Por Gerson de Castro:
A Física explica por que durante o dia o concreto é quente e durante a noite é gélido. A Física só não tem explicação para o que eu estou sentindo agora, quando se aproxima o instante da nossa despedida.
Você me viu menino, levado pelas mãos de Luiz, meu irmão mais velho.
Foi um deslumbramento. Paixão à primeira.
Eu tinha nove anos e você menos de um. Nunca antes tinha visto e visitado algo tão grandioso. Cresci e voltei a lhe visitar inúmeras vezes. Até pisei no seu gramado que chamavam de “tapete”. E cheguei a trabalhar dentro de você, em breves passagens como repórter esportivo.
A você apresentei meu sobrinho André, um louco por Zico que virou vascaíno. A Física não explica isso, mas se você visse o pai dele, Geraldo, louco por Roberto Dinamite, entenderia!
A você, muitos anos depois, apresentei meus filhos Alana, Igor e Victor. Apresentei a minha mulher amada. Uma paixão apresentada à outra. E mesmo que ela e você não fossem, como diria o poeta, matriz e filial, sempre foi uma relação complicada.
Muitas vezes, ela, a mulher amada, reclamando das minhas idas ate você, como mulher enciúmada que tem certeza de que o marido arranjou uma amante.
Em palcos montados em seu gramado, vi Rita Lee e assisti a Autos de Natal e vi também Fagner e Titãs em noites em que você abriu os portões para a cultura.
Não tenho receio de dizer que escrevo com os olhos marejados. Eu sou assim.
Foi assim também em momentos em que chorei de alegria e de tristeza.
No seu gramado, vi correr Alberi, Danilo, Reinaldo, Jorge Demolidor, Sérgio Alves, Robgol e muitos outros. É quase um sacrilégio dizer que não vi Wallyson e Cascata, autor, talvez, do derradeiro gol marcado em um clássico.
Todos eles me ensinaram que há dias em que vencemos e há outros em que é preciso guardar a tristeza e voltar à casa pra se reconstruir.
Assim é a vida.
Você me ensinou paixão e tolerância. E ambas me fizeram, inclusive, freqüentá-lo para torcer – acredite! – pelo rival dos alvinegros, carrasco e vítima de muitas tardes e noites.
Na nossa despedida, quero lhe dizer da minha saudade! Saudade de tudo que vivi aí em tardes e noites inesquecíveis!
Saudade do Bar 10 do amigo Sirleno. Saudades dos amigos, inclusive dos rivais de futebol.
Mas quero te dizer, Machadão, que o menino que você viu há quase 40 anos, virou um homem, teve filhos e hoje freqüenta outro templo, chamado Frasqueirão.
Mas lhe juro que os golpes que você receberá na demolição vão doer em mim. Sem problemas, garanto. Saberei me recompor e ate guardarei pedaços do seu concreto que serão como estrofes de um poema, derramados pelo chão.
E cada pedaço de concreto será como uma estrofe a falar de amores, de alegrias e tristezas, de troféus, de chegadas e partidas!
Desculpe a minha pieguice. Paixão é, muitas vezes, louca, piegas e sem explicação.
Você vai se embora. Em seu lugar surgirá uma Arena que promete ser suntuosa. Mas, nada apagará da memória dos meninos e homens as alegrias e dores vividas em suas gerais, arquibancadas e cadeiras.
Vá em Paz! Guardarei seu concreto, suas fotos e suas estrofes.
Machadão, aqueles que irão te ver desaparecer, também te saúdam.
Do menino que você conheceu e do homem-torcedor apaixonado que nunca
lhe esquecerá!
Prezado Bruno,
Muito bonita a crônica escrita por Gerson de Castro. Lembro-me que, com 12 anos de idade, estive presente naquele 04.06.72 à inauguração do então Castelão. As palavras de Gerson foram muito felizes.