Josias de Souza
Movido a vagas intuições e densas expectativas, o mercado financeiro levou ao pé da letra a última entrevista de Dilma Rousseff, veiculada no fim de semana.
Em conversa com cinco jornalistas, Dilma foi inquirida sobre a sobrevalorização do real. Evocou a crise que assedia a Europa e o impasse da dívida dos EUA. E sapecou:
“Você acha que a gente pode fazer alguma coisa num momento em que não se sabe se o pessoal está brincando na beira do abismo ou se, de fato, está criando uma rede de proteção para não cair no abismo?”
Ficou entendido que a prioridade de Dilma é combater a inflação sem comprometer demasiadamente o crescimento econômico. Câmbio? Coisa para o futuro.
Ao decodificar as palavras da president, o mercado levou o dólar do refrigerador para o freezer. E subiu a temperatura do micro-ondas em que se encontra o real.
A cotação do dólar foi a R$ 1,543. Dólar assim, tão barato, é coisa que não se via desde janeiro de 1999.
Na contramão de Dilma, o ministro Guido Mantega (Fazenda) apressou-se em declarar que “o câmbio preocupa”.
Disse que o governo dispõe de “medidas duras” para se contrapor ao super-real. Faltou combiner com a chefe.
Dilma soou nesta segunda (25) em timbre parecido com o da semana passada.
“Não tenham dúvida de que seremos capazes de defender a economia brasileira de todas as ameaças internas e externas…”
“…Estou me referindo à ameaça da inflação, por exemplo, que corrói a renda do trabalhador e que saberemos responder à altura.”
Nenhuma palavra sobre o câmbio. Quer dizer: o dólar deve permanecer no freezer. O real, para desassossego de Mantega, no micro-ondas.
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