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CASO REVELADO EM 2014: Financiamento para a socialite Val Marchiori no Banco do Brasil foi irregular, diz TCU

Auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que o Banco do Brasil concedeu irregularmente um financiamento à socialite e apresentadora de TV Val Marchiori. O relatório diz que os gestores da instituição descumpriram normas internas ao liberar R$ 2,79 milhões para uma empresa da qual ela é sócia.

O caso foi revelado pela Folha em 2014. O documento, obtido pela reportagem, propõe que os ministros do TCU apliquem multas de até R$ 58,2 mil a 13 gestores do banco por, supostamente, darem pareceres favoráveis à concessão do crédito, “sem fazer as análises técnicas necessárias”. Além dos auditores do tribunal, o Ministério Público de Contas sugere as mesmas sanções.

O julgamento foi iniciado em 13 de setembro, mas suspenso por um pedido de vista, após divergência entre os integrantes do plenário.

Os recursos foram liberados em 2013, durante a gestão do ex-presidente do BB Aldemir Bendine —atualmente preso pela Operação Lava Jato—, que era amigo de Marchiori. O empréstimo foi concedido à Torke Empreendimentos, que tinha a socialite como administradora.

O dinheiro vinha do Programa de Sustentação do Investimento, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Folha revelou que Marchiori foi orientada pelo BB e, menos de um mês antes de pedir o apoio financeiro, alterou o objeto social da empresa para enquadrá-la nas regras para obtenção de crédito. A Torke passou, então, a ter entre suas atividades “o transporte rodoviário de produtos perigosos”.

O financiamento se destinou à compra de cinco caminhões. Os veículos foram alugados para uma transportadora do irmão dela, prestadora de serviços para o frigorífico Big Frango, adquirido pela JBS em 2014.

O TCU analisou as condutas dos gestores do banco que deram aval à operação.

Eventuais irregularidades atribuídas a Bendine e Marchiori não estavam no foco da fiscalização.

A auditoria sustenta que o empréstimo foi aprovado em desacordo com os normativos do BB porque a apresentadora tinha histórico de inadimplência com o próprio banco, o que impediria a concessão de crédito não só para ela, mas para a empresa que representava.

“Verificou-se que não foram realizadas análises técnicas suficientes para a aprovação do referido financiamento e, tampouco, houve, no dossiê da operação, qualquer menção ao normativo que regula a realização de operações customizadas”, diz trecho de relatório.

PORSCHE

O TCU também fiscalizou outro empréstimo do BB à Torke, de R$ 200 mil. O montante era proveniente de uma linha de crédito do próprio banco e foi empregado na compra de um Porsche Cayenne, de uso da apresentadora. A auditoria concluiu que, nesse caso específico, não houve irregularidade, pois, pela legislação, o uso do veículo não precisa estar associado aos objetivos sociais da empresa. Além disso, as prestações foram quitadas.

O financiamento de R$ 2,79 milhões ainda está em curso. Não há data para que o processo volte a julgamento.

Na sessão de 13 de setembro, o relator, ministro José Múcio Monteiro, votou para que as multas não fossem aplicadas aos gestores do BB. Argumentou que a operação não representou “risco ou efetivo prejuízo” à instituição. Considerou também que não ficou demonstrada ilegalidade nas condutas.

O ministro citou decisão da Justiça Federal em São Paulo que rejeitou denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra Marchiori, o irmão dela, Adelino Marchiori, e o gerente do BB Alexandre Canizela. A decisão foi mantida pelo TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), mas a Procuradoria da República recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O ministro André Luís de Carvalho discordou da posição de Múcio e pediu vista do processo. A decisão dependerá do plenário do TCU.

Folha de São Paulo

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Finanças

‘Aprovar contas de Dilma será vitória do vale-tudo fiscal em ano eleitoral”, diz TCU

O procurador do Ministério Público junto ao TCU Júlio Marcelo de Oliveira, que investigou as pedaladas fiscais no tribunal, criticou a disposição de Acir Gurgacz em aprovar as contas de Dilma Rousseff em 2014, apesar de tudo apontado pelo TCU.

Júlio Marcelo diz que a aprovação vai enfraquecer a noção do que é responsabilidade fiscal e do equilíbrio das contas públicas.

Diz Júlio Marcelo:

— Será a vitória da maquiagem contábil e do vale-tudo fiscal em ano eleitoral.

Lauro Jardim, O Globo

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Finanças

Governo Dilma manteve despesas mesmo sabendo que não teria como pagar, diz TCU

Acusando o governo de fraude e irresponsabilidade, o procurador junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), Júlio Marcelo de Oliveira, recomendou aos ministros do órgão que reprovem as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff.

“Foi uma verdadeira política de irresponsabilidade fiscal, marcada pela deformação de regras para favorecer os interesses da Chefe do Poder Executivo em ano eleitoral e não os interesses da coletividade no equilíbrio das contas”, aponta o procurador. Ele pediu que a reprovação sirva como exemplo para os gestores públicos de todo o país.

Para ele, o governo cometeu fraude ao não cortar despesas mesmo sabendo desde fevereiro de 2014 que não teria receitas suficientes para cobrir todos os seus compromissos.

Oliveira fez uma análise do parecer técnico que está embasando a votação das contas da gestão da presidente Dilma de 2014, prevista para quarta-feira (17).

Segundo o relatório, o governo sabia pelo menos desde fevereiro de 2014 que despesas que não poderiam ser cortadas seriam maiores do que estava no orçamento e, mesmo assim, não fez cortes em gastos não obrigatórios, como manda a lei.

Além disso, três decretos assinados pela presidente da República, Dilma Rousseff, permitiram ao Tesouro obter empréstimos sem autorização do Congresso Nacional, o que também contraria a legislação.

Na votação de quarta-feira, os 9 ministros vão decidir se o parecer do TCU sobre as contas de 2014 será pela aprovação ou pela reprovação. O relatório aponta ainda outras irregularidades na prestação de contas, entre elas a que o governo teria escondido dívidas estimadas em R$ 256 bilhões, entre elas antecipações de pagamentos de bancos públicos para programas sociais, as chamadas “pedaladas fiscais”.

O relator, ministro Augusto Nardes, tem apontado que não deverá aprovar as contas, nem mesmo com ressalvas. Mas isso não significa que elas serão reprovadas já que há a possibilidade da análise ser suspensa em relação aos pontos que foram apontados como irregulares.

A rejeição das contas ofereceria novos argumentos para os líderes da oposição que defendem o impeachment da presidente. Nesta terça-feira, deputados e senadores da oposição foram ao TCU pedir que os ministros reprovem as contas.

Em contrapartida, o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Luis Inácio Adams, e o da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também conversaram com ministros apresentando a defesa do governo, que alega não ter cometido ilegalidades com os recursos públicos e que os atos apontados pelo TCU como ilegais ocorrem desde a década de 1990.

FAT

Os atos que mostram que o governo sabia que teria despesas obrigatórias maiores que o previsto e que pegou empréstimos sem autorização do Congresso foram apontados em documento encaminhado aos ministros pelo procurador.

Oliveira mostra que em 12 de fevereiro, o governo foi avisado oficialmente pelo Ministério do Trabalho que o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) precisaria de R$ 9 bilhões a mais de recursos além dos previstos e que o Fundo não arrecadaria outros R$ 5 bilhões, o que corresponde a um rombo de R$ 14 bilhões.

Como essas despesas são para pagamentos de benefícios aos trabalhadores, como o seguro-desemprego, elas não podem ser cortadas. A lei manda então que o governo corte despesas de áreas em que os pagamentos não são obrigatórios.

Segundo Oliveira, o governo teria a obrigação de cortar despesas até o fim do bimestre para cumprir a meta de economia estabelecida em lei, o que não foi feito. Pelo contrário, houve previsão de aumento de gastos.

“Isso é fraude”, aponta o procurador dizendo que o governo já sabia que não teria como cumprir com as despesas e mesmo assim aumento gastos discricionários em valores elevados num ano de eleição. “O Fies, por exemplo, passou de R$ 5 bilhões para R$ 12 bilhões”.

O procurador aponta que somente no 5º bimestre, o governo apresentou uma solução que, no julgamento dele, é ilegal. A solução foi apresentar um projeto de lei para acabar com o chamado limite de gastos e, assim, ficar livre para gastar mais do que arrecadou. O Congresso aprovou a medida.

“A presidente fez não apenas uma aposta legislativa como agravou consideravelmente o resultado fiscal [com esse ato]”, escreve o procurador.

Outro ato ilegal atribuído à presidente é o fato dela ter assinado três decretos permitindo aumentos de despesas em R$ 15 bilhões no fim do ano, cuja fonte de receita eram empréstimos realizados pelo governo. A lei orçamentária previa que isso só poderia ser realizado por lei, o que precisa passar pelo Congresso e não foi feito.

Folha Press

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