Esporte

Luxemburgo detona críticos de técnicos mais velhos e ‘modismos’

Código19/Folhapress

Ainda com o futuro indefinido na carreira, o técnico Vanderlei Luxemburgo se mostra disposto para voltar à ativa na temporada de 2019. O treinador está fora do futebol desde que foi demitido do Sport, no em 2017. Exigente, ele contou em entrevista ao R7 que está avaliando propostas e só pretende retornar caso acredite no projeto que lhe for oferecido.

“Estou vendo se vai aparecer alguma coisa boa para fazer um trabalho legal. Mas, se for para ficar tomando porrada, colocar o meu nome e não acontecer nada, prefiro ficar em casa. Tem algumas sondagens de fora, de seleções de alguns países, de times do exterior também. Teve do Brasil, mas nada que entendesse como bom”, revelou o técnico.

De personalidade forte e poucas papas na língua, Luxemburgo detona parte da imprensa esportiva e outros críticos que desvalorizaram o trabalho de treinadores mais velhos ao cobrar uma reformulação da categoria.

“A imprensa impõe regras. Diz que você não pode trabalhar, que jogador não pode mais jogar nesse time, tem que ser transferido, que os treinadores mais velhos estão acabados, ultrapassados. Só que tem espaço pra todo mundo. Não se determinam regras”, enfatizou.

História e títulos

Vanderlei Luxemburgo despontou no futebol brasileiro no comando do Bragantino, no fim dos anos 1980. O treinador levou o clube ao título paulista de 1990 – em uma final inédita entre equipes do interior – contra o Novorizontino.

O sucesso com aquela equipe o levou para o Palmeiras, em 1993, logo após o início da parceria entre o clube alviverde e a empresa italiana Parmalat – que levaria à conquista do bicampeonato paulista e bi do Brasileirão (1993/94), entre outros títulos.

Luxemburgo tem no currículo cinco títulos do Brasileirão. Além dos dois pelo Palmeiras, o técnico foi campeão com o Corinthians (1998), Cruzeiro (2003) e o Santos (2004).

No âmbito estadual, o treinador conquistou taças em Minas Gerais (Atlético Mineiro e Cruzeiro), São Paulo (Bragantino, Palmeiras, Corinthians e Santos), Rio de Janeiro (Flamengo), Espírito Santo (Rio Branco) e Pernambuco (Sport).

Pela seleção brasileira, venceu a Copa América de 1999, além de ter conquistado o Torneio Pré-Olímpico em 2000.

Real Madrid

O técnico chegou ao auge em 2004 quando foi anunciado no Real Madrid, onde comandaria a geração de galáticos. Entretanto, a experiência durou pouco, e Luxemburgo foi demitido mesmo com um aproveitamento positivo. Em 45 partidas oficiais pela equipe, foram 28 vitórias, sete empates e dez derrotas.

R7 — Como vê as críticas feitas aos técnicos mais experientes?

Vanderlei Luxemburgo — Parte da imprensa, quando acabou a Copa do Mundo [de 2014], colocou os técnicos que tinham mais experiência como se fossem umas b… A imprensa impõe regras. Diz que você não pode trabalhar, que jogador não pode mais jogar nesse time, tem que ser transferido, que os treinadores mais velhos estão acabados, ultrapassados. Só que tem espaço pra todo mundo. Não se determina regras. A regra é feita pelo mercado que vai te absorvendo ou te tirando. Por exemplo, o campeão da Champions pelo Bayern de Munique [Jupp Heynckes, na temporada 2012/13] ganhou com 70 anos, E aí? É considerado velho.

R7 — Alguns treinadores da chamada nova geração tiveram um bom início, mas decaíram, caso de Roger Machado. Por quê?

VL — Ele vai vingar. O mercado é assim. O Renato [Gaúcho], quando começou a carreira lá atrás, caiu com o Vasco. Depois, chegou à final da Libertadores com o Fluminense. A carreira é feita ao longo do tempo. Para ocupar o meu espaço, antes do Bragantino, fui para a Arábia Saudita, Friburguense, Rio Branco-ES, fui como a minhoca em barro duro. E fui atrás. De repente, veio o Bragantino como grande oportunidade minha. Abracei e deu tudo certo. Dali, fui para o Flamengo, Guarani, Ponte e para o Palmeiras. E então começou. A imprensa colocou assim: o Flamengo tem que contratar um jovem, o outro tem que contratar um jovem também e etc. E em um clube que ainda é muito pesado. O Roger foi um ótimo assistente. Um dos melhores que tive. É um excelente profissional. Mas ele ainda vai sofrer, porque não é somente questão de treinamento, de conhecimento, modernidade. A questão é você interpretar tudo aquilo que está ao seu redor e que pertence ao trabalho de um técnico de futebol: imprensa, torcida, dirigentes. Tem mensagens para fora, outras que você descarta. Uma série de coisas importantes. Para ocupar o meu espaço [os concorrentes], eram Telê Santana, Zagallo, Ênio Andrade, Parreira, Cilinho. E fui ocupar o meu espaço. Agora, colocaram assim: essa leva de jovens tem que entrar.

R7 — Entre os técnicos da atualidade, quem você considera ter um trabalho diferenciado? Fernando Diniz?

VL — Cada um tem o seu estilo. Espero que o Fernando Diniz consiga implantar o que está fazendo e se consolide como um esquema tático que outras equipes também farão. Mas, qual foi o resultado até hoje? Nenhum. Tomara que dê. A imprensa quer algo novo e força. Mas qual resultado teve. Tomara que consiga implantar isso no Fluminense.

R7 — O que pensa sobre o futebol moderno?

VL — Também dizem que o futebol está moderno. Que modernidade? O futebol é antigo. Criaram termos novos de marcação alta, baixa, transição, que não é mais contra-golpe. Isso foi inventado por Portugal, que nunca ganhou nada em lugar nenhum. Daí, trouxeram os portugueses para dar aula em um curso da CBF. Os jornalistas pegaram isso, e os jovens também, para modernizar. Mas não modernizaram. Apenas mudaram nome de coisas que já existiam. A Inglaterra não mudou, a França também não, a Espanha. Ninguém mudou. Só no Brasil que mudou o nome.

R7 – O brasileiro não valoriza o trabalho feito aqui?

VL — O Rinus Michels escreveu livros sobre o funcionamento do Carrossel Holandês e não sei o quê. E o Brasil o idolatra, os jornalistas mais antigos o idolatram. Os jovens que leem também. Mas, pergunto: aonde foi repetido esse esquema de jogo fora da seleção holandesa? No Brasil de 1970 com Zagallo. E ele não escreveu livro. O Zagallo colocou três zagueiros, porque o Everaldo era o terceiro e não descia nunca. Era o Carlos Alberto quem descia. Ele fez volantes de qualidade, Gerson e Clodoaldo, que saíam e tinham a bola boa por trás. A equipe marcava como um todo. Tinha três jogadores na frente, porque era o 4-2-3-1. Tinha Jairzinho, Pelé e Rivelino. E sabe quem era o atacante? Tostão, na função que o Messi faz hoje. E por que o Zagallo tirou [centroavantes de ofício] o Roberto Miranda e o Dario? Porque ele precisava de alguém inteligente para dialogar com Pelé e Rivelino. Não seria o Dario, que precisava da bola pronta. Quem foi melhor? Pra mim, foi o Zagallo. Porque o que ele fez em 1970 se faz hoje. Com outros nomes, mas a mesma coisa. O Zagallo é um cara que fez um esquema e ficou no mundo. O Carrossel Holandês foi somente naquele momento. Depois, não se aplicou.

R7 — Consegue escolher uma entre as equipes que treinou como a melhor de todas?

VL — Teve o time do Cruzeiro [2003], do Palmeiras, em 93, 94 e 96. No Santos, foi um trabalho muito difícil. Um dos trabalhos mais difíceis e uma das melhores equipes que trabalhei foi a do Bragantino, que tinha um time fantástico. Aquele time, com a camisa de um grande clube, seria considerado um time fantástico. Porque nós ganhamos de todos os grandes. Não tínhamos medo. A gente passava por cima, ganhava de três, quatro gols. Fomos ao Rio de Janeiro e ganhamos do Fluminense, nas Laranjeiras, de quatro. Se usasse a camisa de Corinthians, Palmeiras ou Flamengo, teria sido considerado um dos grandes times do futebol em títulos e reconhecimento de uma grande equipe. Muitos jogadores não ganharam prestígio porque começaram no Bragantino.

R7 — Como estão as negociações para o seu retorno ao futebol?

VL — Estou vendo se vai aparecer alguma coisa boa para fazer um trabalho legal. Mas, se for para ficar tomando porrada, colocar o meu nome e não acontecer nada, prefiro ficar em casa. Tem algumas sondagens de fora, de seleções de alguns países, de times do exterior também. Teve do Brasil, mas nada que entendesse como bom.

R7 — Você está disposto a sair do Brasil novamente?

VL — Não. Já passou. Com a minha idade, a família que cresceu, você quer ficar mais sossegado. Se fosse mais jovem, daria pra arriscar de novo.

R7 — Ainda sonha em treinar a seleção brasileira novamente?

VL — Esquece, já passou o meu tempo.

R7

 

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