Política

FHC diz que impeachment não é golpe, mas ‘remédio constitucional’; Aécio afirma que PSDB pode apoiar governo Temer

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que o impeachment da presidente Dilma Rousseff “é um remédio constitucional” e defende a continuidade e autonomia das investigações da Operação Lava Jato em um eventual governo Temer.

Em vídeo gravado para o novo site do Instituto Teotônio Vilela, que entrou no ar nesta quinta-feira (31), FHC diz que o processo de deposição da presidente “não tem nada a ver com golpe” e, diante da “incapacidade do governo de governar” e de “flagrantes abusos que ferem a Constituição “, “infelizmente não resta outro caminho senão marcharmos para o impeachment”.

“Quando há apoio na sociedade, maioria no Congresso e base jurídica, vai para o impeachment”, diz.

O ex-presidente defende que, com a deposição de Dilma, haja um “grande consenso nacional”, indicando que o PSDB participe do governo Temer, se colocando como “o partido da construção do futuro do país”. Segundo ele, no entanto, para que a composição prospere, a Lava Jato tem de se manter intacta. “O preço do acordo não pode ser acabar com a Lava Jato.”

“A Lava Jato é parte do processo democrático brasileiro. Ela vai continuar, mas dentro da regra. Se houver abusos, há tribunais de conter esses abusos, mas é importante que ela continue”, afirma.

Aécio afirma que PSDB pode apoiar governo Temer

O senador e presidente do PSDB, Aécio Neves, afirmou nesta quinta-feira (31) que seu partido poderia dar apoio a um governo liderado por Michel Temer (PMDB). A declaração foi feita em Portugal, onde o mineiro participa de um seminário organizado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes e com a participação de diversas lideranças pró-impeachment.

“Nossa contribuição [para um governo Temer] vai ser em torno de uma agenda. Vamos apresentar nossas propostas e ouvir as que eles têm”, afirmou.

Aécio, no entanto, sinalizou que o PSDB colaboraria “sem interesse” de ocupar cargos ou posições na futura administração. Ele criticou o loteamento de cargos no governo em troca de suporte político.

“Nós queremos chegar ao poder pela via do voto, não de carona com quem quer que seja”, completou.

O senador também falou sobre a crise política e o desemprego no Brasil, e disse que o impasse político assustou os investidores estrangeiros.

“Hoje ninguém investe no Brasil em função desse impasse.”

PARLAMENTARISMO NA AGENDA

As lideranças tucanas no evento em Lisboa também ressaltaram seu apoio a uma mudança no regime político do Brasil, substituindo o presidencialismo pelo parlamentarismo.

Além de Aécio, o senador José Serra também usou sua palestra para tocar no assunto.

Para o ex-governador de São Paulo, o Brasil vive hoje uma situação “dramática” que seria ainda mais complexa do que aquela que levou à ditadura militar em 1964.

“Eu posso dizer, porque eu vivi o golpe brasileiro em 64 e vivi o golpe no Chile em 1973. Fui exilado nos dois, fui exilado ao quadrado. Mas posso dizer que a situação, por incrível que pareça, era menos complexa do que a atual. Não que fosse fácil, mas era mais inteligível”, avaliou.

PETISTA MINIMIZA

Um dos poucos presentes favoráveis ao governo de Dilma Roussef, o senador Jorge Viana (PT-AC) usou seu espaço no evento para classificar as tentativas de destituição da presidente como golpe.

Citando indicadores econômicos atuais e comparando-os com os do governo de Fernando Henrique Cardoso, o petista questionou: “Essa crise é mesmo a pior de todas?”

O senador criticou a cobertura política dos grupos de mídia brasileiros e voltou a defender a existência um controle social da imprensa.

SEMINÁRIO POLÊMICO

O 4° Seminário Luso-brasileiro de Direito, que acabou na tarde desta quinta-feira, foi organizado conjuntamente pelo IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público) e pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e esteve envolvido em polêmicas desde que a lista de participantes foi anunciada.

Coordenado por Gilmar Mendes, o evento reuniu na capital portuguesa diversos juristas e políticos favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e foi classificado como “conspiratório” por diversos setores, tanto no Brasil como em Portugal.

Em meio à polêmica, políticos portugueses, como o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acabaram desistindo de participar.

Na sessão de encerramento do encontro, Gilmar Mendes defendeu o caráter científico do seminário e desclassificou as acusações de que a data teria sido escolhida em função ao aniversário do início da ditadura militar (que completa 52 anos nesta quinta).

“A data foi escolhida em função do feriado da Páscoa”, explicou.

NOVOS PROTESTOS

Houve novas manifestações contra o impeachment na porta do evento. Desta vez, cerca de 30 brasileiros protestaram no local.

Com gritos de “não vai ter golpe” e “Dilma fica”, o grupo recebeu os participantes do seminário. Serra, Aécio e outros palestrantes usaram uma entrada lateral para evitar os manifestantes.

Na noite desta quinta, haverá um novo protesto, agora no centro de Lisboa, lembrando o aniversário do golpe de 1964.

Folha Press

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