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Ex-diretor da MTV "acaba" com Fernanda Lima

zicoPouco mais cinco meses após o “fim” da MTV Brasil, Zico Góes, diretor de programação e conteúdo da emissora musical, resolveu reunir em livro muitas das histórias de bastidor reunidas ao longo de 23 anos. “MTV, bota essa p#@% pra funcionar!” (Panda Books, 160 págs., R$ 35,90), chega às prateleiras em março repleto de casos curiosos e informações preciosas para quem pesquisa sobre comunicação. Presente em praticamente toda a história do canal – à exceção de um hiato entre 2008 e 2010 -, o autor relembra atrações e VJs que marcaram uma geração.

A narrativa é em tom de memória, sem grandes firulas. Por isso mesmo, torna a leitura rápida, dessas que podem ocorrer numa única sentada – como ocorreu com este que vos escreve. Entre alguns dos programas relembrados estão o “Erótica MTV”, que já estreou com 2 pontos, um marco para a época, o “Barraco MTV”, o “Disk MTV” (leia abaixo trecho que revela manipulação nos votos) e, claro, o “VMB”. Numa das edições da premiação, aliás, ocorreu o momento que originou o título do livro. Bravo com uma microfonia que atrapalhava seu show ao lado de David Byrne, Caetano Veloso reclamou, ao vivo, para quem quisesse ouvir: “MTV, bota essa p#@% pra funcionar!”. Há espaço também para relembrar os tradicionais “Acústicos” – com destaque para o de Roberto Carlos, proibido pela Globo – e os ao vivos, como o tributo à Legião Urbana com Wagner Moura nos vocais. Num, Zico conta que o Rei pediu para todo o cenário ser trocado por causa de detalhes marrons. Noutro, que o filho de Renato Russo, comparado a um “chefão”, se mostrava irredutível e não queria permitir o projeto.

Ao contrário da maior parte dos executivos de TV, voltados para números de audiência e faturamento, Zico parece perceber que o grande diferencial da MTV era o fato de ter uma identidade tão sólida que ajudava a formar o caráter e os gostos musicais de quem a assistia. Foram muitas as campanhas sociais abordando temas delicados como Aids, gravidez precoce e direitos do adolescente.

Da mesma maneira, os VJs eram figuras importantíssimas para os espectadores. Há, aliás, um capítulo especial dedicado a eles – e algumas confusões em que se meteram. No caso de João Gordo, por exemplo, sua briga com Dado Dolabella é contada em detalhes. Daniella Cicarelli também ganha destaque. Na época em que processou o YouTube, segundo o autor, foi grande a pressão dos espectadores para que a emissora a demitisse. Acuada, a apresentadora chegou a brigar nos bastidores ao ver episódios da vida íntima abordados na TV. A lista de citados é gigante e suas histórias emblemáticas. Por elas, percebe-se que nem todos deixaram o canal felizes. Foi o caso de Didi Wagner, Fábio Bonfá e Gastão Moreira. Fernanda Lima ganhou puxão de orelha de leve (leia no trecho abaixo).

Há espaço também para o mea culpa: Zico admite que a MTV pisou na bola ao promover uma overdose da banda Restart na programação em meados de 2009. O projeto que mais ganha espaço no livro é o “Rockgol”, claramente um dos favoritos do ex-diretor, com destaque para as rusgas envolvendo Toni Garrido, do Cidade Negra. Assuntos polêmicos, como a “Casa dos Autistas”, infeliz paródia do “Comédia MTV” também são contados em detalhes.

Ao longo de 160 páginas, Zico promove um apanhado emocional de boa parte do que foi a MTV. Deixa de lado, porém, projetos marcantes, caso do “Vinte e Poucos Anos” e do “Caça VJ”, e deixa de lado alguns VJs que mereciam citações, como Chris Nicklas, Luana Piovani e Adriane Galisteu. Ainda assim, exatamente por ser um projeto tão pessoal baseado na memória, o livro tem relevados facilmente estes pequenos deslizes. A sensação de chegar nas narrativas finais, sobre o fim da emissora, é da mesma tristeza que se sentia antes de o sinal aberto do canal sair do ar. É um importante registro.

O lançamento oficial de “MTV, bota essa p#@% pra funcionar!” está previsto para acontecer em 17 de março, na livraria Saraiva do Shopping Higienópolis, em São Paulo. O blog separou abaixo dois trechos polêmicos do livro para dar um gostinho. Leia a seguir:

Fernanda Lima – “Ela já era uma celebridade quando se tornou VJ, algo com que nunca havíamos lidado. Tinha empresário e fazia campanhas fora da emissora. Era um pouco marrenta, exigente e difícil de lidar. Ficava sempre nos melhores hotéis quando viajava a trabalho; trazia seu próprio figurinista e não queria saber do nosso maquiador. Queria, enfim, ser o tempo todo paparicada pela MTV. (…) Lembro-me de ter me irritado com ela e seu empresário uma vez: ‘Ei, eu também tenho ego e vocês nunca me mandaram flores!’. Gastamos mais com Fernanda Lima que com outros VJs da casa, mas valeu a pena. Ela era uma apresentadora de alto nível.”

R7 – Mundo da TV- Fernando Oliveira

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