Os zagueiros de times de várzea cultivam uma regra segundo a qual a primeira entrada no adversário deve ser na canela. Não há melhor maneira de demonstrar quem manda nas cercanias da grande área. Em matéria de reforma da Previdência, o economista Paulo Guedes, com quem Jair Bolsonaro mantém um “casamento hétero”, tem no deputado Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, seu problema mais imediato. Com uma canelada, retirou-o de campo.
”Houve gente do próprio futuro governo falando que não tem pressa de fazer reforma da Previdência”, disse o futuro ministro da Economia. “Esse jornalista que fez a pergunta está dizendo que o Onyx, que é coordenador político, falou de banda cambial. Ao mesmo tempo, está dizendo que o Onyx falou que não tem pressa na Previdência. Aí o mercado cai. Estão assustados por quê? É um político falando de economia. É a mesma coisa do que eu sair falando de política. Não dá certo, né?”.
Guedes defende que o futuro governo Bolsonaro comece a reformar a Previdência ainda neste ano, aprovando parte do projeto enviado ao Congresso por Michel Temer. Onyx tem ojeriza à proposta. Na comissão especial da Câmara que discutiu o texto, ele tachou de “terrorismo demográfico” a estatística oficial sobre envelhecimento da população. Chegou mesmo a contestar no ano passado a existência de déficit previdenciário. O que há, disse Onyx, é uma confusão contábil entre as contas da Previdência e da assistência social. (veja no vídeo abaixo)
https://www.youtube.com/watch?v=hBtyo74Yv4Y
Ao inaugurar a fase de transição de governo com um lance de zagueiro de campinho de várzea, Paulo Guedes revela um estilo. Diante da necessidade de gerenciar uma ruína fiscal, concluiu que seu maior excesso seria a moderação com um coordenador político que deixa o futuro governo sem nexo. Entretanto, há um problema: o ‘Posto Ipiranga’ de Bolsonaro pode ser bambambã em economia. Mas não tem um mísero voto no Congresso. É Onyx quem terá de seduzir deputados e senadores. Por ora, não há votos.
Para complicar, Bolsonaro informa que a sedução será feita “sem toma-lá-dá-cá”. Beleza. Agora só falta operar o milagre de transformar caneladas em votos nos plenários da Câmara e do Senado. Onyx não está sozinho. Eleito senador por São Paulo, o atual deputado Major Olimpio também torpedeia as mexidas previdenciárias propostas sob Temer.
JOSIAS DE SOUZA
Esse tal de Onyx não sabe de nada, pense na dor de cabeça que esse deputado vai dar para o presidente.