Educação

DÉBORA SEABRA: Professora potiguar com síndrome de Down ofendida por desembargadora receberá honraria na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro

Debora Moura é a primeira educadora com síndrome de down no Brasil – Divulgação

A professora Debora Araújo Seabra Moura, primeira educadora com síndrome de Down do Brasil, vai receber a Medalha de Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio. A profissional será premiada com a honraria na próxima segunda-feira. Em março, a professora recebeu uma onda de apoio e homenagens depois da divulgação de uma postagem na qual a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio, discriminou seu trabalho. A resposta da educadora, que exaltou o ensino do respeito e da tolerância, emocionou a web.

“Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de down!!!. Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social…Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem??? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”, escreveu a desembargadora em seu perfil pessoal no Facebook.

Na ocasião, a Federação Brasileira de Associações de Síndrome de Down (FBASD) emitiu uma nota de repúdio às declarações da magistrada, criticadas por serem preconceituosas. Em resposta à magistrada, Debora escreveu uma carta na qual ressaltava a sua atuação na educação infantil, seu empenho na profissão e na promoção dos ensinamentos de respeito e igualdade.

“Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito às outras. Aceitem as diferenças de cada uma. Ajudem a quem precisa mais. (…) O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo para acabar com o preconceito porque é crime. Quem discrimina é criminoso!”, diz um trecho da carta da professora.

No mês seguinte, Marília Castro Neves enviou uma carta com um pedido de desculpas à educadora, assumiu o erro e ressaltou ter aprendido a lição de que “precisamos ser mais tolerantes e duvidas de pré-conceitos (sic)”.

A entrega da medalha e do diploma de certificação do evento partiu de sugestão do deputado estadual Janio Mendes (PDT) e será realizada dia 21 de maio, às 10h, no plenário do Palácio Tiradentes, no Centro do Rio.

Segundo a assessoria do parlamentar, além do trabalho e dos anos de experiência da educadora, a reação preconceituosa contra a professora Debora pesou na decisão de homenageá-la. Os demais deputados da Casa aprovaram a sugestão da honraria no dia 4 de abril.

‘ORGULHOSA E GRATA’, DIZ MÃE DE EDUCADORA

Mãe da professora Debora, Margarida Seabra de Moura contou que a equipe do parlamentar contatou a família com o convite da solenidade, que a deixou “orgulhosa” pelo reconhecimento do trabalho da filha.

— Fiquei muito orgulhosa e grata, é uma solenidade única para ela. A Debora tem tido um destaque, um reconhecimento ao trabalho dela, e isso me deixa, como mãe, naturalmente muito orgulhosa. Estamos sensibilizados e felizes — destacou Margarida, que acompanhará a filha no plenário para representar a família.

Segundo Margarida, Debora “não se vislumbra com afagos”, é reservada em relação às emoções, mas certamente a homenagem “fará bem ao ego dela”. A mãe destacou que a família decidiu não falar mais da postagem preconceituosa da desembargadora.

— A Debora fez a carta dela, deu a resposta dela e ficou muito feliz com isso. O objetivo de qualquer pai, em relação ao filho, é que ele evolua e saiba se posicionar em uma situação desagradável. Depois da carta da desembargadora, escolhemos nos abster de qualquer comentário. Isso aconteceu, foi bastante pesado e passou. Não existe mais na nossa vida. Bola para frente — ressaltou a mãe da professora.

O Globo

 

Opinião dos leitores

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Diversos

FOTO: Professora potiguar com Síndrome de Down quebra barreiras para dar aulas e palestras sobre inclusão

2014-741603994-debora1.jpg_20140812Para a educadora potiguar Débora Seabra, de 33 anos, inclusão é a palavra de ordem. Com dez anos de carreira, ela foi a primeira pessoa com Síndrome de Down a lecionar no país, e hoje é professora auxiliar da educação infantil na Escola Doméstica, instituição privada de ensino em Natal, no Rio Grande do Norte. Sua história é um dos estudos de caso que serão apresentados no Educação 360, seminário promovido em setembro pelos jornais O GLOBO e “Extra” em parceria com o Sesc e a Prefeitura do Rio.

– Para seguir o magistério, é preciso paciência. E eu me dou muito bem com os alunos. Quando um aluno chega, ele vem e me abraça – afirma.

Além do trabalho em sala de aula, Débora dá palestras sobre educação inclusiva e se dedica à literatura infantil. No ano passado, lançou o livro “Débora conta histórias” (Editora Objetiva), em que os personagens enfrentam preconceitos. Num dos contos, um pato é discriminado por não querer namorar outras patas, mas sim outros patos. Há também a história de uma galinha surda e um sapo que não sabe nadar.

– São histórias que acontecem com animais, mas poderiam acontecer com qualquer pessoa – revela a escritora.

Sua atuação como palestrante já alcançou outros países: Argentina, Portugal e Estados Unidos. Este ano, no dia 21 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down, ela chegou a ministrar uma palestra na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

– São histórias que acontecem com animais, mas poderiam acontecer com qualquer pessoa – revela a escritora.

– Nas palestras, falo sobre inclusão – conta. – A pessoa com Síndrome de Down tem que estudar no ensino regular, sou contra escolas especiais. Eu só cheguei até aqui porque estudei na rede regular.

ESCOLA ESPECIAL, FATOR LIMITADOR

Mãe de Débora, a advogada Margarida Seabra nem cogitou a possibilidade de matricular sua filha numa escola especial. Uma das fundadoras da Associação de Síndrome de Down do Rio Grande do Norte e criadora da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/RN, ela tece severas críticas à escola especial, que atende exclusivamente alunos com algum tipo de deficiência física ou mental.

– A escola especial é um crime. O aluno com Down precisa enfrentar desafios, conviver com a diversidade.

Para a psicopedagoga Dulciana Dantas, que atende Débora há dez anos, o ensino especial para este tipo de caso acaba interditando os direitos das pessoas de participar da vida em geral. Ela defende a combinação de ensino regular com atividades de assimilação pedagógica. Nas sessões com Débora, Dulciana realiza um trabalho didático-pedagógico, repassando com a professora o planejamento escolar que será realizado por sua turma.

– Nós também trabalhamos com discussão e produção de textos. Débora é uma das pessoas mais obstinadas e empreendedoras que já conheci ao longo de 15 anos de carreira.

Ao terminar o ensino médio, Débora ingressou no curso de magistério da Escola Estadual Professor Luiz Antônio, onde foi vítima de preconceito e sofreu.

– Nos trabalhos em sala, eu costumava ficar sem grupo. E cheguei a ser agredida, quando uma menina me obrigou a cheirar o seu tênis. Eu tive que lutar pela inclusão – relata.

Mas Débora não desistiu do seu objetivo e acabou conquistando a admiração de alunos e professores. Ela recebeu o título de “Rainha da Escola” e foi homenageada na cerimônia de formatura do curso, em 2004 .

Concluído o ensino técnico, o próximo passo foi fazer estágio numa creche na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E há dez anos ela trabalha como professora auxiliar na Escola Doméstica. A professora Gina Maria Borba, que divide a sala de aula com Débora, é toda elogios para sua colega de trabalho.

– A cada dia que passa, Débora se mostra mais interessada – diz. – Está sempre disposta a trabalhar, e me ajuda em diversas atividades como colagem e narração de histórias. E o fato de ter Síndrome de Down é encarado com naturalidade pelos alunos.

O seminário Educação 360 acontece nos dias 5 e 6 de setembro na escola Sesc do Rio de Janeiro. As inscrições podem ser feitas a partir do dia 19 de agosto somente através do site do evento, que fica no endereço www.edu cacao360.com.

O Globo

Comente aqui

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *