos – comenta a diretora, considerada um dos nomes que ajudaram a consolidar o “Novo Cinema Argentino.

Antes de estrear em circuito comercial no Brasil, o longa foi premiado em festivais como Bafici 2018, San Sebastián Film Festival, Festival de Roterdã, Festival do Rio e Mix Brasil 2018. Abaixo, nossa conversa com Albertina.

O GLOBO – O trailer do filme abre com a seguinte reflexão: “O problema nunca é a representação dos corpos. O problema é como esses corpos se tornam território e paisagem”. O que isso diz sobre o filme e sobre o seu discurso?

ALBERTINA CARRI – É uma declaração de princípios. Tanto sobre o filme, como sobre o cinema em geral, e também uma reflexão sobre o papel a ser encenado, o olhar, o ponto de vista. O que representamos quando empunhamos uma câmera? Para quem? Para quantos? Por quê?

Como você lida com o termo “pornô”? Considera perfeitamente adequado ao seu filme?

Gosto de dizer que “As filhas do fogo” é uma película pornográfica porque me interessa discutir com esse gênero cinematográfico. Em termos ortodoxos ou acadêmicos, o filme não é pornô, mas me parece importante ressignificar esse gênero e não ignorá-lo.

O que difere o seu filme dos demais pornôs?

Claramente, o filme não se encaixa na seara do pornô patriarcal, hegemônico, puramente genital, capitalista – no sentido de que sempre deixa o público com desejo porque apresenta corpos impossíveis para a vida real, um tipo de orgasmo irreproduzível, uma forma de gozo unilateral e milhares de etc. A grande diferença, eu diria, está na naturalização do gozo da mulher, na voluptuosidade do desapego frente aos afetos e na possibilidade da circulação dos corpos como parte de um todo. Em outras palavras, como parte da paisagem, da viagem, do discurso e da palavra.

O que faz do seu pornô um “pornô feminista”?

Não sei (risos). Mas suponho que seja o que está em cena, com uma câmera que participa, e não uma câmera que indica.

O pornô convencional contribui, na sua opinião, para a perpetuação do machismo? Como?

Contribui, assim como a publicidade, as novelas e os filmes dramáticos sobre o amor romântico perpetuam a dor da mulher, como se fôssemos seres destinados ao sofrimento e que só deixamos de sofrer quando a aprendemos a fazer um outro gozar, que, em geral, é um homem com um membro enorme. O pornô convencional gira sempre em torno do falo. E o “falo”, que os gregos chamavam de fascinus , vem do que fascina. Mas os gregos e os romanos não faziam distinção entre homossexualidade e heterossexualidade, mas entre atividade e passividade. O fascinus e os sprints (orifícios) foram utilizados de acordo com os desejos de cada um. Então, a Igreja Católica chegou com toda a sua lógica higienista e destruiu nossa sensibilidade como sociedade. Pelo menos, no Ocidente. Mesmo em nosso continente, nossos povos originários tinham uma cosmovisão de corpo e do prazer que de nada se parece com o sistema monogâmico e heterossexual com o qual estamos sendo educados há anos. E a única maneira de impor tal regime é a violência, e é isso que a pornografia convencional faz; Faz parte das engrenagens que continuam a nos domesticar para nos tornarmos pessoas cheias de tédio e insatisfação.

Fazer um pornô como o seu é um enfrentamento a isso? É uma apropriação do gênero, por exemplo?

Sem dúvida. É mostrar outra maneira de estar no mundo. Não gosto da palavra apropriação por duas razões: porque é reconhecer uma propriedade anterior e porque implica num gesto violento. Eu não vim violentar ninguém, pelo contrário, estou aqui, cercada por todas essas meninas, para falar sobre a ternura, a ternura de nos deixarmos ser.

Como é fazer um trabalho desses em meio a uma onda conservadora? Que tipo de reações você enfrenta?

Não estou em redes sociais e sempre digo que não quero ofender ninguém, mas vivo num mundo em que me ofendem. Que pensem sobre isso antes de ficar com raiva. Lembre-se que a Igreja Católica é a instituição que mais cometeu genocídios na história da humanidade, em nome de seu Deus, que não me representa.

Isso torna, de alguma maneira, o seu trabalho ainda mais relevante?

Só o tempo, que é o que mais sabe de tudo, dirá isso.

O filme pornô pode nos ajudar a lidar melhor com o nosso corpo e a nossa sexualidade?

Estou convencida que sim. Muita gente tem me dito: “aprendi muito vendo seu filme”. Por esses comentários, vejo que vale a pena tê-lo feito. Viver nossa sexualidade sem culpa nem repressão nos levará a sociedades mais maduras.

Como o filme afeta a vida de espectadores e espectadoras?

Eu suponho que voltam para suas casas cheios e cheias de sonhos molhados, luminosos e infinitos.

Considera importante que o público masculino também o assista?

Sim, claro. Muito importante. É um filme para quebrar preconceitos e, nesse sentido, é vital que os homens também o vejam.

Como foi o trabalho com as atrizes em cena? É tudo real ou há alguma simulação? Qual era a sua preocupação neste sentido?

O importante ao fazer o filme foi a ideia de não fazer nada que não quiséssemos. Então, às vezes era real e às vezes não, de acordo com o humor das atrizes, a narrativa da cena e outras circunstâncias. Às vezes, se goza de verdade e, em outros momentos, como encenação. Para nós, era importante nos deixarmos levar por toda essa gama de possibilidades.

Quando você começou a produzir filmes pornôs? O que a levou até o gênero?

Há 20 anos. Fiz um curta com bonecas que simulavam a coleção da Barbie, depois trabalhei por anos com arquivos pornográficos e finalmente cheguei a esse filme. Minha curiosidade está relacionada à repressão e àquela ideia perturbadora de genitais que a pornografia convencional traz. Nunca me senti parte desse modo de sentir prazer, mas, mesmo assim, sempre senti a necessidade de encontrar materiais do gênero. Acho que é por isso que comecei a fazer pornô com minhas próprias mãos.

Suas produções contemplam as mulheres heterossexuais também?

Claro que sim. Diria que as espectadoras heterossexuais foram as mais efusivas até o momento. Sentem-se muito amparadas ao ver essa celebração de corpos.

O Globo

Opinião dos leitores

  1. Se chupar bombril molhado fosse arte, o PT Mulher já teria recebido todos os prêmios da américa latrina.

  2. NÃO VEM NADA PARA AJUDAR, ESSE PAÍS SÓ ATRAI PORCARIA. ACHO QUE TEM UM BURRO ENTERRADO AQUI NO BRASIL.

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