Estava sentado tranquilamente no Uber, pois tinha deixado meu carro na concessionária para revisão. O motorista era um sujeito aparentemente calmo, uns 60 anos, cabelo pintado de um preto forte. Antes que pudesse colocar o cinto de segurança, começou a praguejar:
— Imoral o preço da gasolina. Quero saber onde vamos parar. — Desabafou.
— Acho que não para, amigo. A crise é mundial. O que se há de fazer?
— Vivemos num país de bananas!! Fiz uma corrida para um americano semana passada e ele falou que nos EUA chamam o Brasil de país de bananas.
— Como assim? — Respondi meio desconfiado e incomodado.
— Ele disse que fazem o que querem com a gente e nunca fazemos nada.
Acusei o golpe. Senti. Disse: — Talvez ele tenha razão… País de bananas.
A corrida termina mas continuo com o “País de bananas” na cabeça. Num primeiro instante, penso em “República de Bananas” — a expressão que passou a fazer referência a países marcados pela monocultura e dotados de instituições governamentais fracas e corruptas, nas quais uma ou várias empresas estrangeiras tem o poder de influir nas decisões nacionais. Até faria certo sentido sermos chamados de República de Bananas, mas o americano se referiu a algo ainda mais relevante: a nossa total apatia, a nossa falta de combatividade para lutar pelos nossos direitos. O americano está certo? Isso você pode decidir.
Confesso que não me lembro do brasileiro lutando por nada. Diretas já? Não vale. Foi um movimento político de cunho popular com a presença constante de artistas e cantores. Eram como comícios grandes. As mobilizações na paulista? Greves? E, aqui em Natal, as mobilizações que apenas atrapalham o fluxo dos carros ao lado do Midway? Também não serve como exemplo de luta.
Movimentos fortes e impactantes como o “Black Lives Matter” nos EUA, ou as manifestações na França pelos direitos trabalhistas, ou os conflitos na Irlanda na década de 70 ou mesmo as lutas pelo fim do apartheid na África do Sul. Exemplos não faltam.
Um dos mais emblemáticos foi na Inglaterra, em 04 de outubro de 1936 — a batalha de Cable Street, onde os facistas comandados por Edward Mosley, uma espécie de “Hitler” inglês, queria fazer uma enorme passeata e passar pelos bairros judeus. A população não aceitou e foi para as ruas. “O pau comeu” — me perdoe o linguajar chulo, meu culto leitor. No cruzamento da Cable Street, a população enfrentou três mil fascistas e mais de seis mil policiais. Os ingleses não queriam o fascismo. Após essa batalha, a Câmara de Lordes, o parlamento inglês, proibiu o fascismo no país. Perceba que o povo não esperou os políticos. Exigiu o que queria.
Aqui no Brasil, uma notícia me deixou doente de raiva. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o rol de procedimentos e eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), é Taxativo. Isso significa que, a partir de agora, os planos de saúde não são obrigados a cobrir nada que não esteja neste rol. Talvez o nome mais apropriado fosse Rol da Morte pelas inúmeras vidas que serão perdidas após sua implementação. Isso afeta milhões de pessoas que dependem de terapêuticas e exames específicos para câncer, autismo, serviço de homecare, intervenções variadas para diferentes deficiências, bipap, cirurgia intrauterina, medicamentos para doenças raras, ELA, AME. A lista é grande. Eles tem que pensar nos lucros? Claro. Mas, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) levantou, em 2021, que as operadoras de saúde tiveram um lucro líquido acumulado de R$ 15 bilhões nos 3 primeiros trimestres de 2020. Não está de bom tamanho?
Em tempo, a ANS recuou um pouco na última quarta-feira (22), quando ampliou a cobertura dos planos de saúde para usuários com transtornos globais do desenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entretanto, algumas pessoas acham que esse movimento recente da ANS é para desmobilizar o protesto contra o Rol Taxativo — que está sendo organizado por várias entidades e está marcado para dia 29 no Congresso Nacional.
A verdade é que essa questão está longe de ser resolvida e muita gente já está sofrendo. Pessoas que já lutam pela vida com doenças sérias ficarão sem tratamento — trazendo dor e uma angústia enorme para milhares de famílias. Nosso país não oferece segurança, educação, transporte e saúde. Como se não bastasse, agora vão retirar direitos sobre planos de saúde que são pagos.
Todos seremos afetados com essa decisão, mas quero saber uma coisa: O que você vai fazer a respeito? Mais uma vez você não faz nada? Se vai apenas deixar para lá, tomar sua um cervejinha ouvindo um sambinha, me faça um favor… não esqueça sua banana!!!
— Veras que o filho seu não foge a luta. Pois então, lute!
Não queria ir embora sem mandar um recado para o americano desconhecido: my friend, não somos nem nunca seremos um país de bananas. Somos um país de leões que ainda dormem embaixo de bananeiras.
Marcus Aragão
Instagram @aragao01
O amor venceu
Ninguém sabia? Como pode? Depois do fato acontecido agora é tarde.
Ministério da Saúde gastou pelo menos R$ 973.173,14 para organizar o evento “Em Prosa – 1º Encontro de Mobilização da Promoção da Saúde no Brasil”, ocorrido em Brasília nos dias 4 a 6 de outubro de 2023. O encontro foi criticado graças ao vídeo de uma dançarina fazendo uma performance de dança erótica no centro do palco ao som do hit Batcu, da drag queen Aretuza Lovi. Os gastos constam de documentos internos da pasta obtidos pelo Estadão… Quem tá mentindo?