A saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL vai rachar a bancada do partido na Câmara. Projeção feita pelo GLOBO aponta que 26 dos 53 deputados federais da sigla devem acompanhar o presidente para fundar a Aliança pelo Brasil. Outros 27 indicam que vão permanecer nos quadros da legenda, enquanto dois ainda não decidiram qual rumo vão tomar. Se a criação do partido de Bolsonaro for adiante, a tendência é que as forças de centro se fortaleçam ainda mais no Congresso. Com a base esfacelada, o governo pode ter mais dificuldades na relação com o Legislativo.
Após a publicação da reportagem, os deputados Luiz Lima e Daniel Freitas afirmaram que vão sair com Bolsonaro para formar o novo partido. Os deputados não tinham sido localizados até então e bolsonaristas e bivaristas diziam contar com o apoio deles.
A possível migração vai alterar a dinâmica da negociação política. O PSL, segundo maior partido da Câmara, passaria a ser a nona maior bancada, caso os deputados hoje indecisos decidam continuar no partido, enquanto a Aliança pelo Brasil ficaria com a 12ª posição. O PL, integrante do centrão — que reúne ainda PP, DEM, Republicanos, PTB, PSD e Solidariedade —, seria alçado à segunda bancada, atrás do PT. O bloco informal soma mais de 250 votos na Casa.
Há matérias empacadas na Câmara consideradas bandeiras por Bolsonaro, como o projeto que flexibiliza regras de trânsito. A reforma administrativa que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pretende enviar é outra pauta com grandes chances de dispersão de apoios. Uma derrota recente ao governo imposta pelo centrão foi a votação do projeto de armas, que acabou desfigurado. Outro tema que pode ter o mesmo destino é o pacote anticrime, do ministro Sergio Moro.
Deputados que indicaram permanecer no PSL dizem que vão apoiar a pauta econômica e de costumes do governo, mas não terão a obrigação de seguir as orientações do Palácio do Planalto. A ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (PSL-SP) tem dito que “aliados não podem ser feridos de morte”. Apesar das fissuras, apoiadores de Bolsonaro insistem que a divisão será irrelevante para a articulação política.
— Todos que vão ficar no PSL, de uma certa forma, são Bolsonaro. Há um ou dois que não são. Na reunião que tivemos com o presidente, ele inclusive nos disse que não era para atacar o PSL. Pode ter uma louca como a Joice, que pode votar contra, mas acho que vão votar com o governo — diz Bibo Nunes (PSL-RS).
Em lado oposto a Bolsonaro, o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, aproximou-se de deputados do centrão e tem negociado nos bastidores uma fusão a legendas do bloco. Ontem, a deputada estadual Janaina Paschoal (SP), um dos principais nomes do PSL, afirmou que só cogita deixar a sigla se houver fusão:
— Sim, eu permaneço. Só saio se houver fusão — disse.
O Globo
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