Foto: Patrick T. Fallon / Bloomberg
Na bilionária batalha envolvendo a Herbalife, Carl Icahn — maior acionista da empresa — cantou vitória na sexta-feira. Mas detalhes do acordo firmado com a Comissão de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) indicam que Bill Ackman — o bilionário que trava uma briga contra a companhia — pode rir por último, e melhor. A presidente da FTC, Edith Ramirez, optou por não afirmar que a empresa com sede nas Ilhas Cayman opera com esquema de pirâmide, mas também não disse que ela não o faz.
— Nosso foco não é rotular — afirmou Edith à imprensa depois que a agência anunciou, na última sexta-feira, que a Herbalife concordou em pagar US$ 200 milhões e fazer mudanças na forma de operar seus negócios em troca de um acordo.
A companhia foi acusada de enganar consumidores com promessas de enriquecimento. Embora tenha deixado o rótulo de pirâmide de fora, o órgão regulador americano acabou apoiando boa parte das alegações de Ackman e descreveu os negócios da empresa com termos muito duros.
Isso contradiz parcialmente uma declaração de Icahn na qual ele cantou vitória com a decisão: “O acordo da FTC anunciado hoje (sexta-feira), vem depois de uma investigação de dois anos, e concluiu que a Herbalife não é um esquema de pirâmide — uma conclusão que obviamente comprova as nossas pesquisas e convicções. Enquanto Bill Ackman e eu estamos em termos amigáveis, concordamos em discordar (veemente) sobre este assunto. Dito de forma simples, os preceitos estavam completamente errados sobre a Herbalife”.
Mas não é bem assim, afirmou Ackman, que liderou uma campanha de três anos e meio de olho em lucrar com a morte da Herbalife. Ele acredita que as mudanças exigidas pela FTC vão levar ao fim da Herbalife. Um auditor independente vai monitorar o cumprimento do acordo durante sete anos.
“Embora pareça que a Herbalife negociou a retirada das palavras ‘esquema de pirâmide’ do acordo, as descobertas da FTC são claras”, afirma em nota a Pershing Square Capital Management, empresa de investimentos de Ackman. “Esperamos que quando a restruturação dos negócios da Herbalife for totalmente implementada, essas mudanças estruturais causem o colapso da pirâmide.”
EMPRESA ENGANA RECRUTAS
A FTC determinou que a Herbalife deve mudar seu marketing, recrutamento e forma como mede suas vendas. Essas mudanças podem ameaçar o modelo de negócio da empresa. A FTC também afirmou que a empresa engana as pessoas que recruta com promessas de ganhos de milhares de dólares ao mês com a venda de seus produtos.
A Herbalife, que opera sob um sistema conhecido com marketing multinível, terá de reformular seu sistema de compensação de modo a recompensar as vendas no varejo e não o recrutamento feito pelos distribuidores. Sob o acordo, ao menos dois terços dos pagamentos de recompensas aos distribuidores devem ser baseados em vendas de fato, e ao menos 80% das vendas da empresa nos EUA devem ser baseadas em “vendas reais aos consumidores”, afirmou a presidente da FTC.
— Eles terão que demonstrar vendas varejistas reais — disse Tim Ramey, analista do Pivotal Research Group. Ele é um dos poucos analistas que ainda acompanham a Herbalife e defendeu a empresa dos ataques de Ackman. — Não acredito que a Herbalife concordaria com o acordo se não pudesse cumpri-lo. Mas a prova está em questão.
A FTC determinou a substituição de recompensas financeiras por vendas verificáveis em nota fiscal em vez de compras de recrutas. Um distribuidor que tenha vendedores só será pago se eles venderem o estoque que comprarem.
Atualmente, um distribuidor ganha quando seus vendedores fazem compras, independentemente de eles repassarem ou não os produtos a consumidores. Isso pode fazer com que grandes distribuidores, que são o coração da empresa, acabem saindo da Herbalife e migrando para outras empresas de marketing multinível.
De acordo com a FTC, a empresa precisa policiar melhor os distribuidores e impedi-los de enganar potenciais vendedores sobre o quanto podem ganhar. Com menos exageros, menos pessoas devem se interessar em se unir à empresa, acreditam analistas.
Icahn — que já era o maior acionista da Herbalife, com uma fatia de 18% e cinco representantes no conselho de administração — anunciou que o conselho elevou seu limite de propriedade da companhia de 25% para 35%. Isso pode fazer com que ele tenha um papel ainda mais ativo na estratégia da companhia.
— É hora de considerar uma série de oportunidades estratégicas, incluindo potenciais negócios envolvendo concorrentes, bem como outras transações estratégicas — disse Icahn.
Uma vez que a reestruturação da Herbalife é uma determinação e uma exigência do governo, resta saber se Icahn vai ampliar sua fatia e o que restará da empresa para novas estratégias.
O Globo
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