Educação

Sob pressão, Temer mudará base curricular para o ensino médio

Aula na Etec Bom Retiro, que teve o melhor resultado no Enem entre as escolas públicas de SP – Marcelo Justo/Folhapress

O Ministério da Educação decidiu alterar e ampliar a Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio, alvo de críticas desde a apresentação do texto que seria definitivo, em abril.

Os ajustes serão feitos para atenuar as resistências à proposta —a meta do governo Michel Temer (MDB) é que ela seja aprovada ainda em 2018.

A base define aquilo que os alunos de escolas públicas e particulares devem aprender na educação básica. Ao ser aprovada, será definido um prazo para tirá-la do papel —mas a tendência é que os estados tenham dois anos para adaptar seus currículos.

A parte do ensino médio tem sido sido criticada por, entre outras coisas, não detalhar conteúdos das áreas de ciências humanas e ciências da natureza. Apenas linguagens e matemática mereceram maior atenção —e, ainda assim carecem de clareza e rigor, segundo críticos.

O documento também não indica quais competências específicas de cada área do conhecimento devem ancorar os currículos das chamadas linhas de aprofundamento, que são as partes que os alunos vão escolher estudar.

Pelo que foi aprovado na reforma do ensino médio, em fevereiro de 2017, parte do conteúdo da etapa será comum a todos, e a outra, de acordo com a escolha do aluno.

Esses itinerários serão escolhidos a partir da oferta de cinco áreas: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e educação profissional. A reforma define que 60% da grade do ensino médio seja comum. O resto será flexível, cabendo ao aluno optar por alguma das áreas.

O ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, disse à Folha que a ideia é promover ajustes sobre esses pontos. A pasta deverá dar “mais clareza” à redação de todas as áreas de conhecimento da base, além da definição de parâmetros para as que serão escolhidas pelos estudantes.

“Dá para aprofundar competências e habilidades específicas dos itinerários formativos, desde que não traga engessamento ao trabalho das redes”, afirmou Rossieli. “Entendemos agora, ouvindo a sociedade, que devemos aprofundar isso, e faremos.”

Esse esforço de detalhamento para os itinerários ainda não é certo, entretanto, para a educação profissional. O tema está em análise.

O governo federal encaminhou em abril ao CNE (Conselho Nacional de Educação) a proposta da base do ensino médio que seria a definitiva. Agora, fará as mudanças. Cabe ao conselho a última análise, coordenar audiências públicas e receber sugestões para, enfim, a aprovação final.

O ensino médio é considerado um dos maiores gargalos da educação básica. Além dos resultados de qualidade estarem estagnados há anos, cerca de 16% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola.

Em 2017, foi definida a parte da base referente à educação infantil (creche e pré-escola) e ao ensino fundamental (1º ao 9º ano). Em razão da reforma do ensino médio, houve divisão do documento, postergando a última parte.

As críticas à base do ensino médio provocaram uma divisão entre membros do CNE.

O conselheiro Cesar Callegari renunciou à presidência da comissão que analisa a proposta por discordar do texto e da reforma do ensino médio.

“A base traz apenas generalidades sem nenhuma capacidade de orientar as escolas”, diz ele. “Fico feliz em saber que o MEC pelo menos assume que o trabalho que realizou é incompleto e que precisa ser modificado. Mas defendo que o texto seja devolvido ao MEC para que seja refeito.”

O Movimento pela Base, ONG que agrega educadores e instituições em torno do tema, encomendou 14 leituras críticas de vários especialistas.

O secretário-executivo do movimento, Daniel Barros, diz que as avaliações apontam como algo negativo a falta de orientações dos itinerários.

“A não existência disso aumenta os riscos de desigualdades. Estados com maior capacidade técnica terão melhores condições para fazer seus currículos”, afirma Barros, lembrando que a base servirá de referência para que as redes e escolas desenhem seus currículos para as salas de aula.

Ao contrário da base do ensino fundamental, a do médio não é dividida por série, permitindo flexibilidade na organização curricular. Mas a falta de indicações de graus de dificuldade dos conteúdos pode prejudicar a definição de quais habilidades dependem do domínio de outras para serem abordadas nas aulas.

“A prioridade é que seja aprovada uma base de qualidade”, diz Barros. “No Movimento [pela Base], a sensação é de que alterações podem ser feitas sem precisar recomeçar do zero, e isso independe de prazos. Pode ser feito até o fim do ano, mas talvez precise de mais tempo.”

O ministro da Educação diz que as alterações serão feitas sobretudo a partir das sugestões recebidas durante o ciclo de audiências públicas organizadas pelo CNE. A última está marcada para 29 de agosto, em Brasília (a reunião de São Paulo, no mês passado, foi cancelada por causa de protestos).

“Não temos problemas em sentar e negociar”, diz Rossieli. “Sabemos que não é fácil finalizar esse processo, mas não podemos ficar cinco ou seis anos discutindo”, afirma.

Além da base, o governo trabalha na discussão paralela de outros dois documentos que, de acordo com Rossieli, são complementares para a reformulação do ensino médio.

Um é a chamada Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, que define formas de organização da etapa. Sem entrar na questão curricular, devem criar parâmetros, por exemplo, para como pode ser a oferta da parte flexível.

As diretrizes estão em discussão no CNE. Como a Folha revelou em março, o texto atual prevê a liberação de ensino a distância para até 40% da carga horária total. Rossieli disse que o tema tem de ser discutido “sem tabus”, mas que a minuta deve ser modificada.

O outro documento é uma espécie de guia de implementação da base. Servirá para indicar caminhos para o leque de itinerários (que devem ser escolhidos pelos alunos) em cidades onde só há uma escola de ensino médio.

Folha de São Paulo

 

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Política

Sob pressão, Maranhão pode ser expulso do PP e ter decisão anulada

Depois de decidir anular a tramitação do impeachment de Dilma Rousseff, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), começou a sofrer investidas de todos os lados.

No campo pessoal, há forte pressão sobre a cúpula de seu partido para que ele seja expulso da sigla. Institucionalmente, a tentativa é que as decisões da Mesa Diretora tenham importância equivalente às dele e, nesse caso, em votação, os integrantes possam derrubar deliberação do deputado. Ricardo Izar (PP-SP) está convocando reunião para a manhã desta terça (10).

No despacho, que será publicado na edição do “Diário Oficial da Câmara” desta terça (10), o deputado derruba as sessões do plenário ocorridas entre 15 e 17 de abril e determina que o processo, hoje no Senado, retorne à Câmara.

O presidente interino disse que os partidos não poderiam ter fechado questão ou orientado o voto de seus deputados. Para Maranhão, “os parlamentares deveriam votar de acordo com suas convicções pessoais e livremente”.

O pepista também diz que o fato de os deputados terem anunciado publicamente seus votos caracteriza pré-julgamento e clara ofensa ao amplo direito de defesa consagrado pela Constituição.

Para membros do PP, as argumentações de Waldir Maranhão demonstram falta de preocupação com o partido. “Ele deveria entender que o cargo que ocupa, de vice-presidente da Câmara, no caso, agora, de presidente interino, não é dele, é do PP. E, por isso, deveria pensar melhor nos seus atos.”

Maranhão votou a favor de Dilma no dia 17 de abril, na Câmara. Enquanto ainda estava no púlpito montado no centro do plenário, deputados gritaram “pixuleco do Lula” para ele, e disseram que ele foi comprado. O PP fechou questão a favor do impeachment de Dilma.

Após a intervenção do presidente do partido, o senador Ciro Nogueira (PI), ele foi afastado da presidência do PP maranhense no dia seguinte à votação do impeachment na Câmara, em 18 de abril.

Folha Press

Opinião dos leitores

  1. O que esperar de uma Câmara com tantos bandidos?
    Quem elegeu esse deputado prá vice presidente?
    Os mesmos q agora dizem q ele não tem condições de estar alí, os próprios Deputados.
    Agora, nós somos os verdadeiros culpados, afinal fomos nós q enviamos play boys e fillhotes da ditadura pra nos representar. Talvez essa crise nos ensine a ter mais cuidado ao votar.

  2. Os argumentos do Dep. Waldir Maranhão são, literalmente, patéticos, afinal quem decidiu o rito do impeachment e a forma de votação foi o STF. Rito e votação seguidas na medida exata do estabelecido pela corte maior do país. Ele parece ter escutado e gravado os argumentos de Eduardo Cardozo e reproduziu em sua decisão, ilegal, as mesmas palavras usadas pelo AGU.
    De fato o que ele fez foi levantar a reprovação do PP contra ele, fazer com que 92% do povo brasileiro guarde em suas memórias mais um nome de bobo na corte da corrupção.
    Assim como o PT ele plantou e vai colher os frutos envenenados da tentativa de golpe a democracia.
    Será ignorado, terá sua decisão anulada, cairá no descrédito e pior, conseguiu em menos de 48 horas macular sua imagem da pior forma possível.

    1. Cleanto a imagem dele já não é das melhores, sendo inclusive investigado na "Lava Jato"…O que fez vai lhe custar o cargo na mesa e o mandato,pode anotar…não demora é ele voltará atender, jumentos,cavalos,bodes cachorros….no estado de origem onde é Médico Veterinário…

  3. Melhor expulsá-lo do planeta.
    Expulsar TODOSSSSSS os de Brasília…
    De preferencia manda-los pro Afeganistão ou para a Síria.

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Diversos

Sob pressão, Fifa deve mexer em regra sobre direitos dos jogadores

O comitê executivo da Fifa avançou nesta quinta-feira (25) a discussão para controlar a ação de investidores na compra de jogadores. Se chegar a um acordo, o comitê pode anunciar mudanças nas regras nesta sexta (26), em Zurique, onde está reunido.

A informação foi confirmada à reportagem pelo presidente da Uefa, Michel Platini, e pelo presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, após o primeiro dia de encontro.

Segundo as palavras de Platini, a ideia é “banir” de vez a participação desses investidores nos direitos econômicos dos atletas. Ou seja, somente clubes seriam donos dos jogadores, pondo fim à prática de “fatiá-los” com investidores.

Questionado pela reportagem sobre o alcance da mudança, o dirigente da Uefa foi claro: qualquer clube do futebol mundial. “A Fifa é o mundo inteiro”, afirmou.

Já Del Nero adotou um tom mais leve: aposta na regulamentação da prática pela Fifa, mas não excluindo-a do futebol, pelo menos no curto prazo.

As medidas podem atingir, por exemplo, proprietários de direitos econômicos de jogadores que atuam no Brasil.

AÇÃO DA UEFA

A Fifa começa a agir dois dias depois de reportagem do jornal britânico “The Guardian” revelar que a Uefa está disposta a proibir a ação de intermediários a partir da próxima temporada.

No entanto, segundo informou o jornal, haveria um período de transição para que todos os clubes europeus se adaptassem totalmente às mudanças. A reportagem menciona, entre outros grupos que atuam desta maneira, a brasileira Traffic Sports.

Defensor dessa regulamentação, Platini tem sido pressionado pelos clubes do Campeonato Inglês, que protestam contra os pagamentos fatiados a grupos de investimentos donos de passe de atletas.

Segundo a mídia britânica, o português Jorge Mendes, apontado como o agente mais poderoso na Europa, estaria usando empresas em paraíso fiscal para comprar jogadores de Espanha e Portugal, entres eles o argentino Di Maria, que trocou o Real Madrid pelo Manchester United nesta temporada, e o brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa, recém-transferido do Atlético de Madri para o Chelsea.

Além de Espanha e Portugal, países do leste europeu e da América do Sul são os que mais utilizam recursos desses grupos de investimento para negociar jogadores. O dinheiro colocado no passe dos atletas já estaria em torno de 1 bilhão de euros (R$ 3 bilhões).

Se depender de Platini e do Campeonato Inglês, nenhum clube do mundo poderá agir desta maneira num futuro próximo.

A questão é que dirigentes da Commebol, por exemplo, argumentam que a estrutura econômica de clubes sul-americano é muito inferior à dos ingleses, alguns deles, como Manchester City e Chelsea, com um único e bilionário dono. Ou seja, grupos de investimentos seriam fundamentais para poder manter jogadores no Brasil ou em qualquer outro país neste contexto, alegam os cartolas.

Folha Press

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