Jornalismo

Bin Laden era apaixonado por carros

Por Lorena Verli da Revista Super Interessante:

Ninguém sabia onde Osama bin Laden estava escondido. Mas o inimigo número 1 dos EUA já teve endereço certo. Omar e Najwa bin Laden, filho e mulher do terrorista, estão lançando um livro em que revelam a vida doméstica da família, que morou na Arábia Saudita entre 1974 e 1991, passou 5 anos no Sudão e em 1996 se mudou para o Afeganistão. São revelações surpreendentes e engraçadas, que mostram um Osama contraditório e cheio de manias. Seja bem-vindo à casa dos Bin Laden.

Meu filho não é travesti
Najwa se casou com Osama em 1974. Tinha 15 anos e logo engravidou. Teve um filho, depois outro e mais outro – nos 3 primeiros anos de casamento, foram 3 filhos homens. Ela estava louca para ser mãe de uma menina. E, quando teve o quarto filho, Omar, não se aguentou – começou a deixar o cabelo do menino crescer e a vesti-lo como uma menina. “Minhas amigas diziam que Omar era muito bonito e me encorajavam”, conta. Era 1981 e Osama passava longas temporadas longe de casa, combatendo a invasão soviética no Afeganistão. Um dia, ao voltar para seu lar na Arábia Saudita, se deparou com a cena bizarra. “Primeiro, ele ficou perplexo. Se agachava e passava os dedos nos cachos de Omar, e no vestido”, relata Najwa. Depois, explicou ao menino: “Omar, este vestido que você está usando é para meninas. Este corte de cabelo é para meninas. Você é um menino”. Osama mandou a mulher parar com a brincadeira, e ela obedeceu. Mas logo voltou a travestir o pequeno Omar nas ausências do marido. Até que Osama chegou de surpresa. “Ele não falou nada. Ficou parado, me encarando com uma expressão que deixava bem claro que eu não deveria brincar com o destino”, conta. Najwa cortou os cabelos do menino, sumiu com os vestidos e nunca mais brincou de boneca até ter a primeira filha, 6 anos depois.

Férias em Hollywood
Osama bin Laden abominava os EUA. Mas já esteve lá. No final dos anos 70, ele e Najwa passaram duas semanas na terra dos infiéis. “Osama foi se encontrar com um homem chamado Abdullah Azzam.” O tal Abdullah era um teólogo sunita, que pregava a guerra santa e viria a se tornar o mentor de Bin Laden. Najwa passou as duas semanas em Indianápolis, mas Osama foi passar 7 dias em Los Angeles. Não se sabe por que ele quis ir justamente a Hollywood, símbolo máximo da cultura americana. Mas a viagem foi tranquila. O único contratempo foi na hora de ir embora. No aeroporto, um homem se espantou com a roupa de Najwa, uma burca que cobria todo o corpo, e começou a encará-la. Osama não se ofendeu, e até achou graça na situação. “Meu marido e eu adoramos a América”, diz Najwa.

Professor Pardal jihadi
Osama era considerado um gênio da matemática: tinha a capacidade de fazer somas enormes de cabeça. Omar relembra que homens iam à casa dele e desafiavam seu pai a competir com uma calculadora. Bin Laden sempre terminava as equações primeiro. A memória do terrorista também era acima da média: segundo seu filho, ele era capaz de recitar o Alcorão inteiro, que tem mais de 350 páginas, de cabeça. Mas a grande paixão de Osama era uma ciência – a genética. Quando morou no Sudão, entre 1991 e 1996, ele cismou de produzir os maiores girassóis do mundo. Cruzou várias linhagens da planta até criar girassóis que chegavam a ter o tamanho de uma cabeça.

Morte aos cachorros
No mundo islâmico, o cachorro não é o melhor amigo do homem – os muçulmanos evitam ter cães, que consideram sujos, como animais de estimação. Osama criava pastores-alemães, e não seguia à risca a determinação do islã: brincava e fazia carinho nos cachorros. Mas os filhotes não tinham a mesma sorte. “Um dia, eu estava cuidando da minha cadela e alguns guerrilheiros vieram pedir filhotes emprestados. Eu não gostei, mas pensei que eles estavam procurando cachorros para criar”, conta Omar. Algum tempo e vários filhotes depois, o menino descobriu o destino dado aos cachorrinhos. “Os filhotinhos que eu e meus irmãos adorávamos estavam sendo sacrificados pelo jihad. Os soldados do meu pai estavam usando os filhotes para testar armas químicas.” Osama não mostrou nenhum remorso quando isso foi descoberto pelo filho.

Menu do terrorista
Osama tinha um paladar curioso e variado. Seu café da manhã era bem espartano, um pedaço de pão com azeite. Já nas refeições, preferia algo mais elaborado – seu prato preferido é abobrinha recheada com carne. Ele adorava frutas e esperava com ansiedade o verão: a estação da manga, sua fruta favorita. Bin Laden tomava bastante mel com água quente – mistura que, segundo ele, tem propriedades medicinais. Mas sua bebida preferida era suco de uvas-passas, que ele aprendeu a preparar quando morava no Sudão. Osama colocava as uvas numa vasilha grande, cobria com água e deixava descansar durante a noite. As uvas se misturavam no líquido, liberando um suco que ele tomava durante o dia seguinte. Bin Laden proibia os filhos de beber refrigerantes (que eles tomavam escondidos do pai) e não suportava bebidas geladas. Se alguém lhe servisse algo frio, ele deixava de lado até esquentar.

Prova de resistência
Desde muito jovem, Osama gostava de fazer longas caminhadas nos desertos da Arábia Saudita e subir montanhas. Algumas vezes, ele dirigia durante horas até encontrar um lugar perfeito para descansar. Quando virou pai, criou o hábito de levar os filhos nesses passeios – mesmo que eles ainda fossem bem pequenos. “Nós não podíamos beber água até voltarmos da caminhada. Não devíamos nem sequer pensar em água”, conta Omar. Bin Laden queria ensinar os filhos a suportar o calor. “Ele sempre nos alertava de que devíamos estar preparados para fazer uma campanha no deserto quando o infiel Ocidente atacasse o mundo islâmico.” Em determinado momento, durante a estada dos Bin Laden no Sudão, Osama acreditou que até as mulheres e os bebês deveriam receber esse tipo de treinamento. Então ele organizou para que toda a família fosse passar uma noite no deserto. Todos tiveram de dormir em buracos cavados no chão, se cobrindo com folhas e terra. E sem dar um pio de reclamação.

A separação
Ao todo, Osama teve 6 mulheres e 20 filhos. Três esposas ainda viviam com ele. Najwa e 4 filhos, entre eles Omar, fugiram do Afeganistão logo antes dos ataques americanos ao país, em 2001. Najwa voltou para a casa dos pais, na Síria. Omar foi à Arábia Saudita e entrou para os negócios da família Bin Laden – que é dona da maior construtora do mundo islâmico. Hoje, vive no Catar e tenta obter um visto para morar na Inglaterra. Em uma entrevista, disse que não tinha medo de sofrer represálias do pai por causa do livro. “Eu posso enfrentar reprimendas, porque no mundo muçulmano não se deve falar contra o pai. Mas Osama nunca me machucaria.”

Carros, eletrodomésticos e remédios
Osama queria viver com a maior simplicidade possível, seguindo os ensinamentos deixados pelo profeta Maomé. Por isso, a família não podia ligar o ar-condicionado de casa, ou sequer usar a geladeira. As únicas regalias permitidas eram o fogão a gás e a lâmpada elétrica. Os surtos de Osama contra o luxo fizeram com que ele proibisse alguns dos filhos, que tinham asma, de usar medicamentos. “Ele dizia para quebrarmos um favo de mel e respirar através dele. Não adiantava muito. Mas nosso pai não se compadecia”, conta Omar. Assim, todos sofriam com as crises asmáticas e frequentemente iam parar no hospital. As crianças também não podiam brincar com brinquedos – Osama dava cabras aos filhos para que eles pudessem brincar. Enquanto a família sofria com as restrições, Osama esbanjava dinheiro comprando carros esportivos. Sua paixão começou quando ele tinha apenas 9 anos e pediu um automóvel de presente ao pai (o empresário Muhammed Awad bin Laden). Por incrível que pareça, ganhou – e dirigiu com a supervisão de um adulto até se tornar maior de idade. Mas foi o suficiente para transformá-lo num aficionado, que trocava de carro toda vez que saía um modelo novo. Quando Omar nasceu, Osama tinha uma Mercedes dourada. “Para mim, era como se fosse uma carruagem de ouro”, lembra o filho.

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Mundo

Ucrânia e Rússia chegam a novo acordo para troca de prisioneiros de guerra

Foto: reprodução

Delegações da Ucrânia e da Rússia concordaram com a troca de 1.200 prisioneiros de guerra, durante uma nova rodada de negociações realizada nesta quarta-feira, 23,em Istambul, na Turquia.

Em publicação no X, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, registrou o momento do retorno dos soldados ucranianos e detalhou que se trata da 9ª rodada de intercâmbio de prisioneiros “gravemente doentes e feridos”

“Hoje, a 9ª etapa do intercâmbio acordado em Istambul já ocorreu. Defensores gravemente doentes e gravemente feridos estão retornando para casa. Agora podemos compartilhar os detalhes — em todas as etapas dos recentes acordos de Istambul, conseguimos trazer de volta mais de 1.000 dos nossos.

Para mil famílias, isso significa a alegria de abraçar seus entes queridos novamente. Sou grato a todos que contribuíram para esse esforço. Os guerreiros que retornaram hoje defenderam a Ucrânia em várias direções da linha de frente. Muitos deles estavam em cativeiro há mais de três anos. Cada um receberá o apoio e a assistência médica necessários.

É importante que as trocas continuem e que nosso povo esteja voltando para casa. Agradeço a todos que continuam trabalhando nessa tarefa vital. Trazer todo o nosso povo de volta é uma prioridade para o Estado. E continuaremos fazendo todo o possível para garantir que todos os nossos retornem do cativeiro”, escreveu.

De acordo com a imprensa internacional, a Ucrânia propôs à Rússia um encontro entre Volodymyr Zelensky e o ditador russo, Vladimir Putin, antes do final de agosto.

A reunião teria a presença do presidentes Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, e Donald Trump, dos Estados Unidos.

“ A prioridade número um é organizar uma reunião de líderes, de presidentes, com a participação de [o presidente dos EUA, Donald] Trump e [o presidente turco, Recep Tayyip]Erdogan“, disse o negociador-chefe da Ucrânia, Rustem Umerov.

O Antagonista 

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Política

Alcolumbre deve rejeitar pedido de impeachment de Moraes

Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

Davi Alcolumbre (União-AP) deve rejeitar o pedido de impeachment contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), apurou a CNN nesta quarta-feira (23) com fontes próximas ao presidente do Senado.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apresentou um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. As medidas cautelares impostas por Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram os principais motivos.

“Ao calar Jair Messias Bolsonaro por completo, proibindo-o de se manifestar direta ou indiretamente nas redes sociais, implicitamente proibindo-o de conceder entrevistas, declarações públicas e postagens em canais de terceiros — sob pena de prisão — o Ministro Alexandre de Moraes não apenas viola o direito individual do ex-presidente à livre manifestação, mas suprime o direito coletivo da população de ter acesso às suas ideias, discursos e posicionamentos”, afirma o senador.

“A medida adotada restringe a arena pública de debate, desequilibra o ambiente democrático e fere frontalmente o entendimento doutrinário e jurisprudencial firmado pela própria Corte a que o Ministro pertence”, prossegue.

Na última segunda-feira, a senadora Damares Alves (Republicanos -DF) anunciou que o impeachment do ministro Alexandre de Moraes será a pauta prioritária da oposição no Senado no segundo semestre.

Nas últimas semanas, outros pedidos de impeachment de ministros do STF foram protocolados contra Cármen Lúcia e Flávio Dino. Esses pedidos também não devem ser acatados.

Um levantamento da CNN encontrou 29 pedidos de impeachment protocolados no sistema do Senado Federal em que Moraes é citado. O número é somado ao pedido apresentado por Flávio Bolsonaro.

De todos os pedidos, 22 foram protocolados entre 2021 e 2024 e, apenas neste ano, foram apresentadas sete novas petições contra Moraes. Entre os autores há deputados, senadores e cidadãos.

CNN

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Brasil

Após ouvir 100 empresários, governo segue sem decisão sobre tarifa de Trump

Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

Após ouvir mais de 100 representantes do setor privado, incluindo integrantes da indústria, do agronegócio e de big techs americanas, o governo federal ainda não decidiu como reagir à tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre a importação de produtos brasileiros.

Apesar de não dar muitas pistas em declarações públicas, os próximos passos do governo na negociação com Trump parecem mais claros na visão de empresários que participaram das reuniões ouvidos pela reportagem.

As reuniões acontecem no contexto do comitê interministerial criado pelo governo para formular a resposta brasileira à tarifa. O grupo iniciou as atividades na última terça-feira (15).

Nos últimos encontros com representantes do setor privado, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que é o comandante do comitê, tem sinalizado que o próximo movimento do governo deve ser pedir o adiamento da entrada em vigor da tarifa, prevista para 1º de agosto. A intenção é solicitar um adiamento de 60 a 90 dias.

No pedido, o governo deve argumentar que já há produtos brasileiros em portos ou em navios a caminho dos Estados Unidos, o que seria danoso para os contratos em vigência de produtores dos dois países. O governo admite, no entanto, que a possibilidade do pedido ser aceito pelos EUA é remota.

Individualmente, cada setor também faz pedidos específicos para a abertura de cotas que isentem seus produtos das alíquotas. Os setores da carne bovina e do suco de laranja apresentaram pedidos com o mesmo objetivo, por exemplo.

A possibilidade de o Brasil aplicar medidas de reciprocidade em resposta a Trump, tem sido descartada, ao menos momentaneamente, por Alckmin nas reuniões. A estratégia do governo brasileiro, apesar do tom mais duro adotado em algumas falas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é tentar conter os danos, segundo relatos.

A avaliação é que a reciprocidade poderia causar prejuízos ainda maiores aos setores produtivos.

Isso porque muitas tecnologias essenciais usadas pela indústria e produtores brasileiros são americanas. Soma-se isso ao fato de que, caso o Brasil taxe produtos dos EUA, Trump já sinalizou que poderia retaliar com tarifas ainda mais pesadas.

Outro ponto levado pelo setor privado nas reuniões é a necessidade de abrir canais de diálogo e enviar uma missão de autoridades a Washington para tratar diretamente do tema.

A nove dias da entrada em vigor da tarifa, a diplomacia brasileira ainda relata dificuldades para encontrar um canal de negociação com os Estados Unidos.

O setor privado, no entanto, já se mobiliza e deve começar, em breve, a enviar caravanas aos EUA para tratar diretamente com autoridades americanas, mesmo sem a presença do governo brasileiro.

Essa iniciativa já recebeu o aval de Alckmin, que vê nela uma oportunidade para abrir diálogo e exercer pressão interna nos Estados Unidos, já que, em alguns casos, os mercados são complementares.

Empresas dos EUA que trabalham com a logística de produtos brasileiros, por exemplo, podem ir à falência caso a tarifa entre em vigor.

Uma das primeiras missões deve ser organizada pelo setor de mineração, apontado como peça-chave nas negociações com o governo Trump.

O intuito do setor é conseguir algum tipo de tratamento especial para os minerais brasileiros no contexto das tarifas. O argumento na mesa de negociações será de que o setor mineral dos EUA e do Brasil são complementares.

CNN

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Geral

Arraiá da Inclusão encerra programação do São João da Prefeitura do Natal no sábado (26)

A Prefeitura do Natal realiza, no sábado (26), das 17h às 20h, no Bosque das Mangueiras, a 2ª edição do Arraiá da Inclusão, que encerrará a programação do São João de Natal. O evento, que teve a primeira edição realizada em 2023, está de volta com uma programação pensada para acolher todas as famílias, especialmente aquelas que convivem deficiências.

A iniciativa, que nasceu com o objetivo de promover um espaço de lazer acessível e respeitoso, reúne atrações culturais obedecendo limites sonoros em respeito à sensibilidade auditiva dos autistas, serviços públicos e atividades educativas, tudo de forma gratuita e com foco na inclusão.

Entre os destaques da programação deste ano estão a apresentação já confirmada da cantora Roberta Karina, brinquedos infláveis gratuitos para as crianças, a já tradicional Feirinha Atípica, que contará com 20 expositores autistas ou familiares, e o Espaço Pet, com atividades paralelas voltadas aos amantes dos animais.

Para garantir o acolhimento de todas as crianças, inclusive aquelas que estiverem em momento de desregulação sensorial, haverá uma Sala de Acolhimento preparada com apoio de profissionais capacitados. Além disso, o evento contará com o Teatro Educativo de Trânsito da STTU, uma forma lúdica de ensinar sobre segurança nas vias.

Outro grande atrativo será a oferta de serviços essenciais de cidadania, como a emissão da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA), o Selo “Autista a Bordo” e a entrega de Cartões de Estacionamento para PcDs e idosos, realizados por equipes da SEMIDH e STTU, respectivamente.

O Arraiá da Inclusão é realizado pela Prefeitura do Natal, por meio da Funcarte, Semsur, SEMIDH, STTU, Semdes, Urbana e Secom, com apoio do Mandato do vereador Daniel Santiago.

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Geral

Governo Lula conta com receitas incertas e abre margem para aumentar gastos, diz consultoria do Senado

Anexos do Palácio do Congresso Nacional.  Foto: Carlos Moura/Agência Senado

Os números apresentados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o Orçamento de 2025 contam com receitas incertas na arrecadação para cumprir as regras fiscais e abrem margem para aumentar gastos, conforme nota da Consultoria de Orçamento do Senado.

A equipe econômica do governo Lula apresentou uma atualização sobre a projeção de receitas e despesas de 2025 na terça-feira, 22. O governo anunciou uma redução do congelamento de gastos de R$ 31,3 bilhões para R$ 10,7 bilhões após aumentar a projeção de arrecadação com leilões do petróleo e recuperar a validade do decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Com os números, o governo disse que vai cumprir o piso da meta de resultado primário (saldo entre receitas e despesas, sem contar os juros da dívida) neste ano, que é de um déficit de R$ 31 bilhões, com uma sobra de R$ 4,7 bilhões acima do mínimo, mas ainda distante do centro da meta, que é zerar o déficit público e fechar as contas no azul — o arcabouço fiscal aprovado em 2023 permite essa tolerância —, e sem contar com o pagamento de precatórios (dívidas judiciais da União) e o ressarcimento para vítimas da fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), cujas despesas foram retiradas da meta por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“É digno de nota que a maior parcela dessa melhora provém da rubrica de exploração de recursos naturais, na forma da entrada de recursos de leilão a ser realizado em novembro no valor de R$ 14,8 bilhões, receita extraordinária e não recorrente que incorpora algum risco à previsão orçamentária, caso não se realize”, diz a nota da consultoria.

Além do leilão do petróleo, os técnicos apontam que o governo está contando com a arrecadação da Medida Provisória 1.303, assinada pelo presidente Lula para aumentar a taxação de aplicações financeiras e de bets, que ainda tramita no Congresso Nacional. O governo espera arrecadar R$ 10,55 bilhões com a MP neste ano.

“Essa consideração também representa algum risco, materializado caso a MP não seja apreciada pelo Congresso Nacional até 9/8/2025, o que implicaria cessação de sua eficácia antes dos principais efeitos arrecadatórios pretendidos. Ademais, praticamente a totalidade dessa recomposição, em 2025, está apoiada na compensação de tributos administrados pela RFB, sobre a qual não há maior detalhamento na exposição de motivos que acompanhou a matéria”, afirma o órgão do Senado.

Durante a coletiva de imprensa para apresentar os números, os integrantes da equipe econômica afirmaram que a arrecadação de receitas do governo federal tem se mostrado consistente, que há um controle nos gastos, apesar da redução do congelamento, e que será possível cumprir as metas fiscais de 2025 e 2026.

“Tudo que nós estamos prometendo nós estamos entregando. Acho muito difícil alguém olhar para o lado da receita e sinalizar que de fato o cenário não está indicando um resultado dentro das metas e provavelmente muito próximo do centro da meta”, afirmou o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron.

Os consultores do Senado concordam que o governo vai cumprir as metas fiscais. O problema, apontam, é que muitas despesas estão sendo desconsideradas para o cálculo dessas metas. O déficit “real”, com todos os gastos efetivos, será de R$ 74,9 bilhões em 2025, segundo os números da própria equipe econômica, o que representa um déficit de 0,60% do PIB, valor superior ao apurado em 2024, de 0,36%.

“Ademais, as projeções do relatório ora analisado não consideraram quaisquer efeitos decorrentes da guerra comercial inaugurada pelos EUA contra o Brasil, na forma de tarifas de importação de 50%, devido ao fato de que tais condições, se confirmadas, vigerão a partir de 1º de agosto”, diz a consultoria. Os técnicos do Poder Executivo dizem que o tarifaço não foi considerado porque ainda não é uma realidade e pode sofrer mudanças.

Os gastos fora da meta abrem margem para mais despesas, segundo a nota da consultoria do Senado. Quando há despesas urgentes e imprevisíveis, como aquelas em resposta a uma calamidade pública, o governo pode abrir um crédito extraordinário para liberar gastos que não estavam previstos no Orçamento. Esse valor fica fora do teto de gastos do arcabouço fiscal, mas dentro da meta de resultado primário. No caso de parte dos precatórios e do ressarcimento aos beneficiários do INSS, porém, o STF autorizou que os valores ficassem fora do teto e também da meta.

O arcabouço fiscal sugere que o governo consuma o espaço entre o piso e o centro da meta fiscal com esses gastos imprevisíveis, como uma espécie de “colchão” de segurança. O Poder Executivo, autorizado a tirar as despesas extraordinárias da meta, tem consumido esse espaço com gastos corriqueiros, apontam os técnicos.

Ou seja, o governo continua perseguindo o piso da meta, e não o centro, abrindo margem para mais gastos. “A persistência dessa interpretação do Governo, aplicada desde as apurações de resultado fiscal de 2024, demanda reflexão e deve suscitar debates públicos em torno de eventual aperfeiçoamento desse mecanismo”, diz a consultoria.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o governo é obrigado a fazer uma contenção de gastos mirando no piso inferior da meta, mas a intenção da equipe econômica é perseguir o centro.

“Nós vamos buscar o centro da meta e há outros mecanismos administrativos aqui que a gente consegue ir acompanhando, seja com execução, seja avaliando o empoçamento no fim do ano (quando as despesas não são pagas), e outras medidas administrativas que ainda podem ser adotadas.”

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Geral

Eduardo Bolsonaro diz que STF também bloqueou contas de sua esposa

Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou à Folha nesta quarta-feira (23) que o STF (Supremo Tribunal Federal) bloqueou as contas da sua mulher, Heloísa Bolsonaro.

Ela teria tentado fazer movimentações bancárias e foi avisada de que havia uma ordem de bloqueio.

Nesta semana, Eduardo também teve suas contas bloqueadas. Ele disse que notou algo errado quando tentou fazer transações Pix. A reportagem confirmou que há uma ordem direcionada ao parlamentar, que foi emitida no sábado (19) pelo ministro Alexandre de Moraes.

Eduardo e a família estão nos Estados Unidos desde março, quando ele se licenciou do mandato de deputado, o que expirou no final de semana.

O parlamentar tornou-se alvo de investigação pelo Supremo em razão da sua atuação nos Estados Unidos em busca de sanções a Moraes. A articulação já resultou em retaliações ao Brasil. O presidente Donald Trump anunciou tarifas de 50% contra o Brasil, a serem implementadas a partir de 1º de agosto, alegando, entre outras coisas, uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na semana passada, o governo Trump anunciou, na sexta (18), a proibição da entrada nos Estados Unidos de Moraes e seus “aliados na corte”.

O anúncio foi feito pelo secretário de Estado, Marco Rubio, em rede social. “Ordenei a revogação de visto para Moraes e seus aliados na corte, assim como para familiares diretos, imediatamente”, disse.

Folhapress

Opinião dos leitores

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Geral

VÍDEO: MST bloqueia trânsito na BR-101, na altura do Centro Administrativo

Integrantes do MST bloquearam o trânsito na BR-101, na altura do Centro Administrativo do Governo do RN na tarde desta terça (23).

O congestionamento na via já é intenso. Motoristas e motociclistas buzinam pedindo passagem.

Ontem já haviam invadido a sede do Incra, em Natal, e na manhã de hoje estavam na Governadoria, exigindo uma reunião com a governadora Fátima Bezerra. Eles protestam pedindo pela Reforma Agrária.

Opinião dos leitores

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Geral

Operação Magma 2: PF cumpre mandados em Natal e contra facção que movimentou R$ 26 milhões com lavagem de dinheiro


Foto: divulgação

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado do Rio Grande do Norte (FICCO/RN) deflagrou, a Operação Magma 2, para desarticular esquema de lavagem de dinheiro operado por integrantes de uma facção criminosa originária do Rio de Janeiro e com atuação de liderança negativa na Bahia.

Foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão no bairro de Ponta Negra, em Natal, além de um mandado de prisão preventiva, todos expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Um dos investigados permanece foragido. O Judiciário também determinou o bloqueio de contas bancárias vinculadas a nove pessoas físicas e jurídicas.

As investigações apontam que os alvos da operação mantinham o comando da facção remotamente e levavam uma vida de luxo em Natal/RN. Além disso, foi identificada uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro, que utilizava empresas de fachada, identidades falsas e “laranjas”, movimentando aproximadamente R$ 26 milhões em transações financeiras diversas.

Um dos alvos usava ao menos três documentos falsificados — dois expedidos no Pará e um no Rio Grande do Norte — para abrir e movimentar contas em seis bancos diferentes. Em apenas uma dessas contas, entre janeiro e outubro de 2023, foram registrados créditos e débitos que somaram mais de R$ 17 milhões. O uso de identidades falsas também visava evitar a aplicação da lei penal, já que o investigado tem contra si três mandados de prisão expedidos pela Justiça da Bahia, dois por tráfico de drogas e um por homicídio.

A FICCO/RN é composta pela Polícia Federal, Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), Polícia Civil do RN e Polícia Penal do RN, atuando de forma integrada no enfrentamento ao crime organizado no Estado.

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Geral

Prisão de Oruam é mantida em audiência de custódia

Foto: Kleyton Cintra/TV Globo

A prisão de Mauro Davi Nepomuceno dos Santos, o Oruam, foi mantida em uma audiência de custódia nesta quarta-feira (23).

A audiência de custódia foi realizada no início da tarde e presidida pela juíza Rachel Assad da Cunha. O Ministério Público pediu a manutenção da prisão. A defesa não apresentou pedidos, alegando que devem ser feitos ao juízo natural do caso.

A juíza destacou que a audiência de custódia serve apenas para verificar a legalidade da prisão e eventuais maus-tratos, e que não cabe à CEAC (Central de Audiência de Custódia) rever decisões judiciais anteriores. Como não houve indícios de ilegalidade na prisão e o mandado foi considerado válido, a juíza determinou a comunicação ao juízo responsável pelo caso e o arquivamento da mídia com os registros da audiência.

Oruam está preso em uma cela individual no Complexo de Bangu, separado dos demais detentos. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), na manhã desta quarta-feira (23). Ele se entregou à polícia na noite de terça (22).

Inicialmente, o rapper foi levado para o Presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. No entanto, a administração do sistema prisional decidiu transferi-lo para a Penitenciária Dr. Serrano Neves, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste.

O motivo da transferência não foi informado pela Seap. De acordo com a pasta, Oruam passou a noite sem intercorrências e está recebendo a alimentação padrão da unidade.

O cardápio inclui café com leite e pão com manteiga no café da manhã, e feijoada, farofa de milho, salada e suco no jantar.

Oruam se entregou à polícia após ter a prisão decretada pela Justiça do Rio de Janeiro. Ele se apresentou na Cidade da Polícia, acompanhado pela mãe e a namorada.

O rapper foi indiciado por sete crimes (tráfico de drogas, associação ao tráfico, resistência, desacato, dano, ameaça e lesão corporal) após, segundo a Polícia Civil, impedir a apreensão de um menor procurado por tráfico e por roubo na noite de segunda (21).

“Só pedir desculpa mesmo. Dizer que eu amo muito meus fãs. Eu vou dar volta por cima, tropa. Estou om Deus e tá tranquilão. Sou forte!”, disse Oruam ao se entregar.

g1

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Geral

Brasil critica na OMC uso de tarifas para interferir em assuntos internos

Foto: Divulgação

Em discurso no Conselho Geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), secretário de assuntos econômicos e comerciais do Itamaraty, embaixador Philip Fox-Drummond Gough, criticou o uso de tarifas como ferramenta para interferir em assuntos internos de países.

Sem citar nominalmente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o enviado do governo brasileiro classificou as medidas anunciadas pelo republicano como “arbitrárias”.

“Além das violações generalizadas das regras do comércio internacional – e ainda mais preocupantes –, estamos testemunhando uma mudança extremamente perigosa em direção ao uso de tarifas como ferramenta para tentar interferir nos assuntos internos de terceiros países”, afirmou secretário.

O Brasil enfrenta um curto prazo para negociar com os EUA e evitar que tarifas de 50% contra os produtos exportados entrem em vigor a partir do dia 1º de agosto. O anúncio das taxas foi feito por Trump no início de julho.

Na carta enviada ao Brasil com o anúncio das taxas, o republicano citou o julgamento caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). O líder americano têm classificado o processo como “caça às bruxas”.

A fala na OMC ocorre em meio à escalada de tensão com os EUA para tentar conter a implementação das tarifas ao Brasil. Além disso, o Congresso aprovou a Lei da Reciprocidade econômica, mecanismo que pode ser usado pelo país para retaliar os americanos.

O embaixador reforça ainda a posição do Brasil em buscar a resolução do conflito através das negociações, mas sem descartar o uso de outras ferramentas disponíveis inclusiva através da própria OMC.

“Continuaremos a priorizar soluções negociadas e a nos basear em boas relações diplomáticas e comerciais. Caso as negociações fracassem, recorreremos a todos os meios legais disponíveis para defender nossa economia e nosso povo – e isso inclui o sistema de solução de controvérsias da OMC”, disse.

Enquanto o Brasil segue buscando por negociações, alguns países têm anunciado entendimentos com Trump, como é o caso de Reino Unido, Indonésia, Filipinas, Vietnã e Japão.

CNN Brasil

Opinião dos leitores

  1. O governo brasileiro fica falando asneiras e atacando os EUA sistematicamente e esquece de ir negociar as tarifas, depois vai reclamar.

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