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Traição, sexo e assassinato: 2 meses depois, veja como está o Caso Daniel

Foto: São Paulo FC

No dia 27 de outubro de 2018, a Polícia Civil de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, recebeu um chamado sobre um corpo encontrado em uma mata na zona rural da cidade.

Ao chegar ao local, os policiais de plantão naquele sábado se depararam com uma cena chocante: o morto era um jovem, aparentemente de 25 anos, com o pescoço degolado, o pênis decepado e muitos outros ferimentos. Sem identidade, o corpo foi levado para o IML (Instituto Médico Legal) da cidade.

O crime, registrado inicialmente como morte a esclarecer, era uma absoluta incógnita. Pouco se sabia sobre o que teria ocorrido com aquela vítima. Mais tarde, no IML, familiares de um esportista que estava desaparecido havia mais de 24 horas reconheceram o corpo.

Então, a bomba foi divulgada: descobriu-se que a vítima era o promissor jogador de futebol Daniel Corrêa, de 24 anos, atleta do São Paulo, que estava emprestado ao São Bento, clube do interior paulista.

A notícia da morte de Daniel, que disputava Série B do Campeonato Brasileiro, abalou os bastidores do futebol brasileiro. O caso ganhou repercussão internacional. Clubes e jogadores, que haviam sido colegas de clube de Daniel, postaram mensagens de condolências nas redes sociais.

Com o passar dos dias, a polícia apurou que Daniel havia deixado Sorocaba na sexta-feira anterior, liberado pelo clube devido a uma lesão, para participar de uma festa de aniversário em Curitiba.

Reprodução/Instagram

A aniversariante era a Allana Brittes, que completava 18 anos naquela data. Ela era amiga de Daniel há pelo menos um ano. Os pais da jovem, Edison e Cristiana Brittes, tinham fechado um camarote na casa noturna Shed Bar, no Batel, um bairro boêmio da capital paranaense, onde celebraram a data. Entre os convidados, estava o jogador de futebol.

No entanto, a comemoração não terminou na boate. Por volta das 5 horas da manhã daquele sábado, um grupo de aproximadamente dez pessoas, todos já bastante embriagados, decidiu fazer um after party na residência dos Brittes, em São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba).

Daniel também foi. O jogador pegou carona em um dos carros chamados através de aplicativos de transporte pelos demais convidados. Na casa, vídeos divulgados nas redes sociais mostram que todos continuaram bebendo, dançando e se divertindo. Porém, em algum momento, já na manhã do sábado, Cristiana Brittes decidiu ir para o quarto e descansar. Daniel foi atrás. E se deitou na cama do casal anfitrião.

O atleta, que estava de cueca, tirou fotos com o celular e as enviou a amigos em grupos de Whatsapp. Nas mensagens, Daniel dizia que o marido não estava na casa e dava a entender que faria sexo com a mulher.

Porém, o jogador foi flagrado pelo empresário. Outros rapazes que estavam na festa foram chamados por Edison Brittes. Segundo relatos à polícia, eles pensavam que Cristiana havia sido estuprada e passaram a agredir violentamente Daniel, juntamente com o dono da casa. O jogador implorou pela vida. Em vão.

Daniel na cama de Cris Brittes. Reprodução

Já muito machucado, quase desacordado, Daniel foi retirado da casa e colocado no porta-malas do carro de Edison, um modelo Hyundai Veloster. Mais três jovens (David Willian, Ygor King e Eduardo da Silva), também entraram no veículo. Todos partiram para o ponto onde Daniel foi executado e o corpo desovado.

A partir daí, algumas versões surgiram e todas passaram a ser investigadas pela polícia. A teoria de que o assassinato teria motivação passional já era tratada pela polícia como a mais provável desde o início, devido às características da execução.

O empresário Edison Brittes confessou o crime. Ele contou aos policiais que matou Daniel porque o jogador havia estuprado sua esposa. Era um crime em defesa da honra e da família, disse o acusado em depoimento gravado em vídeo por seu advogado.

Dias depois do homicídio brutal, Edison, Allana e Cristiana Brittes foram flagrados por câmeras de segurança de um shopping na cidade onde moram. Eles chamaram os rapazes envolvidos para combinar uma história que deveria ser confirmada aos policiais.

Mas, uma das testemunhas, temendo pela vida, procurou um advogado e contou detalhes do que havia ocorrido na residência dos Brittes. O rapaz estava sendo ameaçado, assim como outras pessoas da família. Hoje, ele está sob proteção policial.

Com os depoimentos, os investigadores passaram a apurar os fatos. Suspeitos foram presos e pessoas que haviam sido ouvidas como testemunhas também foram indiciadas. No total, oito envolvidos no crime foram processados e respondem judicialmente.

Relembre como ficou a individualização das condutas criminosas na denúncia do Ministério Público do Paraná, que foi aceita pela Justiça:

Edison Brittes — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual, corrupção de menor e coação no curso do processo;

Cristiana Brittes — homicídio qualificado por motivo torpe, coação do curso de processo, fraude processual e corrupção de menor;

Allana Brittes — coação no curso do processo, fraude processual e corrupção de menor;

Eduardo da Silva — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor;

Ygor King — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de menor;

David Willian da Silva — homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual, corrupção de menor e denunciação caluniosa;

Evellyn Brisola Perusso — denunciação caluniosa, fraude processual, corrupção de menor e falso testemunho.

Situação atual dos réus

Dos envolvidos no crime, apenas Eduardo Purkote e Evellyn Brisola aguardam os trâmites do processo em liberdade. Os demais estão presos. Cristiana — que teve um pedido de prisão domiciliar negado pela Justiça — e Alana estão na Penitenciária Feminina do Paraná, em Piraquara, na Grande de Curitiba. Edison, David, Ygor e Eduardo estão detidos na Casa de Custódia de São José dos Pinhais.

Parentes de David e Ygor pediram desculpas à mãe de Daniel pela morte do jogador de futebol. Os próprios jovens demonstraram arrependimento por terem se envolvido com Edison Brittes e tristeza pelo destino de Daniel. Um deles escreveu uma carta à irmã, na qual admite que “foi covarde, teve medo e não soube o que fazer”.

Próximos passos

A 1ª Vara Criminal de São José dos Pinhais, onde corre o processo, aguarda o fim do recesso do Judiciário para retomar os trabalhos e marcar as primeiras audiências. Se todos os prazos forem cumpridos, é possível que o julgamento dos réus ocorra ainda no primeiro semestre de 2019.

“Não são prazos longos. Mas há várias circunstâncias que dão elasticidade e complexidade para o processo, como o excesso de testemunhas e a catimba da defesa”, avaliou o promotor João Milton Salles, autor da denúncia feita pelo Ministério Público paranaense á Justiça, em entrevista ao R7.

R7

 

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