Finanças

Delator revela como Renan e seu grupo receberam R$ 5,5 milhões do petrolão

CvUI1NhWgAAJoutFoto: José Cruz/ABR

Na badalada Rua Farme de Amoedo, na zona sul do Rio, funcionou até 2007 o restaurante Chez Pierre, no anexo do Hotel Ipanema Plaza. Ali, diante de um cardápio que reunia 102 pratos, Felipe Parente, o homem da mala dos senadores do PMDB, encontrou-se mais de uma vez com Iara Jonas, assessora do Senado, uma senhora de aspecto distinto, sempre elegante. Não afeita a rodeios, sucinta, Iara apenas pegava envelopes, outras vezes sacolas, com o dinheiro que lhe repassava o empresário cearense, parceiro do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado. ÉPOCA teve acesso a depoimentos sigilosos de Parente prestados a procuradores do Grupo de Trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República. O conteúdo fornece a prova mais robusta até agora contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os detalhes revelados pelo delator impressionam. Ele conta que, certa vez, Iara se mostrou apreensiva com o volume de dinheiro. “QUE ao receber a sacola, IARA pegou os envelopes e os separou em duas sacolas e também na sua bolsa; QUE, na ocasião, IARA comentou que estava apreensiva por ter que pegar um voo com o dinheiro em espécie recebido do depoente”, relatou Parente. Nos depoimentos (leia trechos abaixo), o empresário fornece o roteiro, como protagonista, de supostas captações de propina junto a empreiteiras do petrolão, em endereços precisos, as circunstâncias e locais dos cerca de 15 encontros que teve com Iara, identificada por ele como a interlocutora exclusiva das propinas endereçadas a Renan e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O depoimento de Parente é peça-chave na estrutura narrativa que a PGR monta para caracterizar o envolvimento de Renan com o petrolão. Com a prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, percebeu-se a força da metodologia da PGR. Na fundamentação de sua decisão, o juiz Sergio Moro elencou uma dúzia de casos e resultados de investigações que foram conduzidas pela equipe que despacha com o procurador Rodrigo Janot. Leia mais sobre as revelações inéditas do correio da propina do PMDB na edição impressa de ÉPOCA que irá às bancas a partir de amanhã.

No cerco ao presidente do Senado, os relatos de Parente trazem informações que corroboram e dão materialidade às afirmações de Sérgio Machado sobre o loteamento da Transpetro entre os senadores do PMDB, em troca do abastecimento de suas contas por meio de propina paga por prestadores de serviço da empresa estatal. Mais do que isso, os trechos obtidos por ÉPOCA preenchem as lacunas deixadas pelo ex-presidente da estatal e seus três filhos, Daniel, Expedito e Sérgio, nos acordos de colaboração premiada firmados com a PGR. Os repasses relatados pelo delator até este momento têm como origem as empreiteiras Queiroz Galvão e UTC, e a empresa de afretamento de navios Teekay Norway, que chegou a dispor de sete embarcações de transporte de petróleo em alto mar exclusivamente contratadas pela Transpetro.

Ao todo, segundo os trechos verificados por ÉPOCA, as três empresas repassaram R$ 5,5 milhões ao presidente do Senado e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA) entre 2004 e 2006 – R$ 11 milhões em valores atualizados. Parente, que até 2004 era uma espécie de “faz tudo” da empresa de materiais didáticos de Daniel Machado, filho de Sérgio, passou a manusear cifras milionárias e a interagir com altos executivos das maiores empreiteiras do país. Recebia 5% do valor que transportava entre empresas e intermediários de políticos. No caso da Queiroz Galvão, que, segundo Parente, desembolsou R$ 3,5 milhões em espécie com o objetivo de abastecer os cofres de Renan Calheiros e Jader Barbalho, as tratativas se davam diretamente com o então presidente da empresa, Ildefonso Colares, hoje em prisão domiciliar depois de ser diagnosticado com câncer. Para ser recebido na presidência da companhia, uma senha lhe era pedida: a palavra “lua”. “QUE os repasses da QUEIROZ iniciaram em 2004 e perduraram até 2006; que SERGIO MACHADO chamou o depoente até a seda da TRANSPETRO e pediu que o depoente fosse até a sede da QUEIROZ para receber valores que seriam destinados aos Senadores RENAN CALHEIROS e JADER BARBALHO; QUE o depoente foi até a sede da QUEIROZ, foi recebido pelo Sr. IDELFONSO, que lhe orientou a ir até a Rua da Quitanda, nºs 50 a 80, numa determinada sala e dissesse a senha Lua”, relata o delator.

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Opinião dos leitores

  1. Renan é originário da mesma safra de Henrique Alves; ambos debutaram na política quando o antigo MDB ainda cabia num fusquinha.

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