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Substâncias químicas do filtro solar chegam à corrente sanguínea, diz estudo

(Sirinapa Wannapat/EyeEm/Getty Images)

No calor tropical do Brasil, um fato está na cabeça de todos: praia sem protetor solar é quase certamente sinônimo de pele queimada e ardência. Queridinho dos dermatologistas, o filtro solar serve não só para evitar um incômodo temporário, que surge após uma tarde ensolarada na praia ou na piscina. Ele também previne doenças graves, como câncer de pele. Mas um novo estudo utilizando marcas comuns de bloqueadores solares revelou algo inédito: as substâncias químicas presentes no produto são absorvidas por nossa pele e entram na corrente sanguínea.

A conclusão está em um estudo conduzido pela Food and Drug Administration (FDA), algo como a Anvisa dos Estados Unidos. Ela é órgão responsável por controlar e supervisionar alimentos, medicamentos e outros elementos importantes da saúde pública no país. Os pesquisadores investigaram seis substâncias comuns na maioria dos protetores solares disponíveis do mercado e descobriram que todos ultrapassavam o valor de 0,5 nanogramas por milímetro (ng/mL) – limite estabelecido pela agência para uma substância ser automaticamente segura, sem necessidade de comprovação em novos testes.

Tanto o órgão americano como especialistas foram rápidos em alertar, porém, que o resultado não necessariamente mostra que o uso de protetores solares é perigoso. Ele indica apenas que os ingredientes deverão passar por testes de segurança adicionais para verificar se têm de fato algum efeito no corpo humano. Duas substâncias dessa lista – o óxido de zinco e o dióxido de titânio –, por exemplo, já são conhecidas por serem inofensivas para nossa saúde. Por isso, nenhum teste adicional deve ser pedido para elas.

A agência também ressaltou que o protetor solar é um importante cuidado de saúde pública, sendo a medida que mais protege contra câncer de pele. Protetores solares funcionam absorvendo radiação UV e liberando-a em forma de calor, impedindo que ela cause danos nas células da derme e epiderme. No Brasil, o Ministério da Saúde também recomenda expressamente o uso diário do produto, sobretudo quando há exposição prolongada ao sol.

No estudo, 48 pessoas utilizaram aleatoriamente 1 entre 4 tipos protetores solares vendidos do mercado americano, na forma de loção ou spray. No primeiro dia do experimento, eles aplicaram a cobertura uma única vez. Nos outros três dias, passaram o protetor solar quatro vezes, com intervalos constantes.

Na maioria dos participantes, as substâncias foram detectadas em suas correntes sanguíneas em quantidades que ultrapassavam o limite estabelecido pela FDA, mesmo após um único uso. E a maioria dos compostos ficou no corpo dos voluntários por muito tempo: substâncias como o metoxicinamato de octila e octissalato permanecerem em níveis altos por sete dias; já a oxibenzona só diminuiu depois de 21 dias.

A oxibenzona, em particular, é a que mais interessa os especialistas. Apesar de não haver nenhuma prova de que ela tenha efeitos em nossa saúde, testes em animais já demonstraram que a substância pode desregular a atividade hormonal do corpo.

Muitos especialistas lembraram, porém, que as quantidades encontradas, apesar de acima do limite estabelecido, são extremamente pequenas. De fato, a agência coloca seus parâmetros propositalmente em níveis muito baixos, para não restar dúvida de que algo é seguro ou não. O experimento teve uma limitação importante, admitida pela FDA: ele foi feito inteiramente em laboratório. No dia a dia, com variáveis como maior exposição ao sol e mais suor, por exemplo, a absorção pode ser diferente.

É a segunda vez que um estudo sobre absorção de filtros solares feito pela FDA chega a essa conclusão. Em 2019, um experimento com 24 pessoas publicado na revista científica JAMA também teve resultados parecidos. Novos estudos de segurança serão conduzidos para averiguar se e quais substâncias podem ter algum impacto negativo. Até lá, não se desespere: é verão, não esqueça do protetor solar.

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