Ontem (20/06/2013) foi lindo e digno. Todos fomos às ruas na cidade de Natal/RN. Gritamos, cantamos o hino, proclamamos que tínhamos orgulho e amor de ser BRASILEIRO, ok, entendo que meio clima de Copa do Mundo, porque esse trocadilho se usa na mesma, porém, achei válido. Se não tivéssemos amor e orgulho pelo nosso PAÍS (e quando digo país NÃO ME REFIRO, de maneira alguma, a corja de safados que o presidem e o governam) não tinha pra quê e nem por que querermos lutar por um melhor.
Tudo começou com centenas de pessoas por volta das 16h30 gritando “abaixa a bandeira”; Calma, pensem comigo, se clamamos por liberdade e democracia porque gritamos pedindo pra um certo partido baixar as bandeiras? É tão analfabetismo politico pedirem pra eles baixarem a bandeira, ainda mais, sendo partido de esquerda! Creio eu que mais da metade das pessoas que gritavam aquilo em frente ao Via Direta não tinha conhecimento nem de que bandeiras estavam se referindo. Voltaire falou sabiamente “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”, e isto me lembrou muito a estupidez de alguns que perderam o foco logo no começo.
Não concordo com as bandeiras, acho que não havia necessidade, mas o movimento/ato é plural, e devemos acolher a todos, AGREGANDO, não segregando. Enfim, não tinha motivo maior pra nós gritarmos e defendermos do que a revolta/indignação contra um partido politico?! Vale salientar que, quando os ânimos acalmam e as pessoas desistem de ir às ruas, são eles que continuam na luta. Ainda ouvi algumas mentes “inteligentes” dizendo que todo o caos brasileiro é devido a existência de partidos e que os mesmos não deviam existir em nosso país, minha indignação foi tanta que, além de pena, eu senti vontade de perguntar se ela preferia, pros dias atuais, uma monarquia ou uma ditadura e o seu AI-5 “maravilhoso”, que defendia a extinção dos partidos, e que sentimos suas consequências até hoje. E, o cúmulo, no ápice, partiram pra agressão. Foi a primeira “carreira” que levei.
O mais interessante é que eu via no rosto de cada um daqueles que partiram pra agressão que estavam se divertindo, que não tinham ideia do que é ser apartidário, partidário ou antipartidário, que não tinham idéia do que é o PSTU (e não duvido nada que o confundam com PT, PMDB e os “de direita”), e que estavam na “algazarra”, por brincadeira. Era tudo que a Globo queria para mostrar que “logo cedo começou a violência”, como foi dito no RNTV. Os manifestantes se voltam contra eles próprios. Seria engraçado, se não fosse cômico, tamanha idiotice.
Continuamos pela BR 101 sentido Midway. Logo consegui ver do meu lado esquerdo vários trabalhadores (não conseguir especificar a área de trabalho mas estavam fardados) portando cartazes e apoiando o nosso MANIFESTO, defendendo a causa deles. Foi a primeira cena admirável que vi. Aplaudimos. Pois bem, logo depois disso, levei a minha “segunda carreira”. O por quê? Não sei exatamente, só vi todos correndo, ainda tentei ficar parada para ver o motivo, mas confesso que não permaneci nessa valentia por mais de 10 segundos. Vi também portadores de deficiência andando de cadeira de rodas, um amigo meu que tem deficiência visual indo as ruas louvavelmente com a frase “Politicos, sou cego mas estou de olho em vocês!”. Realmente, lindo.
Enfim, seguimos na Salgado Filho. As quatro vias completamente entupidas de gente, e comecei a ver os primeiros indícios de “micareta”/dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo/ Natal Fashion Week; presença de bebidas alcoólicas, de coolers, de beijos, de “vou por aqui que as boyzinhas tão indo também”, de pessoas sorrindo, embreagadas oscilando entre o grau alcoólico e o grau de patriotismo exacerbado e fingido. Não entendi pois vi vários também com a camisa da seleção brasileira (será que eles realmente pensavam que ia ter um pit stop depois pra ver o jogo do Brasil na Copa das Confederações ou que Neymar estaria lá pra autografar suas camisetas?). Pessoas festejando, virou festa, virou ponto de encontro da galera. Mas festejando o que? Diabos é quem sabe!
Pois pra mim, quem tava nas ruas e tinha conhecimento CONCRETO das causas pelas quais nos faziam está ali não tinha motivos pra sorrir e festejar. Pra sair pulando e gritando “Olê, Olê, Olê, Olá, Brasil”, só faltou a “ôla” tão famosa nos estádios de futebol e a narração de Galvão Bueno gritando GOL. Pessoas agarradas na bandeira nacional SORRINDO pras fotos, como fazem dentro dos estádios na Copa, uma espécie de “Mãe, to na Globo”. Pessoas fazendo PRÉVIA, pasmem, se juntando antes da REVOLTA para “aquecer” os ânimos alcoolicamente para ir ao “estádio”. Só faltou ter o caminho da roça e uma quadrilha de São João.
Eu andava entre as pessoas, ficava as observando, e me questionava se essas pessoas sabiam ao certo porque estavam ali, se essas pessoas sabem o que é partido de direita e de esquerda, e suas diferenças, se essas pessoas sabem o que é POLÍTICA, se essas pessoas sabem o que é a PEC 37 (ou ao menos o que é PEC), se essas pessoas sabem o que são as POLÍTICAS PÚBLICAS URBANA (e se sabem que elas vivem ausentes, enquanto deveriam estar presentes) ou pelo menos se sabem o que é FORO PRIVILEGIADO (que é uma das coisas que eu defendo a extinção). Não sei se fui a única que, por ser “novata” em movimentos, decidi estudar as causas/consequências, o que já tinha acontecido sobre movimentos até então, sobre partidos, sobre politica, me inteirar com as pessoas que já participaram, ajudar na plenária, enfim, decidi estudar e “ficar por dentro” para saber se poderia ir a rua defender os ideais juntos aos outros. Fui, sabiamente, sabendo o porque de está ali, com convicção que não era momentos de risada, festejos e comemorações; Pena que vi que 70% dos que ali estavam não tinham nem conhecimento do porque danado ali estavam.
Sei que todos estão indignados com a situação atual do BRASIL, não estou em momento nenhum retirando o direito de lutarmos contra temas abrangentes como a educação, saúde e transporte; o que me indignou, durante todo o percurso, foram os ânimos de festejos e comemorações. E isso, com certeza, só pode ter vindo de quem não se informou ao certo o real motivo de ir as ruas. Eu espero que ao menos 10% das aproximadas cinquenta mil pessoas que ali estavam soubessem ao certo o motivo de está ali e, além do motivo, soubessem também que não tavam ali pra sorrir e ser bonito. Não sei se estou ficando louca, mas isso me indignou bem mais do que os atos de vandalismo praticados.
E seguíamos. Na minha cabeça, por ter participado da plenária, iriamos para a governadoria. Local que achava mais adequado pra focar a manifestação; Ou até a prefeitura, a câmara dos vereadores, a assembleia legislativa, enfim, QUALQUER LOCAL, exceto um shopping privado. Mas, seguimos, passamos pela governadoria sentido Petrópolis. Nesse meio tempo, levei outra “carreira”, nas proximidades do Bob’s; corri, sem nem ver o que ocasionou essa dispersão, quando retorno descubro o motivo; Desta vez era porque alguns espertos “manifestantes” estavam em clima de São João e soltavam track’s e bombas no meio da galera. “Alavantu” e “Anarriê” para eles.
Continuamos em passeata. E paramos em frente ao MIDWAY, o shopping privado. Mas, pera aí? O que danado o MIDWAY tem a ver com o que defendíamos? Estávamos em luta contra o capitalismo e eu não sabia? Fizemos uma passeata de um shopping ao outro. Não sei como os alcoolizados ou os pegadores não concluíram com sua mente cheia de “ideais” que também estávamos lutando contra shoppings centers e contra o capitalismo. Ao questionar isso a pessoas próximas, sobre o porque da parada em um shopping, disseram-me “Ah, mas aqui é o canto que mais tem movimento na cidade”; Sim, pera aí, agora é um movimento contra o movimento dos natalenses? Foi tudo tão organizado que nem movimento se tinha, se a idéia de ir ao Midway era causar transtorno e caos no trânsito, chamando a atenção, foi inválida, até porque, carro circulando nas ruas eu não vi. A cidade era tão deserta que tive até dificuldade para comprar água durante o trajeto pois tudo estava fechado.
Voltando, sinceramente, falha grande da organização do movimento ou da falta de organização ir em direção e fazer uma parada no Midway. Ocasionou a dispersão de diversos manifestantes pacíficos, inclusive eu, que sentia o vazio do movimento e das pessoas que pararam na rua e começaram a fazer uma “social” entre si. E quebra-se o Midway, além de vândalos, são ignorantes. Eu NÃO apoio o vandalismo, porém, sério, o que danado o MIDWAY tem a ver com isso? Ainda não entendi nem vi o motivo pra vandalismo. E ouvi também “se ficarmos parados, só andando, os políticos vão rir da gente”. Ah povo ignorante, nós paramos a cidade, não tinha movimento em canto nenhum, os comércios e clínicas fecharam, era breu total, vocês não já acham que isso já afeta? De forma pacifica, não damos “motivos” para críticas, nosso maior poder é nossa indignação, é mostrar que somos capazes de ir a rua, de tomar conhecimento das causas que defendemos, de lutar e de não cansarmos até alcançar a reforma e melhorias que almejamos.
Sai logo ali quando se parou no Midway pois tinha um compromisso as 19h. E vi após nas redes sociais que o clima só piorou por lá. Que dissipamos. Que nos assustamos. Que deixamos um grupo de 20 pessoas, que não tinha nada haver com o nosso movimento, comandar a partir de então.
Foi bonito, foi legal ver que as pessoas que antes criticavam agora decidiram ir as ruas. Ver que o povo realmente está saindo da comodidade e acordando (inclusive eu). Que o povo está cansado da falta de clareza e justiça na politica. O poder emanou do povo, conseguimos parar Natal, como almejávamos, mas, e agora? Agora meu humilde conselho é que se comece a estudar sobre o assunto pra aprender o que é manifestar, como é manifestar e, principalmente, o porquê de se manifestar. Demos um passo sim, o começo, meio vergonhoso, meio torto, troncho, como defini acima, mas demos o primeiro passo. Somos uma geração nova, concordo que estamos aprendemos; porém ninguém vai nos ensinar enquanto estivermos interessados apenas em festejar e, principalmente, enquanto não estivermos procurando aprender.
O movimento está bonito por fora. Vamos encher o movimento internamente, vamos entender que não é espaço para sorrisos, que não é espaço para alegria, não é espaço para desfiles, que não é espaço para comemorações como se fosse Jogo da Copa ou 7 de Setembro. Vamos encher nossas cabeças para proclamarmos algo concreto. Vamos nos unir. Ser fortes. Estudar as causas. Saber porque lutamos. Vestir a camisa do manifesto. Nos informar. Outro manifesto com tanta mente vazia como havia ontem não nos acrescenta muita coisa. Que possamos refletir sobre as causas que “mancharam”, de alguma forma, ao meu ver, o manifesto.
Esse relato foi elaborado por mim mesma e é a MINHA opinião, pode não ser a sua mas espero que respeite o direito de eu dize-la e respeite o que foi dito.
Gabriella Tavares
Quando começarem a notar que esses protestos são convocados para dar guarida, para encobrir a presença e ação de vândalos, a fantasia de patriotas e a decepção virão ao chão bem rapidinho.
Quem vai a essas manifestações ajuda a promoção de atos que não atentam apenas contra a lei (como se já não fosse suficiente) atentam contra a lógica, como bem frisou essa menina enganada que foi. Pensava em ir a um protesto e terminou fazendo um city tour.
A algazarra, a resenha que será contada no FB, as fotos, enfim, tudo demonstra que o que importa é estar lá, mesmo sem ter sequer uma sombra de qual o motivo.
E em 2014 tome votos em nosso Tiririca, nosso galã, etc. Sem esquecer que vereadores recém eleitos, apenas por serem filhos de pastores ou de Presidentes já estão salivando por aumentar o nível da boa vida.
Não se muda um país sem mudar seu povo. Pena que tudo isso se transforme em perda de tempo e prejuízo financeiro.
Gabriela, voce demonstra ser muito inteligente, parabens por esta virtude. Pelo que
ja li ate hoje todas as revoluçoes sociais começam desta mesma maneira. Se possivel
tente ler o livro (17 dias que abalaram o mundo) cujo tema eh a revoluçao na Russia
em 1917. Ali esta o desenho do envolvimento da parcela popular que se envolve
sem conciencia programatica no movimento.
Forte abraço de um baiano que lutou contra o golpe de 1964 que tambem envolveu
muitos inocentes que pensavam estar salvando o BRASIL.
Roque
Gabriella, ótimo texto. Concordo com você. Acima de tudo, temos que ter bom senso.
Minha querida, cada um protesta do seu jeito,sorrindo,cantando,dancando, oque importa e fazer parte da massa e quanto aos que ali estavam , acho que todos sabiam o pq, nunca substime a inteligencia nem a capacidade de ninguem. A luta e de todos e para todos.
Cantar, dançar e azarar não é no protesto, mas no Carnatal.
"Ir pela resenha" ao protesto é trocar uma "massa alienada" por outra "massa alienada" só que maior.