Diversos

Diabo, aborto, crise econômica, abuso sexual, protestos: o papa Francisco se revela em livro

FACE HUMANA – O argentino Jorge Mario Bergoglio: mais perto do rebanho católico – Massimo Valicchia/AFP

TENTAÇÃO

“Na minha idade, deveria ter óculos especiais para ver quando o diabo está me rondando, tentando me fazer cair nos meus últimos momentos, uma vez que já estou no fim da vida. (…) Os demônios tocam a campainha, são amáveis, dizem ‘desculpas’, e ‘com licença’, mas mesmo assim tomam conta da casa.”

Se há um consenso em torno dos comentários do papa Francisco é que eles não caem no vazio — sempre despertam críticas de um ou de outro lado. Na Igreja Católica, instituição com mais de 2 000 anos de existência regida por dogmas, preceitos e tradições, ora Francisco acena com simpatia para divorciados e homossexuais e atiça antagonismos na ala mais conservadora, ora eleva a espiritualidade acima das questões terrenas, espalhando desânimo nas hostes mais progressistas. A polêmica tem a ver com a personalidade do pontífice nascido na Argentina: abdicando da costumeira aura de distanciamento que envolve os ocupantes do trono de São Pedro, Jorge Mario Bergoglio gosta de se apresentar como uma pessoa comum, que fala a língua dos fiéis, sem perder de vista a religiosidade e a solenidade inerentes ao líder máximo dos católicos. Equilibrar-se nessa equação significa, entre outras coisas, estar acima da divisão entre esquerda e direita que simplifica as relações no mundo atual.

Aos 83 anos, para sinalizar suas posições e seus pensamentos e evitar ficar marcado pelo conflito de visões acerca de sua pessoa, Francisco escreveu Vamos Sonhar Juntos (Editora Intrínseca), livro com lançamento mundial em 1º de dezembro, ao qual VEJA teve acesso, em que percorre temas de ordem moral, política, econômica e religiosa de forma clara e didática. “É a chave para a compreensão de seu pontificado”, diz Antonio Luiz Catelan, professor de teologia da PUC-Rio, membro da Comissão Teológica Internacional do Vaticano e da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé, da CNBB.

MULHERES

“Nunca mais nenhum tipo de abuso, seja sexual, seja de poder, seja psicológico, deve acontecer — fora ou dentro da Igreja. Vimos esse despertar também na sociedade: no movimento #MeToo, nos múltiplos escândalos envolvendo políticos poderosos, magnatas da mídia e homens de negócio.”

Quem é Francisco, afinal? Para começar, uma certeza: ele não se pauta por ideologias e prefere muitas vezes agir sozinho, com a diligência de soldado — lembrando que sua origem é jesuíta, ordem fundada por Santo Inácio de Loyola (1491-1556), ex-militar empenhado em associar a propagação e defesa da fé à obediência e disciplina férrea. Essa formação desenvolveu no papa uma firme intransigência em relação a suas convicções e modo de viver, traço que aparece até mesmo quando expõe suas fragilidades. O livro trata, sem meias-palavras, de tentação, associada, de novo sem rodeios, a uma figura fora de moda: o diabo, citado doze vezes. O demônio perdeu relevância na onda modernizadora do Concílio Vaticano II, marco da reforma da Igreja nos anos 1960. Pois Francisco é o primeiro pontífice dos últimos cinquenta anos a mencionar o capeta de forma enfática, direta e repetida, para que o recado fique claro. “Na minha idade, deveria ter óculos especiais para ver quando o diabo está me rondando, tentando me fazer cair nos meus últimos momentos, uma vez que já estou no fim da vida”, escreve.

Trata-se de uma linguagem totalmente diversa, por exemplo, da do papa que antecedeu a ele, Bento XVI, que nas poucas vezes em que mencionou o diabo o fez com eufemismos e citações eruditas. A maneira de se referir às tentações se encaixa em uma característica que difere Francisco de seus antecessores: a simplicidade, presente até na devoção — ele reza com o olhar posto na imagem santa, como um romeiro, em vez de reverenciá-la de olhos fechados, como é costume entre a maioria dos papas. Bento XVI falava baixinho e não se sentia à vontade em frente a multidões; Francisco sai do palco e se mistura, tocando, literalmente, nos fiéis. Ele e João Paulo II, outro grande comunicador, em suas vindas ao Brasil visitaram duas favelas no Rio. Em 1980, o papa polonês entrou em uma casa, onde se postavam religiosos, autoridades e moradores previamente autorizados. Em 2013, o argentino circulou por barracos apinhados, cumprimentou cada pessoa, pegou no colo e beijou as crianças. Mas postos lado a lado Bento XVI, o tímido conservador, e João Paulo II, o ativista extrovertido, é com o primeiro que o papa atual mais se assemelha. Ambos balizam sua ação em “valores inegociáveis” que lhes deram poder e força para remexer e começar a drenar mazelas perenes, como a pedofilia de sacerdotes, o abuso de freiras e os crimes financeiros do Vaticano.

ABORTO

“Ainda que muitos possam se aborrecer ao ouvir um papa voltar a esse tema, não posso ficar calado quando entre 30 milhões e 40 milhões de vidas são descartadas, todos os anos, através do aborto. A vida humana nunca é um fardo. Exige que criemos espaço para ela e não que a descartemos (…) Com o aborto nos negamos a ajustar as nossas prioridades.”

A face humana do papa Francisco, sensível às dores individuais, muitas vezes é confundida com uma suposta disposição — totalmente infundada — de revolucionar preceitos fundamentais da Igreja. Exemplo disso foi a permissão, em 2015, para que sacerdotes perdoassem mulheres que tivessem feito aborto. “Muitas delas levam no coração uma cicatriz por causa da escolha sofrida e dolorosa”, justificou. Em Vamos Sonhar Juntos ele esclarece que seu gesto humanitário não tem nem uma gota de aceitação do ato de encerrar a gravidez. “Não posso ficar calado quando entre 30 milhões e 40 milhões de vidas são descartadas, todos os anos, através do aborto. A vida humana nunca é um fardo”, escreve.

No mesmo contexto da solidariedade com o sofrimento, sem abdicar de dogmas estabelecidos, sua exortação apostólica Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), de 2016, destinada a apontar caminhos para o clero, estabelece que a separação de um casal pode se tornar moralmente necessária quando se trata de defender o cônjuge mais frágil ou os filhos pequenos. Como conciliar tal diretriz com a indissolubilidade do casamento? Embora não fale explicitamente do assunto no livro, o papa deixa claro: o que está nas Escrituras é intocável — mas o tom pode mudar, permitindo que se estenda a mão a quem sofre. A união indissolúvel entre homem e mulher também é obstáculo intransponível a qualquer revisão da doutrina em relação ao matrimônio gay — o que não impediu que Francisco desse aí mais uma amostra de humanismo mesclado com pragmatismo, sua marca registrada. O documentário biográfico Francesco, do cineasta russo-americano Evge­ny Afineevsky, apresentado no Festival de Cinema de Roma, exibiu o pontífice afirmando que “os homossexuais são filhos de Deus e têm direito a formar uma família”. O Vaticano apressou-se a explicar que os comentários “foram tirados de contexto e não sinalizam uma mudança”. Francisco interpreta a doutrina de forma estrita, mas com o olhar da compaixão.

TRABALHO

“A crise econômica nos oferece uma oportunidade de examinarmos nosso estilo de vida, mudarmos hábitos destrutivos e encontrarmos maneiras mais sustentáveis de produzir, fazer negócios (…). É bem possível que seja também a hora de considerar uma redução no horário de trabalho, com ajuste salarial correspondente, o que paradoxalmente pode aumentar a produtividade.”

Como não podia deixar de ser, a pandemia é vastamente abordada no livro, não pelo componente de tragédia imposta ao planeta em 2020, mas, sim, pelas mudanças positivas que tende a trazer para a humanidade. Francisco ressalta os ensinamentos que a crise deflagrada pelo novo coronavírus pode aplicar sobre a maneira de nos relacionarmos e lidarmos com as inevitáveis turbulências da vida. “Cometeremos um grande erro se tentarmos voltar para um estado anterior à pandemia”, afirma. A mudança a que se refere passa pela reflexão — e pelo apoio inequívoco — a movimentos que convulsionaram as ruas e as redes sociais nos últimos tempos. A respeito da condenação do assédio de mulheres, ele diz: “Nunca mais nenhum tipo de abuso, seja sexual, seja de poder, seja psicológico, deve acontecer — fora ou dentro da Igreja. Vimos esse despertar também na sociedade: no movimento #MeToo”. Sobre o rechaço ao preconceito racial, ressalta a indignação provocada pelo policial de Minneapolis, nos Estados Unidos, que matou um negro pressionando o joelho em seu pescoço: “Saber que somos um povo é ter consciência de algo maior que nos une (…). Vimos isso nos protestos em reação ao assassinato de George Floyd, quando muitas pessoas que não se conheciam foram para as ruas unidas por uma saudável indignação”.

Francisco foge do padrão, sem negociar valores, até no ponto em que a doutrina cristã se desvia das posições conservadoras ao condenar o capitalismo e a acumulação de riquezas — vistos como antiéticos e distantes de Deus. No século IV, Santo Ambrósio (340-397) já dispunha, sobre a concentração de renda: “A terra foi dada a todos, e não apenas aos ricos”. O papa atual se atém a esses preceitos e não perde a chance de condenar a desigualdade social, mas, de novo, pondera que as mudanças trazidas pelo mundo agora chacoalhado podem reformular as relações de trabalho com benefícios para todos. “A crise econômica oferece uma oportunidade de examinar nosso estilo de vida, mudar hábitos destrutivos e encontrar maneiras mais sustentáveis de produzir, fazer negócios (…). É bem possível que seja também a hora de considerar uma redução no horário de trabalho, com ajuste salarial correspondente, o que paradoxalmente pode aumentar a produtividade.” Só Francisco para resvalar a Igreja na economia liberal e sair incólume.

PROTESTOS

“Saber que somos um povo é ter consciência de algo maior que nos une, algo que não pode ser reduzido a uma identidade legal ou física partilhada. Vimos isso nos protestos em reação ao assassinato de George Floyd, quando muitas pessoas que não se conheciam foram para as ruas unidas por uma saudável indignação. (…) Se me perguntassem qual é, hoje em dia, um dos desvios do cristianismo, diria sem hesitar: o esquecimento de que pertencemos a um povo.”

Vamos Sonhar Juntos foi escrito em primeira pessoa por Francisco, com texto final organizado pelo britânico Austen Ivereigh, autor de duas biografias do papa. Juntos, eles criaram uma obra filosófica que ultrapassa as referências religiosas e se aproxima do cotidiano das pessoas. Tanto pelos temas quanto pela linguagem acessível, o livro pode ajudar o papa em sua missão mais difícil: conter a sangria de fiéis da Igreja Católica para as religiões evangélicas. No mundo, o ponteiro já é positivo — nos últimos cinco anos, o número de católicos aumentou 6%. No Brasil, ele continua caindo, mas desde 2013 a retração desacelerou. Reverter a perda do rebanho no maior país católico do mundo — eis um sonho bom para Francisco, o papa que tempera intransigência com sensibilidade como nunca se viu no Vaticano.

Publicado em VEJA de 25 de novembro de 2020, edição nº 2714

Opinião dos leitores

  1. O Papa Francisco é um grande homem, verdadeiro Cristão autêntico, Cristão raíz!
    Que Deus o abençoe e abençoe o seu mimistério.

  2. Está ordem religiosa é a grande causadora do atraso social,economico e cultural do Sul da Europa dos países da etnia Latina:Portugal,Espanha,Romênia,são países paupérrimos e também o Sul da França e o sul da Itália são regiões pobres comparando com as suas regiões nortes que tiveram grandes influências diretas das etnias germânicas,pois segundo essa igreja católica a usura,o lucro era um grande pecado,as pessoas tinham medo de ganhar dinheiro e de acumular de dinheiro e de multiplicar dinheiro e de acumular grandes riquezas materiais e patrimoniais,pois se fossem ricos jamais entrariam no paraíso do Reino dos céus,era mais uma forma de controle dos nobres do império romano e depois no Império Romano-germânico e dos burgueses;comerciantes e fazendeiros nos seus grandes feudos para controlar a maioria da população paupérrima principalmente do Sul da Europa,ocorrendo o mesmo na América portuguesa,o atual Brasil e na América espanhola do México até a Argentina,essa instituição religiosa conservadora e manipuladora que sempre serviu desde a sua origem europeia e depois na defesa das elites das metrópoles sobre suas colônias portuguesas e espanholas e também das elites burguesas;comerciantes e de fazendeiros,esse pensamento de impor o medo como forma de controlar e de manipular as pessoas extremamente pobres acabou com os países latinos europeus e latinos americanos que até hoje as pessoas possuem o temor de prosperar e de acumular grandes riquezas materiais e patrimoniais se não quando morrerem e caírem na cova,não vão abrirem as portas e entrarem no chamado paraíso do Reino celestial.

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Geral

CPI para investigar o STF é inadmissível, diz Gilmar Mendes

Foto: Sergio Lima/Poder 360

O decano do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, disse que uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a Suprema Corte é “inadmissível”.

“A princípio, uma CPI que investigasse atos do Supremo Tribunal Federal seria inadmissível. Seria inconstitucional”, afirmou em entrevista ao SBT divulgada na quinta-feira (18).

O ministro também disse não acreditar que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), “tenha se pronunciado no sentido” de uma CPI para investigar o STF.

“Tenho a impressão de que a gente deve separar aquilo que é ruído, eventualmente é borbulha, é espuma, do que aquilo que efetivamente é sinal. Entendo que aqui há muita borbulha. Há muito o ruído, desinformação, fake news. Mas isso não corresponde à realidade“, disse.

Poder 360

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Geral

PALHAÇADA: Após horas de atraso, Voepass cancela mais um voo Mossoró-Natal e oferece ônibus para levar passageiros

Foto: Gilnete Ferreira

Após horas de atraso, nesta sexta-feira (19), a Voepass cancelou mais um voo Mossoró-Natal.

Depois de horas aguardando a aeronave decolar do Aeroporto Dix-Sept Rosado, em Mossoró, para um voo que duraria cerca de 40 minutos, os passageiros foram informados que a empresa aérea iria disponibilizar um ônibus para levá-los até Natal.

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Geral

FALTA POUCO: barragem de Umari, em Upanema, está com 96,81% da capacidade total

Foto: reprodução/Igarn

A barragem Umari, localizada em Upanema, acumula, neesta sexta-feira (19), 283.461.651 m³, percentualmente, 96,81% da sua capacidade total, que é de 292.813.650 m³. Faltando apenas 31 centímetros para o reservatório completar 100% da sua capacidade. A última vez que o reservatório sangrou foi em 09 de abril de 2023.

Outros reservatórios

O maior reservatório do RN, a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, acumula o percentual de 76,21%. Segundo o Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte (Igarn), esse é o maior número registrado desde 2012.

Já a Barragem Santa Cruz do Apodi está com 472.033.500 m³, do total de 599.712.000 m³, percentualmente, 78,71% da sua capacidade total.

Ponta Negra News

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Gastronomia

PAPO DE FOGÃO RAIZ: Prepare-se para uma verdadeira festa de sabores nesta semana

Prepare-se para uma verdadeira festa de sabores no Papo de Fogão Raiz desta semana! Estamos trazendo o melhor da culinária tradicional com um suculento Chambaril, preparado pela talentosa D. Joana França do Restaurante Cobra Choca em Natal/RN. E como acompanhamento perfeito, não poderia faltar a nossa dica especial: um irresistível Arrumadinho, elaborado pelo Chef Marcos Rios do Boteco do Pernambuco, também em Natal/RN. Junte-se a nós e deixe-se levar por essa experiência gastronômica única!

Patrocínio: Prefeitura do Natal/Programa Djalma Maranhão, Hospital do Coração, IOHN, BSaúde/Paulimedical e Midway Mall

SÁBADO
BAND
MARANHÃO, 7h
CEARÁ, 8h
PIAUÍ, 8h
MATO GROSSO, 8h30
ALAGOAS, 10h
PARAÍBA
TV CORREIO/RECORD, 13h30

DOMINGO
RIO GRANDE DO NORTE – TV TROPICAL/RECORD, 10h

Ou no nosso canal do YouTube
http://youtube.com/c/PapodeFogao

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Música

Giannini surpreende o estado com mais de 20 mil pessoas na gravação do seu DVD na Praça Cívica em Natal

 

Mais de 20.000 pessoas foram prestigiar o DVD de Giannini na Praça Cívica, em Natal. Uma mega estrutura foi montada, com acesso gratuito, muitas pessoas se movimentaram do estado inteiro pra ir prestigiar o ‘Príncipe da sanfona’ e as participações mais que especiais, Dorgival Dantas, Zezo, Walkyria Santos, Chambinho do Acordeon, Maria Cecília e Rodolfo, Thúllio Milionário e Raí Saia Rodada.

A movimentação foi grande, a praça estava linda, cheia de gente feliz! Giannini é um artista potiguar, natural de Olho d’Água do Borges e que vem ganhado o cenário musical de maneira mais expressiva, nos representando no Brasil e no Mundo. A produção do evento ficou por conta da Tawfic Produções.

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Educação

GREVE É MANTIDA: Governo Lula apresenta novas propostas; docentes e técnicos vão decidir fim das paralisações na próxima semana

Greve na educação: Técnicos das universidades Federais fazem manifestação próximo ao Palácio do Alvorada. — Foto: Cristiano Mariz

As categorias dos técnicos administrativos da educação e dos docentes receberam nesta sexta-feira novas propostas do governo para o fim das greves nas universidades e institutos federais. Os trabalhadores informaram que uma decisão será tomada na semana que vem e, até lá, as paralisações estão mantidas.

Neste momento, pelo menos 52 universidades, 79 institutos federais (IFs) e 14 campus do Colégio Pedro II estão em greve. Parte pela mobilização dos docentes, parte pela dos técnicos e outra parte pelas duas categorias.

Nesta sexta-feira, o governo federal apresentou uma proposta idêntica aos dois sindicatos: 9% em janeiro de 2025 e mais 3,5% em maio de 2026. A reivindicação dos técnicos administrativos é de 37% de reajuste em três anos. O impacto dessa medida é de R$ 8 bilhões. Já o dos professores é de 22%, ainda sem impacto divulgado. Nos dois casos, com aumentos já em 2024.

De acordo com Daniel Farias, da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), a proposta gerou revolta na categoria. Isso porque ela ficou aquém do esperado pelos grevistas e especialmente pela outra categoria, a dos docentes, receber um percentual idêntico.

— Em 2015, houve reajuste aos docentes que não chegou aos técnicos. Por isso, estamos com os salários ainda mais defasados. Somos a maior categoria do funcionalismo público e temos os menores salários — afirma Farias, que ocupa a coordenação Jurídica e de Relações de Trabalho da Fasubra.

Entre os técnicos administrativos, há cinco níveis salariais: do A (funções como porteiro, auxiliar de serviços gerais) ao E (psicólogos, assistentes sociais, biólogos, administradores, etc). A variação de remuneração base vai de R$ 1,5 mil a R$ 4,3 mil. A maior parte da categoria (70%) está concentrada nos níveis E e D (profissões de nível médio, como técnico administrativo e auxiliar de enfermagem, com salários base de R$ 2,3 mil).

— Os 9% de um docente, que recebem em torno de R$ 20 mil, já dão cerca de R$ 1,5 mil. Foi uma proposta indecorosa do governo — afirmou.

A proposta também prevê uma reformulação da carreira desses servidores. Na avaliação de Farias, esse foi um pequeno avanço, em cinco de 12 pontos pedidos pela categoria, que não geram custos ao governo ou que esse montante é muito baixo, segundo ele.

Entre os docentes, a proposta ainda vai ser discutida. De acordo com Gustavo Seferian, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), o avanço nas negociações entre os docentes foi “tímido”.

— É ainda uma movimentação tímida, mas revela o quanto a greve é meio eficaz na conquista de avanços e vitórias em defesa do serviço público. A crescente mobilização aponta certamente que há mais que podemos conquistar. A proposta será avaliada pelas bases em rodada de assembleias que ocorrerão entre os dias 22 e 25 de abril — afirmou.

A proposta anterior, das duas categorias, era de reajuste na base salarial de 4,5% em 2025 e 4,5% em 2026. A nova proposta foi apresentada em reunião da mesa de negociação com os técnicos, realizada na Esplanada dos Ministérios.

Em 2023, o governo concedeu a partir de junho um reajuste de 9% para todas as categorias, com impacto anual próximo de R$ 4,5 bilhões. Agora, há pressão para um novo aumento neste ano.

Para 2024, após negociações, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) reservou no orçamento cerca de R$ 3 bilhões para um reajuste de todos os servidores. A decisão foi focar nos auxílios e não nos salários, medida considerada mais equitativa.

A lógica é a seguinte: se o governo desse 5% de aumento nos salários, quem ganha R$ 5 mil receberia um adicional de R$ 250 e quem ganha R$ 10 mil receberia R$ 500. Jás os benefícios têm o mesmo valor para todos os servidores.

A proposta de correção nos valores dos benefícios está incluindo:

  • Auxílio-alimentação, de R$ 658 para R$ 1 mil (aumento de 51,9%);
  • Auxílio-saúde per capita, de R$ 144,38 para cerca de R$ 215;
  • Auxílio-creche, de R$ 321 para R$ 484,90.

O Globo

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Política

Vereadora do PT em Campinas-SP destina verba pública para festa com nudez e simulação de sexo

Foto: Câmara Municipal de Campinas

Vereadores da Câmara Municipal de Campinas aprovaram na quinta-feira 18 a instauração de uma Comissão Processante (CP) contra Paolla Miguel (PT). A decisão se deu depois de a vereadora ter destinado verba pública para a Festa Bicuda, em que houve o registro de nudez, simulação de sexo e suposto incentivo ao uso de droga ilícita.

A abertura de uma CP foi aprovada com 24 votos a favor e 6 contra. Foram definidos os parlamentares que vão integrar a comissão que investigará Paolla Miguel: a presidente é Guida Calixto (PT) e o relator é Gustavo Petta (PCdoB). O vereador Edivaldo Cabelo (PL) também integrará o grupo.

O pedido para a criação da CP foi protocolado pelo vereador Nelson Hossri (PSD) na última terça-feira, 16. Ele justificou que Paolla Miguel deve ter o mandato cassado por infringir o Código de Ética da Câmara de Vereadores de Campinas e a Lei Orgânica do Município.

Na tribuna da Câmara Municipal, Paolla Miguel, que estava presente na Festa Bicuda, disse que destinou a verba via emendas impositivas. Nas redes sociais, disse que o dinheiro foi para parte da estrutura física da festa, para atender a “população que desejou comparecer ao evento, incluindo banheiros químicos, apoio logístico e montagem de palco.”

“Evento que já estava organizado pelos seus produtores, que são responsáveis pela curadoria, contratação de artistas e pagamento de cachê”, disse. “Nenhum ente público, nem nosso mandato, nem a Secretaria de Cultura tiveram conhecimento prévio do conteúdo das apresentações.”

Paolla Miguel declarou que só depois do evento é que chegou o “conteúdo de algumas músicas, e a apresentação de uma das artistas teria sido alvo de críticas de parte da comunidade local.”

“Críticas que são naturais em uma sociedade diversa e democrática e que serão notificadas aos produtores pela Secretaria de Cultura para que tenham ciência do ocorrido e possam explicar o que aconteceu para avaliar suas futuras apresentações”, disse.

Em outra publicação nas redes sociais, a vereadora Paolla Miguel justifica a abertura de uma CP como “violência política” dos demais colegas de Casa. “Não vamos tolerar essa perseguição ao nosso mandato popular”, acrescentou.

Revista Oeste

Opinião dos leitores

  1. O interessante desse povo é achar que eles podem tudo, esquecem que essas farras sao financiadas com dinheiro do povo, que deveriam ser destinadas a melhoria das condições de vida da população, quer financiar bacanal, financie, vá em casa e peça a painho ou vá ao banco e faça empréstimo, com o nosso é de lascar.

    1. Muito pior é quem vota nessa quadrilha. Porque vota sabendo o que vem pela frente. Coisa boa não é.

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Geral

Defesa de Bolsonaro pede ao STF anulação da operação que apura suposto golpe de Estado

Foto: RICHARD LOURENÇO/REDE CÂMARA

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro apresentou ao STF (Supremo Tribunal Federal), na quinta-feira (18), representada pelo partido Progressistas, um pedido para anular a Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro após ordem do ministro Alexandre de Moraes, na qual corporação investiga a suposta organização de um golpe de Estado em 2022 em prol do candidato derrotado e ex-presidente, com a participação de ex-assessores, militares e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

A peculiar ‘decisão’ proferida pelo ministro Alexandre de Moraes verdadeiramente é um ato inquisitivo que acumula inadmissivelmente os teores de uma portaria de instauração de inquérito policial e de uma decisão judicial deferindo a realização oitivas e busca e apreensão, dentre outras medidas cautelares, incluindo a mais grave delas, a decretação de prisões preventivas, tudo isso travestido de despacho determinativo de autuação de ‘petição’”, disse.

As investigações apontam que o PL foi “instrumentalizado” para financiar e comandar a estrutura de apoio à suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo a PF, 16 militares são investigados por pelo menos três formas de atuação. A primeira é a produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto à segurança das eleições de 2022 para estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas. O segundo ponto de atuação dos militares investigados pela PF seria de apoio às ações golpistas, reuniões e planejamento para manter os atos em frente aos quartéis, incluindo mobilização, logística e financiamento para auxiliar os manifestantes.

Havia ainda o “Núcleo de Inteligência Paralela”, que seria formado pelos militares Augusto Heleno, Marcelo Camara e Mauro Cid. Eles fariam a coleta de dados e informações que auxiliassem a tomada de decisões do então presidente da República na consumação do golpe. Bolsonaro teria pressionado os ministros do governo, durante reunião realizada em 5 de julho de 2022 para que promovessem e replicassem “desinformações e notícias fraudulentas” quanto à confiança do sistema eleitoral brasileiro, revela o processo.

R7

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Brasil

Governo Lula põe sob sigilo lista de servidores que ocuparam 57 quartos de hotel de luxo em Londres

Lula com o primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, em Londres Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou em sigilo pelos próximos cinco anos a lista das pessoas que ocuparam 57 quartos do hotel de luxo JW Marriott Grosvenor House, em Londres. Ao todo, o governo brasileiro gastou R$ 1,47 milhão com o estabelecimento, sendo R$ 140 mil para duas salas de reuniões no hotel.

O chefe do Poder Executivo brasileiro esteve na Inglaterra em maio para a coroação do rei Charles III, que ascendeu ao trono após a morte de sua mãe, Elizabeth II. O governo foi procurado por meio da Secretaria de Comunicação da Presidência, mas ainda não se manifestou.

Além da comitiva oficial, também ficaram no hotel os integrantes do chamado Escalão Avançado (Escav) que é responsável pela preparação da viagem. O grupo permaneceu no local de 26 de abril até 9 de maio. Lula chegou à cidade em 5 de maio – o evento, na Abadia de Westminster, ocorreu no dia seguinte. O quarto em que o presidente ficou hospedado com a primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, saiu por R$ 43.986,60 a diária. Ao todo, 80 pessoas participaram da viagem.

“As Comitivas Técnica e de Apoio são constituídas por servidores que atuam em áreas meio para a viabilização dos eventos com a participação do presidente da República. Assim, a relação dos servidores que compõem estas comitivas são informações que são classificadas pelo Gabinete de Segurança Institucional no grau de sigilo reservado, com fundamento no art. 25, VIII, do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012″, disse a Casa Civil em resposta a um pedido da Lei de Acesso à Informação (LAI), em 15 de fevereiro deste ano. Durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, o GSI já adotava conduta de classificar como reservados os relatórios de viagens nacionais e internacionais dos presidentes da República. Os documentos só são liberados cindo anos depois.

Mesmo tendo negado acesso à lista das pessoas que se hospedaram no hotel, a Casa Civil marcou a resposta como “acesso concedido”, como se tivesse entregado a informação pedida. Como regra, todos os documentos do governo devem ser de acesso público – o chamado princípio da publicidade está inscrito na Constituição. No entanto, a Lei de Acesso à Informação estabelece algumas exceções em que o acesso pode ficar restrito. O grau de sigilo pode ser reservado (cinco anos); secreto (15 anos) ou ultrassecreto (25 anos).

Em alguns casos, a Lei de Acesso também permite ao governo restringir o acesso a informações por até 100 anos, sempre que se trate de “informações pessoais (…) relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem”, independentemente da classificação de sigilo. Como mostrou o Estadão, o governo Lula impôs o sigilo de 100 anos a 1.339 pedidos, que incluem desde visitas recebidas por Janja e Lula no Palácio da Alvorada até telegramas diplomáticos sobre o jogador de futebol Robinho, condenado na Itália por estupro.

A prática também era comum no governo de Jair Bolsonaro (PL), que impôs sigilo de 100 anos a informações requisitadas em 1.108 pedidos da Lei de Acesso à Informação, segundo dados levantados pela ONG Transparência Brasil. De acordo com relatório da organização, em vários casos houve mau uso do dispositivo da Lei de Acesso por parte do governo. É o caso de informações sobre entrada e saída de pessoas em prédios públicos, informações sobre a saúde de Bolsonaro durante a pandemia de covid-19; e um processo disciplinar já encerrado contra um ministro de Estado.

Durante a campanha eleitoral de 2022, Lula prometeu acabar com o mecanismo do sigilo de 100 anos, e tirar da obscuridade informações classificadas pelo então adversário. “No dia 2 de outubro, o povo vai te mandar pra casa. Farei um decreto para acabar com seu sigilo de 100 anos para saber o que esse homem esconde por 100 anos”, disse Lula a Bolsonaro num debate televisivo realizado pela TV Globo em setembro de 2022. “É uma coisa que nós vamos ter que fazer: um decreto, um revogaço desse sigilo que Bolsonaro está criando para defender os amigos”, disse Lula a uma rádio do interior de São Paulo, em junho de 2022.

GSI nega lista de passageiros em viagens oficiais

O GSI costuma recusar-se a fornecer a lista de pessoas que voam junto com o Presidente da República durante as viagens oficiais. A alegação é a de que a “exposição indiscriminada” dos nomes traria “prejuízos e vulnerabilidades para a atividade de segurança presidencial”, como disse a pasta em resposta a um pedido da Lei de Acesso de abril de 2023, sobre a comitiva de Lula à Argentina e ao Uruguai, em janeiro daquele ano.

Tudo o que fica público, nestes casos, é a lista da comitiva oficial, que geralmente é composta apenas por uns poucos ministros. Essa lista é publicada no Diário Oficial da União. Além da lista de integrantes da comitiva para Argentina e Uruguai, desde janeiro de 2023, o GSI negou acesso à lista de passageiros que foram para a China e para Abu Dhabi, em abril. Na viagem a Londres, a comitiva oficial era composta apenas pelo assessor internacional da Presidência Celso Amorim; pela primeira-dama Janja e pelo embaixador do Brasil no Reino Unido, Claudio Frederico de Matos Arruda.

Diferentemente de outras viagens oficiais de Lula, a ida a Londres não incluiu uma pauta de negócios relacionada a diferentes áreas do governo — outras viagens, que tinham escopo mais amplo, acabaram incluindo um número maior de participantes. Em dezembro de 2023, a delegação brasileira à Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP-28, tinha 1.337 pessoas, incluindo empresários e políticos. Deste contingente, cerca de 400 viajaram com recursos do governo federal. Na viagem à China, em abril passado, foram cerca de 73 autoridades, entre integrantes do governo, políticos e sindicalistas. A Buenos Aires, em janeiro passado, viajaram com Lula cerca de 20 pessoas, incluindo seis ministros, um congressista (o deputado Marco Maia, do PT-RS), assessores e o fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert.

Estadão Conteúdo

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  1. A esquerda é sempre crítica quando não é alguém da panelinha, não era o asqueroso que criticava o Bozo pelo sigilo.

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Política

Lula se queixa a líderes que PT não defende o governo

Foto: Hugo Barreto/Metropóles

Lula se queixou aos líderes de governo na reunião desta sexta-feira (19/4) de que o Partido dos Trabalhadores precisa se empenhar mais na defesa do governo.

Lula pediu que Jaques Wagner, José Guimarães e Randolfe Rodrigues, líderes no Senado, na Câmara e no Congresso, cobrem os petistas a se engajar mais na defesa das pautas do governo.

O presidente aprofundará o assunto numa reunião que terá na semana que vem com Gleisi Hoffmann, presidente do PT. O encontro é para tratar de eleição, mas Lula também fará a crítica a ela.

Guilherme Amado, Metrópoles

Opinião dos leitores

  1. Não tem como defender o indefensável, jumento! Já foi esse tempo. Hoje não é só a globo que mostra o que acontece no Brasil. Por isso você é louco pra acabar com redes sociais.

  2. Como esse caipira quer que a corja defenda O SEU governo? Grande parcela do PT já notou que ele só pensa nele e em mostrar o mundo a janja, ademais, 90 % se enquadram como burros e vagabundos.

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