Saúde

Cientistas descobrem composto que mata bactérias super-resistentes; entenda a importância

Foto: (rudigobbo/Getty Images)

As superbactérias não usam capas e nem salvam inocentes, como os super-heróis. Se elas fossem ser representadas nos quadrinhos, usariam uniforme de vilão – e estão se tornando os microorganismos mais perigosos para a saúde humana, pois são extremamente difíceis de matar. Se nada for feito, estima-se que em 2050 as infecções por bactérias resistentes sejam mais letais mais do que o câncer.

É por isso que os pesquisadores se esforçam para desenvolver novas alternativas para combater problema. Cientistas da Universidade de Sheffield desenvolveram um composto que age em bactérias gram-negativas resistentes a antibióticos convencionais. Um exemplo é a E. coli, que habita no intestino humano e pode causar diarréias e outros sintomas.

Mas por que é tão difícil atingir essas bactérias?

Imagine que você contraiu uma doença. Ao relatar os sintomas ao médico, ele descobre que se trata de uma infecção bacteriana. Você compra o antibiótico receitado e começa o tratamento. Simples. Mas e se parte dessa população de bactérias for imunes ao próprio composto que deveria matá-las? O material genético altamente adaptável das bactérias torna essa possibilidade mais provável do que gostaríamos.

É a velha história da seleção natural: o medicamento mata a maioria das bactérias, mas sobram algumas que possuem uma mutação genética que permite sua sobrevivência. Elas se reproduzem e geram várias outras com a mesma mutação. Ao longo dos anos, esse processo se repete diversas vezes, fazendo com que os remédios tradicionais não produzam mais efeito.

As bactérias gram-negativas são as mais difíceis de matar. A dificuldade está em atravessar a membrana celular: ela é bem mais complexa, com grande quantidade de aminoácidos e lipídios impedindo que uma substância externa interaja com o micróbio.

Justamente por isso, o novo composto, chamado complexo Ru(II), foi desenvolvido para romper e destruir a membrana celular de cada uma dessas bactérias. Segundo os cientistas, é a primeira vez em quase dez anos que uma nova droga promissora contra as gram-negativas é apresentada. Mas, por enquanto, ela é só candidata a medicamento – primeiro, vai precisar passar por longas baterias de testes clínicos, para verificar se ela é totalmente segura e efetiva, como acontece com todo remédio.

A Organização Mundial da Saúde considera a resistência bacteriana uma das principais ameaças à saúde. A busca por novos tratamentos às bactérias gram-negativas é prioridade número 1 segundo a organização.

A partir de 2050, as projeções indicam que mais de 10 milhões de pessoas morrerão por ano devido a infecções bacterianas. Isso é mais do que o câncer mata anualmente hoje em dia — 8,2 milhões.

O crescimento das superbactérias se dá devido ao abuso dos antibióticos atuais. Uma pesquisa recente mostrou que vários rios no mundo já apresentam concentrações muito elevadas de antibióticos — bem acima do que é considerado seguro.

Isso não se dá somente pelos antibióticos consumidos pelas pessoas – mas, principalmente, pelas doses cavalares de antibióticos usadas em animais de fazenda ao redor do mundo. Tudo isso contribui para a seleção natural das bactérias mais resistentes. Grande parte do problema é a habilidade de evolução da bactéria quando exposta a pequenas quantidades de antibióticos. Os resquícios de medicamentos na carne que consumimos e nos rios são suficientes para as bactérias fazerem a festa.

O novo composto pretende ajudar a responder a esse problema, pelo menos para parte dos microorganismos resistentes. Os estudos mostraram que o Ru(II) possui diferentes modos de ação, assim fica mais difícil que as bactérias se tornem resistentes a todos eles. O próximo passo é testar esses mecanismos em outras gram-negativas super resistentes.

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Opinião dos leitores

  1. Já sei ….é só juntar 1/2 dúzias de PTralhas que eles quebram , destroem ou roubam TUDO

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Saúde

Terapia com cães pode transmitir bactérias super resistentes

(monkeybusinessimages/Montagem sobre reprodução)

Usar cães como recurso terapêutico vem se tornando uma prática cada vez mais comum. O contato de cachorrinhos dóceis, afetuosos e gentis com pacientes hospitalizados, principalmente crianças, é uma ação simples e eficaz. Estudos já comprovaram que essa relação pode melhorar a ansiedade, o humor e até mesmo a pressão sanguínea desses pacientes. Mas, uma nova pesquisa realizada em um hospital universitário americano mostra que essa interação pode transmitir algo além de alegria: bactérias super resistentes.

Tudo começou com uma suspeita dos médicos do hospital universitário Johns Hopkins, em Baltimore, EUA. Eles achavam que os cachorros poderiam ser um risco de infecção para pacientes com sistema imunológico enfraquecido. Para comprovar, os cientistas fizeram um teste.

Os pesquisadores analisaram 45 crianças em tratamento contra o câncer que interagiram com 4 cachorros – acariciando, abraçando, alimentando ou brincando com eles – durante 13 visitas. Os resultados mostraram que aquelas que passaram mais tempo com os cães tinham 6 vezes mais chance de contrair uma superbactéria conhecida como SARM em comparação com as crianças que passaram menos tempo com os bichos.

Mais: os médicos acharam o microrganismo em cerca de 10% das crianças após as visitas dos cães. E também encontraram a SARM em quase 40% das amostras dos cachorros. A conclusão dos cientistas é que, quanto mais tempo alguém passa com os animais, maior a chance de contaminação pela bactéria.

A SARM (sigla para Staphylococcus Aureus Resistente à Meticilina) é uma bactéria que pode viver na sua pele durante a vida toda, sem causar problemas. Mas, se ela invadir a corrente sanguínea, pode causar uma ampla variedade de infecções: desde lesões simples de pele, como espinhas e furúnculos; até problemas graves que podem levar à morte, como infecção sanguínea ou pneumonia.

Essa superbactéria é resistente à penicilina e a meticilina, os dois antibióticos usados para combater infecções do Staphylococcus aureus comum. Dados oficiais dos EUA associam a SARM a 11.000 mortes de americanos por ano. Por isso sua presença em pacientes com sistema imunológico frágil é tão preocupante.

Mas, isso não significa que é o fim das visitas dos cachorrinhos. Até porque a culpa da contaminação das crianças nem era totalmente deles: segundo Meghan Davis, uma das autoras do estudo, os animais chegaram limpos, sem a bactéria, ao hospital. Mas acabaram sendo contaminados por outros pacientes quando já estavam lá dentro.

Além disso, a pesquisadora Kathryn Dalton, que também trabalha no Hospital Johns Hopkins , afirmou que os protocolos hospitalares para cães de terapia – banhos um dia antes da visita, verificação minuciosa de feridas, entre outros – não estavam sendo rigorosamente aplicados.

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