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‘Efeito Zoom’ faz pessoas acharem nariz feio e gera onda de rinoplastias

Foto: Reprodução/Instagram/Mariano

Reuniões de trabalho por vídeo, lives e maior tempo nas redes sociais durante a pandemia de Covid-19 fizeram com que as pessoas olhassem mais para a própria imagem —e muitas não gostaram do que viram nas telas.

O resultado tem sido uma disparada na procura por rinoplastias, as cirurgias plásticas no nariz. É o chamado “efeito Zoom”, em referência a um dos programas mais famosos de videoconferência.

A operação é feita na estrutura nasal para melhorar a estética e/ou corrigir disfunções do nariz (desvio de septo, por exemplo) e virou febre entre muitos influencers.

No início de agosto, o cantor sertanejo Mariano e a modelo Jakelyne, casal formado no reality “A Fazenda 12” (Record), postaram nas suas redes fotos do pós-cirúrgico de rinoplastias feitas no mesmo dia. As atrizes Cleo Pires, Bruna Marquezine e as cantoras Anitta e Ludmilla também já passaram pelo procedimento.

Em grupos privados nas redes sociais, um deles com 88 mil pessoas, a maioria mulheres jovens, são postadas fotos do “antes e depois”, com os nomes dos cirurgiões e os valores. Os preços vão de R$ 7.000 a R$ 40 mil, dependendo da região do país, do profissional e dos custos hospitalares envolvidos.

O aumento na procura pelo procedimento não é exclusivo do Brasil. No ano passado, a rinoplastia liderou pela primeira vez o ranking da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (Isaps), desbancando o aumento de seios nos Estados Unidos.

Embora não haja dados consolidados de 2020 sobre o número de plásticas de nariz no mercado brasileiro —em 2019, foram 72.433—, profissionais ouvidos pela Folha dizem que a tendência é mesma dos EUA. Uma pesquisa no Google Trends, por exemplo, aponta que no último ano houve aumento de até 4.800% nas buscas pelo termo “rinoplastia” em relação aos cinco anos anteriores.

Um censo realizado no ano passado com 120 de 900 otorrinolaringologistas que trabalham com plásticas da face mostra a rinoplastia como a campeã entre os procedimentos, com 739 cirurgias por mês. Considerando essa média para todos os profissionais, seriam 66.504 por ano.

Segundo o otorrinolaringologista e cirurgião facial Mário Ferraz, presidente da ABCPF (Academia Brasileira de Cirurgia Plástica da Face) e responsável pelo censo, muita gente passou a usar mais telas de celular durante a pandemia e, assim, a prestar mais atenção em detalhes do próprio rosto.

“A câmera do celular provoca uma distorção da imagem que pode chegar a 40%. O nariz parece maior. Isso deixa muitas pessoas desesperadas”, diz ele.

Muitas, no entanto, já estavam insatisfeitas com seus narizes antes da pandemia e aproveitaram o momento de distanciamento social para realizar a cirurgia.

É o caso da nutróloga Luciane Américo Mangullo, 34, de Sorocaba (SP), que não gostava do nariz desde a infância (“era grande, tinha uma giba, era muito feio”). Mas, por medo de fazer uma cirurgia plástica, ela foi adiando o desejo de passar por uma rinoplastia.

Durante a pandemia, como havia reduzido o ritmo de trabalho, começou a pesquisar mais sobre a cirurgia na internet, selecionando médicos que não tinham processos nem queixas de pacientes.

Em fevereiro deste ano, marcou a primeira consulta e, no final de julho, fez a tão sonhada cirurgia. “Quando eu falava que queria operar, todo mundo dizia: ‘Não precisa, não precisa’. Depois que eu operei, todo mundo passou dizer: ‘Meu Deus, o seu nariz realmente era muito feio”, brinca.

Uma das mudanças imediatas que notou foi deixar de sentir vergonha de gravar vídeos e de participar de lives. “Se eu soubesse que iria melhorar tanto a autoestima, tinha feito antes.”

A promotora de vendas Natália, 30, de São José dos Campos (SP), sofria bullying dos colegas de escola devido ao tamanho do nariz. Na vida adulta, nem o ex-marido a poupava. “Ele me chamava de lula molusco [personagem da série animada “Bob Esponja”].

Em janeiro deste ano, já divorciada, fez rinoplastia em São Paulo. “Antes, tinha pavor de ficar de lado em reuniões ou mesmo de tirar fotos. Agora, adoro fazer fotos de perfil.”

Mas há também muita gente infeliz com os resultados. “Choro todos os dias desde que tirei a tala. Acho que o nariz continua grande e pouco delicado”, diz J.C, 25, que fez a cirurgia em junho.

Para Mário Ferraz, pessoas que decidiram fazer rinoplastias no impulso ou por modismo têm mais chances de não ficar satisfeitas com os resultados porque buscam um embelezamento, e não necessariamente a correção de algo que as incomodava muito.

Devido ao aumento desse perfil de pacientes, o médico incorporou na equipe duas psicólogas para ajudá-lo a filtrar os casos que não têm indicação cirúrgica. Com a medida, segundo ele, a taxa de cirurgias não recomendadas quase dobrou, de 13% para 23%.

Nos grupos online, há relatos dramáticos sobre rinoplastias que deixaram sequelas, como dificuldade para respirar, sangramentos e infecções. O cantor Mariano, por exemplo, disse que já passou por cinco procedimentos no nariz para corrigir o primeiro, que resultou em uma dificuldade de respirar.

Para o cirurgião plástico Denis Calazans, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a rinoplastia jamais deveria ser feita por modismo, mas sim, sempre, por indicação médica. “É um tratamento médico que precisa de diagnóstico, de plano terapêutico, de informações ostensivas sobre as limitações dos resultados e dos riscos da cirurgia.”

Calazans afirma que os colegas relatam que são frequentemente procurados por pacientes que fizeram procedimentos desastrosos, com não especialistas, e que depois buscaram os cirurgiões plásticos em busca de correções.

Ele explica que as estruturas anatômicas que compõem o nariz são complexas, e elas que dão a funcionalidade da respiração. Quando as complicações ocorrem, deixam sequelas que podem ser irreparáveis. “Quanto mais intervenções feitas, mais complexo vai ficando o tratamento”, diz.

De acordo com Ferraz, a alta demanda pelo procedimento tem levado muitos médicos recém-treinados nesse tipo de cirurgia a fazer um grande volume de procedimentos. “Hoje a pessoa acabou passar por treinamento e já tem paciente esperando para fazer rinoplastia. É preciso um amadurecimento do profissional. Você não pode no dia seguinte [ao treinamento] já ter dez cirurgias. O risco de dar problema é grande.”

O mercado das rinoplastias também é disputado por cirurgiões-dentistas, que oferecem procedimentos chamados de “rinomodelação”, espécie de plástica sem corte que usa preenchimentos com ácido hialurônico e fios.

Mas há várias denúncias de casos de pacientes submetidos a procedimentos invasivos no nariz em consultórios dentários, o que contraria normas do CFO (Conselho Federal de Odontologia).

Para o cirurgião plástico Thiago Marra, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica, os cirurgiões-dentistas têm competência para realizar rinoplastias e só precisam ser bem capacitados.

“Esse é um caminho sem volta. A área de atuação dos cirurgiões-dentistas é inequivocadamente a região da face. Eles já fazem harmonização facial, aplicam toxina botulínica e o próximo passo serão as cirurgias da face de um modo geral. A gente quer profissionais bem capacitados, bem treinados.”

Folha de São Paulo

 

Opinião dos leitores

    1. Pra Pinóquio, não tem plástica que dê jeito!!!! O cara mente, engana, briga, desrespeita, xinga, não tem plano econômico, nem de governo, nega ciência, dewscontrola a economia, gera inflação e, ainda assim tem gente que… dá não visse!!!

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