Tribuna do Norte
“Passo o dia inteiro dizendo que não tem ou está faltando”. A frase é de um servidor da farmácia localizada na unidade de saúde do bairro Cidade da Esperança. É com um “não” que ele responde à maioria das pessoas que vai ao local em busca de medicação. Os antidepressivos, anticonvulsivos e antidiabéticos lideram a lista dos medicamentos em falta nas unidades básicas e postos de atendimento da rede municipal de saúde. Porém, nas pratilheiras das farmácias, também faltam medicamentos simples como analgésicos e antibióticos.
A dona de casa Josefa Vicente afirma que há mais de um ano não recebe o “remédio controlado” que a filha toma. Ontem à tarde, ela procurou a unidade da Cidade da Esperança para conseguir uma outra medicação, dessa vez, contra diabetes. “O remédio da minha filha não tem em canto nenhum. O jeito é comprar. O meu, contra diabetes, só Deus sabe quando vai chegar”, lamenta.
A cena se repete no Centro Clínico José Carlos Passos, na Ribeira. Também na tarde de ontem, num intervalo de menos de dez minutos, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE presenciou o atendimento, (ou a falta deste), de quatro pessoas que procuraram a farmácia daquela unidade de saúde. Usando uma cadeira de rodas devido a uma inflamação na médula e hérnia de disco, o aposentado Paulo de Lima Freitas se aproxima do guichê segurando uma sacola onde guarda receitas e exames médicos. Da bolsa, retira três receitas onde se lê a recomendação do médico: Ranitidina 150mg. O medicamento é usado no tratamento de úlcera.
“Não tem esse remédio, senhor”, informa a funcionária da farmácia. Pacientemente, Paulo de Lima agradece e vai embora. “Meu filho, é desse jeito em todo lugar. Não tem remédio e não podemos fazer nada”, diz.
A mesma reposta negativa é dada à dona de casa Jasete Santana. Ela foi em busca do antidepressivo usado pelo filho, mas, novamente, o remédio estava em falta. “Nem lembro qual foi a última vez que teve esse medicamento aqui. Vou pedir dinheiro emprestado e o jeito é ir comprar na farmácia. Tomara que tenha ao menos na Farmácia Popular, que é mais barato”.
Na Unidade Básica de Saúde II, em Cidade Satélite, um funcionário informa, ironicamente, que a situação “está boa”. “Está boa porque tem seringa e agulha. Trazendo o remédio, a gente aplica”, explica. Na Unidade Mista de Saúde (UMS) do mesmo bairro, usuários comentam que a farmácia do local é uma das poucas do municípios que está com um estoque bom, mas, segundo funcionários da unidade, sempre falta alguma coisa. “Hoje [ontem] mesmo está faltando cefalexina”, informou um servidor.
Os mesmos funcionários que diz não ter remédio são os mesmos que quando chega remessa de medicamentos guarda metade do estoque para parentes e pessoas que conhece.