A liderança do Brasil na tratativa para construir uma saída para o caos venezuelano é bem vista pelos EUA . O tema é prioritário para os americanos e esteve presente em todas as comunicações de funcionários de Washington com o novo governo em Brasília. Eventuais progressos podem se tornar um poderoso cartão de visitas, capaz de sacramentar de vez uma aproximação ideológica entre Brasília e Washington que já ficou explícita em discursos, facilitando novas parcerias e acordos, segundo analistas.
Logo após a vitória de Jair Bolsonaro, altos funcionários do Departamento de Estado não escondiam que contavam com um novo aliado fiel na América do Sul contra Nicolás Maduro, e também contra Cuba e a Nicarágua. Bolsonaro está entregando o que prometeu, embora, claro, não possa sozinho ter o crédito por uma eventual saída do caos em Caracas — que segue distante. Fontes diplomáticas lembram que a iniciativa brasileira pode dar mais tempo para que os EUA evitem usar sua grande arma contra Caracas, que segue guardada: o embargo ao petróleo venezuelano.
— Não há dúvidas de que essa nova liderança do governo brasileiro em temas da Venezuela será bem vista nos EUA, pois essa é a prioridade americana para a região. Resta saber o que o Brasil fará desta proximidade entre Brasília e Washington. Até agora não está claro qual é a estratégia do novo governo — afirmou Michael Shifter, presidente do Inter-American Dialogue, centro de estudos de Washington.
Assim, houve um aumento da pressão sobre Maduro sem que os EUA precisassem assumir o protagonismo, e suplementando a saída do México do grupo de pressão sobre a Venezuela — a postura de não interferência do novo governo de Andrés Manuel López Obrador foi o maior baque sofrido pela tentativa de aumentar pressão sobre Maduro — com folga, segundo interlocutores em Washington.
Avanços podem fazer bem aos dois países. Para o governo Bolsonaro, seria uma maneira de emplacar uma nova postura, distanciando de vez sua administração das anteriores petistas, condescendentes com o regime de Maduro. Para Donald Trump, qualquer avanço na Venezuela seria uma agenda positiva num momento em que está mergulhado em problemas de paralisação de governo, muro na fronteira e investigações múltiplas.
Mas o mais interessante seria uma real convergência dos dois governos num tema internacional. Qualquer avanço obtido será vendido como uma vitória de Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo, e pode fazer com que se conquiste ainda mais boa vontade dos EUA. O que tem sido dito e feito em Brasília, como na recente reunião com opositores venezuelanos, soa como música para a Casa Branca:
— Na etapa que se inicia este ano para a política externa brasileira, seremos ainda mais enfáticos na defesa do que consideramos necessário para o desenvolvimento integral, a segurança e os direitos humanos. Intensificaremos, sobretudo, nossa atuação na defesa da democracia e do Estado de direito no Hemisfério — afirmou o embaixador do Brasil na OEA, Fernando Simas, no dia em que a entidade decidiu não reconhecer o novo mandato de Maduro.
O GLOBO
Comente aqui