Saúde

É FAKE que água tônica seja eficaz contra o novo coronavírus

Foto: Reprodução

Circula nas redes sociais um vídeo em que uma mulher diz que a água tônica combate o novo coronavírus por conter quinino. Segundo ela, é a mesma substância que vem sendo usada em hospitais para tratar alguns casos mais graves de Covid-19. É #FAKE.

“Eu estou comprando água tônica, que tem quinino. Quinino é a base da cloroquina. E isso daqui você pode comprar tanto no supermercado, como eu estou fazendo, quanto na conveniência, no barzinho da esquina. Isso a Globo não te conta”, diz a mulher, identificada como Victoria Peixoto. Em suas redes sociais, ela se autodenomina “ativista política”.

O refrigerante, de fato, tem sulfato de quinina, ou quinino, uma substância que lhe dá o gosto amargo e que possui função antimalárica, tendo sido usada décadas atrás no país em pacientes com a doença.

É por isso que se dá a confusão com a cloroquina, remédio que já é utilizado contra a malária há mais de 60 anos e que vem sendo ministrado de forma experimental para conter a Covid-19, sozinho ou combinado com outras drogas.

O pneumologista Rodolfo Fred Behrsin, professor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, explica, porém, que não há qualquer fundamento na afirmação de que a água tônica combate o novo vírus. “O quinino era um remédio que antigamente era usado para o tratamento da malária. Ocorreu que, devido ao seu uso indiscriminado, as variedades de malária presentes no Brasil ficaram resistentes a ele, e foi necessário substituí-lo pela hidroxicloroquina e pela cloroquina. A gente pode dizer que essas são substâncias ‘parentes’ do quinino, mas são medicamentos diferentes.”

Patricia Canto, pneumologista da Escola Nacional de Saúde Pública, lembra que, em meio a tanta disseminação de informação sobre a pandemia, é preciso atentar para fontes oficiais. “Realmente o quinino é um componente da água tônica, e era usado contra malária. Mas isso não significa que beber água tônica vá proteger alguém do novo coronavírus. Até o momento, nenhuma substância ou medicamento se mostrou útil na prevenção à infecção pelo vírus”, afirma.

Mesmo que o quinino fosse eficaz, sua concentração na bebida é muito pequena. O professor da UFRRJ e doutor em ciências farmacêuticas Cedric Graebin fez um post no Twitter dizendo que em cada lata há, em média, 29 mg da substância. E as doses antimaláricas em um comprimido variam entre 500 mg e 1g. Isso dá 17 ou 34 latas de água tônica, dependendo da dose necessária.

“Embora a cloroquina e a quinina tenham semelhanças estruturais, dizer que a quinina é a base da cloroquina está muito errado. A quinina serviu de inspiração para se criar a estrutura da cloroquina? Sim. É utilizada para fazer cloroquina? Não”, afirma o especialista.

“As pessoas devem se guiar por informações passadas pelos sites oficiais, como o do Ministério da Saúde e o da Fiocruz. Nunca utilizar medicamentos, alimentos ou vitaminas achando que eles vão trazer alguma proteção. Até agora, as únicas medidas eficazes na prevenção são: isolamento social, higiene das mãos, etiqueta respiratória e o uso das máscaras. Podemos nos colocar em risco acreditando em vídeos realizados por leigos”, alerta a médica Patricia Canto.

Sobre a cloroquina, é preciso frisar que o seu uso até o momento é experimental no Brasil. Os médicos não sabem ainda qual a dose a ser ministrada nem em que momento da infecção o paciente deve tomá-la. Isso porque faltam testes que mostrem que o medicamento é, de fato, seguro. Os efeitos colaterais incluem arritmia cardíaca.

Estudos vêm sendo realizados em vários centros de pesquisa no mundo para atestar a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no bloqueio da multiplicação do coronavírus no organismo de pacientes com Covid-19. Esses testes demandam tempo.

O Ministério da Saúde autoriza médicos brasileiros a prescrever cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, mas cada profissional tem que informar aos pacientes e às suas famílias os riscos implicados e a falta de dados consistentes sobre o remédio.

O ministro Luiz Henrique Mandetta tem reiterado que é preciso cautela, principalmente porque os quadros mais graves da doença são em pacientes idosos ou com comorbidades, o que eleva o risco para o uso da cloroquina.

O Globo

 

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