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Pessoas bonitas tendem a ter opiniões mais liberais sobre sexo, diz estudo

A beleza está ligada a opiniões moralmente menos rígidas, sugere um novo estudo. O cientista social Robert Urbatsch, da Universidade de Iowa (EUA), observou que entre os mais belos há maior anuência para sexo antes do casamento, melhor aceitação de sexo e casamento gays e maior concordância de que a mulher sempre deve ter direito ao aborto legal, independentemente da situação.

Os dados utilizados são da edição de 2016 do General Social Survey (GSS), um dos maiores bancos de dados dos EUA, que abrange informações fornecidas por dezenas de milhares de pessoas com questões sobre liberdade civil, violência, intolerância, moralidade, entre outros tópicos.

Nesse banco de dados, pesquisadores também classificam as pessoas cadastradas em cinco categorias —nada atraente, não atraente, na média, atraente ou muito atraente. Dentre os que tiveram a aparência avaliada, de 700 a 1.700 responderam às demais questões analisadas na pesquisa de Urbatsch.

Estudos já mostraram que pessoas consideradas bonitas conseguem trabalhos que pagam mais, tendem a ser melhor avaliadas em assuntos não diretamente ligados à beleza e até ganham, em média, mais votos em eleições. Essas vantagens são ainda mais perceptíveis quando o assunto é romance —é chover no molhado dizer que a boa aparência multiplica a chance de encontrar parceiros sexuais.

A questão que a nova pesquisa buscou responder é se as vantagens e oportunidades trazidas pela beleza poderiam atuar de modo a mudar a percepção do indivíduo sobre questões morais.

Uma possível explicação aventada pelo pesquisador é que os sinais de interesse sexual recebidos pelos mais bonitos acabam desgastando a concepção de que a atividade sexual (de qualquer tipo) seja moralmente questionável. Por outro lado, os menos bonitos sofrem menos pressão liberalizante, consolidando, em média, posições mais rígidas.

“A pessoa mais bonita tem tratamento diferenciado, parece que a sociedade a vê com olhos mais amenos. Diante da pessoa bonita há maior condescendência; a pessoa percebe que vive num mundo que a favorece e passa a desejar isso para as outras pessoas também”, diz Carmita Abdo, presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria e uma das maiores autoridades brasileiras em estudos de sexualidade.

Quem é menos bonito, afirma ela, acaba levando tudo mais à risca, tem maior disciplina e literalidade diante das regras. “Diante disso, essa pessoa acaba vivendo numa estrutura menos flexível —é assim que o mundo sempre a tratou. Não é desforra, é algo habitual. É assim que ela apreendeu o mundo.”

“Uma maneira alternativa de interpretar esses achados é que a pessoa que tem boa aparência acha que consegue se safar ao dar suas opiniões morais enquanto as demais têm de fingir obedecer às convenções sociais”, diz Urbatsch à Folha.

Segundo ele, se uma pessoa se sente melhor por possuir padrões morais elevados em relação aos demais, para ela pode ser melhor deixar passar algumas oportunidades românticas do que perder uma parte fundamental de sua identidade.

Independentemente da beleza, contudo, as pessoas tendem a reprovar a traição. Isso pode ter ao menos duas explicações: que a “permissividade moral” tem um certo limite ou que mesmo quem é bonito teria um alto custo social de se declarar favorável a esse tipo de prática.

Há outros aspectos que podem interferir na capacidade de estabelecer relações sociais, lembra Abdo. “Uma coisa ajuda a outra. Uma pessoa inteligente pode até aparentar ser mais bonita do que é. E uma pessoa resiliente não vai cansar de buscar seus objetivos, seja com exercício físico, dieta, uso de tecnologia —tudo isso pode tornar a aparência dela mais interessante.”

“E há pessoas muito lindas que se tornam reféns da beleza e perdem o autocontrole pela menor capacidade de absorver frustrações e não conseguir lidar bem com o lado negativo da vida.”

A beleza física pode ter diversas raízes. Os genes têm papel proeminente, conferindo características como altura e formato do rosto, por exemplo, mas questões culturais também podem ser importantes: alguns atributos podem ser mais valorizados em diferentes locais.

Mesmo assim, é mais fácil especular na direção adotada por Urbatsch, em que a aparência é uma das causas das posições morais. Seria mais complicado sustentar o raciocínio no sentido contrário, de que determinadas opiniões tornam uma pessoa mais ou menos bonita.

Existem ainda fatores que podem exercer influência na moralidade do indivíduo, como a religião, que pressiona na direção menos liberalizante, e a erudição (medida por meio de testes de vocabulário e anos de escolaridade), que atua no sentido contrário. Esses temas, porém, já foram explorados em outros estudos.

O pesquisador afirma que no estudo recente tentou deixar de lado o que seria moralmente ou filosoficamente desejável de uma perspectiva religiosa ou normativa para se ater apenas ao lado empírico.

Urbatsch também pesquisou se a beleza poderia ter influência em outras questões, como a legalidade do uso de maconha, o direito à eutanásia e a desobediência civil no caso de leis que inflijam a consciência. Não houve impacto nessas questões.

Em 1972 uma outra pesquisa nos EUA, a National Election Survey também tinha uma questão relativa à aparência do entrevistado e outra sobre o direito ao aborto. Os resultados foram similares, sugerindo que a relação entre beleza e permissividade moral não é uma coisa desta década.

Urbatsch, na verdade, pesquisa políticas de comércio internacional, mas estuda também como ideologia e posicionamento políticos afetam a área. “Nem todo mundo se interessa por isso, porém.” Ele diz que agora vai tentar expandir a nova análise, publicada na revista científica Social Science Quarterly, a partir de dados de outros países, já que os achados são específicos para os EUA, diz.

Folha de São Paulo

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