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‘Jesus trans’ desabafa após peça ser proibida em SP: ‘Não vamos nos calar’

Atriz Renata Carvalho, na preparação para o espetáculo (Foto: Naiara Demarco)

Existiremos e lutaremos, não vamos nos calar”. A frase é da atriz, travesti e ativista Renata da Silva Carvalho Franzoni. Natural de Santos, no litoral de São Paulo, ela interpreta Jesus na peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, que foi proibida de ser encenada no Sesc de Jundiaí. Para ela, que também é líder de um movimento trans, a decisão judicial representa uma censura à arte. Ela acredita que a polêmica só fez fortalecer a voz dela na sociedade e nos palcos.

Renata sempre morou em Santos, cidade onde nasceu e se descobriu travesti. “Assumi minha identidade com 27 anos. A Renata está no primeiro plano na minha vida. Hoje tenho 36 anos”, revela. Ela sempre atuou como atriz e produtora de espetáculos na Baixada Santista, além de ser fundadora do Coletivo T, formado por artistas trans (travestis, mulheres e homens trans e pessoas trans não binárias), e do manifesto Representatividade Trans Já, que busca reconhecimento dos trans na produção artística.

Ela foi escolhida para interpretar Jesus após passar por testes entre dezenas de candidatas. A peça foi ensaiada durante um ano até a estreia, em agosto de 2016, no Festival Internacional de Londrina (Filo), onde causou polêmica. O espetáculo é uma mistura de monólogo e contação de histórias e traz Jesus ao tempo presente, na pele de uma mulher transgênero. Histórias bíblicas são recontadas, propondo uma reflexão sobre a opressão e intolerância sofridas por transgêneros e minorias.

A apresentação do espetáculo, que ocorreria na sexta-feira, no Sesc Jundiaí, foi cancelada após uma decisão judicial. Em uma publicação nas redes sociais, a diretora da peça, Natalia Mallo, disse que é primeira vez que o espetáculo é impedido de acontecer. Ela afirmou ainda que o conteúdo da liminar concedida pelo juiz Luiz Antonio de Campos Júnior, da 1º Vara Cível de Jundiaí, que resultou no cancelamento, “é um tratado de fundamentalismo e preconceito”. O Sesc recorreu da decisão.

A notícia foi recebia por Renata com muita tristeza. Para ela, o ato foi um tipo de censura. “Estudei isso há tanto tempo na escola, sobre a ditadura militar, quando havia censura na arte. Não imaginamos que isso ia acontecer hoje em dia. Demorei a acreditar”, diz. Segundo ela, muitas pessoas partem da premissa que, se uma travesti está interpretando Jesus, ela está deturpando a imagem dele. “Muito pelo contrário, fazemos com o maior respeito. A peça é pró-cristão. Fala sobre amor, tolerância, perdão, e fala como precisamos existir e conviver juntos”, afirma.

Renata acredita que os protestos são uma violência em cima dos trans, que ainda são marginalizados no país. A arte, segundo ela, deve ser feita para denunciar essa realidade, que precisa ser modificada, e é isso que ela está fazendo.

“Esse é um tema que conheço diariamente. É muito importante normalizar e humanizar esses corpos trans. O Brasil é o país mais transfóbico do mundo. A vida média do trans é de 35 anos e do resto é de 70 anos. Nós acreditamos que podemos mudar essa realidade de violência em cima dos trans a partir do momento que eles comecem a conviver com a sociedade”, disse.

Segundo a atriz, o espetáculo já foi alvo de violência de diversas formas, como protestos, ameaça física e insultos em cidades do interior de São Paulo como Taubaté e Ribeirão Preto, além do sul do país. Ela conta que a polêmica entorno da peça só tem feito o público aumentar e se interessar pelo assunto.

Centenas de pessoas foram ao teatro para assistir à peça no sábado (16), um dia depois da Justiça proibir a encenação em Jundiaí. Ao fim da apresentação, o público ovacionou a atriz Renata Carvalho e a aplaudiu de pé por mais de um minuto. No domingo, ingressos extras foram colocados à disposição para a apresentação no Sesc Santo André. O espetáculo foi convidado para o Festival Mindelact 2018, em Cabo Verde, na África. Nesta semana, a peça estará no Festival de Porto Alegre.

“As pessoas podem falar, só não tem o direito de me agredir. Viva a democracia. (… ) Nunca, jamais pensamos em desistir da peça. Existiremos e lutaremos. Não vamos nos calar. Precisamos acabar com a transfobia. A gente acredita que, por meio da arte, com certeza não seremos mais espancados até a morte”, finaliza Renata.

Peça ‘O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’ foi cancelada em Jundiaí (Foto: Divulgação)

G1

 

Opinião dos leitores

  1. Não sei o porquê os gays querem tanto confrontar Jesus Cristo, talvez por isso alguém diga que são satânicos.

  2. uma instituição como o SESC deveria ter mais responsabilidades , uma difamação total falta de caráter e respeito.

    1. Para onde o mundo avança? Única é exclusivamente para o caos civil e moral, precisamos de regras e moral, putaria e pornografias tem lugar e hora.

  3. Queria saber como esse povo transtornado, que adora um barraco em nome da luta por respeito se acha no direito de não respeitar nada "em nome da arte". Que arte seu desclassificado?
    Experimente chamar um gay de gay que você é chamado de homofóbico. Experimente sair da mesa ao lado onde dois lobisomens se beijam que você será criticado. Experimente reclamar que um travesti entrou no WC feminino que cai o mundo, mas esses "seres" podem tudo.
    Eles não querem direitos querem privilégios e isso não será dado.
    Se essa criatura é mesmo tão valente e tão contestadora, vá no Irã e faça uma peça parecida com Maomé.
    Doente!

  4. Este grupo estão apresentando estas ABERRAÇÕES em País errado, que tal fazer estas apresentações em Cuba, Venezuela, Bolívia e Coreia do Norte?
    O SOCIALISMO E O COMUNISMO SÃO O CÂNCER DO BRASIL!
    BOLSONARO PRESIDENTE EM 2018!!!

    1. Primeiro que se esta peça fosse pra Coreia do Norte era fuzilado ! Aqui no Brasil como temos um país democrático, aí sim pode. Mas a matéria não os coloca em um lado político, só lembrando.

  5. Sinceramente gostaria de saber a onde vai parar esse desejo de alguns de aparecer a qualquer custo? Não respeitar a religião é um verdadeiro absurdo por parte desses pseudos artistas. Democracia não é sinônimo de bagunça, falta de respeito, falta de disciplina, o nome disso é anarquia. Até isso é reflexo dessa desordem governamental deixada pelo famigerado PT para o Brasil. A inversão de valores foi o pior legado que esses petistas deixaram.

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