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Vitamina injetável se populariza em clínicas ao redor do mundo

Coquetéis de vitaminas aplicados na veia se transformam em solução express para problemas do cotidiano (Foto: Marcel Valvassori/Arquivo Vogue Brasil)

Não importa a qualidade do champanhe ou o quão confortável é a poltrona da primeira classe: todos os mortais estão sujeitos aos sintomas desagradáveis da ressaca e do jet lag. Para acelerar a recuperação do organismo nesses dois casos, a moda entre os globe-trotters é a aplicação de coquetéis vitamínicos endovenosos. Sim, soro na veia.

Tendência em ascensão nos Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Itália, os drip bars – ou bares de infusão – apostam em soros reforçados com minerais, vitaminas e analgésicos para amenizar não só a desidratação como casos de falta de energia, ansiedade, estresse, baixa imunidade e outros problemas da vida contemporânea. Nas contas de Instagram de celebridades, vivem pipocando posts feitos durante as sessões. Kim Kardashian, por exemplo, é fã da rede I.V. Doc, presente nos Estados Unidos, em Londres e Ibiza. Ela costuma encarar o drip bar antes de desfilar pelo tapete vermelho. Escolhe o pacote Beautify, que promete restaurar e nutrir as células, garantindo um glow imediato à pele e aos cabelos. Já Gwyneth Paltrow, que virou espécie de guru da saúde com seu portal Goop, é habituée da clínica de medicina integrativa Be Hive of Healing, em Agoura Hills, na Califórnia.

Na NutriDrip, uma das maiores referências desse business com sede em Nova York, são oferecidos 14 blends com propósitos bem definidos (cada aplicação custa, em média, US$ 200). Para amenizar a ressaca, por exemplo, a rede tem combos com três intensidades. Nas receitas, à base de solução salina, entram ingredientes como vitaminas B, C e D, taurina, carnitina e, a menina dos olhos, glutationa – um antioxidante naturalmente produzido pelo organismo com função desintoxicante.

Com duração de 30 a 60 minutos, o procedimento pode ser feito nas clínicas especializadas ou em casa, no café da manhã pós-balada e até no after do Coachella – na última edição do festival de música, em Indio, na Califórnia, a clínica LIVV oferecia a aplicação em toda a região do deserto da Costa Oeste americana. Nas clínicas integrativas, como a Be Hive of Healing, em Agoura Hills, na Califórnia, e a Hudson Wellness, em Nova York, os procedimentos envolvem avaliação do histórico dos pacientes, testes de carência nutricional e hemogramas. “Não aplicamos os drips em pessoas que estejam doentes ou alcoolizadas”, explica o médico Jonathann Kuo, CEO do espaço nova-iorquino. “Há pessoas que encaram a aplicação de forma recreativa e não como um tratamento. Lembramos sempre que é uma prática médica, e um profissional especializado precisa estar presente”, completa.

Desde que se mudou para Nova York, em agosto do ano passado, a empresária de moda Helena Bordon tem feito uso do método toda vez que precisa de um boost de energia, principalmente antes de encarar uma temporada de moda. Durante a sua primeira visita à Fluid Water Therapy, localizada no Flatiron District, foi recebida por um enfermeiro que perguntou como ela estava se sentindo e se tinha alguma alergia. “Ele mediu minha pressão e me entregou um cardápio com diversas opções de drips. Existe um direcionamento e nem todos os blends podem ser combinados”, explica. O procedimento é realizado numa cadeira reclinável, e a resposta do organismo é rápida. “Na manhã seguinte, acordei superdisposta. Esse pique durou duas semanas”, relata Helena.

Embora o conceito de infusões endovenosas com vitaminas e minerais tenha surgido há mais de 40 anos com o coquetel Myers, criação do médico americano John Myers, não há consenso sobre sua eficácia ou protocolos definidos para tratamentos paliativos ou profiláticos. A metabolização dos aminoácidos e vitaminas varia também de organismo para organismo, de substância para substância. “As gorduras podem ser metabolizadas em questão de minutos; outros componentes, em dias. E o processamento e a depuração dependem da necessidade de cada pessoa”, explica Bruno Halpern, endocrinologista e clínico geral, especialista em endocrinologia e metabologia, de São Paulo.

“Não se pode acreditar que entrar em um bar e receber um blend vá resolver os problemas, ou que se pode trocar um almoço por um coquetel endovenoso”, adverte Theo Webert, médico especialista em nutrologia que tem pacientes como Grazi Massafera, Anitta, Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Theo buscou especialização em tratamentos injetáveis em Boston, mas optou por não trazê-los para sua clínica em São Paulo. “Os benefícios não superam uma mudança de estilo de vida, com boa alimentação e atividade física”, ele explica. A aplicação endovenosa é a que tem eficácia mais rápida no organismo, por ser uma ponte direta com a corrente sanguínea. Isso significa também que as superdosagens terão maior impacto que as que acontecem por via oral, subcutânea ou intramuscular. “Há risco de hipervitaminose e intoxicação, que podem causar alterações hormonais e levar ao aumento da ansiedade, problemas de sono e até síndrome do pânico”, afirma Theo. Apesar do crescimento da oferta lá fora, a moda dos drip bars não deve chegar tão cedo ao Brasil. Por aqui, tratamentos com injetáveis só podem ser receitados por médicos após consulta e administrados por enfermeiros em clínicas e hospitais.

Globo, via Vogue

 

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