Em abril de 2014, Marco Polo Del Nero foi eleito presidente da CBF, para assumir um ano depois, com votos de 26 das 27 federações estaduais. No mês passado, Rogério Caboclo foi eleito presidente da CBF, a partir de abril de 2019, com votos das 27 federações. Isso porque, o presidente da Federação Gaúcha, Francisco Novelletto, que se abstivera no pleito anterior, desta vez votou no candidato único. Desde 1989 tem sido assim. O indicado da situação é eleito, ou reeleito, com apoio maciço dos presidentes de federações estaduais.
Esse apoio não é de graça. A CBF trata os presidentes de federações com muitos mimos. Convites para chefiar delegações da seleção em amistosos e torneios oficiais, criação de competições regionais e mesadas. Este ano, eles terão um bônus: ida à Copa do Mundo da Rússia, com todas as despesas pagas.
O “voo da alegria’’ levará os presidentes de federações – e de dez clubes das Séries A e B, definidos por sorteio – para assistir aos jogos do Brasil na primeira fase. Os convites foram feitos em fevereiro, mas a CBF nega que tiveram cunho eleitoral em favorecimento a Caboclo. Alega a entidade que a viagem tem como objetivo o aprimoramento dos dirigentes em nível administrativo.
Questionada pelo Estado sobre o tema, a entidade enviou na sexta-feira a mesma nota divulgada em 26 de fevereiro em que diz entender que “a presença das federações é algo natural e importante por tratar do maior evento de futebol do mundo’’. Lembra a entidade que os dirigentes são responsáveis por administrar competições regionais e que não irão à Rússia a passeio. “Além dos jogos da seleção, está sendo preparada uma agenda de trabalho para os dirigentes, com reuniões institucionais e atividades de acompanhamento da organização do evento.’’
Na prática, seja ano de Copa ou não, os dirigentes ajudam a CBF a manter quem quer no poder e são ajudados a permanecer no comando em seus Estados. Assim, alguns praticamente se eternizam. É o caso de Francisco Cezário, que preside a Federação do Mato Grosso do Sul desde 1998 e no último dia 30 foi eleito para mais quatro anos – mandato que começa apenas em abril de 2019. É um dos cartolas que estão há 20 ou mais anos no poder. Mas está longe do campeão Zeca Xaud, há 44 anos à frente do futebol de Roraima. Ele tem 73 anos. Tornou-se presidente aos 29.
Incentivo à longevidade não falta. Um deles é o “mensalinho’’, pelo qual são repassados às entidades estaduais R$ 75 mil a cada 30 dias, por meio do Programa de Assistência às Federações (PAF), além de outros R$ 25 mil destinados diretamente aos presidentes.
Criada por Ricardo Teixeira em 1993, a mesada é considerada essencial pelas federações menores, que praticamente não têm receita advindas de competições e patrocínios. Os presidentes alegam que o dinheiro ajuda a financiar campeonatos de todas as categorias, torneios femininos e pagamento de arbitragem, entre outras despesas.
Os dirigentes estaduais, mesmo as mais ricas, defendem as benesses. “O PAF é justo e correto. As federações são as representantes da CBF em seus Estados’’, disse o presidente da Federação Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos. “Tem sua importância porque promovemos campeonatos de base, femininos e temos ações sociais. Mas o maior patrocinador do meu futebol são as empresas privadas’’, disse José Vanildo da Silva, presidente da federação do Rio Grande do Norte.
Sobre o continuísmo, Vanildo, no poder desde 2007 (nos dois primeiros anos, completou como vice o mandato de Alexandre Cavalcanti), ele lembra que a lei que regulamentou Profut vai acabar com a farra. A partir dos próximos mandatos – a maioria começará em 2019 – só será permitida uma reeleição.
Francisco Novelletto, o presidente da Federação Gaúcha, é mais radical. “Eu sou suspeito em falar, mas o cara quando é bom tem de ficar 200 anos’’, disse. Ele está há 14 anos na presidência e garante que sairá ao fim do mandato, em 2019. “Podia me candidatar de novo, mas não quero. No próximo ano, ele assumirá uma das vice-presidências da CBF.
O Estado tentou contato telefônico com Zeca Xaud, o presidente da federação de Roraima, e Antônio Aquiino Lopes, há 34 anos à frente da Federação Acreana, sem sucesso.
Estadão
É tão “ruim” de administrar, que os presidentes mudam a legislaçao para permanecerem
Ad eternum no poder mamando as custas dos otários que insistem em frequentar arenas e comprar pacotes de futebol na tv fechada .