Jornalismo

Como trabalham os intérpretes, os funcionários que sabem os segredos da política internacional

A Revista Piauí postou hoje em seu Twitter um longo e delicioso texto contando como trabalham os intérpretes. Eles guardam segredos de Estado. Bastariam abrir a boca para causarem uma crise geopolítica. Segue o texto abaixo, que vale a leitura.

O encontro bilateral de alto nível começara de forma constrangedora. Sentados lado a lado no salão presidencial de Cartum, a capital do Sudão, o presidente Omar Hassan Bashir e a secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice permaneciam mudos. Mal se moviam e evitavam se olhar.

Estavam condenados ao silêncio. Do lado de fora, o intérprete Gamal Helal, única pessoa habilitada a descongelar aquela cena, se debatia para furar o cerco da segurança palaciana. A sina dos intérpretes é essa mesma: tendem a ser tão indispensáveis quanto desconhecidos.

Só quando Helal conseguiu aninhar-se entre Rice e Bashir é que as duas figuras estáticas adquiriram vida e voz. Puseram-se a falar e a negociar, cada um em sua língua. Com Helal como fio condutor de voltagem dupla – do árabe para o inglês e vice-versa – eles só não se entenderam porque a agenda de ambos era, mesmo, irreconciliável.

Há ocasiões em que o protocolo permite que uma autoridade se expresse no idioma que lhe convier, dispen-sando a presença de intérpretes. Nesta modalidade, coube ao solteirão e misantropo David H. Souter, quando ainda era juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, usar um recurso incomum para salvar uma noitada formal. Sentado ao lado da esposa do ministro da Economia da Hungria, numa das raras vezes em que compareceu a um jantar solene em Washington, Souter e a húngara descobriram uma ferramenta em comum para atravessar a soirée: conversaram em latim.

Já quando o protocolo é lei e o líder é monoglota, os estilos variam de acordo com a personalidade de cada um. O filho de metalúrgico Leonid Brejnev, que comandou a União Soviética de 1964 a 1982, tinha um conhecimento de línguas estrangeiras restrito a uma única expressão: auf Wiedersehen (“até logo”, em alemão), com a qual não apenas se despedia como saudava dignitários de vários quadrantes, inclusive os de língua inglesa.

Outra opção é fazer como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que adquiriu invejável descontração em meio a seus pares poliglotas. Quando a coisa aperta, basta-lhe uma frase para ficar seguro: “Cadê o Sérgio?” O carioca -Sérgio Xavier Ferreira, de 59 anos, for-mado em comunicação social e ciência política, e com 36 anos de métier no currículo, tornou-se intérprete de ocasião de Lula para o inglês (e vice-versa, modalidade chamada de retour, no jargão dos profissionais), bem antes da chegada petista ao poder. Foi durante o encontro mundial da Eco 92, realizado no Rio de Janeiro, que Ferreira se ofereceu para traduzir um discurso preparado por Lula para um dos jantares do evento.

A partir daí, o vínculo foi se estreitando e hoje a química entre o presidente globe-trotter e seu intérprete titular é absoluta. Ele se tornou “o cara” do “cara”. Declina ser entrevistado enquanto estiver a serviço da presidência da República. Não apenas ele. Lúcio Reiner, aconselhado pelo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, o jornalista Franklin Martins, também se considerou obrigado a sigilo absoluto até deixar o cargo.

Para um assessor do Palácio do Planalto, a liga entre Sérgio Ferreira e o presidente brasileiro consolidou-se quando Lula, recém-eleito, mas ainda não empossado, empreendeu sua primeira viagem aos Estados Unidos. O encontro de estréia com George W. Bush no Salão Oval da Casa Branca estava marcado para uma terça-feira de inverno em Washington, em 10 de dezembro de 2002. O brasileiro estava tenso, fumava uma cigarrilha atrás da outra – afinal, pisava no país cuja imprensa mais conservadora insistia em retratá-lo como parte de um “eixo Lula-Castro-Chávez”, com agenda sindicalista de sotaque esquerdista. Marcel Bouquet, o veterano intérprete do Departamento de Estado para a língua portuguesa, tinha sido convocado para atuar junto a Bush. Sérgio Xavier Ferreira faria o mesmo para Lula.

Pelo formato do encontro, a inter-pretação seguiu a modalidade chamada de “consecutiva”, na qual o intérprete primeiro ouve um trecho ou a sentença completa de uma fala, e traduz o que ouviu durante breve pausa do orador, sustentado essencialmente pela me-mória. Mas não tardou para que o diálogo entre os dois chefes de Estado se tornasse menos protocolar, portanto mais ágil e veloz. A interpretação dupla começou a parecer arrastada e Sérgio achou por bem traduzir tanto as falas de Lula para Bush como as de Bush para Lula – o mencionado retour. Ao final do encontro, o 43º presidente dos Estados Unidos estendeu-lhe a mão e disse: “Parabéns, eu gostaria de cumprimentá-lo pela atuação.” Dado que elogios e apreço público a intérpretes são mercadoria rala na profissão, foi um batismo a ser comemorado.

Ser intérprete de alto nível é ser essa figura espremida entre duas personalidades que fingem falar a mesma língua. É se contentar com um perfil próximo ao de um figurante, sempre mantido a distância durante as sessões de registro para a posteridade. Caso venha a aparecer numa foto, talvez inclinado sobre o ombro de alguma autoridade, soprando-lhe o que está sendo falado (modalidade chuchotage, ou “ao pé do ouvido”), a legenda o designará como “pessoa não identificada”. O mesmo ocorre quando ele ou ela porventura aparecerem em uma foto oficial, no meio de dois líderes. Dada a quantidade industrial de viagens do presidente brasileiro, e os inevitáveis flagrantes de seu intérprete mais frequente, a piada não tardou. “Daqui a alguns anos vão perguntar quem é esse barbudo ao lado do Sérgio e do Obama”, cunhou o assessor do presidente para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Existe um formato ainda mais anônimo e impessoal do métier, a interpretação simultânea – quando o profissional fica ilhado numa cabine de vidro à prova de som, com visão para uma sala de conferências, tendo por cordão umbilical um fone de ouvido. Um painel de áudio com microfone e alguns botões complementam o cenário de um desempenho tão fascinante quanto indecifrável. Escrevendo sobre esse ofício, o escritor escocês Alastair Reid, autor de mais de quarenta livros e articulista da revista The New Yorker, compara intérpretes simultâneos a “virtuoses da música ou dos palcos, uma vez que interpretam um papel. Com a diferença de que eles nunca podem ensaiar sua parte, pois cada apresentação será inteiramente diferente”. 

A beleza do ofício não está na destreza mecânica do intérprete, e sim na sua habilidade em conseguir optar, numa fração de segundos, entre alternativas sintáticas de um idioma para melhor traduzir o que está sendo dito em outro. Sobretudo, ao contrário do que se imagina, a essência do ofício não está no conhecimento puro de duas ou mais línguas, mas no domínio absoluto de uma delas (a língua A ou língua-mãe), e na capacidade de usá-la em toda sua extensão. O talento está em captar as intenções do orador muito além das palavras que ele pronuncia. Intérpretes são comunicadores, são meios de transmissão. Não se trata de traduzir palavra por palavra, mas de transmitir uma mensagem capturada numa língua e reconstruída com fidelidade em outra. Tudo isso em tempo real, sob pressão. Dado que o intérprete simultâneo ouve e fala ao mesmo tempo, ele precisa aprender a ouvir seletivamente, focando mais no sentido daquilo que é dito do que, individualmente, em cada palavra.

Alastair Reid ficou estarrecido durante uma conferência internacional, em Genebra, com a atuação de um intérprete simultâneo em cabine. Ao mesmo tempo em que captava pelo fone de ouvido a fala de um orador russo, e seus lábios emitiam a tradução para o espanhol, ele também folheava a seção de esportes do Journal de Genève, escrito em francês.

“Me pergunto se o bom intérprete não tem efetivamente algum parafuso solto”, pondera o veterano John Stephen Morris, um californiano espaçoso, radicado há 42 anos em Brasília. Ele aponta para um aspecto único da profissão: “Você está ouvindo numa língua, e você não pode refletir sobre o que está ouvindo; você também está falando numa outra língua, e ao mesmo tempo está como que fora de sua órbita, observando a você mesmo do alto. Como se você estivesse fiscalizando o que lhe sai da boca.”

Os dois telefones da residência de Morris, no Lago Norte, não param de to-car, atestando que trabalho, aos 68 anos de idade, não lhe falta. O seu escritório é atravancado de papéis, apostilas e livros por toda parte, sobretudo no chão. Na estante, o lugar de honra está ocupado pela obra completa do irmão famoso, o escritor e jornalista Charles R. Morris, autor, entre outros, de Os Magnatas e do best-seller premonitório O Crash de 2008: Dinheiro Fácil, Apostas Arriscadas e o Colapso Global do Crédito, sobre a implosão do mer-cado mundial.

“O essencial é você ser imune ao pânico”, avisa o veterano, com seu vozeirão de tenor. Morris já encarou um enfarte com três pontes de safena e dois anos depois estava em uma cabine quando voltou a sentir dores no peito. “Mas a colega de cabine foi extremamente prática, me substituiu na hora, fui levado para o hospital e ninguém percebeu nada”, disse. 

Morris é intérprete de conferência (designação oficial do profissional que faz tradução simultânea e/ou consecutiva), além de tradutor juramentado. À primeira vista, tudo a ver, dado que as duas atividades exigem completo domínio de idiomas. Na prática, mais uma vez, são primos distantes. O tradutor produz com as mãos, sozinho, cercado de dicionários, dono do seu tempo. Ele capta visualmente o material bruto. Já o intérprete depende da audição e se sustenta apenas na memória. Ele não é dono do tempo, produz com a boca. E o que ouve depende do sotaque, da maneira de falar do orador – há os concisos, os prolixos, os que falam para dentro, os que não sabem concluir.

Da modalidade consecutiva, que John Morris hoje prefere deixar para gerações mais novas por considerá-la desgastante, ele tem boas lembranças. “Tive a oportunidade de trabalhar com poucas pessoas com a compreensão exata da nossa função, como Henry Kissinger. Ele entendia perfeita e maravilhosamente bem a dinâmica da coisa”, relembra. “Kissinger levava o intérprete até o seu limite de memória consecutiva e previa o quanto você ainda podia aguentar sem perder o fio da meada. Ele se limitava estritamente àquele tempo, falando em parágrafos claros, curtos e precisos. O controle de sua expressão era total.”

Outro que o americano elogia sem reservas é Fernando Collor, para quem trabalhou inúmeras vezes durante e após a Presidência. “Collor sabia usar o intérprete. Expressava-se em pensamentos completos, com início, meio e fim. Tinha uma cabeça muito lógica. O inglês dele não era muito bom, não. Ele conseguia se expressar no idioma, mas não amplamente. De todo modo, não admitia falar em inglês em ocasiões oficiais por ser presidente do Brasil, cuja língua oficial é o português.”

Uma também veterana, a paulistana Simone Troula, dona de uma vivência rara com presidentes brasileiros (cinco anos de interpretação para João Figueiredo, quatro para José Sarney e dois para Collor), é de mesma opinião. “Collor sempre teve aplomb, falava francês e inglês razoavelmente bem, e tinha boas noções de alemão, mas sempre insistiu em operar com intérpretes”, diz essa filha de mãe escocesa e pai francês.

O trabalho de intérprete, por ser também emocional, é um convite permanente ao estresse. A carioca Lúcia Melim, com duas décadas de atuação em quatro línguas, conhece as agruras físicas do ofício. Num início de tarde de junho, ela aproveitava as pausas de vinte minutos entre sessões de cabine no Hotel Windsor, em Copacabana, para conceder a entrevista. Mesmo assim, miúda e lépida, a cada vez que descia ao saguão do hotel para prosseguir a conversa trazia seu netbook com cronômetro digital acionado, para vigiar o quanto lhe restava de tempo antes de reassumir o microfone. “Você consegue ficar numa simultânea até por uma hora, não mais”, ela disse. “E numa consecutiva, ao longo de duas horas no máximo. Para esse tipo de trabalho eu diria que o cérebro se recupera de trinta em trinta minutos. Mas com o passar do tempo tornamo-nos muito sensíveis a ruídos, e ficamos ilogicamente irritados com barulhos.”

Já Simone Troula costuma esvaziar a cabeça imediatamente após cada evento – um pouco como jornalistas que precisam assimilar tudo sobre determinado tema e no dia seguinte são chamados a pular para outro assunto. Ela só não se esquece de um congresso sobre broncoesofagologia, cujos conhecimentos retém até hoje. Fumando um cigarro atrás do outro no fantasmagórico saguão do Hotel Unique, de São Paulo (antes da entrada em vigor da lei antifumo), ela comentou: “Você chega em casa sem força física sequer para arrumar uma gaveta.” Simone menciona um estudo da onu sobre a saúde mental e física dos intérpretes, elaborado há quase meio sé-culo, mas que permaneceu reservado. Mesmo assim, o estudo orientou melhorias nas condições gerais de trabalho dos 113 intérpretes fixos e outros tantos terceirizados da organização. Em média, um profissional de interpretação de conferência passa mais de um terço dos dias de trabalho longe de seu domicílio, e interpretar mais de 250 dias ao ano pode levá-lo a um colapso nervoso. Às vezes, ele precisa atuar de imediato, logo após intermináveis vôos intercontinentais, mudanças climáticas bruscas e condições tecnológicas novas. Dormir ou comer a contento são raridades.

“Pelo menos na minha experiência”, conta Simone, “somente em países comunistas o intérprete podia se sentar e comer com as autoridades.” Foi o que ocorreu no jantar oferecido pelo presidente da Argélia, Chadli Bendjedid, ao general Figueiredo. “Figueiredo, aliás, sempre se preocupava conosco. Voltava-se para mim, enquanto eu fazia o chuchotage, e me passava um canapé de patê, com o qual eu não sabia o que fazer durante a interpretação consecutiva. ‘Você tem de se alimentar’, insistia ele.”

Simone confirma que Collor tem bons conhecimentos de alemão e relembra uma cena insólita envolvendo José Sarney, quando presidente da República. “Estávamos no Metropolitan Museum de Nova York para um jantar com autoridades, e Sarney passou a tecer comentários poéticos sobre a liberdade, que eu ia interpretando para o inglês. À medida que o intérprete de russo ia vertendo a fala para o seu idioma, provocava lágrimas no chanceler soviético da época, Eduard Shevardnadze. Também o general paraguaio Andrés Rodríguez [consogro de Alfredo Stroessner e autor do golpe militar contra ele] pareceu se comover. ‘¿Qué bien habla Sarney, no le parece?’, me sussurrou.”

De um modo geral, simpáticos a intérpretes são as autoridades americanas, em particular Jimmy Carter e a dupla Bush, pai e filho. Carter, por exemplo, durante a missão de observação das eleições de 2004 em Moçambique, insistiu em apresentar à esposa Rosalynn e ao filho Chip a intérprete que lhe foi alocada, além de convidá-la a visitá-lo – e hospedar-se – em sua casa em Atlanta. George W. Bush tornou-se herói da tribo que estava em São Petersburgo, em julho de 2006, interpretando a reunião do G8. Com todos os chefes de Estado já enfileirados para a foto oficial, Bush viu os intérpretes sendo varridos para o lado, como de hábito, e pediu para que se juntassem ao instantâneo. Sucesso coletivo.

No caso de Bush pai, a gratidão foi individual. Coube ao russo Igor Korchilov, que atuou como intérprete da era Kruschev até Mikhail Gorbachev, admitir um erro que lhe rendeu intermináveis segundos de pânico. Em Translating History, seu livro de memórias publicado em 1997, ele segue a regra de não revelar qualquer segredo, mas abastece o leitor com vinhetas que dizem muito da política e de seus líderes. Num episódio, Gorbachev relata para Ronald Reagan detalhes da luta intestina que tomou conta do Kremlin para saber quem ficaria com o Lincoln Continental azul-escuro forrado de veludo preto, que Leonid Brejnev havia recebido de Richard Nixon. Em outro, as primeiras-damas Nancy Reagan e Raíssa Gorbachev  tecem comentários pouco diplomáticos uma sobre a outra. “Qualquer ser humano gostaria de viver numa casa comum. Isso aqui é um museu!”, alfinetou a sra. Gorbachev depois da primeira visita na Casa Branca.

O erro que assombra Korchilov ocorreu durante a reunião de cúpula entre George Bush pai e Gorbachev, no final dos anos 80, quando a Guerra Fria começara a degelar. Os dois chefes de Estado e suas respectivas delegações debatiam coisas como sdi, abms, mervs e altas tecnologias da Guerra nas Estrelas, o guarda-chuva estratégico. Tudo dentro de um horizonte de controle de armas e a proposta de “céus abertos à inspeção” por parte dos americanos. O impasse girava em torno da inspeção a ser feita nos eua e na urss, para se certificarem do cumprimento dos termos do acordo. Os soviéticos pleiteavam que os aviões de inspeção pertencessem ao país a ser inspecionado, enquanto os americanos defendiam o contrário.

A discussão passou a girar em torno de duas palavras perigosamente similares em russo: o que inspeciona versus o inspecionado. Korchilov conta que Gorbachev pronunciou sem clareza o final das duas palavras, fazendo com que ele traduzisse a posição soviética como sendo exatamente o oposto do que Gorbachev queria. “O secretário de Estado James Baker e Bush congelaram, incrédulos. Ainda assim, macacos velhos, solicitaram que Gorbachev reiterasse e confirmasse o que acabara de dizer. Quando traduzi para o meu chefe o pedido americano, Gorbachev se agitou e disse: ‘Não, não e não, não foi nada disso que eu falei, eu disse o contrário!'”

“Ao final da reunião, fui me desculpar com o presidente americano pelo incidente. Ele ouviu, assentiu gravemente e disse: ‘Bem, esse foi o lado ruim. O lado bom foi que você não desencadeou a Terceira Guerra Mundial.'”

Nicole Kidman foi se familiarizar com a profissão antes de desempenhar o papel de uma intérprete da onu que, por conta de um microfone não desligado, ouve os planos secretos de um atentado contra um líder africano (A Intérprete, 2005, do diretor Sydney Pollack). Ela visitou a galeria de cabines de vidro do Conselho de Segurança e quis saber quanto tempo o intérprete deve aguardar antes de começar a traduzir a fala do orador. “Uma mera fração de segundos”, respondeu-lhe Brigitte Andreassier-Pearl, chefe do serviço de interpretação. “Mas também vai depender da velocidade da fala. E dependendo da língua de partida, o intérprete não pode mergulhar de cara, pois será necessário aguardar qual o verbo da frase.”

A intérprete certamente se referia ao alemão, que não é um dos seis idiomas oficiais de trabalho nas Nações Unidas (inglês, árabe, chinês, espanhol, francês e russo). Pela estrutura gramatical do alemão, a ação da frase (o verbo) vem sempre no final, o que gera um hiato de tempo até que se tenha a plena compreensão da sentença. No caso do chinês, a armadilha ocorre pela estrutura gramatical não ser baseada na fórmula mais comum de sujeito/predicado. Também chamada de “língua sem sujeito na frase”, o chinês leva seus intérpretes a uma tendência de tradução literal, palavra por palavra, e ao emprego abundante da voz passiva, tornando o resultado final pouco fluido.

Em seu giro pela onu, a atriz australiana também formulou a pergunta mais frequente feita a intérpretes do mundo inteiro: o que você faz quando não sabe uma palavra? A resposta: você tenta captar o sentido da palavra perdida e expressa a idéia nela embutida. Alguma expressão similar acaba surgindo – mesmo que tardiamente.

Alexia Whiting, natural da Sérvia, criada no Brasil e de nacionalidade britânica, atua junto às entidades da União Européia em cinco idiomas. Ao longo dos anos foi acumulando receitas para driblar os percalços do ofício. “Não raro o cérebro continua trabalhando num problema que já passou e, de repente, minutos depois, você se dá conta de algo perdido. Às vezes é até possível inserir rapidamente uma correção. Costumo deixar o orador começar a falar sem interpretar nada até aparecer claramente o sentido de sua frase. Como nem sempre isso ocorre já nas primeiras palavras – pode levar até uma frase inteira -, ajuda inserir um “muito obrigado, senhor presidente” ou algo anódino do gênero, para ganhar tempo de concentração.

Alexia também se habituou a escutar a si mesma, logo no início de uma interpretação, para testar se sua fala está fazendo sentido. “Isso é muito importante, pois a tentação é pronunciar uma cachoeira de palavras coladas à fala do orador, sem se dar conta se é asneira”, esclarece ela. “É vital fazer uma análise-relâmpago do sentido do texto original, visando compreender o que está sendo dito. Quando isso acontece, a batalha está ganha. Caso contrário, instala-se o pânico e você corre o risco de traduzir meras palavras e não o conteúdo. Resta então apenas a esperança de que a platéia com fone de ouvido saiba do que se trata.”

É no Parlamento Europeu que as questões pertinentes à interpretação atingem uma dimensão próxima ao buraco negro da física. São 735 deputados representando meio bilhão de pessoas (quase três Brasis inteiros) de 27 países que falam 23 línguas e utilizam três alfabetos (latino, grego e cirílico) – além da pletora de quase sessenta idiomas regionais. Por sorte, Alemanha e Áustria falam o mesmo alemão, França, Luxemburgo e Bélgica se entendem em francês, Reino Unido e Irlanda brigam em inglês. Senão seriam 27 as línguas oficiais e obrigatórias para cada documento, discurso, saudação ou compêndio produzido sob sua égide. “Mesmo se um membro do Parlamento sabe falar inglês, francês ou alemão, quando se trata de um discurso político nuançado ele precisa ter acesso a toda a extensão de um idioma, o que normalmente só ocorre em sua língua-mãe”, garante a diretora-geral de Interpretação e Conferências do Parlamento Europeu, a grega Olga Cosmidou. 

Diante desses números, não surpreende que as sessões plenárias do Parla-mento mobilizem entre 800 e 1 mil intérpretes simultâneos. Não fosse assim, cada discurso de meia hora demoraria pelo menos 660 minutos, ou seja, onze horas, até ser traduzido em se-quência para todas as línguas oficiais. Vale registrar que existem 506 combinações linguísticas possíveis no âmbito do Parlamento Europeu (os 23 idiomas oficiais multiplicados por 22).

Foi o inchaço dessa babel de mais e mais países-membros que levou um jornal de Bucareste, o Cotidianul, primeiro diário não governamental da Romênia, lançado após a implosão comunista de 1989, a um fino momento de humor. Com a eleição, em janeiro último, de dois nacionalistas romenos, o jornal publicou um minidicionário para que os intérpretes e tradutores sediados em Bruxelas pudessem se familiarizar com o vocabulário usado pelos novos eurodeputados. A lista de verbetes é extensa, mas alguns exemplos são particularmente eloquentes: vânzator de iaurt (vendedor de iogurte) (paduche (piolho), maimuta curentata (macaco eletrocutado), limbric (lombriga), comunistule (comunista safado).

Intérpretes simultâneos eventualmente levam para suas cabines manuais ou dicionários específicos ao tema em pauta. Três profissionais de uma mesma língua se revezam ao microfone a cada meia hora nas cabines, e alguns deles fazem anotações enquanto traduzem. Isso porque a chance de um termo difícil voltar a ser usado por algum orador é grande. Outros trazem laptops contendo enormes glossários e dicionários na memória. Como muitas organizações da União Européia operam em Wi-Fi, com frequência um colega acha uma palavra ou expressão não traduzida, a tempo de ainda poder ser utilizada por quem está interpretando.

Por mais tenso que seja seu trabalho, quando está na cabine, o profissional se sente protegido por ela. No caso das instalações proporcionadas aos intérpretes das instituições européias, há razões objetivas para esse bem-estar. Todas elas seguem as normas iso 2603, revisadas e avaliadas pela Associação Internacional de Intérpretes de Conferência, mais conhecida pelo seu acrônimo francês aiic. As especificações são seguidas à risca e visam atender três requisitos: garantir a separação acústica entre os diferentes idiomas usados simultaneamente, proporcionar comunicação eficiente entre as cabines e a sala de conferências, e oferecer conforto máximo.

Assim elencado, parece óbvio. Não é. O quesito “Iluminação”, por exemplo, estabelece que a superfície de trabalho para cada intérprete (0,45 metro) deve ter iluminação individual que produza uma intensidade uniforme de pelo menos 300 lux. Luzes fluorescentes não podem ser utilizadas sem blindagem. Reflexos da iluminação de teto sobre os vidros da cabine precisam ser evitados. Cores? Todas as superfícies da cabine devem receber acabamentos opacos. As cadeiras ergométricas precisam ser estofadas com material dissipador de calor e a superfície de trabalho deve ser revestida de material refratário a ruído. Sem falar no ângulo de visão ideal do auditório, na distância máxima do pódio (30 metros) e nos complexos parâmetros acústicos (“O nível de pressão acústica ponderado A, causado quer pelo sistema de climatização, quer pela iluminação, quer por qualquer outra fonte sonora, não deve ultrapassar 35 decibéis”). Quanto aos parâmetros ambientais,  o ar deverá ser renovado sete vezes por hora e a concentração de dióxido de carbono não deverá exceder a 0,1%. Tudo é objeto de normas.

Só que o dia a dia de um intérprete não se limita ao eixo Bruxelas-Estrasburgo-Luxemburgo-Nova York. No mercado privado, mundo afora, as cabines podem ser minúsculas e sem ar, os ruídos da sala chegam sem cerimônia, não raro o equipamento de áudio é antigo, botões do console saltam ou não funcionam, as cadeiras podem ser de jantar, a luz, péssima, e joelhos batem na parede frontal. Às vezes a cabine consiste em uma caixa colocada em cima de um tablado, com uma parede frontal de vidro e uma cortina de veludo fazendo as vezes de porta.

A carioca Lucia Melim reconhece que o padrão aprovado pela aiic é o ideal, mas não acha realista penalizar firmas ou governos sem estrutura para adotá-lo. “Tome-se o prédio do bndes do Rio de Janeiro, por exemplo – lindíssimo, mas o mezanino onde trabalham os intérpretes tem vidro fumê !”, aponta, horrorizada. “Além disso, os vidros são altos, proporcionam pouca visibilidade. O prédio do Mourisco não é diferente: o local deve ter sido pensado para cabines de projeção e não de interpretação, uma vez que o intérprete teria de ficar de pé para poder ver o palestrante. Sem uma visão clara e desobstruída do orador, o esforço mental que fazemos é absurdo.”

A interpretação como meio de comunicação data possivelmente dos primórdios do Império Otomano, no século xv, quando os turcos começaram a conquistar povos com os quais faziam tudo, menos se entender. E a gênese da chamada interpretação de conferência vem associada às negociações do Tratado de Versalhes, em 1919, com tradutores requisitados nas fileiras militares. Mas foram os rompantes oratórios dos discursos na Sociedade das Nações, em Genebra, no período do entreguerras, que impulsionaram a técnica da interpretação consecutiva nas duas línguas oficiais da organização – inglês e francês.

 Já a interpretação simultânea, quando veio a ser tentada pela primeira vez no final dos anos 20, em Moscou, foi um fracasso. Foi preciso esperar o final da Segunda Guerra Mundial para ver o seu desabrochar e pleno potencial. A ocasião não poderia ter tido visibilidade maior: os processos de Nuremberg (1945-1946), no qual os criminosos de guerra nazistas foram julgados em quatro línguas: alemão, francês, inglês e russo. A vantagem da técnica logo se tornou óbvia, pela enorme economia de tempo. A estréia do novo formato foi tão impactante que Hermann Göring, certamente o mais graúdo dos acusados, exaltou-se: “Eles [os intérpretes simultâneos] estão encurtando a minha vida!” Terminou tomando uma cápsula de cianureto para evitar o enforcamento*.

O jovem alemão Richard Sonnenfeld tinha apenas 22 anos em 1945 quando o acaso o catapultou para o cargo de intérprete-chefe da promotoria americana no julgamento dos 24 acusados nazistas. Filho de um casal de médicos judeus do norte da Alemanha, ele tinha escapado para os Estados Unidos aos 15 anos, alistara-se e combatera na Europa como soldado. Pinçado por seu conhecimento do idioma alemão para atuar sob as ordens de Robert Jackson, o juiz da Suprema Corte americana encarregado dos interrogatórios, Sonnenfeld foi quem mais se ocupou do Reichsmarshall [marechal do Reich]. Ao ser interrompido pelo acusado a primeira vez, o jovem recruta estabeleceu uma regra: “Senhor Gering”, disse ele, pronunciando o nome errado propositalmente. “Quando eu traduzo para o alemão as perguntas do coronel e passo suas respostas para o inglês, o senhor deve permanecer em silêncio até eu concluir. Se, ao ler as notas taquigráficas da sessão, o senhor tiver alguma reclamação, vamos decidir se a levamos em conta ou não.” Pelo relato de Sonnenfeld, que consta de seu livro de memórias, o acusado o fulminou em silêncio. “Meu nome é Göring e não Gering”, disse apenas.

Outro garoto judeu alemão, Peter Less, que fugira para a Suíça e cursava a prestigiosa École de Traduction et d’Interprétation da Universidade de Genebra – até hoje a meca dos melhores profissionais do ramo -, teve participação ainda mais dramática em Nuremberg. Fluente em três idiomas, Less estava em sala de aula quando três oficiais americanos irromperam na classe. Vieram selecionar alunos para uma missão que ninguém entendeu direito. Ele foi um dos escolhidos. “Amanhã de manhã vocês voarão para Nuremberg”, ouviram. Less, que teve a mãe, o pai, a única irmã e a avó assassinados pelos nazistas, fez a interpretação simultânea para todos os acusados. Tinha apenas 25 anos incompletos. Ao final, foi con-finado num castelo da Bavária como um dos encarregados da tradução das 360 páginas de acusação. E com uma advertência: “Se uma só palavra do conteúdo desses documentos vazar, vocês serão submetidos a uma corte marcial.”

A comprovação da eficácia da interpretação simultânea gerou a necessidade de se organizarem as técnicas e normas da profissão. Coube a três personagens lendários fundarem a aiic, na Paris de 1953. Chamavam-se Jean Herbert, André Kaminker e o príncipe Constantin Andronikof.

Dos três, Andronikof foi o mais refinado. Intérprete da confiança absoluta do general Charles de Gaulle, o príncipe, nascido na Rússia imperial, era teólogo ortodoxo e escritor. Ele não permitia o uso de canetas esferográficas durante sessões de trabalho, provavelmente por considerá-las vulgares, e oficialmente por receio de a tinta se esparramar. Tinha sempre à mão cinco lápis, embora não fizesse anotações de qualquer espécie ao interpretar. “Estou ávido por ler suas memórias”, disse-lhe certa vez o amigo e escritor russo Vladimir Volkoff. “E é por isso que jamais escreverei uma só linha. Me proibi de fazer qualquer anotação enquanto eu for intérprete”, respondeu o príncipe, estabelecendo a pedra fundamental que norteia a profissão: o sigilo. Quando Andronikof pediu ao cofundador Kaminker para redigir um projeto de Código de Honra para a aiic, o colega foi breve: “Três artigos bastam. Artigo 1: o segredo profissional é total e absoluto. Artigo 2: o secredo profissional é total e absoluto. Artigo 3: o segredo profissional é total e absoluto.”

Andronikof reinou absoluto na aiic até morrer, em 1997, aos 82 anos, e continua cultuado como um mestre. Sempre que interrogado por jovens candidatas à profissão, sobre medos e armadilhas, ele repetia uma célebre resposta de Sarah Bernhardt quando uma jovem atriz comunicou, orgulhosa, não ter medo de errar: “Não se aflija, querida, isso vem com o talento.”

A AIIC existe em 271 cidades, espalhadas por 98 países, operando, no conjunto, em 48 línguas. Conta com mais de 2 883 membros, além de outros 230 na fila de postulantes cujos processos de adesão estão sendo avaliados. Não existe exame eliminatório. O brasileiro Sérgio Xavier Ferreira é um dos postulantes atuais e, como manda a regra, independentemente de sua qualificação, precisa ser apadrinhado por pelo menos três membros permanentes da entidade. Dois deles devem ter o mesmo cardápio de línguas no currículo.

Reconhecida por todas as grandes organizações internacionais, a aiic define as normas de trabalho, de técnica e de formação profissional desse universo. Um ingrediente básico, -contudo, não mudou desde a saída de cena do príncipe Andronikof: a profissão de fé no cânone do sigilo. Em tese, se tomado ao pé da letra, nenhum dos entrevistados para esta reportagem poderia tê-lo feito, embora nenhum tenha violado qualquer migalha de segredo profissional.

Três meses atrás, o cidadão francês de origem cambojana Yves Bergougnoux, residente no Brasil há mais de 22* anos, sentiu de perto o vigor do cânone. Membro ativo da aiic desde novembro de 2008, foi suspenso em julho por dois anos por violar os itens 2a, 2b, 6 e 6b do Código de Ética Profissional da entidade. Numa entrevista na redação da piauí, Bergougnoux, de aparência bem mais jovem do que seus 44 anos, se dispôs a discorrer sobre aspectos teóricos e filosóficos do ofício. Não se acanhou em dissecar outras normas da profissão e, ao arrepio do pensamento prevalente na aiic, sustenta que um intérprete não pode* ser nem neutro, nem objetivo e nem invisível. “O orador é o autor do pensamento, mas vou arriscar dizendo que o intérprete também é autor”, disse ele. Bergougnoux usa de metáforas singulares ao diferenciar a interpretação simultânea da que é consecutiva. Para ele, a primeira se assemelha a um surfe intelectual. “Você surfa numa onda, que é o pensamento do orador, e não pode cair nem para trás nem para a frente. Se cair para a frente, você se adiantou, quis adivinhar o que o orador queria dizer e se perdeu, pois terá de esperar. Se demorar demais, vai perder não só a frase como a onda – ficará parado atrás da rebentação.” Quanto à consecutiva, ele a compara a um episódio de apnéia. “Você está debaixo d’água e vai procurar prender a respiração o maior tempo possível antes de voltar a respirar.”

 Bergougnoux surpreendeu-se com o fato de a revista ter conhecimento de sua suspensão* e se manteve irredutível em discuti-la. Assim, sabe-se apenas que a sanção foi motivada pela publicação, em sua página pessoal do Facebook, de uma crônica semificcional envolvendo a visita do presidente francês Nicolas Sarkozy a Brasília, em dezembro passado.

Para a aiic, foi pecado capital e imperdoável. A ponto do presidente da entidade, Benoît Kremer, achar útil divulgar uma versão turbinada do dogma. Num texto difundido aos associados em 9 de julho passado, ele reitera a proibição imposta aos membros de divulgar, a quem quer que seja, qualquer informação de que tenham tido conhecimento no exercício da profissão. E frisa que o verbo “divulgar” designa o ato de transmitir informações, quer em resposta a uma pergunta (divulgação passiva), quer por iniciativa própria. Tampouco importa o meio: oralmente, por fax, correio eletrônico, Facebook, Twitter. “A quem quer que seja” refere-se a qualquer pessoa, seja da família, desconhecido ou colega. E para quem ainda não entendeu, “qualquer informação” é exatamente isso, independente de relevância.

No entender de Kremer, a mera ocorrência de uma reunião ou a participação (ou ausência) de tal ou tal pessoa pode se revestir de uma importância insuspeitada. Ao mencionar, por exemplo, que um presidente usava gravata vermelha e meias laranja, o intérprete pode não estar traindo segredo algum. Mas ao confirmar a presença do presidente ele pode estar divulgando um fato importante. No entender de Kremer, as normas abrangem desde o momento em que o intérprete é contratado até a sua morte. Em outras palavras, se adotada ao pé da letra, esta reportagem sequer existiria.

A veterana Ulla Schneider, por exemplo, fundadora da Associação Paulista de Intérpretes de Conferência, a Apic, consultou o próprio presidente da aiic quanto à oportunidade de ser entrevistada a respeito de sua extraordinária experiência como intérprete do presidente Ernesto Geisel, mais de trinta anos atrás. Nem pensar. Ulla, que hoje mora em Bremen, Alemanha, cercada por cinco estantes repletas de dicionários, estava a bordo da carruagem que conduziu o presidente brasileiro ao Palácio de Buckingham, na visita oficial de 1976. Também tem lembranças ainda vívidas do trabalho mais bizarro de sua carregada biografia profissional. “Foi o acompanhamento das investigações sobre a identificação do cadáver de Josef Mengele, em 1985. Havia três grupos de investigadores – da Polícia Federal brasileira, da Polícia Federal alemã e do Instituto Simon Wiesenthal. Cada grupo tinha o seu intérprete e todos desconfiavam de todos -, menos os próprios intérpretes, que eram todos amigos e membros da Apic. 

Amigos ou não, não seria exagero afirmar que a grande maioria dos intérpretes de conferências tem uma relação de pouco apreço por Fernando Henrique Cardoso. De bem com a vida aos 78 anos de idade, e magnificamente instalado no seu centro de estudos da praça Ramos de Azevedo, com vista privilegiada para o viaduto do Chá, em São Paulo, o ex-presidente não precisa de muito incentivo para explicar o porquê dessa reserva da classe. “Não gosto de intérprete”, explica, sem maiores rodeios. “A conversa acaba não tendo fluxo, torna-se um sacrifício. Sei que o protocolo prefere quando o presidente usa intérprete, mas tenho horror à formalização. A química é muito melhor quando o encontro se dá sem intermediários. Você se mostra mais como realmente é. Até hoje sou muito amigo do Clinton, e Tony Blair me dá beijo quando me encontra, um pouco por conta disso. Sei que o meu inglês não é muito bom – aprendi-o por necessidade, ainda no Chile -, mas acabo conseguindo dizer mais ou menos o que quero. No conceitual me viro bem; mais difícil é acertar no concreto.”

Ao contrário dos profissionais bloqueados pelo voto de silêncio, o ex-presidente é um maná de histórias nas quais sabe rir de si mesmo. Certa vez, hospedado no mesmo hotel de Turim que Gorbachev, ele encontrou-o no corredor. Comemorava-se algo relacionado com a queda do Muro de Berlim. “Gorbachev desandou a falar comigo em russo com a maior naturalidade, sendo que eu não entendia palavra alguma. Como não tínhamos intérpretes por perto, assim ficou. Gosto muito dele. Tem uma filha extraordinária, médica e bonita. Fez as vezes de intérprete no jantar.” De Helmut Kohl parece ter recordações menos afetuosas. “Era um falastrão, não sabia nada de inglês e tinha estilo impositivo.”

É o próprio Fernando Henrique quem conta ter corrigido uma intérprete alemã por ocasião da inauguração de uma exposição sobre a Amazônia, em Bonn. “Do lado de cá não tínhamos ninguém, e vi que ela estava traduzindo algo errado. Parece pedante, pois como você sabe sei apenas duas ou três frases nessa intricada língua”, acrescenta, maroto. Explica ter estudado alemão cinco anos num curso particular perto da Beneficência Portuguesa de São Paulo, com a mulher Ruth e outros, mas não ter aprendido quase nada.

“A família até hoje se diverte relembrando um passeio que fizemos à região de Flandres, nos anos 60. Estávamos perto de Bruges, fazia um frio do cão, as crianças eram pequenas e achei boa idéia irmos todos tomar um chocolate quente. Entrei num café e pedi: Herr Ober, ich möchte bitte vier Tassen Schokolade … sehr kalt (Garçom, eu queria quatro xícaras de chocolate …. muito frio), contou, satisfeito por poder dar uma palhinha no idioma.

Também conta que, em Berlim, conseguiu esquecer o nome da avenida principal da cidade, a Kurfürsterdamm, e resolveu dar uma orientação genérica ao taxista: eine grosse Strasse mit einer bombardierte Kirche [uma grande rua com uma igreja bombardeada]. “Ora”, conclui com gáudio, “metade das ruas de Berlim tinha igrejas bombardeadas…”

Com o ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema entendeu-se a seu modo: “Italiano eu entendo, mas como não gosto de intérprete, prefiro imitar. Quando nos encontramos no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1999, ele falava em italiano comigo e eu respondia em português espanholado, devagar.”

Enquanto as conversas são mais sociais do que de conteúdo, ninguém reclama. Mas quando algum diálogo tange assuntos de Estado, e o presidente dispensa  a intermediação de intérpretes, o protocolo arranca os cabelos. É o próprio Fernando Henrique quem narra um episódio de voltagem alta. “Pouco antes da vinda do presidente da China Jiang Zemin a Brasília houve um telefonema do George Bush para  mim. Estávamos  em abril de 2001, ele havia tomado posse uns dois meses antes, e passava por sua primeira crise internacional. Pediu-me para fazer uma gestão junto a Zemin para desencruar o impasse criado  pela interceptação  de um avião de espionagem  americano  sobre solo chinês, com 24 tripulantes a bordo.”

 Jiang Zemin chegou a Brasília no dia 11 de abril, proveniente de Montevidéu. “Eu o recebi sozinho no meu gabinete, no final da tarde. Foi um encontro privado. Conversamos em inglês. Ao final, Zemin fez um comentário que não vou esquecer tão cedo. ‘Nós temos 5 mil anos de história. Quantos anos têm os Estados Unidos? Mal passam dos 200. E esse rapaz é muito jovem [referindo-se a George W. Bush]. Num episódio anterior em que as relações entre nossos países também passavam por um impasse, o Clinton me telefonou seis vezes seguidas. Esse aí só me ligou uma vez.'”

As coisas acabaram se acertando com um pedido de desculpas dos Estados Unidos. O comentário final de Fernando Henrique foi ao seu estilo: “No fundo foi mais difícil fazer Bush entender a posição chinesa do que falar com o chinês. Aliás, gostei muito dele, e só agora, lendo o diário secreto do primeiro-ministro Zhao Ziyang (Prisoner of the State: The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang) é que perdi um pouco do meu entusiasmo pela figura.”

O Palácio do Planalto da era Lula não poderia ser mais diferente. “Todo o setor de interpretação ficou enferrujado por oito anos de presidência fhc. Com a troca de comando a coisa acelerou”, observa um conselheiro do Itamaraty. Capturar o ministro Franklin Martins numa tarde de terça-feira para falar sobre Lula e seus intérpretes, com tantas questões mais calientes na agenda, já indica a simpatia que o governo atual tem em relação ao tema. “Temos uma trinca básica de intérpretes do presidente: a dupla Sérgio Ferreira/David Hathaway para o inglês, e Lúcio Reiner para o espanhol e francês”, explica o ministro. “É algo que exige imensa confiança e intimidade, mas uma intimidade profissional. Sérgio e David não conhecem a intimidade pessoal do presidente, por exemplo.” Franklin aponta para a química entre Sérgio Xavier Ferreira e Lula. “Ele dá fluência à fala do presidente. E nos momentos mais sociais, sente quando precisa e quando não precisa encostar. Como eles se conhecem há muito tempo, Sérgio sabe dar uma arredondada, pois alguma fala pode ter saído do ponto, saído solta.”

Em matéria de “arredondada”, poucos intérpretes devem ter passado por situação tão incômoda quanto o profissional do Foreign Office de serviço no dia em que a primeira-ministra Mar-garet Thatcher aceitou, contrariada, receber o presidente da República do Congo, o coronel Denis Sassou-Nguesso, um notório marxista. Segundo Charles Powell, seu assessor para assuntos de política internacional, o visitante chegou, foi conduzido ao salão de audiências e tomou assento defronte à chefe do governo britânico. Após lançar-lhe um olhar gélido, a baronesa abriu o diálogo: “Odeio comunistas.” Segundo o testemunho de Powell para a bbc, o intérprete arredondou a frase para “A primeira-ministra Thatcher diz que jamais deu pleno apoio às idéias de Karl Marx”.

Para Franklin Martins, o presidente Lula tem um termômetro próprio. “Ele é mestre em dizer coisas que não são comuns de serem ditas. É um peixe dentro d’água.” David Hathaway, que interpreta para o presidente em inglês e espanhol, sabe nadar com esse peixe. Economista fissurado em biodiversidade – é autor de uma pesquisa original sobre agrotóxicos publicada no livro Pragas e Venenos -, esse americano refugiado num pedaço de mato em plena região brasiliense prefere quando Lula fala de improviso. “É quando ele usa frases curtas, mais fáceis de serem acompanhadas. Quando lê discursos, tende a acelerar e se expressar numa cadência mais artificial.” Hathaway sobreviveu ao aprisionamento no Estádio Nacional do Chile durante o golpe militar de 1973 e, como tantos colegas, desembocou na profissão de intérprete por acaso. Mas dela extrai o essencial: “Até hoje não sei se dependemos mais de inteligência ou de talento”, diz. “Mas sei que ou você aprende rápido ou você afunda”, garante.

Opinião dos leitores

  1. Brasil e China são grandes
    parceiros comerciais e ambos possuem muitas oportunidades de negócios. Para
    aproveitar da melhor forma possível esta troca de informação, é necessário
    conhecer muito bem a língua, a cultura e as formas de negociação que cada país
    apresenta.  Sou brasileiro e atuo como
    intérprete mandarim – português – inglês, atendendo empresários brasileiros que
    vêm à china para participar de feiras (canton fair – feira de cantão) ou
    visitar fábricas e fornecedores. Moro na China a 3 anos e tenho um vasto
    conhecimento na geografia física e econômica da china, trabalho com importação
    e exportação, auxilio brasileiros que queiram fazer negócios com empresas
    chinesas. Sou certificado com o teste de proficiência de chinês com ênfase em
    vendas e negociação, estou utilizando a fluencia do chines para estar aplicando
    no meu trabalho. Faço pesquisas para achar fornecedores, auditoria de fábricas,
    controle de qualidade, inspeção de embarques e sourcing de produtos diversos.

    • Assessoria
    para negócios internacionais

    • Representação
    de empresas internacionais

    • Prospecção de
    fornecedores

    • Assessorias
    acompanhamento de todo o processo de importação e exportação

    • Participação
    de feiras internacionais


    Acompanhamentos viagem de negócios, visitação aos fornecedores e fábricas

    • Negociação em
    Chinês (Mandarim), Português e Inglês

    • Serviço de
    Tradução e Intérprete

     

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    Theo Paul Santana (张飞)

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Cidades

Semurb realiza demolição de ocupação irregular no Pitimbú

Foto: Divulgação

A fiscalização urbanística da Secretaria de Meio Ambiente (Semurb) com o apoio da Companhia de Serviços Urbanos (URBANA) realizaram a demolição de uma ocupação irregular no bairro de Pitimbu, entre as ruas dos Pintassilgos e a Maracanã, localizada na Duna 29. A operação aconteceu nessa quarta-feira (17).

A ocupação irregular tratava-se de uma antiga região de duna ocupada por cigarreira em área pública, que também é objeto de uma ação civil do Ministério Público do RN (MPRN), que visa a desmobilização de ocupações em áreas públicas e ocorreu em cumprimento a uma sentença judicial.

“O estabelecimento foi anteriormente notificado em 2022, todavia durante o processo houve uma troca de proprietários. Durante a última vistoria, que ocorreu neste mês, a equipe de fiscais notou uma desmobilização da estrutura, dessa maneira a Semurb atuou logo em seguida, finalizando a demolição e devolvendo a área verde ao município”, explica o diretor de fiscalização urbanística e ambiental da Semurb, Luiz Gutemberg.

A Semurb alerta que toda e qualquer construção realizada em em área pública é ilegal e passível de demolição, bem como de procedimento jurídico. Aprovada em 03 de dezembro de 2021, a Lei Municipal Nº 7.254 estabelece diretrizes para o uso e ocupação dos espaços públicos da cidade.

É importante ressaltar que a população deve respeitar as leis urbanísticas, evitando práticas ilegais que prejudicam o planejamento urbano e o bem-estar coletivo. E auxiliando a fiscalização denunciando para coibir esse tipo de infração e garantir o ordenamento adequado da cidade.

Para denúncias de ocupação irregular de área pública ou outras infrações urbanísticas, os cidadãos podem entrar em contato com a Ouvidoria da Semurb pelo (84) 3216-9829, de segunda a sexta, das 8h às 14h. Ou ainda pelo e-mail [email protected]. Nos fins de semana e feriados, através do número 190 do Ciosp.

Prefeitura do Natal

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Educação

Prefeitura entrega kits de robótica para alunos da rede de Educação em Natal

Foto: Joana Lima / Redação: Secom

A gestão municipal de Natal segue investindo forte na melhoria da infraestrutura da rede pública municipal de Educação, bem como na oferta de novas e modernas estratégias de ensino para seus alunos. Nesta quarta-feira (17), os estudantes da Escola Municipal Waldson Pinheiro, no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, zona norte, receberam das mãos do prefeito de Natal, Álvaro Dias, e da secretária municipal de Educação, Cristina Diniz, 10 kits de robótica, contendo 24 componentes, totalizando 4.800 peças. A secretaria municipal de Educação (SME) investiu R$ 1.925.600,00 (Um milhão, novecentos e vinte e cinco mil e seiscentos reais) na aquisição dos equipamentos.

“É uma felicidade enorme para mim fazer essa entrega dos kits de robótica. Estamos investindo, fortalecendo e ampliando as ações com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino da rede pública municipal. Nossos alunos estão tendo acesso ao que há de mais moderno e atual em matéria de robótica educacional. Isso representa muito em termos de aprendizagem, já que estamos falando de uma área onde várias disciplinas são abordadas”, detalhou o prefeito.

A robótica educacional é uma abordagem pedagógica que é utilizada como ferramenta de ensino e aprendizagem. Combina conceitos de Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática (STEAM) com atividades práticas, permitindo que os estudantes projetem, construam e programem robôs para resolver problemas e desafios diários diversos, tanto de forma mais específica como de forma mais generalizada. O material pedagógico, objeto desse projeto, deverá atender os estudantes de 10 (dez) escolas do Ensino Fundamental Anos Finais (6º ao 9º ano) das unidades de ensino da Rede Municipal do Natal.

A titular da SME destaque que a Robótica Educacional é uma estratégia de ensino bem positiva, pois estimula e propicia os estudantes com projetos que englobam a Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, áreas fundamentais para o desenvolvimento de habilidades necessárias no século XXI: “Os benefícios pedagógicos são imensuráveis. A robótica tem uma dinâmica bem particular, fazendo com que as turmas se integrem mais, faz com que nossos alunos mostrem toda sua criatividade, exige uma atencão e concentração extremas, enfim, é uma abordagem pedagógica moderna, eficaz e motivante”, disse Cristina Diniz, complementando que mais unidades de ensino da rede pública municipal de Educação também irão receber os kits de robótica: “É a primeira entrega, mas nós já estamos com um processo para que mais laboratorios de robótica sejam adquiridos e entregues, atedendo toda nossa rede”, finalizou.

 

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protestos

Grevistas protestam no Alvorada: ‘Lula só valoriza educação na mídia’

Foto: Lucas Borges Teixeira/UOL

Servidores federais e professores universitários foram à porta do Palácio da Alvorada nesta manhã (18) protestar por aumento salarial e reestruturação de carreira.

O que aconteceu
Mais da metade dos institutos federais estão em greve. São ao menos 470 campi dos 687 parados desde o início de abril, diz o Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica). Nesta semana, as universidades federais também aderiram. Pelo menos 15 estão em greve, afirma a Andifes, associação que reúne os reitores das universidades federais.

“Acorda, Lula!” Os grevistas chegaram por volta das 7h, mas não puderam ir até o portão do palácio, aberto à visitação só a partir das 10h. Cerca de cem pessoas ficaram na barreira, falando por alto-falante e megafone, pedindo que o presidente fosse até eles —mas não foram atendidos.

As categorias têm reclamado que as negociações com o Ministério da Educação não têm avançado. Servidores pleiteiam aumento salarial de 22%, dividido em três anos (7,06% em cada um, começando em 2024). Por enquanto, o governo ofereceu 9%, dividido em dois, a partir de 2025 (4,5% em cada um).

Uma nova rodada de negociações está marcada para amanhã (19), às 10h —será a quinta, segundo os grevistas. Ao UOL o MEC afirmou estar “atento às demandas” e que “segue em diálogo franco e respeitoso” com os grevistas.

– “Só valoriza na mídia”
Com maioria absoluta de eleitores de Lula, os manifestantes dizem sentir “frustração” com o governo. “A gente está entendendo que as mesas de negociação não têm avançado: só fica no discurso. A gente sai com eles dizendo que a recomposição é atrelada ao orçamento e que vai ter pauta não econômica atendida, mas nem isso acontece”, reclama Jennifee Web, diretora do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).

“Nosso eixo principal é a reestruturação da carreira. Estamos há 19 anos sem nenhuma proposta”, reclama Ivanilda Reis, coordenadora da Fasubra, a federação de sindicatos dos técnico-administrativos em instituições de ensino superior públicas. Segundo ela, a categoria tem a menor média salarial entre os servidores da educação federal: R$ 3.000 por mês.

Os servidores também criticavam a decisão do governo de construir cem novos institutos federais até 2026. Pediam que o dinheiro fosse para os salários dos funcionários e para a melhoria dos IFs já existentes.

UOL

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Geral

MOVEQUIP comemora 29 anos

Foto: Cedida

A Movequip Office está celebrando 29 anos de atuação. Uma empresa que tem sido referência no mercado de móveis para escritório no estado do Rio Grande do Norte.

Desde sua fundação em 19 de abril de 1995, pelos visionários Francisco Barbosa Filho e Erotides Vicelli Barbosa, a Movequip Office se destaca por trazer sempre o que há de mais moderno no mundo corporativo.

Sua missão é oferecer produtos de alta qualidade e garantia, aliados a preços competitivos e um atendimento ao cliente excepcional.

Uma empresa sempre comprometida em proporcionar a melhor experiência de compra para os clientes, ajudando-os a equipar seus espaços de trabalho de forma eficiente e moderna.

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Geral

Natal é apontada como um dos melhores destinos para turismo de natureza em 2024

Foto: Argemiro Lima/ Arquivo:Secom

Os investimentos executados pela gestão municipal para valorizar, fomentar e estimular o turismo em Natal, principal atividade econômica e responsável pela maior fatia de geração de emprego e renda renda na cidade, seguem rendendo frutos e colocando o Município como um dos principais destino do país. Nesta quarta-feira (17), o Ministério do Turismo publicou a 5ª edição da revista eletrônica Tendências do Turismo e a capital potiguar está na lista da Traveler’s Choice como um dos melhores destinos de natureza de 2024, figurando na 20ª posição entre 25 destinos globais mais procurados.

“Os avanços realizados pela nossa gestão para valorizar o turismo local são inegáveis. Mais uma vez, Natal figura entre os principais locais do Brasil e do Mundo para se visitar e curtir. Isso nos enche de orgulhos, mas ao mesmo tempo amplia a nossa responsabilidade de seguir trabalhar para manter a nossa cidade nesse patamar de destaque, contribuindo para atrair cada vez mais visitantes e tendo como consequência a geração de emprego, renda e oportunidades melhores para todos”, ressaltou o prefeito de Natal, Álvaro Dias.

A revista Tendências do Turismo, apresentou as principais tendências de tipos de viagem e destinos no país em alta, com o objetivo de auxiliar profissionais e gestores/as de turismo a conhecerem um pouco mais sobre as demandas atuais do setor e dos/as viajantes. Ao todo, são 05 macrotendências e 15 microtendências. As informações do boletim foram obtidas em relatórios de instituições e empresas nacionais e internacionais que trabalham com turismo e em reportagens de veículos especializados na temática.

De acordo com a secretária municipal de Turismo, Ohana Fernandes, essa conquista se deve, sobretudo, ao forte trabalho de prospecção e divulgação realizados pela gestão em feiras e eventos de turismo no Brasil e no Mundo: “As ações da Prefeitura nos mercados nacionais e internacionais têm trazido ótimos resultados para o turismo natalense. O trabalho de promoção da nossa cidade tem sido intenso e contínuo”, disse a titular da Setur.

Além das iniciativas de promoção e divulgação, os projetos estruturantes voltados para o turismo que estão sendo executados pela gestão municipal também estão contribuindo para o aquecimento do setor. Estão em andamento as obras do Complexo Turístico da Redinha, o enrocamento e a engorda da Praia de Ponta Negra, a requalificação da Pedra do Rosário, a revitalização do Centro Histórico e do bairro da Ribeira, e em breve, será iniciada a reurbanização da orla das praias da zona leste: “Temos uma beleza natural sem igual, mas precisamos oferecer ainda mais opções e atrativos aos natalenses e turistas, Investir em turismo é o caminho mais rápido para a cidade poder crescer e se desenvolver. Isso nós temos feito e não vamos economizar esforços para que Natal siga se destacando”, finalizou o prefeito.

Fonte: Prefeitura do Natal

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Brasil

Governo adia campanha de vacinação da Covid após atraso na compra de doses

Foto: Folhapress

O Ministério da Saúde adiou o começo da campanha nacional de vacinação contra a Covid por causa de atraso na compra das doses.

O plano era abrir a campanha aos grupos prioritários neste mês. Mas uma compra emergencial de 12,5 milhões de doses, disputada por Pfizer e Moderna, está travada na Saúde.

A nova projeção é começar em maio a imunização contra a Covid, mas não está certo que a nova compra será concluída e quando as doses serão entregues. A última aquisição de vacinas da Covid da Pfizer foi feita em 2022, ainda na gestão Jair Bolsonaro (PL). O governo Lula assinou contrato em 2023 para receber doses da Coronavac.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, disse que o plano é receber as doses cerca de 7 dias após a assinatura do contrato. Ela atribui o atraso na entrega a dificuldades no processo de compra.

Ethel afirmou que o ministério não tem mais doses da vacina bivalente no estoque. Ainda há cerca de 1,5 milhão de unidades do imunizante pediátrico, segundo a secretária.

Sem novos repasses de doses da Saúde, o município do Rio já avisou a população que não há vacinas disponíveis para pessoas com mais de 12 anos. Os governos do Rio Grande do Sul e do Maranhão também afirmaram que estão sem imunizantes para este público para entregar aos municípios.

Ethel reconheceu que a falta de doses mudou planos da pasta sobre o começo da campanha da Covid e disse que já havia publicidade pronta para estimular a vacinação. “Está tudo pronto, a gente achou que fosse dar tudo certo. É a primeira vez que a gente tem uma concorrência”, disse a secretária.

Após a publicação deste texto, Ela disse à Folha que a campanha não foi adiada, pois não havia sido anunciada. Ela também corrigiu uma informação que havia repassado e disse que o processo atual de compra não será anulado. O ministério afirma que o contrato deve ser assinado nos próximos dias.

Em fevereiro, a secretária ainda disse em publicação no X, antigo Twitter, que as doses atualizadas já estavam compradas e tinham previsão de chegar ao Brasil no mês seguinte, o que não ocorreu.

A postura negacionista do governo Bolsonaro na pandemia foi um dos principais alvos de crítica do presidente Lula (PT) durante a campanha eleitoral de 2022. Questionada sobre críticas que a atual gestão pode receber pela falta de doses, Ethel disse que o ministério fez todo o possível para acelerar o contrato.

“A gente depende da aprovação da Anvisa [do registro da vacina atualizada], que aconteceu em dezembro. A gente iniciou a compra, que está acontecendo agora. Tivemos essa questão do pregão, com duas concorrentes. Do ponto de vista do Ministério da Saúde, tudo o que poderia ser feito para que o processo fosse o mais célere possível, foi feito”, disse a secretária.

A vacina bivalente, atualmente entregue pela Saúde, não é a mais atualizada para variantes da doença. “Está vindo de forma muito atrasada [a dose preparada para a variante XBB], porque a gente já sabia desde o início do ano passado que as vacinas de Covid seriam atualizadas e começariam a ser oferecidas em setembro de 2023 nos Estados Unidos”, disse Monica De Bolle, professora de economia na Universidade Johns Hopkins e mestre em Imunologia e Microbiologia pela Universidade de Georgetown.

“O nome disso é má gestão. Por mais que a gente possa gostar da Ministra da Saúde, possa gostar da coordenadora do PNI [Programa Nacional de Imunizações], elas não estão gerindo bem a situação”, afirmou ainda.

O ministério discutiu a compra de vacinas bivalentes no segundo semestre de 2023, mas travou o processo por recomendação da área técnica de esperar o registro do modelo atualizado do imunizante, já adaptado à variante XBB.

Em dezembro, a Anvisa aprovou a atualização da vacina da Pfizer contra a Covid para esta variante. Em março, a agência concedeu o registro para o imunizante da Moderna também atualizada.

Ethel disse que o ministério começou a preparar uma compra emergencial de vacinas no começo de 2024. As propostas das empresas foram entregues no começo de março.

A secretária afirma que o registro da vacina da Moderna embaralhou a compra, pois se tornou a primeira disputa de empresas por um contrato de imunizantes da Covid do ministério —antes não havia concorrência, pois só uma farmacêutica detinha os registros para o modelo que a Saúde buscava.

Mais de um mês após a abertura da disputa e quase quatro meses após a Anvisa dar aval para a vacina atualizada, a Saúde ainda não assinou o contrato de compra das doses. O ministério afirma que deve fechar a aquisição nos próximos dias.

A secretária afirmou que a orientação do ministério é, para quem está em grupo de risco, tomar a vacina que estiver disponível no posto de saúde. “Você vai ficar protegido. E depois vai ter a oportunidade de tomar, ainda neste ano, outra dose”, afirmou.

Folha de S. Paulo

Opinião dos leitores

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Saúde

Natal amplia faixa etária da vacinação contra a dengue para pessoas com idade entre 4 e 59 anos

Foto: Assessoria SMS

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Natal ampliou, de forma temporária, a estratégia de vacinação contra a dengue para o público com idade entre 4 e 59 anos, a partir desta quinta-feira (18). A estratégia segue recomendação do Ministério da Saúde visando evitar a perda de doses do imunizante com data de validade até 30 de abril de 2024.

“A estratégia acontece de forma temporária para esse lote do imunizante com validade até o final do mês de abril, e segue enquanto houver estoque das vacinas nas unidades de saúde, pois essa é uma ampliação temporária para não acontecer perdas do imunizante”, reforça Veruska Ramos, chefe do Núcleo de Agravos Imunopreveníveis (NAI).

No município, a vacinação com o imunizante Qdenga (TAK-003) começou no dia 19 de fevereiro, tendo como público-alvo inicial pessoas com idade entre 10 e 14 anos. Dados da plataforma LocalizaSUS contabilizam 10.207 doses aplicadas para esse público até a quarta-feira (17), o que representa cerca de 21,93% da população alvo vacinada em Natal, o que motivou a ampliação para a imunização de pessoas com idade entre 4 aos 59 anos 11 meses e 29 dias, seguindo o limite especificado na bula do fabricante da vacina.

A imunização acontece nas Unidades Básicas de Saúde, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 15h. O esquema vacinal é composto por duas doses do imunizante Qdenga com intervalo de três meses entre elas.

A ampliação temporária das doses para o novo público segue a quantidade das vacinas disponíveis nas Unidades de Saúde e são referentes aos imunizantes recebidos no primeiro lote da vacina Qdenga (TAK-003), com validade até 30 de abril.

Quem pode se vacinar?
pessoas com idade entre 4 e 59 anos 11 meses e 29 dias de idade;

Quem não pode se vacinar?
Gestantes;
Lactantes;
Menores de 4 anos;
Maiores de 60 anos;
Imunossuprimidos.
Quais documentos apresentar para vacinação?

Documento de identificação pessoal;
Cartão de vacinação;
Menores de idade – Estar acompanhadas de um responsável maior de idade;
Apresentar comprovante de residência de Natal.

Fonte: SMS Natal

Opinião dos leitores

  1. Amplia mas não tem doses nas ubs….Eu mesmo fui em dois e já haviam encerrado os lotes q estavam próximos do vencimento….

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Brasil

Governo publica norma que proíbe uso de cartão de crédito em sites de apostas online

Homem faz compras no computador usando cartão de crédito. Foto: Unsplash/Rupixen

Uma portaria, publicada nesta quinta-feira (18), pelo Ministério da Fazenda, proibiu o uso de cartões de crédito ou outros instrumentos pós-pagos como forma de pagamento em sites de apostas online, as chamadas “bets”.

Também não serão aceitos pagamentos por meio de dinheiro em espécie, boletos de pagamentos, criptoativos, ou “qualquer outro meio de pagamento que não seja possível identificar a origem do recurso”.

De acordo com o texto, se trata de uma medida “prudencial de desestímulo ao endividamento das famílias brasileiras”.

A norma determina que só poderá transferir recursos para a realização de apostas por meio de PIX, TED, cartões de débito ou cartões pré-pagos e vindos de uma conta bancária cadastrada no nome do usuário.

A portaria integra um conjunto de regulamentações que pretendem disciplinar a atuação dos agentes operadores de apostas de quota fixa em território nacional, visando dar mais segurança aos cidadãos brasileiros que realizam apostas de temática esportiva ou de jogos on-line.

Outro ponto de regulamentação é com relação aos recursos dos apostadores dentro das plataformas. Por exemplo, os valores não poderão ser utilizados para cobrir despesas operacionais de responsabilidade das bets ou ser dados em garantia de dívidas dos agentes operadores, minimizando assim o risco de má gestão dos recursos financeiros.

A norma também fixa em 120 minutos o prazo máximo para as Bets autorizadas realizarem o pagamento dos prêmios devidos aos apostadores, a partir do encerramento do evento esportivo ou de jogo on-line.

O texto também estabelece a obrigação de que as plataformas tenham uma reserva financeira de R$ 5 milhões, como medida preventiva para o caso de insolvência ou iliquidez, destinada a garantir o pagamento de prêmios e demais valores devidos aos apostadores.

A ideia, segundo a Fazenda, é inobir a lavagem de dinheiro e outros delitos envolvendo o mercado de apostas no Brasil.
A CNN procurou o setor e aguarda posicionamento. O canal segue aberto para manifestações.

Fonte: CNN Brasil

Opinião dos leitores

  1. Essas Bets estão criando uma nova categoria, são os noiados do jogo. Essa turma está estourando o dinheiro das suas famílias p jogar

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Cidades

Prefeitura de Macaíba retoma emissão de carteiras de identidade

Foto: Reprodução Prefeitura de Macaíba

A Prefeitura de Macaíba, através da Secretaria Municipal de Trabalho Habitação e Assistência Social (SEMTHAS), está retomando a confecção de carteiras de identidade, graças a um convênio firmado com o Governo do Estado, com intermediação da Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte (FEMURN). Nesta sexta-feira, 19, o trabalho começará com atendimento de 100 pessoas no Centro Convivência Pax Club, a partir das 8h.

Antes da retomada contínua da confecção de carteiras de identidade em nosso município, haverá um mutirão para atender cidadãos e cidadãs que desejarem solicitar o documento, que ocorrerá nos dias 19 e 23 de abril, no Centro de Convivência Pax Club, a partir das 8h. Serão 100 unidades por dia de atendimento, respeitando a ordem de chegada. O serviço será totalmente gratuito.

Os (as) interessados (as) deverão comparecer ao referido local portando: Certidão de nascimento ou de casamento/divórcio original, RG antigo, CPF; NIS e comprovante de residência.

A partir de maio, os atendimentos deverão acontecer em todos os dias úteis da semana, no horário das 8h às 15h, em uma sala que será providenciada na sede da atual Multisecretaria, situada na Rua Frei Miguelinho, nº 178, Centro, por trás da sede da Prefeitura Municipal.

Os demais detalhes acerca da data e dos procedimentos para atendimento em relação à solicitação da Carteira de Identidade Nacional (CIN), anteriormente conhecida como Registro Geral (RG), serão informados em tempo oportuno nos canais oficiais da Prefeitura de Macaíba.

Fonte: Assecom-PMM

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Geral

SMS reforça cuidados diante das altas temperaturas e clima quente

Foto: Agência Brasil

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Natal, por meio do Vigilância em Saúde Ambiental dos Riscos Associados aos desastres (Vigidesastres), do setor de Vigilância Em Saúde Ambiental (VSA), pertencente ao Departamento de Vigilância em Saúde (DVS), reforça os cuidados que devem ser adotados pela população diante das altas temperaturas e variação climática, que acontece no município.

O período de verão oficialmente teve seu encerramento no dia 20 de março, porém as fortes temperaturas e ondas de calor reforçam os cuidados diários. “Essas condições climáticas podem impactar a saúde de toda a população, em especial os mais vulneráveis, como idosos, crianças, pessoas com problemas respiratórios ou de circulação, gestantes e população em situação de rua, por exemplo. Por isso, deve-se ficar atento a sinais de alerta como transpiração excessiva, fraqueza, tontura, náuseas, dor de cabeça, cãibras musculares e diarreia”, reforça Hélio Soares, enfermeiro coordenador do Vigidesastres.

Hélio reforça os cuidados que devem ser adotados, segundo o Ministério da Saúde, para evitar problemas ocasionados pelo calor:

Evite a exposição direta ao sol, em especial, nos horários de 10h às 16h;

Usar protetor solar;

Usar chapéus de abas e óculos escuros (especialmente pessoas de pele clara e crianças);

Usar roupas leves e que não retenham muito calor;

Diminuir os esforços físicos e repouse frequentemente em locais com sombra, frescos e arejados;

Em veículos sem ar-condicionado, deixe as janelas abertas e não deixe crianças ou animais em veículos estacionados.

Nas residências, precauções também podem ser adotadas para diminuir a sensação térmica. “Algumas dicas são utilizar menos roupas de cama e vestir-se com menos roupas ao dormir, sobretudo, para crianças e pessoas acamadas; se possível feche cortinas ou janelas mais expostas ao calor e facilitar a circulação do ar abrindo as janelas durante a noite”, reforça o coordenador do Vigidesastres.

A ingestão de líquidos é fundamental para a hidratação durante este período, tomando bastante água ou sucos de frutas naturais (sem adição de açúcar), mesmo sem sentir sede (principalmente para recém-nascidos, crianças, idosos e pessoas doentes, que podem não sentir ou demonstrar sede); além de evitar bebidas alcoólicas e com elevado teor de açúcar. “Se sentir tonturas, fraqueza, ansiedade ou tiver sede intensa e dor de cabeça, busque ajuda, principalmente se sofrer de uma doença crônica, condição médica ou tomar vários medicamentos”, recomenda o enfermeiro.

 

Vigilância em Saúde Ambiental dos Riscos Associados aos desastres (Vigidesastres)

O Vigidesastres atua em áreas estabelecendo estratégias para trabalhos em desastres de origem natural e tecnológica, atuando em acidentes como inundações, seca e estiagem, deslizamentos, dentre outros, além dos que envolvem produtos químicos, a emergência radiológica e nuclear.

A redução do risco de desastres é uma das funções essenciais da saúde pública, tendo como uma das funções considerar em seu processo de planejamento a inserção de ações para a prevenção, mitigação, preparação, resposta e reabilitação, visando reduzir o impacto dos desastres sobre a saúde pública.

Fonte: SMS Natal

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