Política

FHC: “Lula não é imbatível. Eu ganhei dele duas vezes”; ex-presidente fala sobre tudo em entrevista

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 86, não está entre os milhares de brasileiros que querem a prisão de Lula. Ele diz não ser sádico para querer ver um ex-presidente preso. O líder tucano prefere que o petista dispute a eleição e seja derrotado nas urnas. “Se o Lula for candidato, não é imbatível. Eu ganhei dele duas vezes. Tá bom, eram outras circunstâncias. Mas naquele momento ele tinha uma aura de restabelecer a moralidade, que hoje não tem mais”, frisa ele. Para ele, Lula não deve voltar ao poder porque foi um dos responsáveis pela institucionalização da corrupção na vida partidária. “Lula e Bolsonaro são dois extremos indesejáveis”. Embora tenha sido um dos que defendeu a saída do PSDB do governo, o ex-presidente diz que Temer está fazendo mais do que ele esperava. E trabalha para que os deputados do PSDB votem em peso a favor da reforma da Previdência. “Se não resolvermos o déficit da Previdência, podemos virar uma Grécia”, onde os aposentados tiveram seus proventos ameaçados. Nesta entrevista, ele fala sobre a discriminação aos negros, o retrocesso no aborto, a liberação das drogas, violência e pena de morte. “Aqui, temos a pena como morte”.

Com a população desiludida, descrente nos políticos, como o senhor vê as perspectivas para 2018, quando teremos eleições?

Não é só no Brasil. Há desilusão com o modo de como a política é feita em todos os países onde há democracia representativa. Nos países autoritários não, porque as pessoas nem sabem, mas onde há liberdade há um sentimento de mal-estar. Há várias razões. Aqui se agrega a essas razões a enorme corrupção que foi destampada e isso produziu um sentimento do que é isso? Estou fora. Vocês não me representam. Isso vai ter conseqüências sobre aqueles que se dispõem a votar. Aconteceu no Chile recentemente. Houve uma queda na participação.

De acordo com as pesquisas, estaríamos hoje entre Lula e Bolsonaro. Qual é sua avaliação?

Eu acho que esse quadro é hoje. Ainda estamos longe do quadro real que vai se colocar nas eleições. Hoje isso reflete um pouco a desilusão da população. Por que Lula? Se pode entender porque as pessoas podem se lembrar dos bons momentos do governo Lula e vão esquecer os maus momentos e a responsabilidade grande que ele teve na aceleração da desarticulação do sistema partidário. Por que Bolsonaro? Porque as pessoas querem ordem. O crime está muito grande, desordem e tal, então tem esse apelo. Eu não creio que esse seja o quadro que vai se configurar nas eleições. É preciso se organizar um setor que seja democrático, popular, não de elite, progressista, que entenda qual é o papel do mundo e como o Brasil pode se engajar nisso. Para mudar o quadro, tem que ir pelo exemplo. Os políticos precisam voltar a tocar no coração dos brasileiros.

Na busca desse novo político, o senhor lançou o governador Geraldo Alckmin. A questão é que ele também está sendo investigado pelo STJ por ter recebido dinheiro de caixa dois. Esse não é um problema?

As acusações existentes sobre o Geraldo são frágeis. Não são alegações pessoais. Alegações sobre recursos de campanha. Isso não é o suficiente para desqualificar uma pessoa. O Geraldo tem história. Será que ele é o melhor brasileiro para ser presidente da República? Talvez não. Existem outros que têm tanto ou melhor qualificação do que ele. Ele tem melhores condições. Por que? Ele é governador de São Paulo. O PSDB governa São Paulo há 20 anos. Tem um caso aqui e outro ali de corrupção, mas não existe uma organização, uma máquina feita pelo partido para roubar. O Geraldo todo mundo sabe que é uma pessoa honesta e tem estilo de vida mais simples. É o que eu digo da exemplaridade. As pessoas já cansaram de gente com muita pompa e muita retórica.

Outros nomes do partido, como o prefeito João Doria, se inviabilizaram dentro do PSDB?

O prefeito Doria teve uma vitória surpreendente em São Paulo. Mas talvez seja cedo para se lançar a presidente da República. Ele já corrigiu esse rumo.

Mas sempre que o PSDB disputou eleições dividido, como agora, perdeu eleições…

Só dois partidos tiveram sucesso até hoje desde a redemocratização: PT e PSDB. O PSDB mostrou capacidade de abrangência, mas para ter um presidente eleito você precisa de 50% mais um voto. Dificilmente o seu partido faz isso. Você precisa de uma pessoa que fale além do seu partido. Esse é o desafio. Como estamos num momento em que a palavra conta, porque as pessoas estão descrentes, eu acho que se o Geraldo demonstrar que ele abre um espaço de esperança consistente com o comportamento dele, ele tem possibilidade de avançar. É preciso demonstrar que Lula e Bolsonaro são extremos indesejáveis. O Brasil requer um pouco de tranqüilidade, uma pausa nos fatos negativos. O Geraldo não produz fato negativo.

O senhor disse que prefere derrotar Lula nas urnas a vê-lo na cadeia. Mas o senhor não acha que o que ele fez em matéria de corrupção já não é suficiente para ser preso?

Primeiro é preciso dizer que o Lula, se for candidato, não é imbatível. Eu ganhei dele duas vezes. Tá bom, eram outras circunstâncias. Mas naquele momento ele tinha uma aura de reestabelecer a moralidade, que hoje não tem mais. Ele perdeu o discurso de combate à corrupção, portanto, pode perder a eleição. Segundo, ir para a cadeia ou não, é problema da Justiça. Não tenho o prazer sádico de ver ninguém preso, mais ainda quem foi presidente da República. Mas aconteça o que acontecer, não temos que ter medo do Lula

Lula é nocivo para a democracia brasileira, do tipo que vai sacramentar o rouba mas faz, como fizeram Maluf e Ademar de Barros no passado?

O Ademar de Barros e o Maluf são de outro momento. Roubavam para enriquecimento pessoal. O que aconteceu agora no Brasil foi muito mais grave. O Lula, como líder do PT, presidente da República, foi responsável pelo aconteceu. O mensalão e o petrolão inauguraram uma fase nova no Brasil. Tomar dinheiro público, passar pelo setor privado conivente com isso, e depois passar para o partido para sustentar o poder. Não foi desvio de conduta pessoal. Foi institucional. Corrompeu todo o sistema político.

Como é que pode um governo resolver os problemas econômicos do País e sair tão mal avaliado como o governo Temer?

Eu acho que o presidente Temer fez mais do que eu imaginava que pudesse fazer. Por que? Ele virou presidente numa condição muito especial. É difícil você ter o impeachment e quem sucede ter popularidade. Ele fez o que o eu acho que tinha que fazer: olhar para a história e não para a popularidade.

O senhor também fez uma reforma da Previdência e o PSDB sempre disse que ela era fundamental. Por que o partido reluta em aprovar agora a reforma?

Não é o PSDB. São algumas pessoas. Elas têm medo da conseqüência eleitoral disso. E não é só o PSDB. O PSDB tem 46 deputados. A Câmara tem 513. Então, há um pouco de manobra no sentido de fazer de conta que é o PSDB que é o responsável. Não é. Vários partidos que apóiam o governo estão na mesma situação: apóiam o governo mas não querem aprovar a reforma da Previdência. Porque têm medo da reação eleitoral. Eu acho isso um equívoco. Mas também houve falha na comunicação. Você tem que mostrar que a Previdência é contra privilégios. Só agora o governo está falando isso.

O senhor acha que os velhinhos do futuro podem ficar sem receber aposentadorias?

Na Grécia aconteceu isso. Mas não somos uma Grécia. Temos que tomar cuidado para não virar. Mas esses dados de déficit de R$ 188 bilhões, que é verdadeiro, estão levando em consideração um Brasil sem crescimento. Para dar certo, o Brasil precisa voltar a crescer, porque aumentando a renda, aumenta a arrecadação.

O senhor acha que o aborto deveria ser liberado de uma vez?

Estamos vivendo no Brasil um momento de retrocesso cultural em vários setores, raça, homofobia, tudo isso. Um País que aspira ser moderno, tem que se modernizar. Estão querendo acabar com o que a Constituição já autoriza, que é o aborto por estupro, por exemplo. Isso é um retrocesso. Temos que discutir em que condições a mulher tem o direito ao aborto. Liberar total nem a droga. Tem que regulamentar.

A maconha tem que ser liberada?

Se você consome de vez em quando heroína não faz tanto mal quanto fumar maconha o dia todo. Heroína todo dia te mata também. O que é preciso é a regulamentação. No Brasil, a droga é livre na mão do traficante. Eu prefiro que seja regulamentada na mão do Estado. O assunto é muito mais complexo do que simplesmente liberar. Tem que fazer campanha educativa. Pega o cigarro. Nunca foi proibido. Neste prédio não pode fumar. Foi avançando e hoje pouca gente fuma. Tem que fazer algo parecido com a droga. Não pode ser liberou geral. O problema maior não é o usuário, é o traficante. O usuário é vitima do traficante. Se regulamentar, tira força do traficante.

O senhor já disse que tinha os pés na cozinha, que era mulato. O senhor acha que o Brasil é um País que discrimina os negros?

Pega a galeria dos presidentes da República. Vê quantos são realmente brancos. O Brasil é um País diverso. Uns tem a pele mais escura do que os outros. É óbvio que temos discriminação. O nosso preconceito é diferente do que acontece nos Estados Unidos. Lá, uma gota de sangue te faz negro. Aqui não. Aqui o preconceito é de marca, não é de sangue. Aqui existe a discriminação. É só olhar a renda do negro e a renda do branco. Eu sou favorável às cotas. Temos que ter medidas para compensar aqueles que necessitam. Ou então devemos dar logo bolsa para os pobres, que são todos negros.

A violência está tomando conta do País. O que deveríamos fazer para enfrentar o problema?

O Brasil prestou pouca atenção à questão da violência, o que está dando espaço para o surgimento desses candidatos com viés autoritário. A minha geração sempre teve restrições a uma política mais dura e de entender que a polícia é necessária. Tem que melhorar a polícia e ter uma atitude mais austera de combate à violência. A violência é um problema do povo e não da elite. A elite se defende porque tem carro blindado e guarda-costas. As polícias têm demonstrado pouca capacidade de enfrentar o crime, porque supõe muito trabalho de inteligência. Como fazem pouco, os governos de vez em quando apelam para as Forças Armadas, que não são treinadas para esse tipo de coisa. Elas podem ajudar na inteligência.

O que o senhor acha da pena de morte?

Eu sou contra. No Brasil temos a morte sem pena. Matam demais no Brasil. Ter a pena de morte vai reduzir a criminalidade? Não vai.

Isto É

 

Opinião dos leitores

  1. Esse é daqueles que só depois de morto o povo reconhece o que ele fez pelo Brasil, se fosse só o plano Real ja estaria de bom tamanho, lembrando que o PT votou contra. Mas falando a sério, o cara é outro nível né não? Fala e fala bonito, muito diferente do politiqueiro e corrupto do Luiz Inácio.

  2. E porque estão usando o Tapetão do Moro e do Gilmar Mendes, com propaganda diária no PIG comandado pela Rede Globo, contra ele?
    Esta~]ao é morrendo de medo de perder as eleições de novo. Tudo tem seu contexto e o momento. O momento do Sr. FHC já passou e seu rastro na Privataria Tucana deixou marcas profundas em muita gente boa , que não deseja passar pelas mesmas coisas nunca mais.
    Acorda FHC!

    1. Essa pergunta você deveria responder, já que continua defendendo um político com a ficha corrida de Lula. Qual a razão de um político investigado, processado e condenado por participação em vários tipo de delitos criminais, quer concorrer a cargo político?
      Uma pessoa dessa não tem qualquer pretensão de fazer nada pelo povo, vai de novo, prometer e enganar seus seguidores, pois o único objetivo é voltar ao poder para ter força de mandar para todas as investigações, processos e reverter as condenações.

    1. *monopolista. Agora vá explicar essas tecnicalidades pro cidadão comum. Näo tenho dúvidas. É Lula 18.

    2. Inflacao a 13%
      Dolar a 4 reais
      Desemprego nos 13%
      Escolas federais e universidades sucateadas
      Saúde desmantelada
      Foi 2 vezes com pires nas maos pedir ao fmi
      Sertanejo fazendo saque no serttao com fome

      Pense uma conta arrumada.

    3. Se tem uma coisa que petista chamais vai admitir é que Lula pegou um governo com superavit em todas as contas públicas deixadas por FHC.
      MENTIRA comedor de mortadela, a inflação nos anos 2002 e 2003 NUNCA foi maior que 3%, mais em 2014 e 2015 chegou a passar de 2 dígitos.
      A economia estava estabilizada, o jovem saia do curso superior e tinha emprego (menos aqueles sem capacidade), a petrobrás estava em plena expansão, os correios tinham a maior credibilidade, os findos de pensão garantiam as aposentadorias, a indústria crescia e exportava. Ao final de 2015 o quadro deixado pelo PT era exatamente o oposto disso tudo.

    4. FHC pegou o país com fama de caloteiro e o entregou com melhor fama.Isso faz uma diferença enorme
      Foi ao FMI justamente por causa de passivos deixados por gastança anterior. Algumas melhorias são cumulativas, de modo que muitas comparações são desonestas. É muito fácil pegar o país depois de feita a LRF, o fator previdenciário, o saneamento de dívidas de Estados, de limpar o sistema financeiro para depois vir alguém gastar e dizer que os outros querem pobre passando fome.

    5. Vou dar um exemplo de algo feito cumulativamente (e de como dá para enganar as pessoas assumindo que fez tudo sozinho). Tenho certeza que até um mortadela vai entender. Três pessoas se juntam para comprar um carro. Fulano dá a primeira parcela, sicrano a segunda. Lulano paga a última e sai alardeando que quitou o carro e que na época dos outros dois havia dívidas.

    6. Concordo Comedor de Mortadela. Lula pegou o país tão quebrado pelos tucanos, quanto hoje pelos golpistas. Quem fala o contrário devia estar usando fraldas na época!

    7. Os "golpistas" pegaram um pais em uma depressão econômica, e estão tirando-o dela. Lula pegou o país com um norte bem apontado. Enquanto manteve as politicas do antecessor, o Brasil conquistou credibilidade e investimentos. Mas depois tacou a torrar dinheiro. Deu resultado de curto/médio prazo, mas a ressaca chegou. Vamos repetir o ciclo. Lula 18!

    8. Petistas me respondam uma coisa se Lula pagou a dívida externa com o Brasil deve mais de 400.000.000,00 de dólares
      Onde a petista Dilma pois esse dinheiro
      Estou aguardando uma reposta!!!!!

    9. A inflacao oficial em 2002, último ano desse senhor ai de cima, foi de 12,53%.
      Agora no mundo paralelo dos eleitores tucanos foi de 3.
      "A economia estava estabilizada e o jovem tinha emprego quando ssua da universidade"
      Esse senhor do comentário devia viver em um paralelo mesmo. Foi por isso q o candidato de Efeagacê ganhouba eleição.
      Coisas da turma do golpe essas afirmações.

    10. Waldemir, pergunta também em que grau exponencial cresceu a dívida interna durante o petismo.

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