Política

Índia militar que já morou na rua e foi atriz de novela é nova secretária do governo Bolsonaro

Sílvia Waiãpi, nova secretária do governo Bolsonaro Foto: Reprodução

A ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, anunciou pelo Twitter nesta terça que a militar indígena Sílvia Waiãpi será a próxima secretária nacional da Saúde Indígena, pasta vinculada ao ministério da Saúde. Sílvia participou do governo de transição de Jair Bolsonaro.

Sílvia foi a primeira indígena a integrar as Forças Armadas e participou do governo de transição de Jair Bolsonaro. Segundo Damares, ela é “extremamente preparada”.

No vídeo divulgado na rede social, a ministra da Mulher comemora a indicação e aproveita a nomeação para criticar “aqueles que disseram que o Bolsonaro ia perseguir índio no Brasil”.

— O presidente da Funai é índio, a secretária nacional de Saúde Indígena é índia e a ministra (em referência e ela mesma) é mãe de índia. É o governo Bolsonaro fazendo a diferença no Brasil.

Passado de atriz

Além de ser segunda tenente, Silvia tem um passado como atriz. Seu último trabalho na televisão foi como Domingas, a empregada da casa do protagonista Cauã Reymond na série “Dois irmãos”, de 2015.

Antes disso, Silvia já tinha trabalhado em “Uga uga”, de 2000, onde ficou famosa como a Índia Crocoká, que contracenava com Marcos Pasquim.

A interpretação, no entanto, não resume nem metade da história de vida de Silvia. Aos 3 anos, ela foi adotada e aos 7, começou a frequentar a escola. “Eu queria estudar. Queria conhecer as letras”, contou ela em entrevista a Jô Soares, em 2012.

Foi nessa época que Silvia conheceu o bullying. De alunos e professores. “Eu só tinha uma camisa com um botão nas costas. Ia com ela para as aulas e achava linda, a minha melhor roupa. Notava que era deixada pelos grupos de alunos porque era pobre”, descreve ela na mesma entrevista.

“Lembro que toda semana havia o hasteamento da bandeira e passei anos puxando a saia das professoras para que me deixassem fazer aquilo. Nunca deixaram. Nunca entendi por que me chamavam de legítima brasileira se nem isso eu podia fazer”.

Aos 13 anos, Silvia teve uma filha. Antes disso, quase morreu ao ter o abdômen perfurado por um pedaço de madeira na floresta em que vivia. Aos 14, ela fugiu da aldeia e foi parar no Rio de Janeiro. Ficou dois meses morando na rua e passou fome até vender uma pedra que trazia de sua tribo. “Só tinha aquilo de valor. Uma pedra que peguei no fundo do rio e tomei como um amuleto. Eu acreditava que ela tinha poderes mágicos e a vendi assim. Com o dinheiro consegui comer por duas semanas”, recorda.

Silvia contou a Jô Soares que se foi capaz de vender uma pedra, poderia vender qualquer coisa. Um camelô arrumou um lugar para ela morar, ela saiu vendendo livros e revistas velhos até conseguir emprego no Círculo do Livro. Foi lá que a incentivaram a estudar artes.

Silvia mantinha um blog no qual escrevia poesias e em sua descrição no Facebook, ela diz: “Eu sou a onça que caça e sangra… Aquela que rola no chão sem medo enquanto a caça se debate!”. Não é figura de linguagem apenas.

A índia se tornou atleta depois de quase sofrer um estupro. Foi medalhista de atletismo pelo Vasco da Gama e conseguiu uma bolsa de estudos para cursar a faculdade de Fisioterapia. Depois da graduação prestou concurso para o Exército e finalmente pôde realizar o sonho de hastear uma bandeira. “Acordo todos os dias pensando que vou mudar meu país”, garantiu ela em outra entrevista.

Mãe de três filhos e avó de uma neta, Silvia conduziu, no Hospital do Exército, no Rio, pesquisa na área de reabilitação de lesões medulares.

Cargo quase foi extinto

Durante o processo de reestruturação do ministério da Saúde, o ministro da pasta, Luiz Mandetta, cogitou extinguir a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), mas desistiu da ideia depois de protestos da população indígena.

A Sesai é responsável por administrar 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) que existem no país, e que cuidam do oferecimento de serviços de saúde a essa população.

O Globo

 

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