O psicanalista, escritor e dramaturgo Contardo Calligaris, de 72 anos, diz acreditar que o contato físico entre as pessoas continuará menor no período pós-pandemia. Ele afirma, no entanto, que as relações entre os brasileiros poderão ficar mais “limpas e verdadeiras”. De acordo com Calligaris, “o pretenso suposto afeto infiltra as relações”.
“Acho que os amigos do peito, [aqueles] que eu realmente amo, para dizer a verdade, vou continuar abraçando absolutamente da mesma forma. As pessoas que não vou abraçar são as que eu conheço, mas com quem não tenho por que dar, como dizem os americanos: public display of affection. Dar uma pública exibição de afeto. Até porque, em última instância, eu acho que esse caráter afetivo é, em grande parte, hipócrita”, diz.
Por outro lado, Calligaris afirma que as “relações inúteis fazem falta”. Estes são os relacionamentos, segundo ele, em que a pessoa “troca duas besteiras absolutamente irrelevantes com o porteiro ou com uma pessoa que você cruza no elevador”.
“Acho que, no fim do dia, a soma das relações, da troca de palavras que não significa nada, só significa ‘oi, estou aqui’, e o outro responde ‘oi, eu também estou aqui’ –isso talvez faça falta, mas isso vai voltar. Também será mais do lado das palavras trocadas do que dos toques ou dos falsos gestos de grande afeto”, afirma.
O psicanalista falou ao jornalista Fernando Rodrigues, apresentador do Poder em Foco, uma parceria editorial entre o Poder360 e o SBT.
CORDIALIDADE FALSA
Contardo declara que é falsa a ideia de que brasileiros são “sujeitos cordiais” –como sinônimo de “gentis”. A referência à cordialidade remete à formulação do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), em seu livro Raízes do Brasil (26ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1994. p. 106-7), editado pela 1ª vez em 1936.
“A contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade. Daremos ao mundo o ‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, 1 traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal”, elaborou Buarque de Holanda, ao também advertir: “Seria engano supor que essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade” (p. 107).
Segundo o autor de Raízes do Brasil, “a palavra ‘cordial’ há de ser tomada, neste caso, em seu sentido exato e estritamente etimológico” (p.106).
Buarque de Holanda afirma que o brasileiro está distante de ter uma noção ritualista da vida, sendo cordial e colocando sempre o privado acima do coletivo. “Nossa forma ordinária de convívio social é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência –e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no ‘homem cordial’: é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência” (p. 107).
Para Buarque de Holanda, essa cordialidade “equivale a 1 disfarce que permitirá a cada qual preservar intactas suas sensibilidades e suas emoções”.
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PODER 360
Depois do "evento " Bolsonaro, o Brasileiro terá q ser muito estudo pois por ódio ideológico deixou de eleger um professor para eleger um cara q há 30 anos nunca produziu nada na politica, corrupto, homofóbico, armamentista, machista, violento, ditador, ligado a milicianos…
Com esse professor, o MITO vence no primeiro turno em 2022!
Concordo com vc, Manoel. E fico perplexo com tamanho ódio dos brasileiros que elegeram esse q aí estâ. Deixar de votar em um professor, que é das Ciências, pra votar num zé ninguém e que ainda carrega todos os predicativos listados por vc, faz-me sentir vergonha de dizer que sou brasileiro.