Tarifa alta para quem paga, baixa para quem recebe. Falta de investimento do poder público, malha viária obsoleta e insatisfação natural dos usuários do sistema. Hoje, o transporte público em Natal não agrada ninguém.
É assim que pode ser resumida a situação do sistema de transporte coletivo. De um lado, uma atividade que gera 6 mil empregos diretos, mas que passa sérias dificuldades. Do outro, um município que não melhora sua malha viária, não investe nem cria mecanismos de incentivos, mas que exige cada vez mais dos empresários.
Na outra ponta, os usuários que enfrentam horas em paradas, muitas delas sem proteção, sem conforto nem segurança e que ainda pagam caro pela tarifa. E que pagam também para que mais de 1/3 dos usuários tenham benefícios.
Hoje, o Blog do BG vai abrir a caixa preta do transporte coletivo da capital.
As empresas de transporte coletivo estão no seu limite. Muitas delas sequer podem tirar certidões negativas. Há 10 anos, as empresas de transporte lideravam a lista dos 100 maiores contribuintes de ISS. Hoje, só duas delas aparecem no Top 100.
Explicação? Simples: o declínio do sistema na arrecadação, os alternativos que são concorrentes e nada recolhem e os aumentos dos custos operacionais.
O desenvolvimento da planilha tarifária contempla apenas os custos das empresas para colocar os ônibus nas ruas.
São colocados nesta planilha custos com insumos (diesel), pneus, câmaras, recapagem de pneus, salários de motoristas, cobradores, pessoal de oficinas, impostos, quilômetros rodados e tantos outros itens …
Em cima de todo o custo da empresa para colocar a frota na rua, é que é calculado o custo da tarifa.
Aí vem a pergunta básica: como as empresas lucram então? Simples: economizando a ferro e fogo os itens da planilha. Lutando e fiscalizando para gastar menos pneu, menos diesel, menos câmaras, tendo ônibus mais novos que depreciem menos, que gastem menos oficina de manutenção, controlando cobradores para evitar furos, ou seja, tentando minimizar os custos para que sobre dinheiro no caixa. É uma realidade cruel.
É uma conta perversa se levarmos em consideração alguns números.
O número de gratuidades no transporte coletivo só cresce. São idosos (previsto em Lei), carteiros, oficiais de Justiça, deficientes físicos e acordos informais com policiais, por exemplo.
Some-se a isto 160 mil estudantes que pagam metade da tarifa, ou seja, de um universo de pouco mais de 500 mil usuários, 1/3 é formado por estudantes que pagam metade e outro percentual alto e formado pelas gratuidades que citamos.
Logo, quem paga por esses benefícios? Quem paga para que mais de 1/3 dos usuários tenham benefícios? Quem paga são os não estudantes, nem idosos, nem carteiros, nem oficial de Justiça, são os passageiros comuns.
O município também não paga por isso, pelo contrário, cria cada vez mais sistemas de benefícios, exige que as empresas tenham ônibus adaptados para deficientes mas, sequer cuida de ter paradas dignas.
O município legisla em seu favor feito Leão mas, trabalha como gatinho para cumprir.
Transporte coletivo é uma atividade cara, que requer investimentos constantes. Um simples pneu custa R$ 1.189,00 lembrando que cada ônibus tem seis pneus. Logo, são R$ 7.135,00 somente de “borracha”.
O fato é que a atividade que sustenta seis mil famílias de trabalhadores vive dias de penúria. A atividade segue sendo visto por parte da população como vilã da história, mas o fato é inverso.
O usuário também está correto por sua insatisfação. A tarifa é cara, não há estruturas de paradas, abrigos.
Hoje, o sistema de transporte coletivo em Natal é um caso inédito. Não agrada ninguém e ninguém está satisfeito.
*Essa é a primeira de uma série de três reportagens. Amanha 2ª parte da reportagem.
não vejo os empresários tão coitados assim, se o negocio fosse ruim não existiam tantos no meio, ruim mesmo é para o usuário desse serviço que sempre tem que andar em ônibus lotados já chegando ao seu destino (trabalho, escola ou casa) estressados, cansados devido ao desconforto da viagem. Eu sei muito bem disso pois utilizo o transporte público para ir da minha casa até o campus toda manhã, ai já vem outro tormento que é a pouca oferta de linhas que fazem esse percurso, além do circular que é uma tragédia à parte. Mas parabéns pela coragem de abrir essa caixa preta Bruno, vou acompanhar os próximos capítulos…
Isso seria uma justificativa aceitável se o problema só ocorresse em horários de picos, o que não condiz com a realidade. A empresa cidade das dunas é a única que vejo que ainda consegue se manter organizada, pelo menos aqui no satélite não ficamos mais de 15 min esperando pelos ônibus desta empresa. Outro problema observado é nos horarios entre às 17 horas até 19 horas, onde uma grande quantidade de veículos de todas as empresas vai para a garagem e ficamos até uma hora esperando um ônibus na parada.
O que o usuário não aguenta é a falta de organização por parte das empresas. Elas deveriam criar um sistema de horários a ser cumprido.
Ônibus que passava de 15 em 15 minutos, hoje demoram 40 min para passar. Fora que se observa a demorar em quase todas as linhas. Não é caro ficar numa parada esperando quase uma hora e quando o ônibus resolve passar vem 3 da mesma linha. Se isso não é desorganização, não sei mais o que é!
É simples cara Roberta. o problema chama-se transito. O ônibus divide o espaço com todos os outros veiculos. Quando acontece um acidente na ponte de Igapó por exemplo, os ônibus de determinada linha vão se aglomerar juntos no engarrafamento (gargalo), causando realmente um atraso grande nas paradas subseqentes. Passando pelo gargalo todos irão andar muito próximos acontecendo o que você constata na sua reclamação. Vários ônibus de determinada linha passando junto. Obrigado.