Política

Os que não declararam voto, “indecisos” e “envergonhados” podem impulsionar Bolsonaro; Alckmin e Amoêdo também com eleitorado ameaçado

O candidato nas sombras do mercado: apoio crescente entre investidores pode ser trunfo no primeiro e no segundo turno (Christopher Goodney/Getty Images) (/)

No feriado da Independência, cerca de 150 executivos, em sua maioria CEOs, se reuniram em um evento na Praia do Forte, na Bahia. Em meio a conferências e reuniões, havia tempo também para festas. Em uma delas, o cantor Paulo Ricardo, antigo vocalista da banda RPM, era a principal atração. Durante a sua apresentação, entre uma música e outra, ele decidiu indagar aos presentes em quem eles iam votar na próxima eleição.

Cerca de 90% dos executivos levantaram a mão quando o apoio era para o candidato João Amoêdo (NOVO). O restante se dividia entre Jair Bolsonaro (PSL), que sofrera um atentado à faca um dia antes, e Geraldo Alckmin (PSDB). Essa percepção, no entanto, foi mudando durante o evento, que se estendeu pelo fim de semana. A maior parte dos executivos afirmava, meio que envergonhada, que estava disposta a mudar os seus votos para Bolsonaro. O mercado está comprando o candidato de extrema-direita – e até mesmo preferindo ele a candidatos outrora colocados como “queridinhos”.

Mas, se nas redes sociais e nas rodas de conversa país afora há um grupo que não vê problemas em declarar seu voto e fazer campanha ativamente pelo deputado, no mercado financeiro o apoio ainda é mais contido, tímido, quase envergonhado. Mas crescente. E isso é uma grande oportunidade para Bolsonaro, e um motivo de atenção para seus adversários na disputa presidencial.

Analistas políticos afirmam que pode acontecer por aqui algo similar com o que aconteceu com Donald Trump nas eleições presidenciais americanas em 2016. Na época, diversas pessoas não admitiam que Trump era uma opção plausível muito por conta dos impropérios falados por ele. Em frente à urna, contudo, decidiram votar no candidato, visto fora do círculo tradicional dos políticos. “Por mim, iria de Amoêdo ou Alckmin, mas para barrar o crescimento da esquerda posso votar no Bolsonaro no primeiro turno”, diz um alto executivo, que garante que muitos dos seus pares estão com o mesmo pensamento.

Eles fazem parte do crescimento que Bolsonaro registrou na pesquisa FSB/BTG Pactual, divulgada no último dia 11. Dos 26% registrados na semana anterior, Bolsonaro foi para 30% — o adversário mais próximo é Ciro Gomes (PDT), que registrou 12% das intenções de voto. Ele também cresceu 4 pontos percentuais no Ibope, para 26%, e 2 p.p. no Datafolha, a 24%. Marqueteiros, contudo, acreditam que ele pode capitalizar mais com o atentado, mesmo com pouco tempo de televisão. “O brasileiro é um povo muito emocional e uma campanha em um quarto de hospital pode trazer muitos votos para ele”, diz o americano Arick Wierson, sócio da consultoria política TZU e estrategista das campanhas do ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.

A TZU está estudando bastante o crescimento do deputado do PSL – EXAME apurou que a consultoria foi sondada pela equipe de Bolsonaro para tocar a sua campanha. Para exemplificar o potencial do candidato, a TZU mapeou diversos perfis de brasileiros que podem fazer a diferença nessa eleição e também fez uma pesquisa de intenção de voto nesses grupos. Desde o ataque, Bolsonaro cresceu 3%, e quase a totalidade desse crescimento veio das mulheres, um público que sempre teve uma rejeição grande por ele.

Um dos destaques de Bolsonaro pode ser visto no grupo das donas de casa que não possuem emprego externo: 12% de aumento. Esse coletivo é carinhosamente chamado de “Louro José” por conta da afinidade dessas eleitoras com a apresentadora global Ana Maria Braga e o seu clássico mascote. Segundo Wierson, muitas eleitoras estão se sensibilizando com o ataque sofrido por Bolsonaro. “Elas representam 10% e têm uma taxa alta de indecisão. Se ele conseguir parte desses votos fica ainda mais próximo de uma vitória no primeiro turno.” Outro grupo em que ele está crescendo é no das “balzacas”, mulheres solteiras entre 30 e 49 anos de classes mais altas, o que mostra um início de ganho de terreno em várias fatias do público feminino.

A agenda liberal, encarnada no economista Paulo Guedes, é o principal ativo de Bolsonaro para continuar conquistando o mercado – o Ibovespa subiu 1,7% na quinta-feira 6, após investidores enxergarem como positivo o ataque sofrido pelo Bolsonaro. Essa ansiedade está fazendo até as empresas pisarem no freio esperando uma definição. Um executivo de uma multinacional americana afirmou que a empresa deixou de fechar três aquisições de empresas por conta do período de instabilidade política, mesmo com o dólar valorizado.

Após as eleições, no entanto, as compras devem voltar. “E, para aumentar os investimentos, a nossa matriz enxerga com mais bons olhos a vitória do Bolsonaro a qualquer candidato à esquerda”, diz esse profissional, que vê muita similaridade do atual momento com a eleição de Donald Trump, em 2016. “Lembro de muitos executivos que, só depois da vitória, assumiram que tinham votado no Trump.”

Vale ressaltar que, ainda assim, o candidato preferido do mercado segue sendo o tucano Geraldo Alckmin, que custa a sair dos 9% das intenções de voto, mas que é visto como mais competitivo num segundo turno contra Fernando Haddad (PT) ou Ciro Gomes (PDT). A alta rejeição a Bolsonaro e sua dificuldade no segundo turno têm sido fatores destacados por Alckmin em declarações recentes. Para ele, votar em Bolsonaro é um atalho para o PT voltar ao poder. A dificuldade é fazer o discurso colar.

Bolsonaro perde para todos os concorrentes em simulações de segundo turno, segundo o Datafolha. Na pesquisa Ibope, divulgada na terça 11, ele aparece tecnicamente empatado com todos os outros. Ele ainda possui a maior rejeição dos candidatos, com 43% dos eleitores afirmando que nunca votaria nele — no Ibope, ele aparece com 41% de rejeição. Entre os fatores que afastam os eleitores de Bolsonaro estão seus discursos contra minorias, seu histórico de votos a favor da manutenção de benefícios e dúvidas sobre sua governabilidade. “O mercado pode até gostar do Bolsonaro, mas ainda há diversas dúvidas de como ele vai conseguir negociar com o Congresso”, afirma Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial Research. “O mercado mostrou que quer tudo, menos um candidato de esquerda.”

Mesmo com os riscos, a consultoria Eurasia aumentou as chances de Bolsonaro estar no segundo turno de 60% para 70% após o atentado. O seu adversário mais provável é Fernando Haddad (PT), que está crescendo nas pesquisas ao ser oficializado pelo PT e herdar parte dos votos de Lula. Haddad já está empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (REDE) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Um cenário entre Bolsonaro e Haddad ajudaria a inflamar as militâncias dos dois lados. De acordo com o Datafolha, Haddad e Bolsonaro estão tecnicamente empatados em uma disputa no segundo turno com 39% a 38%, respectivamente. Essa disputa, segundo Cristopher Garman, da Eurasia, complicaria a vida do próximo presidente.

Isso porque qualquer um que saísse vencedor, encontraria um país completamente dividido e um Congresso pouco receptivo a projetos de mais peso, como as reformas. O antipetismo e o antibolsonarismo também seriam fortes tanto na Câmara quanto no Senado. E o Brasil de 2019 poderia começar tão instável quanto o deste ano.

Os envergonhados (sejam eles de Bolsonaro, Haddad, Ciro, Alckmin ou Marina), neste sentido, podem não necessariamente jogar a favor do Brasil. Neste momento, quanto mais clareza, melhor.

Com informações da Exame

 

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