O presidente Jair Bolsonaro estuda alternativas para sair do PSL e, como plano principal, aposta na fusão do Patriota com outro partido de menor expressão. O núcleo duro do presidente considera que, dessa forma, será possível que deputados do PSL migrem para a nova legenda sem o risco de perder o mandato. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) têm conversado com dirigentes de outros partidos e avaliam que a fusão é a solução mais rápida, uma vez que dispensa o recolhimento de assinaturas para a oficialização.
— Quando duas legendas se fundem, aos olhos da Justiça Eleitoral é como se surgisse um novo partido. Com isso, deputados poderiam vir para essa legenda sem necessidade de aguardar a abertura da janela de transferência. A criação de um novo partido, sem fusão, demoraria cerca de um ano, e não podemos esperar. No ano que vem, já temos eleições municipais — disse um aliado de Bolsonaro, projetando que a fusão levaria entre três e seis meses e que, apesar de incorporar uma legenda, o Patriota continuaria com o mesmo nome.
Bolsonaro admitiu a deputados em reunião na quarta-feira que está decidido a sair da legenda, mas que primeiro quer uma garantia jurídica para que os deputados que o acompanhem na desfiliação ao PSL não percam seus mandatos e que a Justiça possa também congelar os recursos partidários do PSL. Entre as opções estão a criação de um novo partido, como a UDN, que está prestes a ser criada, ou como o Conservadores, cujo estatuto está sendo produzido por integrantes do PSL, mas que levaria um tempo maior até ser viabilizado porque ainda precisa recolher assinaturas de apoio.
Presidente nacional do Patriota, Adilson Barroso afirma que o partido está aberto à fusão para receber Bolsonaro, mas vê a articulação com ressalvas.
— Se houver fusão, o próprio grupo do Bolsonaro escolherá o partido com o qual iremos nos fundir. O Bolsonaro está ciente de que o Patriota o ama. Estamos com ele desde que tinha 5% (de intenção de voto em pesquisas). Mas acho que, juridicamente, a fusão não é suficiente para permitir a entrada de políticos com mandato — disse Barroso.
Uma resolução de 2007 do Tribunal Superior Eleitoral permitia a entrada imediata de políticos com mandato em partidos recém-criados ou fundidos, mas uma lei de 2015 estabeleceu novos critérios e passou a vedar a prática. Um processo movido pela Rede, que pede a revisão da lei, está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF). A então procuradora-geral da República, Rachel Dodge, se manifestou, em abril de 2018, a favor da Rede no processo, mas o plenário do STF ainda não julgou o mérito da questão.
— Mesmo se não houver a fusão, o Patriota está aberto para receber o Bolsonaro. O senador Flávio pode vir sem problemas, já que se elegeu para um cargo majoritário. Já o deputado Eduardo pode argumentar na Justiça que, pela expressiva votação que recebeu, elegeu-se sozinho, sem necessidade dos votos dos demais candidatos do PSL. Isso também o torna dono de seu mandato — argumentou Barroso.
Em 2017, Bolsonaro quase selou a ida para o Patriota, mas foi demovido da ideia por Gustavo Bebianno, que, insatisfeito com o partido, levou o então candidato à Presidência para o PSL. Bolsonaro cedeu ao apelo de Bebianno por temer que, depois de se filiar ao Patriota, Barroso não levasse sua candidatura adiante e negociasse o apoio do Patriota a um presidenciável de outro partido.
— Como garantia de que isso não aconteceria, assinei um documento me comprometendo a seguir com a candidatura do Bolsonaro. E ofereci a presidência nacional do partido ao Flávio Bolsonaro, como prova maior da minha intenção. Estive com o Bolsonaro meses atrás e disse a ele que, quem sabe um dia, estaríamos juntos. Talvez essa hora tenha chegado — disse Barroso.
Fontes do GLOBO afirmam que, na ocasião, em 2017, Bolsonaro e Flávio chegaram a se desentender: o presidente queria ir para o PSL; o senador, para o Patriota. Siglas como o PHS e PMN são cotadas para eventual fusão com o Patriota.
O GLOBO
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