Esporte

Copa do Mundo Feminina: confira o guia completo da Seleção Brasileira; meninas estreiam neste domingo

A Copa do Mundo da França pode marcar o último ato de Marta no maior palco do seu esporte, a derradeira oportunidade de o Brasil desfrutar do talento da maior jogadora de todos os tempos numa campanha mundialista. Mas as previsões para o Brasil na França são bastante pessimistas.

A geração que chega à Copa está farta de seus fracassos habituais e traumatizada por jamais ter alcançado um título de elite. O desafio psicólogico imposto ao time de Oswaldo Alvarez, o Vadão, é tremendo: sua equipe sabe que perdeu o protagonismo no cenário mundial. Não apenas se distanciou de seus rivais mais tradicionais como se viu superada por potências emergentes. É triste admitir, mas as brasileiras não são favoritas.

O histórico recente é tenebroso. Desde a conquista da Copa América, que garantiu em abril de 2018 a vaga no Mundial, as canarinhas ganharam apenas uma vez em 11 partidas e hoje vivem uma série ininterrupta de nove derrotas. Se antes a CBF dizia que a estratégia era fazer a equipe enfrentar adversárias fortes, como Japão, EUA e Austrália, derrotas para azarões como a Escócia (1 a 0) mudaram os planos: o Brasil será a única seleção que não terá disputado amistosos nas últimas duas datas Fifa anteriores ao Mundial.

Esse cenário preocupante piora diante da falta de orientação do time de Vadão. Nos amistosos, o técnico parecia experimentar ao acaso, escalando jogadoras em funções que elas jamais exerceram num antiquado e problemático 4-4-2 que mal consegue dar solidez à defesa e ainda afasta Marta da região onde consegue ser mais perigosa pelo Orlando Pride. O resultado é uma imensa dificuldade de encarar uma defesa bem postada.

Time tem dificuldade de encarar uma defesa bem postada

Sem a consistência defensiva de Rafaelle, zagueira do Changchun Yatai-CHN que não se recuperou de uma cirurgia no joelho, Vadão preferiu Érika, experiente mas de baixa prestação. O fantasma das contusões também assombrou o ataque, onde Bia Zaneratto (Hyundai Red Angels, da Coreia do Sul) fraturou a fíbula e perdeu os últimos amistosos. A atacante do São Paulo, Cristiane, também enfrentou problemas físicos e, aos 34 anos, decolou do Rio fazendo tratamento em pleno voo. Marta também sentiu dores na coxa esquerda, mas não parece assustar.

Por outro lado, a veterana Formiga esbanja saúde aos 41 anos e renovou seu contrato com o Paris Saint-Germain por mais duas temporadas. Ela vai disputar seu sétimo Mundial, combinando experiência com meninas recém-chegadas, como a atacante Geyse, de 20 anos, do Benfica-POR.

QUEM TREINA A SELEÇÃO

CRÉDITOS DA IMAGEM: FIFA

Oswaldo Alvarez, mais conhecido como Vadão, é um treinador de 62 anos cuja única experiência com o futebol feminino é na seleção brasileira. Vadão ganhou destaque no mercado nacional no começo da carreira, em 1992, quando treinou o modesto time do Mogi-Mirim, do Campeonato Paulista. Na época, Vadão imprimiu um estilo de jogo que rendeu ao time o apelido de “Carrossel Caipira”, em alusão exagerada à seleção da Holanda de 1974. Aquela equipe, no entanto, serviu como trampolim para a carreira de Rivaldo. Vadão treinou times importantes no futebol brasileiro, como São Paulo e Corinthians, mas jamais conseguiu um título de expressão. Depois de rodar por equipes das divisões intermediárias, foi contratado em 2014 para assumir pela primeira vez a seleção feminina. Nessa primeira passagem, ele ficou no cargo por dois anos. No Mundial de 2015, foi eliminado nas oitavas de final. Na Rio-2016, ficou em quarto lugar. Vadão deixou o cargo ao fim de 2016, mas foi recontratado para substituir Emily Lima em 2017.

A ESTRELA DO TIME

CRÉDITOS DA IMAGEM: AFP

Os seis títulos de melhor jogadora do mundo colocam Marta no indiscutível posto de principal jogadora do Brasil. Por mais que o tempo passe e ela já tenha 33 anos, a superioridade técnica da camisa 10 e a falta do surgimento de uma jogadora com talento similar mantêm em Marta os holofotes da seleção brasileira. Não é mais a faiscante dribladora, capaz de correr o campo inteiro até fazer o gol, e nem precisa: aprendeu a jogar mais perto da área para aproveitar sua letalidade, embora o técnico Vadão às vezes lhe peça mais sacrifícios. Mas a alagoana ainda mantém sua essência, seu sonho de ser campeã do mundo, e é dos pés dela que a magia pode aparecer.

CURIOSIDADES

Filha de um caminhoneiro e de uma empregada doméstica em osasco, Cristiane frequentemente trocava as tarefas de casa, como lavar pratos, para jogar bola escondida com os meninos da rua – cabia a um deles ficar de vigia para quando a mãe chegasse – o que levou a matriarca a sempre checar se os pés dela estavam sujos. “Tudo era bola para mim”, relembra ela, que arrancava as cabeças das bonecas para chutar pelos corredores. Num de seus primeiros clubes, ela tinha de caminhar 50 minutos todos os dias para chegar ao treino.

HISTÓRIA DO FUTEBOL FEMININO NO PAÍS

O futebol feminino foi proibido no Brasil por decreto presidencial, assinado por Getúlio Vargas em 1941. O argumento na época era que o esporte era uma atividade “incompatível com as condições da natureza feminina”. Embora a fiscalização não fosse tão intensa, a lei criou uma cultura subversiva em torno da modalidade, algo que tem resíduos até os dias de hoje, quarenta anos depois do fim do banimento. Só na década de 1980 os times das mulheres começaram a surgir, e a primeira competição nacional, a Taça Brasil, foi disputada de 1983 até 2003. Após intervalo de três anos, o torneio evoluiu para a Copa do Brasil, que ainda não dava às meninas um período satisfatório de atividade ao longo do ano.

O Brasileirão feminino surgiu em 2013 e tem evoluído de formato ao longo dos anos. Atualmente, os times masculinos da Série A são obrigados por regulamento da CBF a montarem equipes femininas. Já a seleção brasileira estreou oficialmente em 1986, contra Estados Unidos e China, mas levou dois anos para voltar a atuar, já na Copa do Mundo de 1988. O Brasil participou de todas os Mundiais até aqui e foi vice-campeão em 2007. A equipe tem duas medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 e Pequim-2008.

QUEM VAI SURPREENDER

Na última temporada, a atacante Geyse marcou 48 gols em 27 jogos e tem apenas 21 anos. Atualmente joga no Benfica de Portugal. A fragilidade da segunda divisão portuguesa, na qual o clube dela joga, pode levantar dúvidas, já que as Encarnadas impõem placares bizarros, como 32 a 0 contra o Pego e 22 a 0 contra a União Almeirim. No entanto, deve-se considerar que Geyse também se mostrou perigosa no Sul-Americano sub-20, no qual foi artilheira com 12 gols.

OBJETIVO REALISTA

Embora o senso comum tenha se acostumado a favoritar seleções brasileiras em qualquer torneio, o retrospecto recente indica que alcançar as quartas já será um feito surpreendente. A projeção realista é oitavas de final, e a partir daí é lucro.

ORÇAMENTO ANUAL PARA A SELEÇÃO

Estrategicamente, a CBF não informa individualmente quanto gasta com a seleção feminina. A entidade junta essa despesa com todas as seleções de base, de ambos os gêneros. Em 2018, isso representou investimento de R$ 36,6 milhões. Para o Brasileirão feminino, a CBF destinou outros R$ 11,3 milhões. Já a seleção principal masculina, sozinha, gerou despesa de R$ 132,6 milhões.

JOGADORAS REGISTRADAS

3.239 jogadoras, segundo a CBF.

O Globo

 

Opinião dos leitores

  1. Essas mulheres do futebol… sei não. Tenho cá minhas dúvidas. E elas também não ajudam, parecem mais dispostas a confundir do que esclarecer.

    1. BG.
      Imagine vê a governadora jogando com a camisa 10 da seleção junto com Marta, seria o máximo.

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